sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Augusto Nunes e 'O ano de toga'

 Retrospectiva resumida ajuda a entender a crescente impopularidade do Supremo


Foto: Montagem Revista Oeste/Divulgação 

Janeiro

Dia 15 – Dias Toffoli autoriza abertura de inquérito contra o senador Sergio Moro, acusado pelo ministro de “fraude em delação”. 

18 – O deputado federal Carlos Jordy é acordado em casa por batidas de fuzil na porta, desferidas por policiais federais engajados numa operação ordenada pelo STF. 

22 – Alexandre de Moraes anuncia a nona prorrogação do inquérito das milícias digitais. 


Fevereiro 

Dia 1º – Dias Toffoli suspende o pagamento de multas no valor de R$ 8,5 bilhões impostas à Odebrecht no acordo de leniência que livrou da cadeia os diretores da construtora. O ministro se baseou nos mesmos critérios que o levaram a presentear a J&F, no Natal de 2023, com a suspensão do pagamento de uma multa calculada em R$ 10 bilhões. 

5 – Dias Toffoli manda investigar a ONG Transparência Internacional por críticas ao governo do PT. 

8 – STF ordena prisão de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e confisca o passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro. No mesmo dia, a Polícia Federal executa operação contra militares e ex-ministros de Bolsonaro investigados por “tentativa de golpe”. 

10 – Moraes determina a permanência na prisão de Filipe Martins, exassessor internacional de Bolsonaro, acusado de ter feito uma viagem que não fez.

14 – Supremo gasta R$ 120 mil na compra de vacinas contra a gripe. 

16 – Moraes reafirma que acusados de “tentativa de golpe” estão proibidos de comunicar-se entre si. 

19 – Moraes nega pedido de Bolsonaro para adiar depoimento à PF.

20 – Luís Roberto Barroso rejeita 192 ações que explicam por que Moraes deve declarar-se impedido de julgar casos ligados às ocorrências de 8 de janeiro de 2023. 

23 – STF avisa que vai gastar R$ 2 milhões em manutenção de veículos. No mesmo dia, Flávio Dino afirma que o Supremo “tem grande papel de controle sobre outros Poderes”, e um vendedor ambulante preso no 8 de janeiro vira réu no STF sem ter conseguido algum advogado de defesa. 

26 – André Mendonça autoriza empresas a renegociarem acordos de leniência firmados em consequência de investigações da Operação Lava Jato.

28 – Investigação sobre Aécio Neves é arquivada pelo STF. 


Flávio Dino afirma que o Supremo “tem grande papel de controle sobre outros Poderes” | Foto: Reprodução/Redes Sociais 

Março 

Dia 2 – Luiz Edson Fachin mantém multa de R$ 30 mil imposta ao deputado Nikolas Ferreira por ter divulgado um vídeo sobre Lula durante a campanha eleitoral de 2022. 

8 – STF absolve por falta de provas morador de rua preso quase um ano antes. 

11 – Gilmar Mendes ataca proposta de anistia e propõe uma “Comissão da Verdade” para investigar os juízes, procuradores e policiais engajados na Lava Jato. 

13 – STF estende a licença-maternidade a gestantes em união homoafetiva. 

20 – Moraes revoga leis que vetam o ensino da linguagem neutra em cidades de Minas Gerais e Goiás.

Abril 

Dia 3 – Moraes recusa pedido de transferência de Daniel Silveira para o regime semiaberto e multa advogado que fez a solicitação. 

7 – STF condena mecânico sexagenário a 14 anos de prisão, e Moraes inclui Elon Musk no inquérito das milícias digitais. 

24 – Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli participam em Londres do Fórum Jurídico — Brasil de Ideias. 

29 – Moraes ignora pedido de vista de André Mendonça e manda prender marceneiro acusado de participação no 8 de janeiro. 

Maio 

Dia 2 – Moraes condena a 14 anos de prisão autista acusado de participação em “tentativa de golpe de Estado”.

