segunda-feira, 21 de outubro de 2024

'Oeste Sem Filtro' - Com Augusto Nunes, Ana Paula Henkel, Silvio Navarro, Adalberto Piotto e Paula Leal

'Faroeste à Brasileira' - Revista Oeste - Tiago Pavinatto e convidados comentam desmandos do 'cartel Lula-STF

Lotes perdidos fazem parte de um contrato de 12,5 milhões de imunizantes da Moderna, de R$ 725 milhões

Lotes perdidos fazem parte de um contrato de 12,5 milhões de imunizantes da Moderna, de R$ 725 milhões

Getty Images, Reprodução


O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou sem vacinas da covid-19 para a entrega imediata depois de cerca de um terço do lote comprado da farmacêutica Moderna perder validade no estoque do Ministério da Saúde ou precisar ser trocado. A apuração é do jornal Folha de S.Paulo. Sem opção de outros imunizantes, a pasta, comandada por Nísia Trindade, diminuiu a entrega das doses nos últimos meses. Hoje, todas as unidades em estoque estão vencidas, segundo o veículo. A Saúde reconhece que Estados e municípios têm poucas vacinas, especialmente do modelo destinado ao público infantil. 

Segundo a Folha, os lotes perdidos fazem parte de um contrato de 12,5 milhões de vacinas da Moderna, adaptadas à variante XBB, de R$ 725 milhões. O ministério conseguiu repassar aos Estados 8,26 milhões de unidades da compra, enquanto cerca de 4,2 milhões de vacinas travaram no estoque. A Moderna já recolheu 1,2 milhão de unidades que estavam com a Saúde para trocar por doses com validade mais longa.

Documentos internos da Saúde consultados pela Folha revelam que as cerca de 3 milhões de vacinas restantes, todas vencidas, devem ser substituídas em dezembro por um modelo mais atual da farmacêutica, adaptado à cepa JN.1. De acordo com o jornal, o plano do ministério era dar tração à imunização da covid neste ano com a compra dos lotes da Moderna. O contrato emergencial, no entanto, foi assinado depois do planejado pela pasta, e as doses só começaram a ser entregues ao Sistema Único de Saúde (SUS) em maio. 

A empresa ainda entregou vacinas com validade mais curta do que o contrato exigia. Por isso, o ministério pediu em agosto à Moderna para trocar as vacinas prestes a vencer. Leia também: “Falta de vacinas atinge 6 de cada 10 municípios brasileiros” 

No fim de setembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu o aval para a importação de 1,2 milhão de vacinas com validade até 2025 para substituir os lotes já recolhidos pela farmacêutica. As doses ainda precisam passar pelo controle de qualidade, entre outras verificações, antes da distribuição para a rede pública. Saúde culpa fake news por baixa em vacinas O ministério considera a validade da vacina, a exigência de baixíssimas temperaturas de armazenamento e as “campanhas de fake news” se tornaram obstáculos para a campanha de imunização.

“Embora o ministério tenha orçamento, contrato e planejamento, dependemos de muitos outros atores nessa cadeia de abastecimento, afirmou Eder Gatti, diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, à Folha. “Quando acontece algum imprevisto ou problema, em qualquer uma dessas etapas, você tem algo que desencadeia na ponta, que é um determinado desabastecimento.” 

“Obedecemos à demanda estadual”, acrescentou. “Então, por exemplo, sabemos que os Estados estão com estoque [para adultos]. Estamos com desabastecimento para a apresentação infantil, que vai se resolver.” Em maio, primeiro mês de entregas da vacina da Moderna, foram repassados 3,55 milhões de vacinas. A distribuição caiu a 2,17 milhões de imunizantes em junho, 866 mil em julho, 1,1 milhão em agosto e 550 mil em setembro. Leia também: “AstraZeneca admite pela 1ª vez ‘efeitos colaterais raros’ da vacina contra covid” Os dados do Ministério da Saúde sobre o uso de vacinas da covid-19 ainda revelam que 3,1 milhões de doses da Moderna foram aplicadas, menos de metade do volume total entregue. 

Revista Oeste

Ministros do STF recebem o 2º salário mais desigual da América do Sul

Em comparação com a média populacional, de R$ 1.848, os R$ 44 mil mensais representam uma desigualdade de 2.281%


Reprodução

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil ocupam a segunda posição em termos de desigualdade salarial na América do Sul, com um salário mensal de R$ 44 mil. Esse valor representa um total de 2.281% em relação à renda média per capita da população brasileira, que é de R$ 1.848. Em 2025, a remuneração deverá aumentar para R$ 46,3 mil.  Um levantamento do site Poder360 incluiu dez dos 12 países sulamericanos, excluindo a Venezuela, cujos dados não são disponibilizados, e o Equador, pois as informações não foram localizadas. O Peru lidera a lista, com os ministros recebendo 43.220 sóis peruanos (equivalente a R$ 64.837), em contraste com a média da população, que ganha 1.496 sóis (R$ 2.245), resultando em uma diferença de 2.788%. 

Outros países da América do Sul

Além disso, em termos absolutos, os ministros brasileiros têm salários superiores aos de seus colegas em seis países vizinhos. Os únicos salários mais altos estão no Uruguai (481.182 pesos, ou R$ 65.838), no Peru e no Chile (13,5 milhões de pesos chilenos, ou R$ 81.630). Em comparação global, o Judiciário brasileiro apresenta gastos significativos, que representam 1,6% do PIB, enquanto a média mundial é de apenas 0,37%. Esse gasto inclui não só os salários, mas também benefícios, como auxílio-creche e auxílio-moradia. 

Apesar das cifras elevadas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que os salários são “baixos” em relação à importância das funções. Os ministros do STF ganham mais do que a média do 1% mais rico da população brasileira, que é de R$ 17.447. 

STF forma maioria para proibir revistas íntimas em presídios

O Supremo Tribunal Federal (STF) retomou, na sexta-feira 18, o julgamento da validade das revistas íntimas em visitantes de presídios. Essa prática, por medida de segurança, exige que visitantes fiquem parcialmente ou totalmente nus. O julgamento havia sido suspenso em maio do ano passado depois do pedido de vista (mais tempo para analisar o caso) do ministro Cristiano Zanin. Com seis votos a favor da proibição da revista íntima, o STF formou maioria para banir essa ação por parte de agentes de segurança 21/10/2024, 08:13 STF: ministros recebem o 2º salário mais desigual da América do Sul https://revistaoeste.com/brasil/ministros-do-stf-recebem-o-2o-salario-mais-desigual-da-america-do-sul/ 4/8 pública que trabalhem em serviços. O relator do processo, ministro Edson Fachin, já havia contado com apoio de Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e do presidente da Corte, Luís Roberto Barroso.

 

Revista Oeste

News da Manhã Brasil – Alexandre Pittoli - AuriVerde Brasil

J.R. Guzzo: 'O STF joga uma partida que só tem piores momentos'

 Os ministros perderam a capacidade de fazer qualquer coisa certa, como o organismo vai perdendo a audição ou os glóbulos brancos




(J. R. Guzzo, publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo) 

O STF joga há mais de cinco anos uma partida que só tem piores momentos, mas ainda assim consegue jogar cada vez pior. É natural. Os ministros perderam a capacidade de fazer qualquer coisa certa, como o organismo vai perdendo a audição ou os glóbulos brancos — e no espaço aberto pela ausência das coisas certas só podem entrar as coisas erradas. Não é que os ministros pensem errado. O problema é que eles não sabem o que é pensar. 

Num momento em que a integridade do STF está sendo cada vez mais contestada, e se multiplicam as evidências de que o tribunal se tornou o maior inimigo da democracia no Brasil, o que fazem os ministros? Vão para um piquenique em Roma pago, entre outros, por empresários que confessaram crimes de corrupção ativa. Pior: devolveram dinheiro roubado, e agora o ministro Dias Toffoli lhes deu de volta os R$ 10 bilhões que tinham prometido pagar para sair da cadeia. 

As empresas que levam os ministros para passear nas capitais do mundo rico têm causas a serem julgadas no STF. A mulher de Dias Toffoli é advogada do escritório que representa a JBS — a que foi presenteada pelo marido com aqueles R$ 10 bi. As mulheres de Alexandre Moraes, Gilmar Mendes e Cristiano Zanin também advogam no SFT. Só a sra. Moraes está em 18 processos. O ministro Barroso acha tudo isso normal. O presidente do tribunal, aliás, achou uma boa ideia  defender a boca livre de Roma com o seguinte enunciado: registrar que empresários corruptos patrocinaram o “evento” é ter “preconceito contra a iniciativa privada”. 

O que ele sugere, então? Que a presença de ladrões confessos deve ser mantida em sigilo, para não levantar dúvidas sobre a reputação da liberdade empresarial? Aí já é levar a jaca para o palco e enfiar o pé em cima

As violações do STF O STF está vendo, finalmente, a sua conduta entrar em julgamento — até pela imprensa internacional, essa que os ministros veneram com a mesma intensidade com que odeiam as redes sociais. Indaga-se, é claro, como um tribunal de Justiça possa ter formado contra si um prontuário tão óbvio de proteção à roubalheira. Mas indaga-se, mais ainda, se o STF é hoje um defensor ou um agressor da democracia no Brasil. 

O tribunal parece ter decidido acabar, de uma vez por todas, com qualquer dúvida que ainda possa haver a respeito. O ministro Flavio Dino decidiu intimar o deputado Marcel van Hattem, um dos líderes da oposição, a depor numa delegacia de polícia. Ele sabe perfeitamente que o artigo 53 da Constituição proíbe isso: “quaisquer” opiniões, palavras e votos de membros do Congresso, está escrito ali, são “invioláveis”. 

Por que viola, então?


Revista Oeste

sábado, 19 de outubro de 2024

Pelé continua sendo considerado o Rei do Futebol

PT deve sumir de São Paulo e o melhor é a cara da apresentadora da GloboNewsLixo - oiluiz TV

PT deve sumir de São Paulo e o melhor é a cara da apresentadora da GloboNewsLixo - oiluiz TV

Estatais sofrem o maior rombo do século sob o 'governo' corrupto do ex-presidiário Lula

 As empresas registraram déficit de R$ 9,76 bilhões de 1º de janeiro de 2023 a 31 de agosto de 2024


Dupla medonha Lula-Haddad ri à toa - Reprodução

Em quase dois anos de governo neste terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assiste ao maior rombo das estatais do século 21. Sob a gestão petista, as empresas registraram déficit de R$ 9,7 bilhões — valores ajustados pela inflação até setembro de 2024, conforme reportagem do site Poder360, com base em dados do Banco Central (BC). Durante o ano de 2023, as estatais tiveram déficit de R$ 2,4 bilhões. Em 2024, por sua vez, o valor saltou para R$ 7,3 bilhões até agosto. O saldo foi superado apenas pelo déficit de 2014, no governo Dilma Rousseff, que totalizou R$ 7,5 bilhões. Em dois anos, o governo Lula reverteu o superávit registrado durante o mandato inteiro do ex-presidente Jair Bolsonaro: R$ 31,1 bilhões.

