quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

'O regime Maduro está tão fraco que tem apenas as armas', diz Guaidó no Brasil

O líder opositor Juan Guaidó, reconhecido por cerca de 50 países como presidente interino da Venezuelaafirmou na tarde desta quinta-feira, 28, que pretende retornar ao seu país no fim de semana ou no mais tardar na segunda-feira. Guaidó, que burlou uma ordem que o proibia de sair da Venezuela, deu a declaração após reunião com o presidente Jair Bolsonaro, que o recebeu no Palácio do Planalto. 
Jair Bolsonaro - Juan Guaidó
O presidente Jair Bolsonaro (E) em encontro com o líder venezuelano Juan Guaidó  
Foto: Marcos Corrêa/PR
Na quinta-feira, a Assembleia Nacional aprovou uma licença para Guaidó permanecer no exterior que se expira na segunda-feira. Até lá, ele deve visitar ainda o Parauguai amanhã. Questionado se não teme pela própria vida ao retornar ao seu país, Guaidó reconheceu que há sim um risco. "Criminalizaram toda a política, mas essa é uma viagem muito importante para reunir apoio contra a ditadura e superar a crise em nosso país, olhando para o futuro", afirmou. 
Segundo Guaidó, sua geração cresceu na ditadura chavista, mas hoje há a esperança de resistir e mudar. "Não será o  medo que vai nos paralisar. O regime Maduro está tão fraco que tem apenas as armas. Vamos imaginar por um segundo esse regime sem armas. Já teríamos uma eleição livre, com garantias. O que Maduro quer é prender sua família em casa à força. E o povo sabe disso."
Jair Bolsonaro - Juan Guaidó
No Planalto, Bolsonaro se referiu ao venezuelano Guaidó como 'irmão'   
Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO
De acordo com Gauidó, há hoje 300 mil venezuelanos em risco de vida. Esses venezuelanos, segundo ele, não puderam nem contar com a entrega da ajuda humanitária internacional ao país, que foi bloqueada pelo regime de Maduro que fechou as fronteiras com a Colômbia e com o Brasil, por onde passariam os caminhões com a ajuda.

'Deus é brasileiro e venezuelano'

Bolsonaro, por sua vez, prometeu ajudar o líder opositor venezuelano a reestabelecer a democracia na Venezuela. Bolsonaro disse que as ações do Brasil na crise se pautarão pela legalidade e as tradições diplomáticas brasileiras e pelo que foi definido pelo Grupo de Lima - bloco de países da região que monitora a crise. Bolsonaro é um forte crítico de Maduro. Os países que desconhecem o chavista como presidente, a exemplo do Brasil, alegam que sua eleição foi fraudulenta.
“Apoiamos todas as resoluções do Grupo de Lima para o objetivo que interessa a todos nós: liberdade e democracia na Venezuela”, disse o presidente. “Não pouparemos esforços dentro da legalidade e de nossas tradições para restabelecer a democracia na Venezuela: eleições limpas e confiáveis. Seu país pode contar conosco para a recuperação econômica.”
O presidente também  vinculou a crise no país ao apoio de governos brasileiros que o antecederam e apoiaram o chavismo, em uma aparente crítica indireta ao PT. “Dois ex-presidentes do brasil tiveram culpa no que esta acontecendo na Venezuela”, disse. “Graças a Deus, o povo aqui acordou e se mirou no que acontecia no seu país e resolveram dar um ponto final no populismo e na demagogia.”
O presidente concluiu seu pronunciamento dizendo que tanto ele quanto Guaídó buscam “uma igualdade na prosperidade” para seus países.  “Já te chamo de irmão de agora em diante se assim me permite”, afirmou. “Estamos juntos a partir de agora e conte conosco.”  "Deus é brasileiro e venezuelano", concluiu Bolsonaro. 
Juan Guaidó
Líder opositor e presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó 
foi recepcionado por embaixadores em Brasília 
Foto: Dida Sampaio / Estadão

Ao responder perguntas de jornalistas, Guaidó afirmou que o regime de Maduro sempre diz que trata-se de um dilema entre "guerra e paz" e continua intransigente para negociar uma alternativa. "Estamos tentando negociar há cinco anos. A eleição livre é uma exigência do povo venezuelano. Não pode haver presos políticos. Temos 4 milhões de venezuelanos no exterior que não podem votar.  Não há auditoria do processo. Não pode ser um falso diálogo", afirmou Guaidó. 
O líder opositor diz que continua sua busca por apoio à sua luta contra o chavismo. "Estamos buscando apoio para a transição, que gere condições para a democracia e eleições livres. Vamos precisar de alimentos, remédios e fornecimento, transporte, os  serviços básicos está em decadência."
Segundo Guaidó, a Venezuela tem sido usada pela guerrilha colombinana Exército de Libertação Nacional (ELN) para a construção de pistas de aterrissagem para o narcotráfico. "Nossa Amazônia é ocupada pelo setor narcomineiro. A participação do Brasil será importante. Há muitas informações que podemos compartilhar na luta anticorrupção." 
Guaidó assegurou que toda a ajuda, mesmo de China e Rússia, dois maiores aliados internacionais de Maduro, será bem-vinda. Os dois países têm bilhões de dólares em negócios na Venezuela. "Todos os acordos serão respeitados e hoje Maduro não respeita ninguém. Como recuperar investimentos com a hiperinflação de 1, 5 milhão e o PIB retraindo 50%? Uma mudança de modelo vai gerar confiança. Há uma agenda e se eles estiverem nela, serão bem vindos."
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Maduro anuncia fechamento da fronteira venezuelana com o Brasil
Antes da visita ao Planalto, Guaidó almoçou na residência oficial do embaixador do Canadá e se reuniu com embaixadores de países que o reconhecem como presidente interino da Venezuela na representação da União Europeia no Brasil. Antes de chegar para o encontro com Bolsonaro, Guaidó fez uma parada no Itamaraty, que não estava prevista. 
Ele foi recebido com pompa no Palácio do Planalto, com tapete vermelho e recepção da guarda presidencial feita pelos Dragões da Independência. Após a reunião, Guaidó e Bolsonaro farão uma declaração conjunta à imprensa. 
O líder venezuelano visita nesta tarde os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Guaidó deixou Bogotá ontem em um avião da Força Aérea Colombiana, que pousou na madrugada desta quinta-feira no Aeroporto Internacional de Brasília à 1h40. 
Em frente ao Planalto, aguardavam cinco manifestantes com cartazes em que se lia "Brasil, respeite a soberania da Venezuela". Eles quase não foram percebidos por Guaidó. 
Guaidó participou na segunda-feira em Bogotá de uma reunião do Grupo de Lima. Nela, os membros do bloco - uma dezena de países latino-americanos e o Canadá - se comprometeram a estreitar o cerco econômico e diplomático ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, mas sem recorrer à força, possibilidade que os Estados Unidos haviam deixado em aberto.




O Estado de S.Paulo