segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Carne bovina perdeu espaço para o frango em janeiro

 

O mercado físico de boi gordo viu crescer ao longo de janeiro a disparidade de preços entre os animais que cumprem os requisitos para exportação à China e aqueles destinados ao abate dentro do mercado doméstico

Segundo o analista de SAFRAS & Mercado, Fernando Henrique Iglesias, o ambiente para os frigoríficos que operam apenas no mercado interno é bastante difícil, com evidentes problemas operacionais que têm resultado na redução das margens e aumento da capacidade ociosa.

“O consumidor brasileiro optou por proteínas mais acessíveis em um mês de forte descapitalização, com despesas típicas de início do ano, como impostos e compra de material escolar. Com isso, as carnes de frango e suína ganharam a preferência do consumidor médio”, assinalou Iglesias.

Com isso, os preços a arroba do boi gordo na modalidade a prazo nas principais praças de comercialização do País estavam assim no dia 27 de janeiro:

  • São Paulo (Capital) – R$ 335,00 a arroba, na comparação com R$ 330,00 a arroba em 27 de dezembro, subindo 1,52%.
  • Minas Gerais (Uberaba) – R$ 335,00 a arroba, estável.
  • Goiânia (Goiás) – R$ 320,00 a arroba, inalterado.
  • Mato Grosso do Sul (Dourados) – R$ 315,00 a arroba, contra R$ 320,00 (-1,56%).
  • Mato Grosso (Cuiabá) – R$ 317,00 a arroba, contra R$ 305,00 (+3,93%).

Exportação

As exportações de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada do Brasil renderam US$ 554,707 milhões em janeiro (15 dias úteis), com média diária de US$ 36,980 milhões. A quantidade total exportada pelo país chegou a 107,461 mil toneladas, com média diária de 7,164 mil toneladas. O preço médio da tonelada ficou em US$ 5.161,90.

Em relação a janeiro de 2021, houve ganho de 52,77% no valor médio diário da exportação, aumento de 33,50% na quantidade média diária exportada e valorização de 14,43% no preço médio. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços e foram divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior.


Sucesso no Campo

Quando moradia deixou de ser mercadoria: o desastre soviético, segundo Anthony Ling


Blocos habitacionais da URSS, provavelmente da metade do século 20. Foto: mvstang @ Flickr

"Moradia não é mercadoria" é uma frase muito repetida entre ativistas em defesa da moradia popular.

Entendo aqui 'moradia' como unidades de habitação, principalmente casas e apartamentos. Já 'mercadoria' é algo produzido para ser vendido no mercado, destinado ao comércio, e que não é uso do produtor.

A vasta maioria das moradias hoje em dia pode ser considerada mercadoria, dado que é produzida e vendida por incorporadoras e imobiliárias que não moram nos edifícios que produziram. Assim, a proposta por trás dos ativistas que repetem essa frase é a de fazer com que a moradia deixe de ser produzida e vendida pelo mercado imobiliário, passando a ser planejada e distribuída pelo poder público. O objetivo seria torná-la mais acessível dado o atual déficit de moradias, que é uma das causas dos altos preços do mercado imobiliário.

Só que essa proposta não é nova. Moradia já deixou de ser mercadoria durante um momento muito peculiar da nossa história, e de forma bem documentada, na União Soviética (URSS), abrangendo várias cidades da Europa Central e Oriental durante a maior parte do século passado.

Hoje, é possível entender quais foram as principais consequências dessa política.

Várias cidades da antiga URSS aboliram o sistema de preços e implementaram uma economia planejada durante um período que durou entre 45 e 75 anos. Nesse espírito, também foi abolido o mercado imobiliário. Consequentemente, o que determinava a alocação de densidades e de usos residenciais, comerciais e industriais não eram as demandas dos moradores na condição de consumidores imobiliários, mas sim decisões burocráticas feitas com o intuito de minimizar os recursos investidos em imóveis com o objetivo de prover "moradia universal".

É difícil entender este sistema, tão diferente ele era do que estamos acostumados atualmente. Deixando de ser mercadoria, imóveis e terrenos não tinham preços. O planejamento se iniciava com estudos técnicos que determinavam a quantidade de terra necessária para construir apartamentos e fábricas. Ato contínuo, uma vez que a terra fosse alocada para um determinado uso, ela não mais podia ser vendida ou alugada para um terceiro, apenas devolvida para o governo caso nada fosse construído.

Esse princípio teve um grande impacto em indústrias que sofriam mudanças tecnológicas: fábricas se expandiam, mas não podiam se realocar, pois teriam um custo de mudança de terreno que não podia ser compensado por uma venda da fábrica original.  Afinal, fábricas também não podiam ser tratadas como mercadorias.

Mesmo quando problemas tecnológicos e operacionais obrigavam administradores a mudar de local, os terrenos deste anel industrial não eram reciclados, mas sim mantidos industriais, só que com menos empregos e atividade industrial. A política industrialista da União Soviética levou a uma extrema concentração de indústrias dentro da região urbanizada.

Por exemplo, em Moscou, 32,5% da cidade construída é usada para fins industriais (embora parte esteja abandonada atualmente, pois a cidade ainda não conseguiu se regenerar).  Em Paris, Seoul e Hong Kong são apenas 5%.

O mesmo processo era feito na determinação do uso comercial. É importante lembrar que, na verdade, não deveríamos chamar tal atividade de "comércio", mas simplesmente de "serviços", pois o comércio (pelo menos nas vias formais, já que o chamado "mercado negro" funcionava de forma abrangente) não existe quando se abole o conceito de mercadoria. Assim, muitos serviços como bancos, corretoras de imóveis, seguradoras etc. simplesmente não existiam nessas cidades. Adicionalmente, muitos serviços de educação, saúde e distribuição de alimentos eram feitos dentro de instalações industriais e não necessitavam de uma alocação específica de uso do solo na cidade.

A alocação de moradia também seguia a mesma lógica, mas com um pequeno detalhe: a quantidade de terra alocada para uso residencial foi mudando ao longo do período soviético de acordo com o desenvolvimento de tecnologias que permitiam um melhor aproveitamento da terra: a verticalização. Sistemas pré-fabricados de construção, que se tornaram universais para a construção de moradia nos países da Europa Central e Oriental dos anos 1960 em diante, permitiram blocos de apartamentos mais altos, diminuindo a necessidade de terra do ponto de vista dos planejadores e gerando cada vez densidades mais altas.

Os planejadores soviéticos avaliavam apenas quantitativamente as necessidades de moradia da população, sem se importar com a localização das construções na cidade. Ao mesmo tempo, os grandes terrenos em que ainda não haviam sido feitas construções eram encontrados mais facilmente nas periferias. Isso fez com que as zonas residenciais mais recentes — e mais distantes do centro — normalmente tivessem densidades mais altas por causa das alturas mais altas de edifícios que foram possibilitados ao longo do tempo.