O desempenho financeiro das estatais sob o governo Lula As estatais federais registraram déficit de R$ 3,4 bilhões de janeiro a agosto deste ano. O valor representa um aumento de 383,1%, em relação a 2023. Na quarta-feira 16, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou sobre os rumores da possibilidade de desvincular as estatais do Orçamento. “Estamos explorando a possibilidade de reduzir o aporte federal para essas estatais que têm condição de se emancipar”, afirmou.

Manobra à vista O governo de Luiz Inácio Lula da Silva quer excluir as estatais do Orçamento tradicional da União. O presidente enviou dois projetos para o Congresso que afrouxam as regras e permitem às empresas saírem da contabilidade tradicional. Dessa forma, as estatais poderiam gastar dinheiro público como instituições independentes, mesmo estando sob o guarda-chuva do Tesouro Nacional. 

Se as propostas avançarem, o controle dos gastos dessas empresas vai ficar mais difícil, dizem especialistas. Além disso, a desvinculação do Orçamento abre espaço para novas despesas, configurando a tentativa de um drible no arcabouço fiscal. O Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos diz que a ideia é outra. Responsável pelas estatais federais, a pasta argumenta que a proposta do governo é recuperar a sustentabilidade das companhias, livrando-as da dependência exclusiva de recursos da União no médio prazo.

Dono da proposta, o Ministério do Planejamento e Orçamento defende que a mudança vai melhorar a situação fiscal das contas públicas. Diz a pasta que os recursos próprios dessas estatais entram hoje na conta do Orçamento e concorrem com outros gastos da administração. Atualmente, 17 empresas estatais são consideradas dependentes. São instituições que precisam de recursos do Tesouro Nacional para manter suas atividades. Entre elas, estão Telebras, responsável pela internet dos órgãos públicos; Infra S/A, que cuida de projetos de infraestrutura; Conab, encarregada de abastecer e distribuir alimentos; Embrapa, de pesquisa agropecuária; e a Codevasf, que faz obras nos vales do Rio São Francisco e do Parnaíba.

Os projetos do governo mudam as regras para que essas empresas saiam dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social. Na linha atual, seus gastos são submetidos aos limites fiscais e fazem parte do 19/10/2024, 21:09 Estatais sofrem o maior rombo do século sob o governo Lula https://revistaoeste.com/economia/estatais-sofrem-o-maior-rombo-do-seculo-sob-o-governo-lula/ 5/8 Orçamento de Investimento, no qual estão estatais independentes como a Petrobras. 

Revista Oeste

'Outra Coisa' - Revista Oeste' - Guilherme Fiuza, Nívea Kalmar, Adriana Reid e convidados comentam as vigarices do 'cartel Lula-STF'

'Outra Coisa' Revista Oeste - com Guilherme Fiuza, Adriana Reid e Nívia Kalmar - Tudo sobre o desgoverno do 'cartel Lula-STF

BEAUTIFUL CHRISTMAS MUSIC 2025: Best Christmas Songs of All Time for Relax, Sleep, Study

LIVE: President Trump Holds a Rally in Latrobe, PA

Perfectly Frank.

Depois de se reunir com Lula, Enel contratou conselheiro sem experiência e próximo de Alexandre Silveira

Eduardo Martins foi vice-presidente da empresa que construiu condomínio em reduto eleitoral do ministro de Minas e Energia que, na época, trabalhou por licenças e autorizações junto ao então governador tucano Aécio Neves 


Reprodução

O atual presidente do conselho de administração da Enel, Eduardo Martins, foi contratado pela empresa de energia elétrica depois de uma reunião da companhia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e encontros com o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira. Segundo reportagem do jornal O Globo, as reuniões ocorreram no Brasil e na Itália, onde fica a matriz global da concessionária. Martins não tem experiência no setor elétrico ou em conselhos de administração. 

O executivo afirma que encaminhou um currículo à Enel na espera de alguma oportunidade na área de gestão. Sua experiência, contudo, teria feito com que a empresa decidisse contratá-lo para presidir o conselho. “Eu os procurei e a princípio imaginava que poderia contribuir na gestão. Apresentei meu currículo e gostaram muito. Mas, para uma pessoa da minha idade (74 anos), entenderam que precisava ser no conselho”, disse o executivo ao O Globo. Silveira nega amizade: “Não indiquei ninguém” 

Em 10 de julho deste ano, Martins assumiu o posto no conselho da empresa que comanda as distribuidoras da Enel em três estados brasileiros. Ou seja, menos de um mês depois das reuniões do governo com os italianos que são donos da companhia. Silveira nega qualquer interferência e diz que Martins não é seu amigo. “Nunca frequentou a minha casa, mas o conheço bem. É um dos um dos maiores engenheiros do Brasil, com currículo espetacular”, afirmou o ministro ao jornal carioca, reiterando: “Não indiquei ninguém”.

Ministro ajudou Martins em obras em MG De acordo com a reportagem, Martins foi vice-presidente de uma construtora que ergueu um grande condomínio residencial dentro de um reduto eleitoral do ministro, na região do Vale do Aço, em Minas Gerais. Silveira começou a articular a viabilização do complexo em 2008, na gestão do governador Aécio Neves (PSDB). Era ele quem ajudava a obter licenças e autorizações. 

Na época, a imprensa dizia que Silveira articulou para que a empresa Egesa, da qual Eduardo Martins era vice-presidente, assumisse a obra. Em decorrência do recente apagão na Grande São Paulo, Silveira tem sido duro nas críticas contra a Enel. Além disso, exige que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) instaure processo administrativo contra a concessionária. Silveira muda tom com a Enel Contudo, a atual postura do ministro chama atenção pelo contraste de suas atitudes em comparação há alguns meses. Em 15 junho, Silveira e Lula se reuniram com o CEO global da companhia, Flávio Cattaneo, durante o encontro dos países do G7. 

Na época, o presidente brasileiro saiu do encontro dizendo que o Brasil estava disposto a renovar a concessão da Enel, que vence em 2028. Com a recente crise em São Paulo, o cenário agora é outro. Para especialistas, houve influência Segundo fontes ouvidas pelo jornal, a contratação foi motivada pela ligação de Martins com Silveira. A Enel Brasil não comenta. Apenas diz que Martins “tem experiência comprovada no setor de infraestrutura”. O próprio conselheiro reconhece, contudo, que não tem experiência no setor elétrico e nem de participação em conselhos – o da Enel é o primeiro na sua carreira.

Delatores denunciaram executivo O empreendimento que teria unido Silveira e Martins não deu certo e o atual conselheiro da Enel carrega no currículo algumas acusações. Numa delação de funcionários da Camargo Corrêa, Martins faria parte de um cartel de obras de ferrovias em Minas Gerais. Em 2016, o empresário apareceu numa delação do doleiro Alberto Youssef. Segundo ele, informa o jornal, Martins e o então deputado José Janene (morto em 2010) negociavam propina de R$ 360 mil em troca de contratos na Petrobras.  


Fábio Boueri, Revista Oeste

'Educação à holandesa', por Lenore Skenazy

 

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O que acontece nessa estranha experiência que tem o poder de mudar uma criança tão rápido?


Cchamado de dropping e considerado uma tradição adorada da infância. “É um rito de passagem”, afirma Mark Pols, um investidor que vive no Vale do Silício mas que cresceu na Holanda. Quando era criança, diz Pols, os droppings (pronuncia-se “drope-ings”) sempre fizeram parte do escotismo — e ainda fazem. “Havia vários graus de desafio: o horário à noite, a distância onde você seria deixado, a pequena quantidade de pessoas com quem você seria deixado etc.” 

O primeiro dropping de Pols foi aos 11 anos de idade, algo que parece comum. Ele fazia parte de um grupo de cinco ou seis crianças, todas vendadas e deixadas bem depois do pôr do sol, a uma determinada distância do acampamento de escoteiros. “No nosso caso, tínhamos um pequeno mapa rudimentar, e o objetivo era encontrar uma estrada e voltar”, conta Pols. “Foi muito emocionante, porque estava escuro e nos deram uma lanterna. Talvez tivéssemos que andar um quilômetro ou algo assim, mas pareceu muito longe e assustador.” 

Em alguns acampamentos, na época e hoje em dia, os funcionários acompanham as crianças, mas ficam para trás para que os campistas precisem encontrar o caminho por conta própria. “Não ajudamos as crianças a achar a direção certa”, diz Birgit Hartkamp, representante de vendas em Utrecht, que cresceu indo a um acampamento de astronomia que promovia droppings e depois se tornou conselheira lá. “Em um dado momento, fiz as crianças andarem em círculo por cinco horas, e então elas perceberam que estavam a 200 metros de onde deveriam estar. Eu sabia disso o tempo todo.”

Parece que não importa qual seja o tema do acampamento — música, ciências, hipismo — um dropping costuma fazer parte da experiência na Holanda. As escolas também fazem droppings quando levam os alunos para acampar. Atualmente, alguns programas permitem que uma ou todas as crianças tenham um celular. Mas não importa como seja feito, o dropping é o ponto alto da viagem e ocorre no decorrer das atividades. Hartkamp se lembra de uma ocasião em que um campista “não estava se entrosando e queria voltar para casa antes da hora”. Era sua primeira vez. Eu me sentei com ele e disse: “Por favor, não vá para casa. Se você realmente quiser, não vou impedir você. Mas, por favor, espere até domingo, porque sábado à noite vamos fazer o dropping”. 

Ele decidiu ficar, e a atividade mudou tudo. “Naquela noite, ele fez muitos amigos”, diz Hartkamp. O que acontece nessa estranha experiência que tem o poder de mudar uma criança tão rápido? Para mim, ela se parece muito com a terapia de exposição usada para tratar a ansiedade. Nesse tipo de terapia, uma pessoa que tem medo de algo — por exemplo, gatos — é exposta primeiro a um gato no fim do corredor. Na sessão seguinte, ela pode ser colocada no mesmo cômodo que um gato. Por fim, ela acaricia o gato ou o pega no colo. A cada exposição, a falsa crença de que os gatos são uma ameaça vai se dissipando. O mesmo acontece com a crença de que interagir com um gato é algo muito difícil de suportar.

Substituir esse medo é confiança. Um novo estudo com adultos que tinham medo de duas coisas — altura e aranhas — revelou que, quando eles faziam tratamento para um medo, o outro medo também diminuía. Na linguagem da psicologia, sua confiança recémdescoberta “se generalizou”. Como a maioria das crianças tem medo do escuro, da floresta e de se perder, um dropping parece ser o sonho de um terapeuta, condensando a terapia de exposição em uma noite intensa. 

O dropping pode ser um dos motivos pelos quais as crianças da Holanda estão entre as mais felizes do mundo. As crianças holandesas são criadas com um forte senso de independência, desenvolvendo desde cedo confiança, responsabilidade e autonomia  “Eu me lembro de sentir medo, mas não a ponto de nunca mais participar”, diz Kimberly Humphreys, holandesa, mãe de três filhos, que hoje vive em Brisbane, na Austrália. Na verdade, ela continuou participando de droppings ano após ano, sempre “descobrindo que conseguia fazer coisas que achava não ser capaz de fazer”. Isso é o oposto da ansiedade. 

