PACARAIMA - Pelo menos 163 militares venezuelanos abandonaram seus cargos e fugiram para o Brasil e para a Colômbia desde o sábado 23, quando agentes da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) fizeram cordões de isolamento na fronteira da Venezuela com os dois países, impedindo a entrada de ajuda humanitária, e reprimiram, em alguns casos com violência, manifestações de apoio ao líder opositor Juan Guaidó, que se declarou presidente interino do país em janeiro.
Destes casos, 156 foram registrados nas passagens que ligam regiões venezuelanas aos Estados colombianos de Norte Santander e Arauca, que receberam 146 e 10 desertores, respectivamente. Em Pacaraima, no Brasil, buscaram proteção 7 sargentos das Forças Armadas do país vizinho.
Os casos mais recentes foram registrados nesta segunda-feira, 25, quando quatro sargentos da GNB desertaram e fugiram da Venezuela para o Brasil. Eles vieram por trilhas na vegetação rasteira, conhecida na região como "lavrado", e foram encontrados por uma patrulha do Exército que fazia inspeções de rotina na fronteira. Um deles apresentava sinais de desidratação, com enrijecimento muscular.
"Vamos a Boa Vista e queremos o apoio do presidente interino Juan Guaidó para chegar a Cúcuta e nos reunir com os companheiros que desertaram (na Colômbia)", disse o sargento José Alexander Sanguino Escalante.
"Queremos nos oferecer para lutar pela liberdade do povo." Questionado se estaria disposto a agir militarmente contra o regime de Nicolás Maduro, o desertor respondeu que sim.
Com isso, chega a seis o número de desertores na fronteira brasileira desde que a oposição tentou entrar com ajuda humanitária na Venezuela, todos com a patente de sargento. No domingo, três membros da GNB também entraram no país depois de deixarem seus cargos descontentes com a gestão da crise por Caracas e com a situação geral do país.
"Nos quartéis militares, não há comida. Não tem colchões. Nós, sargentos da Guarda Nacional (Bolivariana, GNB), estamos dormindo no chão", contou o sargento Carlos Eduardo Zapata, um dos três primeiros a chegar ao Brasil.
Ao Estado, a deputada opositora Yuretzi Idrogo disse que a decisão de ir a Cúcuta é uma vontade pessoal dos desertores e não partiu da oposição. Apesar disso, ela reconhece que está em contato com soldados do outro lado da fronteira que querem desertar e que pretende ajudá-los a chegar até a codade colombiana.
Oficialmente, a fronteira venezuelana com o Brasil continua fechada desde a quinta-feira 21 por decreto do presidente Nicolás Maduro. A passagem com a Colômbia foi totalmente bloqueada na noite da sexta-feira 22, após a realização do Venezuela Live Aid em Cúcuta, cujo objetivo é arrecadar US$ 100 milhões em 60 dias para fornecer ajuda aos venezuelanos.
No fim de semana, a divisa entre os países, tradicionalmente tranquila, viveu horas estressantes depois de manifestantes venezuelanos tanto em território brasileiro quanto colombiano jogarem pedras e coquetéis molotov contra integrantes da GNB.
O presidente Jair Bolsonaro se reuniu pela manhã em Brasília com seu ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e membros do alto-comando militar. Essa reunião acontece paralelamente ao Grupo Lima em Bogotá, do qual participam os Estados Unidos e o líder da oposição Juan Guaidó, para definir os passos a serem seguidos na crise venezuelana.
Turistas liberados
Segundo fontes do Exército, 25 turistas brasileiros que faziam turismo no Monte Roraima e não conseguiam passagem pela fronteira desde que ela foi fechada no dia 21 retornaram ao território brasileiro nesta segunda.
Eles passaram pela aduana com os veículos que faziam o trajeto vindo do monte e agora estão a caminho da capital de Roraima, Boa Vista. Ainda de acordo, com essas fontes, a tendência é de menos tensão na fronteira, com pelo menos a passagem de estrangeiros sendo liberada.
Um cidadão uruguaio com problemas de saúde também teve a passagem autorizada pelas autoridades venezuelanas. / COM AFP
Felipe Frazão e Luiz Raatz, O Estado de São Paulo