O resultado urbano final em cidades nas quais isso teve maior impacto é o caminho oposto ao da cidade europeia tradicional, que possui maior densidade próximo do centro histórico — de maior demanda por moradia e por serviços — e que vai gradualmente diminuindo à medida que dele se distancia.

Moscou, onde essa política teve maior impacto, apesar de ainda possuir um centro histórico que concentra empregos e serviços, é uma das únicas cidades do mundo que possui periferias mais densas que as áreas centrais.

Ineficiência urbana

Uma das consequências urbanísticas deste tipo de planejamento foi o aumento das distâncias de deslocamento, uma vez que os moradores das periferias são obrigados a se deslocarem à área central onde se concentram os serviços. Se a maioria dos moradores se concentra nas periferias, o resultado agregado será pouco eficiente.

Se compararmos Moscou a Paris, a qual teve uma alocação espontânea de moradia e de serviços durante a maior parte do seu desenvolvimento urbano, a primeira possui 75% da área da segunda, mas com uma distância de deslocamento dos moradores 5% maior. Brasília, que também teve um planejamento totalmente centralizado, tem um desempenho ainda pior neste indicador: a distância de deslocamento dos seus moradores é semelhante à de Nova York, mas a capital brasileira tem uma área construída 10 vezes menor.

O custo de oportunidade de se manter terrenos abandonados ou subutilizados em regiões centrais da cidade — principalmente industriais, no caso de Moscou — também é muito significativo, contribuindo para a escassez de terra para moradia. Citando a economista Emily Washington, "Não faz sentido o uso industrial em terrenos onde as pessoas estão dispostas a pagar um prêmio para ter moradias".

O trabalho do urbanista Alain Bertaud mostra que, em 1991, quando o mercado imobiliário foi gradualmente sendo reintroduzido na Rússia após o fim da União Soviética, os preços de moradias próximas ao centro foram aumentando, mostrando uma clara falta de oferta de moradia nestes locais.

Escassez, burocracia e mercado negro

A falta de um sistema de preços — que é crucial para transmitir informações sobre oferta e demanda — também levou a uma grande escassez de moradias, principalmente durante a primeira metade do período soviético.

Durante a era Stalin, entre 1927 e 1955, a URSS não aumentou os baixíssimos índices de área construída per capita que já existia em 1917, de 4m2. A coabitação era frequente e necessária, com cerca de 35% da população vivendo em apartamentos compartilhados até o final da URSS. As filas de espera para se conseguir moradia levavam em torno de 10 anos. Era tanta burocracia envolvida no processo, que o governo russo identificou 56 tipos diferentes de moradia que poderiam ser conseguidos por 120 procedimentos distintos.

Dado que a compra, venda e troca de moradias era proibida (pois, lembremos, deixaram de ser mercadoria), estabeleceu-se um mercado negro de sublocação, que alguns autores estimam ter abrangido 10% de todas as unidades da cidade.

Também era frequente a transferência ilegal de endereço, já que também era necessário esperar alguns anos nas filas de registro para formalizar a troca. Apesar de não existirem estatísticas oficiais a respeito de moradores de rua, relatórios secretos da URSS reportam cifras em torno de 500 mil pessoas.

Mesmo assim, as principais cidades, como Moscou, eram símbolos para o resto do país e para o resto do mundo, recebendo um investimento desproporcionalmente maior em moradia quando comparada às demais cidades soviéticas. A quantidade e a qualidade da moradia produzida, por exemplo, em zonas rurais e industriais na Sibéria eram muito inferiores às dos centros urbanos. No entanto, para piorar a situação, o controle quantitativo de moradia e a constante escassez nas cidades devido à rápida industrialização criaram a política da propiska, uma espécie de passaporte migratório interno, que proibia os moradores de zonas rurais de migrarem para os centros urbanos.

O fim da arquitetura

Uma das propostas da política de moradia da URSS era promover a habitação coletiva e a igualdade de moradia para todos. Nesse sentido, havia um modelo de bloco habitacional a ser seguido durante cada época, e que não levava em conta as preferências e particularidades dos cidadãos. Isso resultou na pasteurização modernista da cidade soviética, a repetição de projetos assépticos visando à redução numérica do déficit habitacional — o qual, mesmo assim, não foi resolvido.

No contexto soviético, pode-se dizer que isso decretou o fim da arquitetura residencial, dado que uma única solução era escolhida para resolver a necessidade de todos.

Muitos podem criticar as "selvas de concreto" de cidades como São Paulo ou Nova York, nas quais há uma variação radical no tamanho, forma e estilo de cada projeto arquitetônico.  Mas o fato é que sua variabilidade de edifícios — mesmo que dentro das legislações estabelecidas — permite que cada cidadão possa escolher a arquitetura de sua preferência. O mercado imobiliário, neste cenário, visa a atender as diversas preferências de seus consumidores, as quais também mudam de forma dinâmica junto com os hábitos e com as tecnologias existentes a cada época.

Um forte indício disso é que, com o fim da vontade de se morar longe das regiões centrais — tendência essa que impulsionou o espraiamento urbano até os anos 1980 —, hoje existe uma tendência forte entre incorporadoras de produzir apartamentos menores, bem localizados e com um relacionamento mais conectado entre a edificação e a cidade. Tanto Nova York quanto São Paulo são protagonistas em seus respectivos países em liderar este movimento de transição.

12307106374_a97488ab37_k.jpg

Vista da parte sul de Manhattan, em Nova York, do 102o andar do Empire State. Foto: luvi @ Flickr

Moradia é mercadoria

O relato sobre moradias na União Soviética mostra empiricamente algumas das consequências negativas de se fazer com que a moradia deixe de ser tratada como mercadoria. É importante ressaltar que os problemas observados não foram resultado de falhas técnicas no planejamento ou de um conceito errôneo de moradia adotado, mas sim da eliminação do sistema descentralizado de preços, o qual, quando funciona livremente, gera feedbacks constantes de informação entre oferta e demanda.

Por meio do sistema de preços, cada cidadão, ao voluntariamente alugar, comprar, desenvolver (ou não) um determinado imóvel em uma determinada localização, e fazer dele o que mais lhe aprouver, está fornecendo ao mercado informações cruciais sobre sua preferência.  E, ao fazer isso, ele envia aos outros indivíduos e empresas informações instantâneas sobre a situação deste mercado.

Tentar abolir novamente o mercado imobiliário com o intuito de planejar a cidade de uma forma diferente — e ao gosto de planejadores e burocratas — gerará problemas da mesma natureza do modelo imobiliário soviético, pois tal medida arbitrária não responde às demandas da população de forma dinâmica. Imóveis vazios ou subutilizados continuarão existindo, embora dispersos pela cidade em vez de estarem concentrados em uma região inteiramente zoneada.