Também é existencialmente reconfortante saber que as pessoas que mais amam você — seus pais — têm certeza de que você é capaz de lidar com essa experiência. “Você vai ter que perguntar a eles — não sei muito sobre isso”, respondeu Christel Hartkamp-Bakker, cientista e educadora na Holanda, quando perguntaram sobre os droppings de que seus três filhos (incluindo Birgit) participaram. Por se tratar de algo pelo qual eles próprios passaram quando crianças, os pais parecem não pensar muito sobre isso. 

E, de certa forma, os droppings são uma espécie de “terapia de exposição” para os adultos também — exposição a abrir mão do controle. Hartkamp-Bakker não hesitou em explicar que suas filhas não estavam correndo nenhum perigo real durante a viagem. A Holanda é extremamente segura. “E você não consegue se perder de fato aqui. Você está sempre ao alcance de casas ou de pessoas que moram em algum lugar”, diz Hartkamp-Bakker. 

As crianças holandesas também crescem com mais independência no mundo real do que as crianças americanas, de modo que o dropping não é a primeira vez que saem sozinhas. As crianças holandesas vão de bicicleta para a escola a partir dos 5 ou 6 anos de idade, e não é incomum ver alunos da primeira série pegando o bonde local sem um adulto, conta Pols. À medida que elas ficam mais velhas, essa desenvoltura é simplesmente dada como certa. Em viagens escolares para outra cidade, pode-se esperar que as crianças se desloquem sozinhas de um museu até o hotel.

Será que está na hora de trazer essa tradição para os Estados Unidos? Os pais aqui sem dúvida precisariam de uma pequena ajuda para relaxar. Um estudo realizado no ano passado pela Universidade de Michigan/Hospital Infantil C.S. Mott revelou que a maioria dos pais americanos com filhos de 9 a 11 anos não os deixam fazer muitas coisas sem supervisão, inclusive brincar no parque com um amigo ou sair para pedir doces no Halloween. Apenas 50% deixariam os filhos ir até outro corredor de uma loja.

Talvez os escoteiros pudessem introduzir o dropping, por exemplo, como uma atividade que vale uma medalha de mérito? “Meu Deus, não”, respondeu Carolyn Casey, chefe de escotismo da Tropa 1 de Nova York. “Se as crianças fossem deixadas na floresta e se machucassem ou se perdessem, haveria um monte de processos”, diz ela. Casey também não pareceu confiante nas habilidades dos escoteiros com mapas e bússolas. Além disso, ela observa que, ao contrário da Holanda, as florestas nos Estados Unidos são lindas, escuras, profundas e grandes. Casey é líder de escotismo há 20 anos. Sobre esse tempo, ela comenta: “Vi a coisa se tornar mais cautelosa. Nas viagens, temos muitos pais acompanhando, muitas formas de proteção”. É improvável que os droppings migrem da Holanda para os Estados Unidos. Pols, que já morou nos dois países, explicou o porquê na sua opinião: “Os Estados Unidos decidiram, de modo geral, em razão da forma como o sistema jurídico funciona, essencialmente não fazer nenhuma troca significativa e optar pelo menor risco possível”. Como resultado, as crianças aqui são constantemente supervisionadas. Os resultados são mais assustadores do que qualquer floresta iluminada só pela lua. 

Lenore Skenazy é presidente do Let Gros, uma organização sem fins lucrativos que promove independência e resiliência na infância, e fundadora do movimento Free-Range Kids 

Revista Oeste

'Não adianta esconder a bola', por Ubiratan Jorge Iorio

 

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Para driblar a visível insatisfação do povo com a economia, o governo Lula vai ampliar a verba de publicidade


E proibida e por isso lembro-me das várias vezes em que eu e meus companheiros de pelada éramos surpreendidos pelo surgimento, lá no início da rua, do temível carro preto da “rádio patrulha”. Imediatamente, era um Deus nos acuda, em que a primeira providência consistia em gritar “depressa, esconde a bola!” e então sumir rapidamente com a dita-cuja, jogando-a em alguma casa, antes que os policiais chegassem e cometessem o “crime”, hediondo aos nossos olhos, de apreendê-la. 

Depois, era só fazer cara de desentendido, cumprimentar os homens da lei e, assim que desapareciam de vista, reiniciar a partida com uma “bola ao chão” — que nossos pais e avôs ainda chamavam de free kick. Essa lembrança feliz surgiu a propósito da mais recente tentativa — infeliz — anunciada pelo desgoverno do Brasil, bem parecida com a de esconder a bola, porém sem a inocência daqueles anos. É que, de acordo com a velha imprensa, para driblar a visível insatisfação do povo com a economia, o Executivo, assim que descer a cortina do segundo turno das eleições municipais, vai ampliar a verba de publicidade, com foco na classe média. 

Tal notícia causa indignação, por vários motivos. Primeiro, é do conhecimento geral que o atual governo, já em seu primeiro ano, gastou quase 30 vezes mais do que o anterior com publicidade em jornais revistas, sendo que os gastos deram um salto de R$ 117 mil em 2022, para R$ 3,2 milhões em 2023; segundo, porque no mundo de hoje a população não é trouxa e sabe muito bem que a propaganda oficial será mentirosa, assim como os policiais da “rádio patrulha” sabiam que havia uma bola escondida, mas simplesmente fingiam acreditar que não estávamos disputando um “racha” decisivo, mas, talvez, conversando sobre a última aula de física ou, quem sabe, sobre a de geometria analítica do dia seguinte; e a terceira causa de indignação é, simplesmente, a maneira despudorada com que os recursos ditos públicos vêm sendo malversados na incrível república democrática “relativa” em que vivemos.

A verdade visível, horrível e inflexível é que, apesar das mentiras oficiais amplificadas com subserviência pela parte da imprensa comprada com dinheiro público, a economia está bem longe da rota de crescimento sustentado. No máximo — e com muito boa vontade está ensaiando um voo grotesco e ridículo de frango. Em respeito à boa teoria econômica, é preciso afirmar categoricamente que a economia brasileira está em rota de colisão e que a partir de janeiro de 2025, com a troca de comando no Banco Central, a expectativa do choque será cada vez mais iminente. 

Recentemente, um amigo — adorador da seita econômica seguida pelo desgoverno — tentou me contrapor mencionando que a agência de classificação de risco Moody’s tinha acabado de elevar a nota de crédito do Brasil de Ba2 para Ba1, com perspectiva positiva, o que significaria que o país estaria a um passo do chamado grau de investimento, como se tivesse recebido um selo de bom comportamento e sinalizasse agora aos investidores uma queda no risco de calotes. Segundo a agência, a elevação da nota decorre de “melhora significativa no crédito do país, incluindo um crescimento mais robusto do produto interno bruto e um histórico crescente de reformas econômicas e fiscais”. 

O que dizer desse upgrade tão festejado pelos governistas? Veio cedo demais, segundo os esperançosos? Ou tarde demais, como afirmam os admiradores mais fanáticos? Sempre respeitando a teoria econômica verdadeira — a que se fundamenta na explicação sistemática de fatos concretos e não dá bola para narrativas ideológicas —, é evidente que a elevação da nota do Brasil não veio cedo nem tarde: simplesmente, não deveria ter vindo, é inteiramente descabida. 

As agências de risco costumam analisar coisas básicas: se o crescimento econômico do país é sólido, se a situação da dívida pública é boa, se há esforço para o controle das contas do governo, se a inflação está controlada, se a política monetária está no rumo certo, se há avanços no terreno das reformas, se as instituições funcionam e se há estabilidade jurídica. 

Ora, se o PIB vem tendo desempenho satisfatório, isso se deve, primeiro, ao impulso positivo de reformas realizadas nos governos anteriores (como a trabalhista, no período de Temer, e a lei da liberdade econômica, no de Bolsonaro) e, segundo, ao aumento vertiginoso dos gastos do governo, cujos efeitos se assemelham aos de anabolizantes; a dívida pública como porcentual do PIB, por sua vez, está em alta e com expectativa de que vai subir mais; a inflação está relativamente controlada e a política monetária está adequada, mas nada garante que ambas vão continuar assim a partir do próximo mês de janeiro, quando um economista alinhado ideologicamente com o governo assumirá o comando do Banco Central; no terreno das reformas estruturais, além de nada, rigorosamente, ter sido feito desde o início de 2023, ainda houve tentativas de promover retrocessos, como a de cancelar o marco do saneamento e reverter a reforma trabalhista e algumas privatizações; e há, ainda, um furor patológico do governo para tributar — para recorrer a uma conhecida linguagem tosca, “como nunca antes na história desse país”. 

Existe, adicionalmente, uma insegurança jurídica gigantesca, motivada pelas constantes ingerências políticas do Poder Judiciário, um fator que simplesmente costuma ser um obstáculo intransponível para a realização de investimentos. Ora, nessas condições, infelizmente, não existe nenhum “perigo” de a nossa economia dar certo. Vamos tentar dizer isso de outro jeito? O crescimento sustentado nada mais é do que um processo permanente de realização de novos investimentos, que ampliam a capacidade de oferta; a má política econômica do governo, o excesso de impostos, a burocracia e a insegurança jurídica impedem que o setor privado faça a sua parte nesse processo; logo, não há crescimento. 

O governo, então, apela para os “investimentos” públicos; mas não há recursos para isso, até porque 96% das despesas primárias da União estarão comprometidas com gastos obrigatórios em 2025; portanto, também não há crescimento induzido pelo setor público; no máximo, há uma inchação. 

A rigor, o que vem impedindo a colisão na rota suicida que o governo está impondo à economia é a atuação solitária do Banco Central, que, todavia, tem sido criticada insistentemente pelo presidente do país e por seu partido, com apoio na velha cantilena politiqueira de que é dever da autoridade monetária manter a taxa de juros baixa para “estimular” a economia e que a inflação não é um problema. Acontece que a partir de janeiro de 2025 a presidência do banco será exercida por um economista alinhado ideologicamente com o governo e simpatizante da teoria monetária moderna, uma coleção de propostas com a cara artificialmente jovem de quem fez aplicação de botox, mas que é velhíssima na essência e nos fracassos, a qual, abreviando, estimula praticamente tudo o que a boa teoria critica e a evidência desaconselha: emissão de moeda, gastos do governo, tributação e endividamento público. 

Sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, cujos membros, como se sabe, não primam pela solidez de conhecimentos econômicos, esse economista (que por sinal se expressa verbalmente muito bem) declarou que recebeu o apoio do presidente da República e dos senadores com quem tinha conversado para liderar uma gestão independente e direcionada “exclusivamente ao povo brasileiro”. Foi aprovado por unanimidade. 

Nossos bondosos senadores têm o costume de aprovar tudo e todos. Preciso confessar que, mesmo sendo um estudioso da Escola Austríaca, formado nos moldes da tradição da Universidade de Chicago, autor de vários livros e professor de Economia Monetária durante muitos anos, não sei bem o que significa um “banco central voltado exclusivamente para o povo”, uma afirmativa que, sinceramente, desperta preocupação e que soa como bastante populista, porque, no meu entender, a única preocupação de uma autoridade monetária deve ser com a estabilidade da moeda, já que fazendo isso — e não mais do que isso — já estará servindo muito bem aos cidadãos. 