5 – Dias Toffoli anula todos os atos praticados no âmbito da Lava Jato contra o executivo Marcelo Odebrecht. A decisão inclui o depoimento em que o filho de Emílio Odebrecht revela que é Dias Toffoli o homem rebatizado com o codinome “Amigo do Amigo de Meu Pai”. 

16 – Moraes nega mais um pedido de soltura de Filipe Martins e bloqueia verba alimentar de mãe inscrita no Bolsa Família para sustento do filho. 

17 – A pedido do Psol, Moraes suspende norma que dificulta o aborto.

18 – Moraes ordena a prisão de todos os acusados que deixaram o Brasil.

21 – STF extingue pena aplicada a José Dirceu pela prática de corrupção. 

21 – Dias Toffoli anula decisões da Lava Jato contra Marcelo Odebrecht. 21 – Fachin arquiva inquéritos que associam Renan Calheiros e Romero Jucá a crimes praticados pela Odebrecht.

23 – Moraes ordena prisão de contador com 63 anos por “receio de fuga”29 – STF mantém saidinhas de presos condenados por roubo cometido antes da extinção do benefício.

Junho

 Dia 3 – Polícia Federal muda de ideia e indicia família que teria hostilizado Moraes no Aeroporto de Roma. 

14 – Moraes ordena volta à cadeia de mulher que cumpria pena em prisão domiciliar e estava internada por surto psicótico. 

18 – Moraes aplica multa de R$ 700 mil à plataforma X, ex-Twitter. 

19 – Moraes nega a concessão de prisão domiciliar para mães com filhos menores acusadas de envolvimento no 8 de janeiro. 

20 – Dias Toffoli anula provas apresentadas por diretores da Odebrecht que incriminam João Santana, marqueteiro do PT.

24 – STF descriminaliza porte de maconha para uso pessoal, e Flávio Dino rejeita pedido de habeas corpus feito pelo advogado de Filipe Martins.

26 – Começa em Portugal o Fórum de Lisboa, também conhecido como “Gilmarpalooza” por ser organizado por Gilmar Mendes. Além do decano, representaram o Supremo no evento, que durou três dias, os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Cristiano Zanin, Dias Toffoli e Flávio Dino.

Julho 

Dia 3 – Atendendo a pedido do Psol, STF ordena a todas as escolas que combatam “discriminação de gênero”. 

4 – Moraes manda prender envolvido no 8 de janeiro que se recuperava de cirurgia. 

15 – Moraes manda retirar o sigilo do áudio que registra uma conversa entre Bolsonaro e o deputado federal Alexandre Ramagem. 

24 – Moraes ignora direito a progressão de pena de Daniel Silveira e ordena atualização da multa aplicada a seu perseguido favorito. 

31 – Por ordem de Moraes, STF abre inquérito para investigar o jornalista Allan dos Santos, exilado nos EUA.


Toffoli - Reprodução

Agosto 

Dia 2 – Moraes mantém prisão de cabeleireira que rabiscou estátua do STF com batom (“material inflamável”, segundo o ministro). No mesmo dia, vota pela condenação de idosa “golpista” a 17 anos de cadeia. 

5 – Moraes rejeita pedido de remoção de tornozeleira de acusada de envolvimento no 8 de janeiro que luta contra um câncer. 

7 – STF decide que motoboy e empresa contratados pelo iFood têm vínculo empregatício. 28 – Alexandre de Moraes proíbe a Folha de entrevistar Filipe Martins. 

29 – Moraes determina bloqueio dos recursos financeiros da Starlink, empresa pertencente a Elon Musk.

30 – Moraes proíbe a plataforma X de atuar no Brasil

Setembro 

Dia 9 – STF rejeita 39 recursos contra bloqueio de perfis nas redes sociais.