O déficit habitacional e os altos valores das moradias, alvos da luta pela moradia popular, deveriam ser atacados em sua raiz, sem alterar a característica dinâmica de preços. O que, afinal, torna nossos imóveis tão caros? Um estudo realizado em 2005 pelos economistas Edward Glaeser e Joseph Gyourko intitulado "The Impact of Zoning on Housing Affordability" aponta forte correlação entre regulação do uso do solo e acessibilidade à moradia, podendo resultar em um aumento de até 50% no valor imobiliário de uma determinada região.

São inúmeros os motivos que contribuem para elevar os preços de moradia, desde restrições artificiais de oferta (limites de densidade; de altura de edificações; recuos de ajardinamento; leis de zoneamento) a alterações nos projetos (como número obrigatório de vagas de garagem e leis que incentivam a subutilização dos térreos), passando por custos na atividade de incorporação (custos legais de passar pela aprovação dos órgãos públicos; custo do risco legal de legislações que não deixam claro o que pode ou não ser feito em um determinado terreno; custo de oportunidade do tempo entre a compra do terreno e espera de um determinado projeto ser efetivamente aprovado na Prefeitura; impostos e encargos trabalhistas).   

[Nota do editor: além de todos esses fatores, é crucial também ressaltar, para o Brasil, a política de crédito fácil do governo federal voltada para o setor imobiliário.  Um financiamento de imóveis feito por bancos estatais — Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil — paga juros muito abaixo da SELIC. Trata-se de um banquete para os especuladores imobiliários, e uma tragédia para os mais pobres, que sofrem as consequências do aumento dos preços. Veja todos os detalhes aqui].

Tudo isso contribui para um aumento significativo no preço dos imóveis em centros urbanos altamente demandados.

O resultado do estudo de Glaeser conclui que as cidades norte-americanas que possuíam menos restrições do uso do solo tinham seus preços mais próximos dos seus custos de construção, dado o equilíbrio de mercado entre oferta e demanda por moradia. Em um centro urbano inserido em uma economia de mercado é contraditório lutar contra uma grande oferta imobiliária e, ao mesmo tempo, a favor de preços acessíveis.

Enfim, para termos uma cidade eficiente, diversa, dinâmica e, ao mesmo tempo, acessível, não devemos fazer com que a moradia deixe de ser mercadoria, mas sim que ela seja uma mercadoria acessível a todos.


Anthony Ling
é formado em Arquitetura e Urbanismo pela UFRGS,

Mises Brasil

'Cruzada contra Joe Rogan no Spotify mostra como esquerda é hostil à liberdade de expressão', escreve Zai Jilani

 

Neil Young, que no passado já foi contra a ciência, opta pela intolerância em sua cruzada contra o podcaster Joe Rogan.| Foto: Agência EFE


Na semana passada, o lendário cantor canadense Neil Young deu um ultimato ao serviço de streaming musical Spotify. “Quero que o Spotify saiba HOJE que quero todas as minhas músicas fora da plataforma”, escreveu ele numa carta aberta publicada em seu website. “Eles podem ficar com [Joe] Rogan ou Young. Não os dois”.

Young estava furioso por causa das “informações falsas sobre vacinas” dita no podcast de Rogan, o The Joe Rogan Experience, que tem em média 11 milhões de ouvintes por episódio, de acordo com as estimativas. Recentemente, Rogan estrevistou vários cientistas e especialistas em saúde, e alguns deles foram céticos quanto às vacinas contra a Covid-19.

Young tirou rapidamente a carta do website, mas parece que o ultimato era sério. O serviço de streaming já começou a excluir as músicas de Young.

De certa forma, aqui vemos o mercado funcionando. Young chegou à conclusão de que não queria estar no Spotify com Rogan. O Spotify ficou ao lado de Rogan. Cada um dos envolvidos fez sua escolha: Rogan pôde manter a independência e Young agora não se sentirá mais incomodado por dividir a plataforma com alguém cujas opiniões ele repudia. Não é uma vitória da censura.

Mas se você ainda acha que “censura” talvez não seja a melhor palavra para descrever aqueles que pressionam o Spotify a se livrar de Rogan, pense nisso: a plataforma é o maior serviço de streaming do mundo, com avassaladores 31% de participação nesse mercado. Quando uma empresa privada controla uma porção tão grande do ecossistema, suas decisões são mais do que meros atos de moderação: é como se a empresa estivesse estabelecendo os limites do debate público. Por isso é que Young acredita que as opiniões de Rogan não deveriam ter no Spotify uma plataforma.

Isso nos traz ao detalhe surpreendente desta história. Desde quando Young se tornou o tipo de gente que defende que se cale um oponente ideológico? O artista fez fama como personagem da contracultura nos anos 1960, manifestando-se contra o establishment cultural e político e trabalhando com Crosby, Stills, & Nash para lançar “Ohio”, uma poderosa música de protesto lançada depois do assassinato de manifestantes na Kent State University em 1970. A música se tornou um hino do movimento contrário à Guerra do Vietnã. Algumas estações de rádio, temerosas da letra que falava em “soldados nos matando”, baniram a música, mas as rádios alternativas ajudaram a fazer dela um sucesso. Young continuou sendo um nome importante da contracultura nas décadas seguintes. Em 2006, ele voltou a tocar com Crosby, Stills, & Nash, cantando músicas contra a Guerra do Iraque e George W. Bush. Era a chamada “Turnê da Liberdade de Expressão”, que deve início na Filadélfia, berço da Constituição.

A transformação de Young, antes um defensor da liberdade de expressão e agora um defensor da burocracia e da censura, não ocorreu num vácuo. Os progressistas se tornaram cada vez mais censores nos últimos anos. A maioria dos democratas hoje acredita que tanto as empresas privadas quanto o governo norte-americano deveriam “agir para restringir as informações falsas online”.

Muitos esquerdistas antes militavam pela liberdade de expressão porque acreditavam que opiniões equivocadas e até ofensivas eram dignas de manifestação. Quando a Universidade de Yale convidou o segregacionista George Wallace para uma palestra, a famosa ativista dos direitos civis Pauli Murray (que cursava direito em Yale) defendeu a liberdade de expressão.

“Essa controvérsia me afeta de duas formas, porque sou uma advogada comprometida com os direitos civis, incluindo a liberdade, mas também sou uma negra que sofreu com os males da segregação racial”, escreveu ela. Murray, contudo, não via sentido em impedir que Wallace tivesse a mesma liberdade que ela defendia para todos.