No entanto, minha inquietação foi ainda maior quando o economista explicou o que entende por gestão independente do Banco Central: ter liberdade operacional para perseguir “metas e objetivos estabelecidos pelo poder democraticamente eleito”. Segundo ele, esses seriam os “cânones” de um banco central independente.

Isso é equivalente a tentar “esconder a bola”. Está errado e distorce o conceito de autonomia do banco, que pressupõe que a meta de inflação e a política monetária compatível devem ser determinadas autonomamente, ou seja, pela própria autoridade monetária. Fará sentido chamar de autônoma ou independente uma gestão do Banco Central em que o tal “poder democraticamente eleito” (ou seja, o presidente do país) decida, por exemplo, que a inflação deve ficar no intervalo entre 20% e 30% ao ano, ou que a taxa Selic deve permanecer em 0,002% durante todo o seu mandato, não importando as consequências dessas decisões arbitrárias? Isso seria “servir ao povo”? Ora, a ideia de banco central independente surgiu exatamente como uma tentativa de separar os assuntos da moeda e da política monetária da influência dos políticos, ou, como disse Hayek, para tirar o pires de leite do alcance dos gatos. 

Por isso, não há como não nos preocuparmos com o conceito extremamente peculiar de autonomia do Banco Central do seu futuro presidente. Tudo isso, como já escrevemos linhas atrás, implica que o sinal vermelho na rota de colisão deverá ser antecipado. É óbvio que a polícia logo vai “achar a bola” e acabar com a diversão. 

Mas não é somente isso. Não basta, como os economistas “tucanos” da Faria Lima, olhar apenas para os dados fiscais e monetários e alertar para os perigos da dominância fiscal que se avizinha. É preciso advertir para a tremenda insegurança jurídica, a paralisação das privatizações, os obstáculos crescentes ao empreendedorismo, a burocracia e a extorsão tributária. 

Em suma, há muitos elementos que obrigam os bons economistas — aqueles que se preocupam não só com o que se vê, mas também com o que se deve prever — a olhar para o futuro com descrédito. O desempenho das estatais, seguramente, faz parte dessa lista. É impressionante a sanha com que os gafanhotos vermelhos se lançam contra as empresas estatais e é desnecessário explicar por que isso representa um mal para o país. De acordo com o Banco Central, entre 2013 e 2016, quando o PT era governo, o prejuízo médio dessas empresas foi de R$ 2,6 bilhões por ano; em 2017 e 2018, no governo Temer, o prejuízo passou a ser lucro, cuja média anual foi de R$ 3,4 bilhões; entre 2019 e 2022, na gestão de Bolsonaro, a média dos lucros subiu para R$ 6,1 bilhões; e, em menos de dois anos do governo atual, o lucro voltou a ser prejuízo, que na média já está na casa de R$ 4,8 bilhões (R$ 2,3 bilhões em 2023 e R$ 7,2 bilhões até o momento em 2024, o maior buraco dos últimos 22 anos). 

Não dá mais para tentar “esconder a bola”, por mais que o governo venha a gastar o dinheiro que nos toma de maneira desavergonhada com propaganda para nos iludir. É simplesmente impossível uma soma de tantos erros ter como resultado qualquer coisa parecida com acerto. Não é à toa que muitos brasileiros estão deixando ou pensando em deixar o país e que os investimentos externos estão passando batidos, sem entrar nem mesmo para um cafezinho. 

Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor. 

Ubiratan Jorge Iorio, Revista Oeste

'A direita brasileira: conservadores e liberais', por Flávio Gordon

 

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Reunidos numa espécie de frente anti-PT na eleição de 2018, esses dois grupos jamais chegaram a um acordo em relação aos seus objetivos políticos no país.  “As ideias pelas quais os homens vivem e encontram sua identidade local — ideias de aliança, de país ou nação, de religião e obrigação — são, para o socialista, mera ideologia e, para o liberal, uma questão de “escolha privada” a ser respeitada pelo Estado somente porque não importa realmente ao Estado. Somente em poucos lugares da América e Europa uma pessoa pode se dizer conservadora e esperar ser levada a sério.” (Roger Scruton, “Como um conservador deve se opor ao socialismo e liberalismo”) 

Embora, da perspectiva da esquerda, a direita brasileira seja quase sempre encarada como um bloco monolítico, quem acompanha de perto essa corrente política sabe da grande variedade doutrinal e axiológica existente em seu meio. Um dos embates mais frequentes nesse ambiente é o que opõe, por exemplo, os “conservadores” e os “liberais”. 

Reunidos numa espécie de frente anti-PT na eleição de 2018, vencida pelo candidato de direita Jair Bolsonaro, esses dois grupos jamais chegaram a um acordo em relação ao significado e aos objetivos de uma direita política no Brasil. E, uma vez que essa direita foi apeada de seu breve período no governo após a tomada (ou retomada) do poder por parte da esquerda revolucionária, as diferenças de outrora acabaram sendo realçadas, agora envoltas numa frenética busca por culpados pela derrota política.

Como testemunha recente de um desses debates internos, gostaria no texto de hoje de dar a minha versão sobre as principais diferenças a oporem o liberalismo e o conservadorismo brasileiros. E gostaria de começar a explicar essas diferenças a partir de semelhanças que, de uma perspectiva externa à direita, são tidas como evidentes. Para isso, parto de um antigo artigo escrito pelo economista de esquerda Reinaldo Gonçalves, intitulado “Por que a esquerda tem mais razões do que a direita para ser a favor do impedimento de Dilma e da punição de Lula?”.

Como se depreende do título, o artigo é de uma época em que a Lava Jato estava em seu auge, revelando as entranhas dos escândalos de corrupção e fazendo com que parte da esquerda brasileira buscasse alternativas a Lula e ao PT. O autor fora filiado ao PT durante 20 anos, tendo rompido com o partido em 2005, dizendo-se cada vez mais arrependido e envergonhado por essa longa filiação. Diretamente ligada à proposta de fundação de uma nova esquerda pós-PT, sua compreensão algo incompleta da direita brasileira — mormente confundida com o liberalismo — ajuda-nos a esclarecer alguns dos pontos de atrito entre liberais e conservadores. Gonçalves começa por adotar alguns procedimentos com vistas à obtenção de precisão conceitual sobre a dicotomia esquerda versus direita. 

O primeiro procedimento é o que ele chama de hipóteses simplificadoras: “O regime político é a democracia e o modo de produção é o capitalismo. Essas duas hipóteses excluem forças políticas antidemocráticas de esquerda (stalinista) e de direita (fascista) e sistemas econômicos em que a maior parte dos meios de produção é controlada pelo Estado.” Já o terceiro procedimento é chamado de tipologia flexível: 

“A tipologia é flexível e abarca os seguintes campos políticos: esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita e direita. Os dois primeiros podem ser incluídos na categoria de forças progressistas enquanto os dois últimos estão na categoria genérica de forças conservadoras. O “centro” é a zona de sombra entre progressistas e conservadores. A distinção entre progressistas e conservadores é definida pela propensão a mudanças e, principalmente, pela natureza e pela fonte das mudanças.” 

Eu não faria objeções relevantes ao primeiro e ao terceiro procedimentos. Já quanto ao segundo, que o autor denomina marcadores, seria preciso pontuar algumas coisas. Os principais marcadores utilizados pelo autor são o mercado e o Estado. Essas instituições, diz ele, “são fundamentais para se configurar os campos da esquerda e da direita”. Digo eu, todavia, que essa é uma meiaverdade. É fato que a oposição mercado versus Estado define basicamente a divergência entre liberais e esquerdistas (social-democratas e/ou socialistas). 

O problema começa quando o autor opta por tratar liberais e conservadores como um bloco homogêneo (“direita”), incorrendo num equívoco teórico comum, o qual, de partida, distorce consideravelmente o debate político. O problema é que a oposição “Estado versus mercado” não contempla o campo conservador, para o qual seria preciso inserir aí, no mínimo, dois outros marcadores fundamentais: a família e a comunidade (moral e/ou religiosa). Nesse sentido, teríamos os conservadores abrindo duas frentes de divergência, uma com a esquerda (Estado versus família ou comunidade), outra com os liberais (mercado versus família ou comunidade). Trata-se de um erro conceitual equacionar “conservadorismo” com mercado autorregulado, tal como o faz Gonçalves no Quadro 1 de seu artigo:

Para o conservadorismo (e aqui penso sobretudo em sua vertente anglo-americana), o mercado também deve ser, de certa maneira, “regulado”. Não, evidentemente, pelo Estado — o qual, de acordo com a filosofia política conservadora (ver, por exemplo, a de Bertrand de Jouvenel), tende “naturalmente” a um temível agigantamento —, mas pelos valores morais e religiosos compartilhados pela comunidade, e sedimentados no seio da família. 

E, sim, a família aqui é a família monogâmica tradicional. Embora o conservador reconheça a legitimidade (civil, legal, afetiva) dos novos arranjos familiares surgidos nas sociedades contemporâneas, ele repudia o combate ideológico movido pela esquerda contra o conceito de família tradicional, combate que resulta em aberrações culturais tais como, entre outras, a abolição do Dia dos Pais e do Dia das Mães no calendário escolar de boa parte do Ocidente liberal. O conservador tem apego à realidade acima das ideias, e repugna-lhe a hipótese de supressão de porções da realidade e de tradições histórico-culturais na base da canetada de algum engenheiro social “progressista”. 

Os conservadores são, sem dúvida, favoráveis ao capitalismo e à liberdade de mercado. Mas entendem que o capitalismo não pode estar dissociado da consolidação cultural de uma determinada antropologia filosófica, ou concepção de homem. Sem isso, corre-se o risco de descambarmos para as formas mais cruas e selvagens de materialismo e mercantilismo, justamente daquele tipo previsto por Marx em sua profecia autorrealizável. Uma das grandes brigas entre conservadores e ultraliberais (por vezes chamados “libertários”) é que, para os primeiros, nem tudo deveria poder ser comercializado, não se restringindo a uma questão de liberdade individual de escolha. 

As escolhas dos indivíduos devem se basear num senso de responsabilidade para com o próximo, sendo inseparáveis de um aprimorado discernimento moral. Sobre a divergência entre a defesa liberal da “liberdade” e o apreço conservador pela “ordem” (condição, segundo essa filosofia, tanto das liberdades concretas quanto da propriedade privada), recomendo, aliás, o primeiro capítulo de O Que é Conservadorismo?, do filósofo britânico Roger Scruton.

Os conservadores, se são fundamentalmente anticoletivistas, tampouco endossam aquele individualismo de cunho utilitarista quase sempre subjacente ao pensamento liberal. Para o conservador, a liberdade não pode ser um princípio autofundante, caso em que viria a se degenerar no seu exato oposto: a liberdade de escravizar os outros ou de se autoescravizar por apetites irrefreados. A perspectiva conservadora sugere que a liberdade deve vir temperada com a ordem. E a ordem aqui não é apenas a ordem externa, de natureza política e social, mas, sobretudo, a ordem interna da alma — conceito tradicional da antropologia filosófica clássica e cristã, depois rejeitada pela antropologia filosófica moderna (iluminista, materialista, secularista e imanentista). 