“A possibilidade de violência não basta para impedir um indivíduo de expressar seu direito constitucional”, disse ela. “Esse é o princípio por trás da ideia de garantir o direito de muitos que queriam frequentar escolas segregadas, mesmo diante de uma comunidade hostil e ameaças de violência. Temos de agir da mesma forma no caso do governador Wallace”.

Esse ponto de vista não tem muita semelhança com o que defendem os ativistas da esquerda contemporânea e que agora correm para chamar os discursos com os quais não concordam de “mentira” e “discurso de ódio”, a fim de justificar a censura.

A cruzada de Young contra as desinformações científicas também é irônica porque ele próprio já disseminou desinformações desse tipo. O músico há tempos se opõe ao uso de alimentos transgênicos. Em sua música “A Rock Star Bucks a Coffee Shop”, de 2005, ouvimos “Sim, quero uma xícara de café, mas não quero café geneticamente modificado/ gosto de começar o dia sem a ajuda da Monsanto”. Quando o apresentador Stephen Colbert mostrou a Young pesquisas dizendo que não havia nenhum problema com os produtos transgênicos, o cantor contra-argumentou: “Essa pesquisa deve ter sido feita pela Monsanto! Ela não fala das doenças horríveis e outras coisas que estão acontecendo”. Se falar bobagem sobre uma tecnologia científica que salva vidas é motivo para censurar alguém, será que o próprio Young não deveria ter sido censurado?

Refletindo sobre a perseguição à liberdade de expressão na cultura política norte-americana, me lembrei de uma conversa que tive com um amigo paquistanês na faculdade. Ao contrário de mim – nascido e criado nos Estados Unidos – ele nascera no Paquistão. Assim como eu, ele era jornalista. Discutíamos por que os paquistaneses pediam que o governo fechasse uma estação de TV que exibia matérias antigoverno. Para minha surpresa, ele defendia o fechamento da TV, apesar de ter saído às ruas para protestar contra a ditatura de Musharaff. Ele me disse que eu só defendia a liberdade de expressão porque morava nos Estados Unidos, um país estável e que podia se dar ao luxo de tais liberdades, e que no Paquistão era diferente.

Os norte-americanos hoje têm de decidir que tipo de país são os Estados Unidos. Queremos nos ver como um país frágil e incapaz de gozar de um luxo como a liberdade de expressão? Ou será que ainda temos autoestima o bastante para defendermos um dos nossos princípios basilares? Não precisamos acompanhar Neil Young e outros por esse caminho sombrio.


Zai Jilani é jornalista e já trabalhou para o UC Berkeley’s Greater Good Science Center e o Center for American Progress.


Gazeta do Povo com City Journal



Santos Dumont vai ser leiloado sozinho e deve evitar 'contaminar' privatização de outros aeroportos

 

Expectativa é que leilão do Santos Dumont gere R$ 1,3 bilhão em investimentos. Foto: Fabio Motta/Estadão


O governo federal, em conjunto com autoridades do Rio, decidiu leiloar o aeroporto Santos Dumont (RJ) isoladamente, mudando o desenho da sétima rodada de concessões aeroportuárias, que irá transferir à iniciativa privada 16 terminais. A alteração pode dar um susto inicial nos investidores interessados, mas deve ter saldo positivo por “isolar” o certame do seu ponto alto de tensão, avaliam técnicos ouvidos pela reportagem. 

Agora, a sétima e última rodada será composta por quatro blocos de aeroportos, e não três, como inicialmente previsto. Na avaliação de especialistas que acompanham o caso, a solução de isolar o Santos Dumont é a menos drástica para o imbróglio envolvendo a resistência do Rio à privatização do terminal. Resta saber, apontam, se o edital de concessão do aeroporto trará restrições de movimentação, como sugerem políticos fluminenses.

Dentro do governo, o entendimento é de que nada extremo será sugerido para a modelagem do aeroporto carioca, apenas medidas “mitigadoras” para rebater a resistência da classe política sobre a privatização do ativo. A modelagem final, no entanto, só será conhecida em meados de fevereiro, quando o grupo de trabalho criado para discutir ajustes no edital de concessão encerrará as atividades. A força-tarefa foi montada após o Rio alegar que o impulso dado ao Santos Dumont fragilizaria ainda mais a concessão do Aeroporto Internacional Tom Jobim (RJ), o Galeão.

Em agenda no Rio, o ministro da InfraestruturaTarcísio de Freitas, anunciou nesta segunda-feira, 31, o leilão solo do Santos Dumont. Inicialmente, o aeroporto seria transferido à iniciativa privada num bloco com outros três aeroportos mineiros (Montes Claros/MGUberlândia/MG e Uberaba/MG) e o terminal de Jacarepaguá (RJ), destinado à aviação geral.

Com as mudanças, a 7ª rodada de concessões terá nova configuração. O Santos Dumont vai a leilão separadamente com uma outorga inicial de R$ 731 milhões, e R$ 1,3 bilhão de expectativa de investimentos.

Já os aeroportos mineiros estarão no bloco do Aeroporto de Congonhas, com 11 ativos no total, outorga inicial de R$ 255 milhões e investimentos em R$ 5,8 bilhões. A transferência dos ativos mineiros para o grupo de Congonhas teve como efeito prático reduzir a outorga do bloco.

Aeroporto de Campo de Marte (SP), que integrava o grupo de Congonhas, formará agora um novo bloco, junto do Aeroporto de Jacarepaguá (RJ), que inicialmente seria leiloado junto do Santos Dumont. A nova frente chamou a atenção do mercado, já que os dois aeroportos são destinados à aviação geral. Para técnicos, a configuração tem potencial de atrair um novo perfil de investidor ao leilão. O lote prevê R$ 560 milhões em investimentos e outorga inicial de R$ 138 milhões. “É um belo de um negócio, com potencial de exploração da parte imobiliária, por exemplo”, disse o secretário Nacional de Aviação Civil do Ministério da Infraestrutura, Ronei Glanzmann.

Por fim, o Bloco Norte II mantém a configuração inicial, com os terminais aéreos de Belém (PA) e Macapá (AP), R$ 875 milhões em investimentos previstos e outorga inicial de R$ 57 milhões.

O próximo passo para a concretização dessas mudanças é o envio de um ofício do Ministério da Infraestrutura para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que precisará encaminhar as alterações para o Tribunal de Contas da União (TCU), onde o processo da sétima rodada de concessões aeroportuárias já tramita.

Estratégia jurídica

Para reforçar o isolamento do Santos Dumont, o governo também deve optar pela estratégia jurídica de separar os editais dos blocos que irão a leilão na sétima rodada, segundo apurou o Estadão/Broadcast. Apesar de poderem ser arrematados por diferentes grupos, inicialmente os lotes teriam um único edital. Agora, cada um dos quatro blocos terá um edital individualizado. Se o risco envolvendo o Santos Dumont chegar na Justiça, por exemplo, a situação não afetará os demais aeroportos, uma vez que não se tratará mais do mesmo edital.