“A pólis é o homem escrito em letras maiúsculas” — ensina Platão na República (368 c-d), uma lição que Eric Voegelin chamou de princípio antropológico, um axioma da filosofia política conservadora. John Adams, segundo presidente americano, e o mais conservador dos “Founding Fathers”, ilustrou-o bem, ao escrever em 1798 sobre a Constituição Americana: “Não há governos capazes de lidar com paixões humanas desenfreadas, imunes à moralidade e à religião. 

A avareza, a ambição, o desejo de vingança ou a luxúria poderiam romper as sólidas amarras de nossa Constituição qual uma baleia através de uma rede de pesca. A nossa Constituição foi feita exclusivamente para um povo moral e religioso. Ela é totalmente inadequada para qualquer outro.” Trocando em miúdos, o que Adams estava dizendo era que governos e códigos de leis não são formas puras e autônomas, aplicáveis sobre qualquer “substância” sociopolítica. O mesmo vale para sistemas econômicos, acrescento eu. 

Nessa perspectiva, uma comunidade moralmente sã e ordenada, formada por homens maduros e responsáveis (spoudaios, na terminologia aristotélica), é a precondição essencial para o bom funcionamento de sistemas políticos e econômicos. Há aí a intuição fundamental de que, aquém da política e do progresso tecnocientífico, existe uma ordem moral permanente e eterna que preside as mudanças sociais.

É o apego fundamental àquela ordem — que Edmund Burke chamava de “o contrato da sociedade eterna”, G. K. Chesterton, de “democracia dos mortos”, e T. S. Eliot, de “estrato pré-político” — que gera o tradicional ceticismo conservador em face da ação política. Não que o conservador não reconheça a sua importância, assim como a importância crucial da autoridade, mas tende a olhar a política de maneira pragmática e circunstancial, jamais doutrinária e fundada sobre princípios abstratos ou declarações grandiloquentes de intenções (“justiça”, “liberdade”, “igualdade”, “democracia” etc.). 

Como numa famosa definição de Michael Oakeshott: “Ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, preferir o tentado ao não tentado, o facto ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao superabundante, o conveniente ao perfeito, a felicidade presente à utópica. As relações e lealdades familiares serão preferíveis ao fascínio de vínculos mais proveitosos; comprar e expandir será menos importante que conservar, cultivar e desfrutar; a dor da perda será maior que a excitação da novidade ou da promessa. 

É ser igual ao nosso próprio destino, é viver ao nível dos meios, contentar-se com a necessidade de maior perfeição pessoal como com as circunstâncias que nos rodeiam.” Portanto, é impossível falar de conservadorismo sem levar em conta a importância da dimensão religiosa para essa filosofia. Nesse sentido, liberais e esquerdistas estão bem mais próximos entre si, ambos herdeiros confessos, mais ou menos orgulhosos, da antropologia filosófica secularista e da filosofia hegeliana da história. A tradição conservadora, por outro lado, vê nestas antropologia e filosofia da história bases nocivas para a vida política. O leitor encontrará uma boa exposição crítica da antropologia filosófica secularista, do ponto de vista conservador, no livro O Drama do Humanismo Ateísta, do filósofo jesuíta Henri de Lubac.

Não estou querendo dizer com tudo isso que todo conservador seja, necessariamente, religioso. Oakeshott, por exemplo, foi um expoente do conservadorismo secular. Mas é raro encontrar conservadores que não atentem para a importância do resgate dos valores cristãos como força cultural e civilizacional. É importante enfatizar que, ao contrário dos liberais e dos esquerdistas, o conservador entende a religião não como questão meramente privada, mas como uma conquista cultural que deve influir na esfera pública. Isso não se confunde, em hipótese alguma, com negar a laicidade do Estado. 

Trata-se precisamente do contrário. O conservador crê na separação essencial entre Estado e sociedade civil, e rejeita qualquer mistura entre religião e política, sobretudo aquela que, seguindo a profecia de Ludwig Feuerbach, resultaria na atribuição de um caráter sagrado à ação política. O conservador afirma, aliás, e com razão, que a separação entre religião e política é uma herança da matriz cultural cristã, virtualmente inaplicável fora dela. Daí a fragilidade da posição liberal no enfrentamento às correntes marxistas e neomarxistas para além do aspecto econômico, uma vez que, frequentemente presos no dogmatismo secularista, não percebem que a política de tipo messiânica representada pelos movimentos socialistas é o principal fruto venenoso da descristianização da cultura. 


Revista Oeste

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

'Três injustiças supremas', por Cristyan Costa

 

A absolvição de moradores de rua presos pelo 8 de janeiro escancara o mais desmoralizante abuso judicial protagonizado pelo STF 


“Moraes absolve preso pelo 8 de janeiro”, anunciou uma emissora, em 11 de outubro. A manchete lacônica publicada duas horas depois da decisão, e reproduzida com algumas variações em pouquíssimos veículos da imprensa estatizada, sonegou ao público a informação de que se trata de um morador de rua chamado Vitor Manoel de Jesus, de 24 anos. Também não foi noticiado que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), ao votar, admitiu “não haver provas” da participação do homem na quebradeira na Praça dos Três Poderes, em Brasília, durante o protesto, ainda que sempre tenha chamado todos os envolvidos, desde o primeiro dia, de “golpistas” e “terroristas”. Tampouco se soube que Jesus passou mais de oito meses encarcerado na Papuda. Muito menos se falou que, embora inocente, ele deixou a cadeia preso a uma tornozeleira eletrônica. 

O tormento começou quando a polícia prendeu Jesus no interior do Senado, onde ele havia entrado para se refugiar das bombas de efeito moral. Ele saíra do acampamento em frente ao Quartel-General do Exército (QGEx) rumo à Praça dos Três Poderes, porque muita gente estava fazendo isso. O morador de rua frequentava o QG meramente para ter abrigo e comida gratuita, a despeito de qualquer pretensão político-ideológica. Ele chegou ao local depois de desembarcar do ônibus que havia partido de São Paulo com manifestantes que estavam acampados em frente ao Comando da 2ª Região Militar do Exército Brasileiro, no bairro do Ibirapuera, onde também recebia alimento. Ainda na capital paulista, Jesus recebeu um convite para o ato contra o governo em Brasília. Como tinha vontade de conhecer a cidade e tentar uma vida diferente no Distrito Federal, aproveitou a carona. 

Enjaulado após o ato, ficou um bom tempo sem contato com a família, até ser representado pela Defensoria Pública da União (DPU). Em várias petições, a DPU chamou a atenção de Moraes para a vulnerabilidade social do jovem. “Trata-se de uma pessoa em situação de rua, proveniente de orfanato, que pernoitava no Centro Temporário de Acolhida da Vila Mariana (SP) e, durante o dia, dirigia-se ao QG do Ibirapuera para se alimentar”, observou a DPU, em uma das peças. “Frequentava também a Igreja Comunidade Cristã nos Jardins, onde recebia um amparo social dos fiéis.” Só em agosto de 2023 é que Moraes mandou soltar Jesus, em virtude de um parecer favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Depois de conseguir falar com parentes, Jesus mudou-se para Itapecerica da Serra (SP), onde hoje vive com a mãe afetiva. A mulher o orientou a sair das ruas e arrumou para ele um trabalho informal à noite, em uma feira na cidade. Dessa forma, ele passou a ter um endereço e um local para recarregar o equipamento. No decorrer da temporada no purgatório dos inocentes, Moraes endureceu as limitações e obrigou Jesus a voltar para casa, às 19 horas, sob ameaça de retornar para a cadeia. Por isso, o homem precisou largar seu único ganha-pão. Sem dinheiro, não tinha como ir ao fórum, semanalmente, mostrar à Justiça que estava cumprindo as determinações de Moraes, pois faltavam recursos para pagar a condução até o Poder Judiciário local, visto que mora longe do centro da cidade. Com a absolvição chancelada pelos demais ministros do STF, Jesus aguarda, agora, o prazo ainda indefinido para remover a tornozeleira eletrônica.

Alexandre de Moraes admite não haver provas Como a imprensa não dá tanta visibilidade ao 8 de janeiro, poucos sabem que Jesus é o terceiro morador de rua absolvido pelo STF. Antes dele, a Corte encerrou a ação penal de Wagner de Oliveira, de 50 anos, no início de setembro, também por falta de provas. Oliveira 18/10/2024, 23:32 Alexandre de Moraes e as três injustiças supremas https://revistaoeste.com/revista/edicao-239/alexandre-de-moraes-e-as-tres-injusticas-supremas/ 3/9 frequentava assiduamente um abrigo em Brasília meses antes dos apoiadores de Bolsonaro cogitarem erguer a primeira barraca do acampamento em frente ao QG. 

O morador de rua passou a ir ao quartel quando soube da doação de comida. Por isso, esteve durante um mês entre os manifestantes, onde dormiu por algumas noites. Oliveira tinha a esperança de viajar para outros Estados, nos ônibus fretados, tão logo as tendas fossem desfeitas. O sonho virou pesadelo quando resolveu descer até a Praça dos Três Poderes. Ao chegar, testemunhou cenas de vandalismo. Com as bombas de efeito moral disparadas de helicópteros, correu para dentro do Palácio do Planalto com centenas de pessoas, sem saber exatamente onde estava, e ficou por lá.

Oliveira passou pouco mais de uma semana na Papuda. Desde que saiu, ainda em janeiro, teve dificuldades para recarregar a tornozeleira, pois, até então, não tinha endereço fixo. Nos primeiros dias, usou uma tomada do lado de fora do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Posteriormente, contou com a ajuda de estabelecimentos que se solidarizavam com a situação. Por ser uma pessoa simples e sem instrução, Oliveira tem alguns registros de descumprimento de cautelares, seja pela tornozeleira desligada, seja por ter saído dos limites estabelecidos por Moraes. Nesse período de Oliveira começou a fazer bicos catando latinhas e passeando com cachorros. Em outubro de 2023, conseguiu trabalho na área de limpeza de um supermercado da capital federal, mas o ordenado não é suficiente. Com a nova renda, alugou um pequeno imóvel onde mora sozinho. 

Em virtude da despreocupação com tecnologia, usa pouco o celular. Sendo assim, a DPU não sabe se a tornozeleira já foi retirada. “Wagner é bem humilde”, disse a defensora pública Geovana Scatolino, que cuidou do caso. “Portador de nanismo, é também um pouco afeminado, o que faz dele alvo de muito preconceito. Na audiência, pude comprovar que é um homem pequeno, com tom de voz infantil. Sinceramente, não acredito que ele tinha total consciência do real motivo daquelas manifestações.” Tormento prolongado A simplicidade e falta de conhecimento também levaram Geraldo Silva à Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro. 

Ele foi o primeiro absolvido por Moraes, em fevereiro, depois de ficar 11 meses no presídio. Seu envolvimento com o protesto começou depois de ele ter jantado mais cedo no Centro Pop, de acolhimento para desabrigados, perto da Esplanada dos Ministérios. O morador de rua de 27 anos ficou curioso ao ver a procissão de gente de verde e amarelo que caminhava na direção dos ministérios. Quando chegou perto do Congresso, viu bombas de efeito moral explodindo e pessoas correndo. 