A expectativa é de que os quatro lotes sejam leiloados no mesmo dia, o que deve acontecer no primeiro semestre do ano. Técnicos que acompanham as discussões avaliam que ainda é possível manter o cronograma, uma vez que as alterações promovidas não mexem com a estruturação de venda de cada aeroporto, mas apenas no desenho dos blocos - algo mais superficial. 

Para esses especialistas, apesar de potencialmente provocar um choque nos investidores que estudam os terminais, a nova configuração deve, no curto prazo, provocar também um alívio. Uma fonte ouvida em caráter reservado aponta, por exemplo, que os investidores que interessados em arrematar o Santos Dumont tinham certeza das despesas que envolveriam o antigo bloco - com os aeroportos mineiros - mas ainda estavam inseguros com o lado das receitas, já que o edital de concessão do aeroporto carioca ainda é discutido entre o governo federal e o Rio.

Ao separar o terminal, o risco também é isolado, com a vantagem de o edital de privatização do Santos Dumont não levar mais consigo terminais deficitários. Outra avaliação feita nos bastidores é que a separação pode tornar o leilão do aeroporto mais atrativo para a concessionária que administra o Galeão entrar na disputa pelo ativo. A avaliação, por sua vez, não é unânime. A equação final, no entanto, só deve ficar mais clara quando o grupo de trabalho que debate ajustes no edital do Santos Dumont concluir suas atividades em fevereiro.

Amanda Pupo, O Estado de S.Paulo

Bolsonaro promete escolher vice 'aos 48 do segundo tempo'

 'Não será novidade para vocês', disse o presidente em entrevista

Escolha do candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro deve ser feita mais perto da eleição
Escolha do candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro deve ser feita mais perto da eleição | Foto: Alan Santos/PR

Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira, 31, que não tem pressa para definir o nome do candidato a vice-presidente da República em sua chapa para as eleições de outubro. Segundo ele, a escolha deve ser feita mais perto do pleito.

“A gente vai escolher aos 48 do segundo tempo, porque se escolher agora você causa turbulência”, disse Bolsonaro, em entrevista à TV Record.

“Algumas pessoas estão esperando ser convidadas e, obviamente, eu é que escolherei”, completou. “Então, vamos esperar um pouco mais, porque temos algumas coisas a passar no Parlamento ainda e não podemos ter turbulência. Algumas questões, como essa nossa PEC que me permite zerar o imposto do óleo diesel no Brasil”, finalizou o presidente, em referência à PEC dos Combustíveis.

Um dos nomes especulados nos bastidores é o do general Walter Braga Netto, ministro da Defesa de Bolsonaro. No entanto, partidos aliados do presidente, como PP e PL, pressionam para que o vice seja um político, preferencialmente do Nordeste do país.

O nome do atual vice-presidente, o general Hamilton Mourão, está praticamente descartado. Ele deve disputar uma vaga no Senado pelo Rio Grande do Sul ou o governo do Rio de Janeiro.

Indagado sobre o perfil de seu futuro companheiro de chapa, Bolsonaro afirmou que não haverá grandes surpresas.

“É alguém que, uma vez anunciado, pode ter certeza, não será novidade para vocês, porque é do nosso meio”, disse.

Tom de campanha

Mais cedo, ao participar da solenidade que marcou o início dos testes da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Gaslub Itaboraí, o chefe do Executivo deu o tom do discurso que usará na campanha eleitoral e chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal adversário, de “bandido”.

“O mesmo cara que quase quebrou o Brasil de vez e deixou um prejuízo de quase R$ 1 trilhão na Petrobras agora quer voltar à cena do crime”, disse Bolsonaro. “Se aquele bando, aquela quadrilha voltar, não vai ser só a Petrobras que eles vão roubar. Vai ser a nossa liberdade. É inadmissível achar que aquele bandido vai resolver os problemas do país.”

Revista Oeste

'O mistério do comboio invisível', por Guilherme Fiuza

 

Manifestantes contrários ao passaporte da vacina se reúnem diante do Parlamento canadense, em Ottawa.| Foto: Reprodução/Twitter


A imprensa mundial, outrora conhecida como grande imprensa, não viu um comboio com milhares de caminhões tomando mais de 50 quilômetros de estradas no Canadá contra as medidas nazistoides do governo local. Também não viu as centenas de milhares de pessoas que passaram a ocupar as ruas nas últimas semanas em vários países europeus contra a ditadura sanitária – levando à suspensão do passaporte vacinal obrigatório em países como Inglaterra e Dinamarca.

A imprensa acabou. Aquilo que você antigamente consultava para estar por dentro dos acontecimentos hoje te deixa por fora. E como fica fácil de entender pelo parágrafo acima, os motivos por trás (e pela frente) dessa falência não são casuais. São deliberados.

Por que a imprensa esconde os protestos espalhados pelo mundo contra uma ascensão tirânica mal disfarçada de bloqueio sanitário? Distração? Falta de discernimento? Má apuração? Perda da capacidade de avaliação do que é notícia? Não, nada disso. Todas essas hipóteses são inverossímeis e estão aí só para realçar o óbvio inconfessável: a imprensa está vendida.

Vamos repetir para não parecer que foi sem querer: a imprensa está VENDIDA. Quem comprou? Essa conclusão fica para você. Fique à vontade. E não necessariamente toda a imprensa que se tornou VENAL recebeu dinheiro de algum corruptor. Existe um convite mercadológico para a venda de falsas virtudes – como chamar de “negacionistas” e coisas do tipo aqueles que querem esperar pelos estudos completos dessas vacinas de covid que ainda estão em desenvolvimento.

Veículo que força esse tipo de pauta discriminatória para surfar na propaganda enganosa do lobby também é VENDIDO – mesmo que não tenha recebido diretamente um centavo da Mamãe Farma e suas fundações tentaculares.

Nem todos os veículos de imprensa se tornaram venais, mas a maioria dos que compunham a chamada grande imprensa deixou de ser confiável. Imprensa sempre foi um negócio limítrofe. Nem sempre ficou bem demarcada a fronteira entre informação e entretenimento, entre análise e espetáculo e outras conjunções delicadas desse tipo. A “editorialização” do noticiário – ou seja, o uso de notícias supostamente objetivas para induzir o público a um ponto de vista arbitrário – sempre foi uma tentação real, mesmo nos veículos considerados respeitáveis. Ou seja: o potencial de problema no terreno da idoneidade sempre foi significativo.