Decidiu voltar, mas acabou barrado por manifestantes raivosos que o confundiram com um possível “infiltrado petista” no protesto. Os policiais militares interromperam os socos e pontapés, mas não pouparam Silva de ser levado para a cadeia com os outros. A DPU, que cuidou de Silva em um primeiro momento, comunicou ao STF sobre a condição de mendigo do homem e o contexto no qual foi preso. A advogada Taniéli Telles, que assumiu a defesa posteriormente, reiterou as justificativas ignoradas por quase um ano. Apenas em novembro de 2023, a PGR reconheceu “o erro” após inúmeros pedidos da defesa e solicitou a liberdade de Silva. Moraes atendeu à solicitação, todavia, acorrentou o 18/10/2024, 23:32 Alexandre de Moraes e as três injustiças supremas https://revistaoeste.com/revista/edicao-239/alexandre-de-moraes-e-as-tres-injusticas-supremas/ 5/9 mendigo a uma tornozeleira. “Fomos surpreendidos”, disse Telles. “Geraldo não tem endereço fixo, onde poderia carregar a tornozeleira, e vive na rua. Portanto, ele anda para cima e para baixo. Não à toa, quase voltou a ser preso, por ter desrespeitado a decisão, pela falta de conhecimento.” 

Dessa forma, a defesa conseguiu a ajuda da mãe de um manifestante, que ofereceu a Silva uma kitnet. Assim, o mendigo teria onde carregar o equipamento, além de um local para dormir. A Polícia Federal (PF) determinou o retorno ao endereço às 22 horas, diariamente, com possibilidade de saída a partir das 5 horas. 

A defesa obteve doações de móveis, roupas e um celular para Silva. Ele permaneceu por pouco tempo no local. Rapidamente, o homem vendeu a maioria dos móveis em janeiro e voltou a perambular pela capital federal, carregando um colchão, até que, em maio, obteve a ajuda de parentes e voltou para Fortaleza, mas quis ficar na rua. Silva tirou a tornozeleira eletrônica em março, quase um mês depois da absolvição. 

Um familiar de Silva contou que ele tem problemas psicológicos, o que justifica falas desconexas com a realidade, e não descartou a possibilidade de envolvimento do homem com drogas. Não é raro ouvi-lo dizer que é “monitorado” por satélites ou drones. Por esse histórico problemático, a ex-mulher com quem teve um filho, agora com 7 anos, quer distância dele. Silva já foi serralheiro em Pernambuco, onde nasceu, mas deixou a função ao se mudar para o Distrito Federal, em 2022. Até hoje, o morador de rua também não sabe por que foi preso. “A cadeia mexeu bastante com a cabeça dele”, constatou a advogada. “O que era ruim ficou pior, e outros devem estar assim.” 

Segundo os dados mais recentes, divulgados em setembro deste ano, cerca de 200 pessoas estão atrás das grades, condenadas a até 17 anos de cadeia por envolvimento no 8 de janeiro. Outras 400 cederam a um “acordo de não persecução penal” abusivo para tentar se livrar do STF. E centenas continuam presas a uma tornozeleira eletrônica. Assim como Vitor, Wagner e Geraldo, a grande maioria delas não cometeu crime algum 

Revista Oeste

Aliado de Bolsonaro abre 12 pontos de petista em Natal

Deputado Paulinho Freire (União) tem 50,8% de intenções de votos contra deputada Natália Bonavides, apoiada pelo ex-presidiário Lula 


Paulinho Freire (União) disputa Prefeitura de Natal contra Natália Bonavides (PT). (Fotos: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)


O deputado federal Paulinho Freire (União) mantém a liderança registrada nas urnas do 1º turno da disputa pela Prefeitura de Natal, de acordo com os novos números do instituto Paraná Pesquisas, divulgado nesta sexta (18). O parlamentar aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) obteve 50,8% das intenções de votos, abrindo vantagem de 12 pontos à frente da também deputada federal Natália Bonavides (PT), que recebeu 38,9% das declarações de votos, na pesquisa estimulada.

O desempenho de Paulinho Freire também lhe rendeu a percepção de favoritismo na disputa, com 56,4% dos eleitores entrevistados respondendo que o deputado será eleito prefeito, independente de sua opção de voto. Outros 32% têm a expectativa de que quem será eleita prefeita será a deputada apoiada pelo presidente Lula (PT).

A petista lidera em rejeição, com 52,1% dos natalenses dizendo que não votam de jeito nenhum em Natália Bonavides. Enquanto 38,8% rejeitam voto em Paulinho Freire.

O deputado também lidera na modalidade espontânea da pesquisa, sendo citado por 38,2% dos eleitores, quando estes não têm acesso aos nomes de quem concorre à Prefeitura de Natal. A vantagem é de 7,7 pontos da petista Natália Boenavides, que obtém 30,5% da preferência do eleitor.

No último dia 6, Paulinho Freire foi o candidato mais votado do 1º turno, com 44,08% dos votos válidos, seguido de Natália Bonavides, com 28,45%.

O levantamento para o cargo de prefeito(a) de Natal foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o n.º RN-00006/2024. E a Paraná Pesquisas ouviu 760 eleitores, entre os dias 14 e 17 deste mês de outubro. E a amostra representativa atinge um grau de confiança de 95,0% para uma margem estimada de erro de aproximadamente 3,6 pontos percentuais para os resultados gerais.

Veja os números da Paraná Pesquisas:


Diário do Poder

STF condena presos do 8/1 que não fizeram acordo com a PGR - Assim opera o 'cartel Lula-STF'

 Pena fixada em um ano de reclusão se soma a outras obrigações


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A maioria do Supremo Tribunal Federal (STF) chancelou o voto do relator dos casos do 8 de janeiro na Corte, Alexandre de Moraes, para - + ouça este conteúdo readme 1.0x 18/10/2024, 23:08 STF segue Alexandre de Moraes e condena mais presos do 8/1 https://revistaoeste.com/politica/stf-segue-alexandre-de-moraes-e-condena-presos-do-8-de-janeiro-que-nao-aceitaram-acordo-da-pgr/ 1/6 condenar mais 15 presos, em virtude da manifestação. 

Os únicos ministros que divergiram foram André Mendonça e Nunes Marques. Essas pessoas são da primeira leva que não aceitou o acordo de não persecução penal (ANPP) da Procuradoria-Geral da República (PGR). 

Conforme a pena, os manifestantes pegaram 1 ano de reclusão. Além disso, vão ter de obedecer a uma série de medidas, algumas delas, prevista no ANPP da PGR. O ANPP é oferecido apenas aos que a polícia prendeu no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. 

A lista de obrigações estabelecida no voto de Alexandre de Moraes.

1. Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, pelo total de 225 horas (h), observados os limites mensais de cumprimento no 18/10/2024, 23:08 STF segue Alexandre de Moraes e condena mais presos do 8/1 https://revistaoeste.com/politica/stf-segue-alexandre-de-moraes-e-condena-presos-do-8-de-janeiro-que-nao-aceitaram-acordo-da-pgr/ 2/6 Leia também: “Michel Temer: ‘Quanto antes acabar o inquérito das fake news, melhor'” , entrevista publicada na Edição 238 da Revista Oeste 


Revista Oeste

Pornogrfia dentro de sala de aula em faculdade do Maranhão - Tempos de 'cartel Lula-STF'

Pornogrfia dentro de sala de aula em faculdade do Maranhão - Tempos de 'cartel Lula-STF'...

Claudio Lessa - Almanaque CL - News Almanaque CL News

Fernão Lara Mesquita com Luiz Philippe de Orléans e Bragança - O maior crime contra a democracia é...

'Oeste Sem Filtro' - Revista Oeste - Augusto Nunes, Carlo Cauti, Adaberto Piotto, Alexandre Garcia e Vitor Brown comentam o 'show de horrores' promovido pelo desgoverno do 'cartel Lula-STF'

Faroeste à Brasileira - Revista Oeste - Com Tiago Pavinatto, convidados e a participação de Guilherme Fiuza

'Nas asas da corrupção', por Sílvio Navarro

Os Estados Unidos decidem investigar a compra de caças suecos pelo Brasil, um dos assuntos explosivos que o Supremo mandou enterrar


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E m fevereiro do ano passado, quando limpava as gavetas para se aposentar do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Ricardo Lewandowski descobriu que deixara pelo caminho um caso delicado na Corte. Era preciso julgar definitivamente uma ação que citava o presidente Lula da Silva, seu filho Luís Cláudio e o ex-prefeito de São Bernardo do Campo Luiz Marinho, hoje ministro do Trabalho. Todos foram investigados pela compra de caças suecos no governo Dilma Rousseff, por meio da Operação Zelotes, da Polícia Federal. Os detalhes sobre um esquema de tráfico de influência, lavagem de dinheiro, compra de uma medida provisória — e, claro, propina — estão narrados abaixo. Ocorre que a novidade sobre esse caso, até então enterrado pelo Supremo e esquecido pela mídia, partiu dos Estados Unidos. 

Na semana passada, a empresa Saab, fabricante dos aviões militares Gripen, informou que foi intimada pelo Departamento de Justiça americano a explicar a operação no governo Dilma Rousseff, em 2014. Trata-se de um negócio de US$ 5,4 bilhões para renovar a frota da Aeronáutica com 36 caças — 15 serão feitos no Brasil. Por questões de segurança, a Saab não disse o que os Estados Unidos querem saber. Mas há algumas pistas: a empresa venceu uma disputa comercial na época contra a americana Boeing (F-18 Super Hornet). O modelo sueco Gripen usa motor da também americana General Electric e há restrições quando se trata de transferência de tecnologia a outros países.

 Outra suspeita é o tráfico de influência internacional feito por Lula e os indícios de pagamento de propina em transações no exterior. Além da Boeing, a terceira opção eram os Rafale, da França. O petista, como era esperado, ficou irritado quando soube da investigação nos Estados Unidos (veja o vídeo abaixo). “A companheira Dilma comprou um avião que era mais econômico, mais barato e a manutenção custava menos. É um avião de um conjunto de países, é um sueco que tem participação da Inglaterra e de vários outros países”, disse, em entrevista à Rádio CBN de Fortaleza. “Acho que um pedido de informação dos Estados Unidos é intromissão numa coisa de um outro país. É descabida essa informação. Não tem sentido, porque é um avião que o Brasil comprou”, completou.

Ao se defenderem previamente em comunicado público, os suecos dizem que as investigações “foram encerradas sem indicar nenhuma irregularidade por parte da Saab”. Mas não explicam como foram encerradas no Brasil. Aqui começa a confusão. Aos fatos: a Operação Zelotes aconteceu no segundo governo Dilma Rousseff para desmontar um esquema de vendas de decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, chamado de Carf — uma espécie de tribunal da Receita Federal. 

Assim como a Lava Jato, que corria paralelamente no país, a Zelotes atirou no que viu e acertou em muito mais alvos. Os investigadores descobriram que uma medida provisória (nº 627), editada pelo governo, havia sido vendida para beneficiar empresas, como montadoras de carros e a Saab. Segundo o Ministério Público Federal, Lula participou das negociatas já como ex-presidente. Era uma época em que o petista viajava pelo mundo com o argumento de que era palestrante, especialmente em países com obras de empreiteiras da Lava Jato. Parte da propina — R$ 2,5 milhões —, de acordo com a apuração dos procuradores, ficou com Luís Cláudio, filho do petista. 