Hoje você está vendo essa fanfarra. Veículos seculares simplesmente mentem para vender uma ideia ou uma abordagem – como se viu nas inúmeras manchetes estigmatizando os chamados tratamentos iniciais de covid como charlatanismo. O conhecimento sobre o grau de eficácia desses tratamentos ainda não se consolidou, mas é falso afirmar que há consolidação sobre a sua total ineficácia. E essa mentira foi exaustivamente repetida nas manchetes outrora confiáveis, ou razoavelmente confiáveis, sempre esquentadas por “especialistas” providenciais – e ninguém terá perdido de visto que a mentira, no caso, ajuda coincidentemente os vendedores de vacina.

As novíssimas e velocíssimas vacinas contra covid estão invariavelmente bem na foto dessa também novíssima ex-imprensa. E qualquer controvérsia em torno da vacinação é tratada na base da pancada. O ídolo mundialmente famoso Eric Clapton teve dores e paralisias após se vacinar, e sua recusa em tomar a segunda dose é abordada frequentemente como negacionismo e teoria da conspiração. Um vexame.

Como disse o maior surfista da história, Kelly Slater, sobre a perseguição boçal empreendida pela Austrália ao número um do tênis, Novak Djokovic, a Síndrome de Estocolmo pode ser rebatizada como Síndrome de Melbourne. Todos os que apoiam um “passaporte” que não barra vírus, só gente, como se viu no próprio torneio da Austrália, estão fazendo o jogo dos tiranetes fantasiados de higienistas. Vendido ou não, nenhum dos colaboradores será esquecido.


Gazeta do Povo

'O efeito Mariz', por Caio Coppolla

 A advocacia decente reage a criminalistas em campanha por um criminoso na Presidência da República


Advogado do Prerrogativas disse em evento público que Lula é o símbolo mais elevado da Justiça.| Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula


Dentre as escassas surpresas positivas deste finado mês de janeiro, destaca-se a reação indignada da advocacia brasileira à perversão da defesa criminal. Esse direito constitucional, que legitima as sentenças penais do Estado, tem se deformado em um expediente ideológico pela impunidade, que reabilita corruptos inveterados enquanto enriquece seus agentes. Em nota pública de repúdio, mais de 1.000 advogados interromperam o silêncio eloquente da OAB e rechaçaram declarações avessas ao interesse público proferidas por seus colegas militantes, bandidólatras e bajuladores:

“Os Advogados signatários desta nota vêm à público MANIFESTAR REPÚDIO no tocante às falas dos advogados Alberto Toron que proferiu “ Lula é o símbolo mais elevado da Justiça” e Antonio Claudio Mariz que disse “se o crime já aconteceu, o que adianta punir, que se puna, mas que não se ache que a punição irá combater a corrupção” durante a realização de evento em homenagem ao ex-presidiário Luís Inácio Lula da Silva patrocinado por um grupo de advogados autodenominados “Prerrogativas” que não reflete e nem se amolda aos valores, princípios e preceitos éticos e morais primados e defendidos pela classe dos Advogados brasileiros. A Advocacia brasileira não glamouriza o crime, o criminoso, a injustiça, a impunidade e a corrupção.”

Segundo a nota, políticos que respondem a processos criminais “sabem que terão guarida através da atuação de ‘poderosos’ profissionais que conhecem como transitar nas brechas da lei e nas sombras dos processos, não em busca do reconhecimento de sua inocência, mas de um estratagema nefasto que impeça que a Justiça seja aplicada”.

Os signatários também se insurgiram contra outra “manifestação esdrúxula proferida em momento de êxtase ideológico para agradar e amaciar o ego inflado do ex-presidiário Lula”: o dr. Mariz assegurou que a “advocacia brasileira assumiria um compromisso de estar ao lado de Lula, procurando recolocá-lo na Presidência da República.” Não senhor! A Advocacia brasileira não compactua com essa fala e nem assumirá compromisso de caminhar ao lado de um criminoso condenado pela Justiça para recolocá-lo na Presidência da República. Se tal premissa se concretizar, demonstrará que o Brasil é um País doente em estado terminal de uma sepse combinada de corrupção, injustiça e impunidade.”

A nota é um lampejo de sensatez num debate público monopolizado pela histeria a soldo daqueles que enricam a cada traste milionário livrado da justiça – ou livrado pela Justiça, o que o leitor preferir. A jornalista Thais Oyama descreveu o Prerrogativas, coletivo de (des)aplicadores do Direito, como a “fina flor dos advogados criminalistas do país, daqueles que só topam se sentar para conversar a partir de sete dígitos” e são afeitos ao “agradável som do tilintar de moedas”.

Dentre os “causídicos das bancas de ouro” empenhados na causa petista, um nome se destaca pelo comportamento oportunista e sabujo dispensado a Lula: o já citado Antonio Claudio Mariz. Alcunhado pelo espirituoso Augusto Nunes como doutor em cinismo, Mariz coleciona clientes notórios como os assassinos Pimenta Neves e Suzane von Richthofen. Contudo, foi a defesa de Michel Temer, um amigo de longa data, que recolocou Mariz na periferia dos holofotes à espera de uma nomeação para Ministro da Justiça. O cargo não veio e Mariz se foi... para o colo de Lula, a quem agora jura vassalagem incondicional – em seu nome e em nome de toda a categoria que não representa, como ficou explícito na nota de repúdio acima.

Dos bastidores pelo impeachment de Dilma ao compromisso vexatório com a candidatura de Lula, a pirueta política do fluido dr. Mariz salta aos olhos, mas a infidelidade não surpreende: sua laia se notabiliza por colocar interesses particulares (seus e dos clientes) acima de questões comezinhas como a coerência, a ética, a verdade e a justiça. Flagrado em vídeo advogando sua antiga tese de que “não se combate crimes e corrupção com cadeia”, o protagonista da maior vergonha pública da história nas carreiras jurídicas já teve oportunidade de se defender da incompreensão da sociedade sobre a atuação de certos criminalistas e seus respectivos honorários, tão altos quanto suspeitos:

“Essa é uma grande hipocrisia da sociedade, que valoriza tanto o “ter”, que aplaude quem ganha dinheiro, o artista, o jogador de futebol, o banqueiro, o cantor. Essa sociedade aplaude quem tem dinheiro e crítica honorários de advogados. Esses são valores devidos pelo nosso trabalho. É um contrato bilateral. Você pede, alguém aceita e paga” – exceto no caso dos corruptos atendidos por Mariz e seus colegas, onde é a sociedade que paga pelo crime e pela defesa, enquanto o advogado finge ignorar a origem da sua elevada remuneração.

Mas parece que, dessa vez, o doutor em cinismo errou na pedida ao exortar profissionais direitos do Direito a reconduzirem à Presidência da República alguém incapaz de cumprir as leis do país. Errou também ao se despir publicamente dos trapos de moralidade que ainda cobriam suas vergonhas intelectuais... agora é explícito! – a advocacia que ele pratica, as ideias que ele defende e os círculos que ele frequenta. Que a reação a tudo isso não seja pontual e que o “efeito Mariz” desencadeie a exposição das teses (e dos cúmplices) do lulopetismo nas bancas criminais.