Uma terceira operação da Polícia Federal e do Ministério Público esbarrou na compra dos caças pelo mesmo motivo. A Greenfield rastreou operações de fundos de pensão, em 2016. Em depoimento à Justiça, o ex-ministro Antonio Palocci afirmou que Lula “agiu diretamente” no pedido de propina para fechar o negócio.

Por que Luiz Marinho também se envolveu no escândalo? Ao fechar a transação, a Saab equipou a fábrica na cidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista — onde produz cone de cauda, freios e fuselagem. Marinho foi prefeito do município. Ele chegou a viajar para a Europa para testar os jatos supersônicos. O Ministério Público descobriu que a Saab tinha um contrato, de R$ 25 mil mensais, com o advogado Edson Asarias, amigo de Marinho. O documento fala numa “campanha de marketing a favor do Gripen”. 

Para os investigadores, o papel era uma espécie de recibo de propina para o petista. Todos negam as acusações, que foram anuladas pelo Supremo. O outro centro de produção do caça Gripen fica em Gavião Peixoto, no interior de São Paulo, em parceria com a Embraer. Nenhum avião ficou pronto até hoje.

Ricardo Lewandowski interrompeu as investigações sobre a compra dos aviões militares em duas etapas: em 2022, impediu o pacote de ações de avançar nas Cortes superiores; depois, jogou a pá de cal antes de apagar a luz, em fevereiro do ano passado. Junto das denúncias sobre os aviões, foram anuladas apurações de repasses da Odebrecht para comprar o terreno do Instituto Lula e um apartamento em São Bernardo do Campo.

O ministro usou a mesma cartada que o ex-colega de toga Dias Toffoli emprega para apagar a Lava Jato hoje em dia. Aliás, Toffoli herdou boa parte dos processos do próprio Lewandowski e apenas replicou a fórmula no atacado. Em termos jurídicos, o ministro escreveu que “os graves vícios que maculam as investigações conduzidas contra o reclamante [Lula] pela extinta força-tarefa Lava Jato de Curitiba, no tocante à aquisição dos referidos caças, foram aproveitados de forma acrítica e tendenciosa” pela Justiça do Distrito Federal. 

“A imprestabilidade das investigações pela referida força-tarefa, sublinhe-se, já foi atestada por esta Suprema Corte.” Traduzindo: Lewandowski disse que todas as investigações foram contaminadas porque em algum momento se cruzaram com a Lava Jato. Logo, a troca de conversas entre o então juiz Sergio Moro e os procuradores de Curitiba, reveladas por meio de crime de hackeamento, envenenaram a árvore processual inteira — tanto faz se a acusada era a Odebrecht, a JBS ou os envolvidos na compra de jatos militares.

Quem comemorou na ocasião foi o advogado de Lula, Cristiano Zanin, hoje ministro do mesmo tribunal. “A robusta decisão do ministro Ricardo Lewandowski acolheu os elementos que apresentamos e reconhece que a ação penal referente ao ‘Caso Caças Gripen’ fazia parte do ‘Plano Lula’, que foi engendrado por integrantes da extinta ‘Lava Jato’ para cassar arbitrariamente os direitos políticos do expresidente e para sobrecarregar — e tentar inviabilizar — o trabalho de sua defesa, atuando inclusive em cumplicidade com membros do Ministério Público de outras jurisdições”, disse na época. 

Quais informações o Departamento de Justiça americano tem em mãos ainda é uma incógnita. O Congresso brasileiro pode enviar um pedido de colaboração, por meio das comissões, mas o calendário eleitoral esvaziou Brasília. Um fato, contudo, é inequívoco: Lula não disfarçou o incômodo com um pedido de informações que nem sequer foi direcionado ao governo brasileiro — mas à empresa sueca. Talvez porque ele saiba que nos Estados Unidos não há um Ricardo Lewandowski. 

Sílvio Navarro, Revista Oeste

'Uma biruta sob ventos erráticos', por Adalberto Piotto

Depois de 1 ano e 10 meses, a equipe econômica ainda não tem um plano competente para trazer as contas públicas para o caminho da austeridade


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É da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, a pérola da economia lulopetista mais recente. Nesta semana, depois de se reunir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na interminável série de encontros para trazer o país a um mínimo de austeridade fiscal, ela falou com os repórteres que a aguardavam do lado de fora. 

“Chegou a hora de levar a sério a revisão de gastos estruturais”, vaticinou ela, sem, no entanto, antecipar nenhuma medida, tampouco revelar quem não tem sido sério na questão do rombo fiscal que assombra a vida do país. Mas deu pistas quando informou que o pacote de medidas estruturantes “justas e palatáveis”, na definição dela, seria levado ao presidente Lula, “ainda que não sejam as ideais ou as que gostaríamos”, o que revela a fragilidade técnica da equipe diante do chefão no Palácio do Planalto. 

Assista no X A ressalva que veio logo a seguir é quase uma digital do dono da irresponsabilidade. Ao alegar que a política de valorização do salário mínimo e a sua vinculação automática à aposentadoria já foram retiradas do pacote por vetos de Lula, ela consente como “aquilo que imaginamos que vai ficar para uma terceira etapa, para não contaminar o processo e o debate [qual, o eleitoral?], já entendendo o perfil do presidente”. Ou seja, tecnicamente os ministros da área.econômica defendem um ajuste sério e duro, mas Lula não quer. Mesmo assim, ninguém se demite por não ser levado a sério. Por mais evidente que tudo seja, às vésperas de o governo Lula 3 completar dois anos de um perdularismo e irresponsabilidade patológicos com as contas, alguns esclarecimentos são necessários por parte da ministra. Só agora é que o governo considera ter “chegado a hora da revisão de gastos”? Por que não revela as medidas? O governo está esperando a eleição passar para não prejudicar eventuais aliados? 

Estaríamos diante de um caso de estelionato eleitoral? Depois de um ano e dez meses, a equipe econômica ainda não tem um plano competente para trazer as contas públicas para o caminho da austeridade? Há 15 meses consecutivos o país registra déficits nominais, mesmo com aumentos da arrecadação, e nada de anormal foi percebido antes? É Lula, então, quem trava tudo? Inclusive o mínimo de responsabilidade com as contas do governo que sua dócil equipe econômica lhe propõe? As respostas estão na cara, assim como os números do que pode ser classificado como o mais danoso governo à economia do país desde Dilma Rousseff. 

Antes do impeachment, Dilma explodiu tudo porque continuou elevando os gastos públicos depois de um perdulário segundo mandato de Lula, ainda mascarado pelo boom internacional de commodities. Muita gente fez que não tinha nada de errado acontecendo, surfando que estava no período de bonança que antecipava a tempestade. Dilma, ao contrário, tinha certeza de que estava certa e dobrou a aposta. Foi defenestrada do poder ao causar a maior recessão da história brasileira.

A crise pode parecer menos severa agora porque Lula chegou ao seu terceiro mandato herdando seis anos e meio dos governos reformistas de Temer e Bolsonaro, comprometidos com a redução da dívida pública, de políticas de atração de investimento e focados em eficiência da máquina estatal. Mas nada é para sempre. A casa em ordem até 2022 ainda traz um carrego estatístico positivo, sobretudo pelas reformas trabalhista e previdenciária, mas também as microrreformas de desburocratização, redução da interferência do Estado e geração de ambiente favorável aos negócios. 

Até a Moody’s Ratings cita isso na sua controversa decisão de elevar a nota do Brasil, injustificável no momento. Mas o relatório explicando os motivos da decisão da agência cita feitos e reformas de governos anteriores e colocam interrogação justamente no descaso de Lula 3 com o rombo fiscal crescente. Nós, brasileiros, sabemos disso. Tanto que é a sucessão interminável de déficits nominais, a previsão de elevação da relação dívida/PIB a mais de 80%, uma política fiscal errática que fura o próprio arcabouço e uma equipe econômica sem nenhuma ascendência sobre o presidente que deixam o país sem rumo. Economia é feita de gente e vive de expectativa. 

Que gente temos no atual governo e qual expectativa essas pessoas geram diante da conclusão da ministra do Planejamento de que só agora “chegou a hora de levar a sério a revisão de gastos estruturais”? É neste ambiente de uma biruta que ou não se mexe ou é movida por sopros errados que a decisão do investidor precisa ser tomada. Ou não ser tomada, protelando investimentos, o que atrasa a vida dos brasileiros, nos faz perder oportunidades e compromete o futuro de gerações inteiras.

E ainda mais assustador é o silêncio de muitos dos que democraticamente gritavam lá atrás por muito menos. Em que pese o barulho cada vez maior pelo disparate fiscal de Lula, as reclamações de muita gente importante do mercado e das entidades setoriais não têm ido além dos limites da conveniência econômica para um problema que é político e institucional. A estrutura de poder instalada no país com a ascensão do consórcio entre o STF e o governo de Lula 3, sob a trágica anuência dos presidentes das duas Casas do Congresso, hoje é dona da insegurança jurídica e do clima de temor e perseguição que deixam empresas, empresários, líderes de setores expressivos da economia, associações e acadêmicos, mais a mídia comprada, numa espécie de silêncio estratégico combinado com seus departamentos jurídicos ou comerciais. 

Imprescindível lembrar a todos eles que a economia que deu certo no Brasil, que construiu o país, precisou ser livre antes de dar certo. Uma vez livre, deu certo e o país avançou rapidamente.

 Aprisionada, dá errado. Veja que depois da tragédia das chuvas que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, o governo Lula tentou importar — e impor ao mercado que garantia não precisar — 1 milhão de toneladas de arroz. A licitação acabou por se revelar uma falcatrua, um escândalo do baixo clero da corrupção estatal, e foi abandonada depois das denúncias. Do outro lado, sob as regras do livre mercado e sem a interferência dos consórcios do poder federal e do Supremo, a produção de arroz no país deve crescer 14% em 2025, segundo o primeiro relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Fruto do talento, da obstinação e da liberdade de fazer e empreender dos produtores brasileiros de arroz, com participação acima de 80% do Rio Grande do Sul

ul. Notícia publicada pela Conab (17/9/2024) 

É menos Brasília e mais Brasil. 

Só isso.

Adalberto Piotto, Revista Oeste

'Fé sem fronteiras', escreve Ana Paula Henkel

 Ronald Reagan e o papa João Paulo II, duas figuras de origens tão diferentes, encontraram um terreno comum em sua feroz oposição ao comunismo


O papa João Paulo II e  Ronald Reagan. 
Últimos grandes estadistas - Reprodução

Com tantas notícias ruins no Brasil todos os dias, tantos desmandos por parte de ministros do Supremo Tribunal Federal, tanto desrespeito à nossa Constituição e, pior, o Brasil de Lula de mãos dadas com terroristas e financiadores de terroristas, não é difícil desanimar. Apesar de sermos profissionais da imprensa e termos que lidar com uma avalanche de informações diariamente, acredite, a desesperança também chega para nós, jornalistas. 