Revista Oeste

Contas públicas fecham no azul pela primeira vez em em 7 anos, aos R$ 64,7 bi

Resultado teve impacto direto da inflação, que elevou a arrecadação de impostos; Estados e municípios tiveram saldo de R$ 97,69 bilhões, o maior da série histórica


Sede do Banco Central; as contas do setor público fecham 2021 no azul em R$ 64,7 bilhões, primeiro resultado positivo em sete anos Foto: Dida Sampaio/Estadão

Impulsionado pela inflação, pela recuperação econômica e pelo maior consumo de bens e serviços, o setor público consolidado (União, Estados, municípios e estatais, com exceção de Petrobras e Eletrobras) registrou superávit em 2021 após sete anos no vermelho.

O resultado positivo foi de R$ 64,727 bilhões, revertendo parcialmente o recorde negativo em 2020 (-R$ 702,950 bilhões), em meio aos gastos extraordinários relacionados à pandemia de covid-19.

O dado de 2021 é o melhor resultado anual para o primário desde 2013 (R$ 91,306 bilhões). Além disso, representa 0,75% do Produto Interno Bruto (PIB). O resultado primário reflete a diferença entre receitas e despesas do setor público, antes do pagamento dos juros da dívida pública.

O superávit primário consolidado de 2021 ficou abaixo da maioria das estimativas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que era de R$ 75,2 bilhões.

O resultado fiscal de 2021 foi composto por um déficit de R$ 35,872 bilhões do Governo Central (Tesouro Nacional, Banco Central e INSS), ou 0,41% do PIB. 

Já os governos regionais (Estados e municípios) influenciaram o resultado positivamente com R$ 97,694 bilhões (1,13% do PIB), o maior da série histórica.  O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, disse que houve aumento de 15,8% na arrecadação do ICMS no ano passado em relação a 2020, já descontada a inflação. Enquanto os Estados registraram um superávit de R$ 78,198 bilhões, os municípios tiveram resultado positivo de R$ 19,496 bilhões. As empresas estatais registraram superávit primário de R$ 2,906 bilhões.

A XP Investimentos estima que, diante do cenário de mais gastos e menor receita, as contas do setor público devem voltar ao negativo este ano (nas projeções da corretora, o resultado negativo deste ano deve ser equivalente a 0,6% do PIB).  "Primeiro, haverá maiores gastos tanto no governo central quanto nos regionais, com a mudança no teto de gastos (regra que atrela o crescimento das despesas à inflação) e o ciclo eleitoral", afirma o economista da XP Tiago Sbardelotto, em nota. "Adicionalmente, as receitas terão um menor aumento na margem devido à desinflação dos preços das commodities (produtos básicos, como minério e alimentos) e à desaceleração da atividade econômica."

O banco americano  Goldman Sachs também prevê piora no quadro fiscal.  "Esperamos que a cena fiscal se deteriore novamente em 2022, o saldo fiscal primário e geral e a dívida pública como proporção do PIB nos níveis federal e subnacional, devido ao crescimento abaixo da tendência, taxas de juros reais elevadas e novas deteriorações do resultado primário", escreve o economista do Goldman Sachs Alberto Ramos, em relatório.

“A partir de 2022, a inflação passa a jogar contra o fiscal”, disse  economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles. " Como a inflação acelerou muito em 2021, a arrecadação subiu e os gastos ficaram mais controlados, o que ajuda no primário. Quando a inflação desacelera, o efeito é o contrário, por isso, em 2022, os gastos tendem a crescer com a inflação de 2021 e arrecadação com a de 2022, que será cortada pela metade”, explicou.

Na conta com juros, resultado negativo

Quando se leva em conta os gastos com os juros da dívida, o setor público consolidado registrou um déficit nominal de R$ 383,664 bilhões em 2021, após rombo de R$ 1,015 trilhão em 2020. O resultado equivale a 4,42% do PIB. O resultado nominal representa a diferença entre receitas e despesas do setor público, já após o pagamento dos juros da dívida pública.

Os governos regionais tiveram saldo positivo de R$ 61,755 bilhões, enquanto as empresas estatais registraram déficit nominal de R$ 2,264 bilhões. 

Só em dezembro, o déficit nominal somou R$ 54,249 bilhões, após rombo de R$ 26,608 bilhões em novembro e de R$ 75,808 bilhões no último mês de 2020.

A conta de juros foi de  R$ 448,391 bilhões em 2021, após esta rubrica ter encerrado 2020 com um gasto de R$ 312,427 bilhões. Em relação ao PIB, a despesa representa 5,17%.  Conforme o BC, o governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) teve em 2021 despesas na conta de juros de R$ 407,282 bilhões. Os governos regionais registraram gastos de R$ 35,939 bilhões e as empresas estatais, despesas de R$ 5,170 bilhões. / COLABORARAM CÍCERO COTRIM E MARIANNA GUALTER

Thaís Barcellos e Célia Froufe, O Estado de S.Paulo

'Os Pingos Nos Is' - Augusto Nunes, Fiuza, Trindade e Graeml analisam a postura do TSE sobre as urnas suspeitas

Bolsonaro no Rio...

Bolsonaro: ‘Inadmissível achar que aquele bandido vai resolver problemas do país’

Presidente deu o tom do discurso que deve usar contra Lula nas eleições de outubro

O presidente Jair Bolsonaro participou de solenidade que marcou o início dos testes da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Gaslub Itaboraí
O presidente Jair Bolsonaro participou de solenidade que marcou o início dos testes da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Gaslub Itaboraí | Foto: Reprodução/Facebook

O presidente Jair Bolsonaro fez duras críticas ao petista Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira, 31, e deu o tom do discurso que deve usar contra o adversário nas eleições de outubro.

Ao participar da solenidade que marcou o início dos testes da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Gaslub Itaboraí, o chefe do Executivo chamou Lula de “bandido”.

“O mesmo cara que quase quebrou o Brasil de vez e deixou um prejuízo de quase R$ 1 trilhão na Petrobras agora quer voltar à cena do crime”, disse Bolsonaro. “Se aquele bando, aquela quadrilha voltar, não vai ser só a Petrobras que eles vão roubar. Vai ser a nossa liberdade. É inadmissível achar que aquele bandido vai resolver os problemas do país.”

Em seu discurso, Bolsonaro disse ainda que, caso Lula seja eleito presidente da República, é provável que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e a ex-presidente Dilma Rousseff voltem ao primeiro escalão do governo.