E como o destino às vezes percebe que precisamos de um pouco de esperança, no último sábado, 12 de outubro, visitando um dos lugares mais incríveis da Califórnia — a Fundação Ronald Reagan —, recebi uma injeção de ânimo, perspectiva e fé, muita fé. A fundação, chamada oficialmente de Ronald Reagan Library, majestosa no topo de uma colina em Simi Valley, é muito mais do que um simples repositório de história — é um tributo vivo ao homem que moldou grande parte do final do século 20. 

Conforme você se aproxima do local, a vista ampla dos vales ao redor cria uma sensação de tranquilidade. Mas, uma vez lá dentro, você é imediatamente envolvido pelo pulso da história que vibra em cada corredor. Caminhar pela fundação é como adentrar os momentos que definiram o legado de Ronald Reagan. O meticulosamente preservado Air Force One, que levou Reagan em jornadas cruciais, ergue-se como um testemunho do poder e da responsabilidade da presidência da nação mais poderosa do planeta. Cada exposição conta uma história — do humor de Reagan, de sua determinação, sua fé e sua crença inabalável na liberdade. Crença desafiada incontáveis vezes como presidente e até mesmo antes de chegar à Casa Branca

Mas a fundação não é apenas um arquivo das realizações de Reagan; é um espaço que respira o otimismo que ele encarnava — tão necessário nos dias de hoje. Você sente isso nas cartas trocadas entre Reagan e líderes mundiais, nos objetos pessoais que mostram sua humanidade e nos discursos que ainda ecoam com o poder de suas convicções. Conforme se percorre as galerias, torna-se evidente que esse lugar não é apenas sobre o passado. Ele é um lembrete da coragem necessária para liderar com princípios em tempos de incerteza — como agora — e da luta duradoura pela liberdade contra forças que sempre voltam e insistem em extingui-la. Uma feroz oposição ao comunismo Um dos relacionamentos mais significativos capturados na vasta coleção é o de Ronald Reagan e o papa João Paulo II. Essas duas figuras, de origens tão diferentes, encontraram um terreno comum em sua feroz oposição ao comunismo. 

Eles não eram apenas aliados políticos, mas homens de profunda fé, impulsionados por uma missão compartilhada de desmantelar os regimes opressores que escravizaram milhões sob a bandeira do totalitarismo ateu. Ambos escaparam por pouco de tentativas de assassinato em 1981, uma experiência que solidificou ainda mais seu vínculo e a crença de que foram poupados para um propósito maior.

Seus encontros privados, muitas vezes envoltos em segredo, não eram apenas compromissos diplomáticos — eram conversas sobre a própria alma da humanidade. Reagan e João Paulo II enxergavam o mundo com clareza moral, onde a liberdade era um presente de Deus, e nenhum governo tinha o direito de tirá-la. Juntos, desempenharam um papel crucial no apoio ao movimento Solidariedade na Polônia, que se tornou um farol de esperança para a eventual queda da Cortina de Ferro. Em uma das impressionantes galerias, a amizade entre eles é imortalizada, não apenas nas histórias contadas, mas na sensação palpável de que seus esforços combinados ajudaram a mudar o rumo da história. 

\A admiração de Reagan pelo papa ia além da estratégia política. Ele via em João Paulo II um líder espiritual cuja coragem inspirou milhões a se levantarem contra a tirania. Ambos acreditavam na santidade da vida humana e na importância da liderança moral em um mundo onde o mal não podia ser ignorado ou apaziguado. Na verdade, antes de ser eleito, ainda durante o planejamento de sua campanha, Reagan viu em João Paulo um dos maiores aliados para uma de suas maiores lutas de toda a sua vida — a queda do comunismo.

O potencial de Hollywood Quando Reagan era apenas um ator, e durante seu mandato como presidente do Screen Actors Guild (SAG), de 1947 a 1952, ele se tornou profundamente consciente da ameaça representada pelo comunismo em Hollywood. Em uma época em que a União Soviética buscava infiltrar e influenciar a indústria cinematográfica americana, Reagan reconheceu o potencial de Hollywood como uma poderosa ferramenta de propaganda e trabalhou diligentemente para expor a influência comunista dentro da comunidade de entretenimento, defendendo medidas para proteger a indústria contra elementos subversivos. 

A liderança de Reagan durante esse período demonstrou seu compromisso em proteger os valores e a livre expressão americanos, estabelecendo as bases para sua futura carreira política e sua postura firme, como presidente, contra o comunismo. A luta de João Paulo II contra o comunismo era antiga, uma vez que sua querida Polônia havia ficado nas garras dos soviéticos depois da Segunda Guerra Mundial. E na próxima terça-feira, 22 de outubro, o mundo se lembrará, mais uma vez, das marcas deixadas por esse incrível homem e verdadeiro servo de Deus na Terra.

Foi em 22 de outubro de 1978 que milhões ao redor do globo testemunharam um momento de profunda importância com a eleição do cardeal Karol Wojtyła como papa João Paulo II, marcando o início de uma nova era para a Igreja Católica e a esperança para aqueles atrás da Cortina de Ferro. Sendo o primeiro papa polonês e o primeiro fora da Itália em mais de quatro séculos, sua eleição ressoou profundamente no coração de seus compatriotas, acendendo uma centelha de esperança em uma nação havia muito oprimida pelo comunismo. A voz desse humilde pastor tornou-se um grito de liberdade, desafiando audaciosamente o regime totalitário que buscava suprimir a dignidade humana e a fé. 

Naquele dia histórico, o mundo sentiu o pulso da mudança; a eleição de João Paulo II não foi apenas um momento no tempo, mas um poderoso testemunho da resiliência do espírito humano, iluminando o caminho para um futuro de real esperança. E hoje, nas colinas da Califórnia, a Fundação Reagan se ergue como um poderoso símbolo dessa visão compartilhada — uma visão que entrelaçou fé, liberdade e a convicção de que o futuro poderia ser melhor se as pessoas de boa vontade se unissem contra a opressão. Assim como as palavras do papa mobilizaram os fiéis na Europa Oriental, a postura ousada de Reagan contra a União Soviética mobilizou uma nação e o mundo.

13 de maio 

Curiosamente, minha mais recente visita à fundação se deu no dia em que celebramos Nossa Senhora Aparecida no Brasil. Para João Paulo II, a aparição de Nossa Senhora, em 1917, previu o sofrimento da humanidade sob o comunismo. Quando o papa quase morreu no atentado de 13 de maio de 1981, a mesma data em que Nossa Senhora apareceu em Fátima, ele não viu isso como uma coincidência. Ele acreditava firmemente que foi a mão da Virgem que desviou a bala assassina, e esse milagre não só reforçou sua fé, mas também confirmou seu papel como um instrumento divino na batalha contra o mal do comunismo. 

Ronald Reagan, por outro lado, veio de um contexto protestante. Ele não tinha a devoção católica à Virgem Maria, mas a sua fé inabalável em Deus e o seu senso de destino o prepararam para compreender o poder desses eventos. Quando se encontrou com João Paulo II, algo mais profundo do que as palavras políticas foi trocado entre eles. Reagan, que havia sobrevivido a uma tentativa de assassinato apenas seis semanas antes do ataque ao papa, acreditava que ele também tinha sido poupado por um propósito maior. 

E esse propósito, como ele e o papa acreditavam, era trabalhar juntos para pôr fim ao comunismo, que eles viam como um mal moral. Foi nesse espaço espiritual, entre a fé católica de João Paulo II e o entendimento protestante de Reagan, que surgiu algo extraordinário. Apesar de não ser católico, Reagan compreendeu o significado da Virgem Maria para João Paulo II — um símbolo de proteção, de força e de esperança. E, de certa forma, essa compreensão o transformou. 

Ele passou a ver que a fé que movia o papa também tocava a sua própria vida e missão. Talvez o gesto mais comovente que demonstra essa transformação tenha sido o desejo de Reagan, compartilhado com Nancy, sua mulher, de que a canção Ave Maria fosse cantada em seu funeral. Para um protestante, esse pedido era muito mais do que uma escolha musical; era uma profunda homenagem à Mãe de Cristo, reconhecendo seu papel espiritual, tão caro ao papa e a milhões de católicos. Reagan, ao fazer essa escolha, mostrou ao mundo que a fé transcende barreiras. Ele se conectou a algo maior, a uma espiritualidade que uniu sua vida à de João Paulo II de forma inquebrável.

. A história entre Ronald Reagan e o Papa João Paulo II é mais do que uma aliança política contra o comunismo; é uma história de fé compartilhada, de destino, e de uma profunda crença no poder do divino. Para João Paulo II, as aparições de Nossa Senhora em 1917, que previram o sofrimento da humanidade sob o comunismo e o triunfo do Sagrado Coração de Maria, marcaram sua vida. Ronald Reagan, por outro lado, veio de um contexto protestante. Ele não tinha a devoção católica à Virgem Maria, mas a sua fé inabalável em Deus e o seu senso de Watch on Instagram View more on Instagram  o prepararam para compreender o poder desses eventos. 

Quando se encontrou com João Paulo II, algo mais profundo do que as palavras políticas foi trocado entre eles. Foi nesse espaço espiritual, entre a fé católica de João Paulo II e o entendimento protestante de Reagan, que surgiu algo extraordinário. Apesar de não ser católico, Reagan compreendeu o significado da Virgem Maria para João Paulo II - um símbolo de proteção, de força e de esperança. Talvez o gesto mais comovente que demonstra essa transformação foi o desejo de Reagan, compartilhado com Nancy, de que a canção “Ave Maria” fosse cantada em seu funeral. Para um protestante, esse pedido era muito mais do que uma escolha musical; era uma profunda homenagem à Mãe de Cristo, reconhecendo seu papel espiritual, tão caro ao Papa e a milhões de católicos. 

Quando ouvimos “Ave Maria” nos últimos momentos da despedida de Ronald Reagan, não ouvimos apenas uma canção. Ouvimos o eco de uma amizade forjada na fé de uma missão compartilhada e de uma crença comum de que Deus, através de seus mensageiros e de seu amor, estava guiando o curso da história para algo maior. Reagan, ao fazer essa escolha, mostrou ao mundo que a fé transcende barreiras. 

Ele se conectou a algo maior, a uma espiritualidade que uniu sua vida à de João Paulo II de forma inquebrável. Fiquem com o tenor irlandês Ronan Tynan cantando Ave Maria no funeral de Reagan – e tentem não se emocionar. Neste 12 de Outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida, dizemos: SALVE, RAINHA!❤️ . View all 336 comments Add a comment... 

Assim, quando ouvimos Ave Maria nos últimos momentos da despedida de Ronald Reagan, não ouvimos apenas uma canção, mas o eco de uma amizade forjada em fé, de uma missão compartilhada e de uma crença comum de que Deus, por meio de seus mensageiros e de seu amor, estava guiando o curso da história para algo maior. Foi uma despedida que selou para sempre a aliança espiritual entre um presidente protestante e um papa católico, ambos imbuídos de um mesmo sentido de destino. 

Precisamos resgatar esses valores. Só esse tipo de força nos sustentará diante das árduas tempestades que estamos atravessando.


Ana Paula Henkel, Revista Oeste