“Alguém acha que, se o cara voltar, José Dirceu não não vai para a Casa Civil? Ou que a Dilma não vai para a Defesa? Seria a Defesa mesmo, já que ela é mandona. E é uma arma poderosa”, completou.

Na semana passada, em entrevista à Rádio CBN do Vale do Paraíba (SP), Lula fez elogios à sua sucessora no Palácio do Planalto, mas deu sinais de que pretende convidar lideranças mais jovens para compor o ministério de seu eventual governo.

Dilma foi ministra de Minas e Energia e ministra-chefe da Casa Civil de Lula. Ela foi escolhida pelo líder petista para ser candidata à sua sucessão, em 2010 — venceu aquela eleição e foi reeleita em 2014. Em 2016, em meio ao escândalo do petrolão e à maior crise econômica da história do país, foi deposta por um processo de impeachment.

Bolsonaro em SP

Jair Bolsonaro também aproveitou para antecipar que irá a São Paulo na quarta-feira 2, ao lado do ministro da Cidadania, João Roma, para vistoriar o andamento das buscas e trabalhos de resgate das vítimas de deslizamentos que deixaram pelo menos 21 mortos no Estado.

Revista Oeste

Caminhoneiros do Canadá mantêm protesto contra vacinação obrigatória

 O primeiro-ministro Justin Trudeau está escondido e o prefeito da capital do país atacou os manifestantes

Manifestantes se reúnem no centro de Ottawa para criticar a vacinação obrigatória - 30/01/2022| Foto: Reprodução/Twitter
Manifestantes se reúnem no centro de Ottawa para criticar a vacinação obrigatória - 30/01/2022| Foto: Reprodução/Twitter

Depois de dias de protesto contra a vacinação obrigatória, os caminhoneiros do Canadá sinalizam que o ato vai continuar. Nesta segunda-feira, 31, milhares de manifestantes permanecem ocupando as ruas da capital do país, Ottawa, pacificamente, e pedem providências do governo federal.

O primeiro-ministro Justin Trudeau, contudo, está em local incerto e não sabido. Conforme noticiou a Revista Oeste, o chefe do Executivo fugiu da cidade antes dos atos começarem. Os caminhoneiros do Canadá exigem que Trudeau derrube um decreto que estabeleceu a imunização compulsória.

Na manhã de hoje, o prefeito de Ottawa, Jim Watson (que pertence ao mesmo partido de Trudeau), atacou os caminhoneiros e pediu a desmobilização do ato “É hora de eles seguirem em frente”, disse, em entrevista à emissora CTV News. “Adoraríamos vê-los partir amanhã”, confessou o prefeito.

Início das manifestações dos caminhoneiros do Canadá

Chamado “Comboio da Liberdade”, o ato chegou a Ottawa na sexta-feira 28, como parte de uma campanha pelo país para protestar contra as novas regras de vacinação na fronteira Canadá-EUA e outras restrições de saúde pública. No sábado, a maioria das ruas da capital foram ocupadas.

Durante todo o fim de semana, milhares de manifestantes carregaram bandeiras e placas canadenses no centro de Ottawa dizendo “Torne o Canadá livre novamente!”, “Não há mais Vax Pass”, “Nós apoiamos caminhoneiros”, “Liberdade para escolher”, “Liberdade sem medo” e “Liberdade para todos.”

Leia também: “A destruição da democracia”, artigo de J.R. Guzzo publicado na Edição 97 da Revista Oeste

Cristyan Costa, Revista Oeste

Conab: importação de fertilizantes bate recorde no Brasil

 O país recebeu 41 milhões de toneladas desses produtos de outros países

Mato Grosso foi o Estado que mais recebeu as importações de fertilizantes
Mato Grosso foi o Estado que mais recebeu as importações de fertilizantes | Foto: Divulgação/CNA

Ao longo de 2021, o agronegócio do Brasil importou 41,6 milhões de toneladas de fertilizantes. A marca é recorde para um ano, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Segundo os dados da companhia, o porto de Paranaguá, no Paraná, é a principal porta para a entrada de fertilizantes no país. Entretanto, outras rotas tem ganhado espaço.

O porto de Santos, por exemplo, registrou o aumento de 53% na entrada de fertilizantes direcionados para o Mato Grosso e Estados do Sudeste e Centro-Oeste. O montante passou de 6,6 milhões de toneladas para 10,1 milhões de toneladas. “Em momentos de custos elevados destes insumos, o setor tende a procurar por rotas mais acessíveis e que causem menos impactos no preço final de venda dos fertilizantes aos produtores rurais”, afirmou Thomé Guth, o superintendente de Logística Operacional da Conab.

O Estado que mais importou fertilizantes

O Mato Grosso absorveu a maior parte das importações de fertilizantes em 2021. Sozinho, o Estado recebeu 8 milhões de toneladas de adubos oriundos de outros países.

Conforme os números da Conab, os agricultores mato-grossenses foram responsáveis por 29% de toda a produção de grãos do país no ano passado, ficando em primeiro lugar no ranking nacional para esse item. A colheita estadual desses vetais chegou a 72,4 milhões de toneladas. A segunda posição ficou com Rio Grande do Sul: 38,4 milhões.

Artur Piva, Revista Oeste

Setor público tem primeiro resultado positivo em 8 anos

 Superávit foi de R$ 64,7 bilhões, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central

Setor público consolidado terminou 2021 com superávit, informou o Banco Central
Setor público consolidado terminou 2021 com superávit, informou o Banco Central | Foto: Reprodução/Mídias Sociais

O setor público consolidado do Brasil fechou 2021 com um superávit de R$ 64,7 bilhões, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira, 31, pelo Banco Central (BC). O indicador reúne as contas da União, dos Estados e das empresas estatais.

Trata-se do primeiro resultado positivo do setor público no país em oito anos, desde 2013.

O desempenho obtido em 2021 é atribuído, principalmente, a um forte superávit registrado pelos Estados.

Em 2020, primeiro ano da pandemia de covid-19, a conta do setor público consolidado terminou com déficit de R$ 703 bilhões.

O resultado negativo foi influenciado pelo aumento das despesas públicas em meio às ações emergenciais para diminuir o impacto da pandemia.

Veja o resultado do setor público consolidado em 2021

  • Estados: superávit de R$ 97,7 bilhões;
  • Estatais: superávit de R$ 2,9 bilhões;
  • União: déficit de R$ 35,9 bilhões.

Na semana passada, dados divulgados pela Secretaria do Tesouro Nacional revelaram que as contas do governo fecharam 2021 com um déficit de pouco mais de R$ 35 bilhões.

O valor, que representa 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), é o menor saldo negativo desde 2014, quando o déficit foi de R$ 35,2 bilhões. Trata-se, portanto, do melhor resultado em sete anos.

Revista Oeste