Outubro 

Dia 8 – Alexandre de Moraes restabelece o funcionamento do X no país. A liberação aconteceu depois da plataforma comprovar que indicou um representante legal no Brasil, bloquear perfis de nove investigados no STF e pagar R$ 28,6 milhões em multas

Dia 18 – STF condena presos do 8 de janeiro que rejeitaram o acordo com a Procuradoria-Geral da República que obriga o signatário a admitir crimes que não cometeu. 

Novembro 

Dia 21 – Moraes decide que a delação do tenente-coronel Mauro Cid está valendo.

29 – Moraes manda prender de novo o radialista Roque Saldanha. No mesmo dia, dá por encerrado o caso do bate-boca no Aeroporto de Roma com o pedido de retratação feito pela família ameaçada de prisão por excesso de inocência. 

Dezembro

Dia 5 – Em sessão do STF, Luiz Fux responsabiliza “o robô” pela disseminação de notícias falsas. Dias Toffoli acrescenta que a inteligência artificial piorou as coisas e, depois de elogiar Milton Nascimento e comparar a internet a trens mineiros, exige que as redes sociais tratem de implantar a autocensura. 

12 – Moraes afirma numa palestra em Brasília que “o populismo extremista de direita utiliza mecanismos estratégicos dos regimes nazista e fascista para corroer o sistema democrático por dentro”.

 14 – Moraes ordena a prisão preventiva do general Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, e de outros militares acusados de planejar um golpe de Estado.

16 – Moraes prorroga por 180 dias o inquérito das fake news, aberto há mais de cinco anos, e bate o recorde mundial da modalidade não olímpica Investigação em Extensão. 

18 – Dias Toffoli elogia a visão do compositor Gilberto Gil e recita cinco versos da música Pela Internet. Na mesma sessão, Barroso declara que “Justiça também é poesia”. 

20 – Moraes concede liberdade condicional ao ex-deputado Daniel Silveira. 

22 – Por ordem de Moraes, Polícia Federal captura o cacique Serere. 

24 – Daniel Silveira volta à prisão acusado de descumprir determinações judiciais do STF.

26 – Gilmar Mendes determina o trancamento do inquérito que investiga a prática de caixa 2 pelo velho amigo Aécio Neves na campanha presidencial de 2014. Moraes mantém o general Braga Netto preso preventivamente.


Em julho, Moraes ordenou prisões relacionadas ao 8 de janeiro, retirou sigilo de áudio envolvendo Bolsonaro, ignorou a progressão de pena de Daniel Silveira e abriu inquérito contra o jornalista exilado Allan dos Santos | Foto: Andressa Anholete/SCO/STF 


Em 2023, o STF se destacou como protagonista absoluto, distribuindo prisões preventivas como panfletos, anulando processos da Lava Jato com zelo paternal e até bloqueando plataformas digitais, enquanto redefinia o conceito de ‘equilíbrio entre os Poderes’ | Foto: Divulgação


Não é tudo. Mas não é pouca coisa. É suficiente, por exemplo, para entender a crescente impopularidade do Supremo Tribunal Federal, reiterada neste fim de ano por uma pesquisa divulgada pelo Poder360. Coletados entre 14 e 16 deste mês, os números informam que 43% dos brasileiros acham “ruim” ou “péssimo” o desempenho do STF. 

No levantamento produzido em junho de 2023, eram 31%. Há um ano e meio, também somavam 31% os que qualificavam tal desempenho de “bom” ou “ótimo”. Hoje não passam de 12%. Os integrantes do que chamam de Egrégio Plenário podem muita coisa, mas não podem tudo. Não podem, por exemplo, trocar o povo de um país, nem mudar por decreto o que pensa essa imensidão de brasileiros. 

Mais simples é cair na real, captar o recado das urnas ou pesquisas e compreender que uma genuína democracia dispensa tutores. Liberdade não rima com tutela. É hora de lancetar o tumor que há quase seis anos atormenta o Brasil que pensa. 

— Com reportagem de Eugenio Goussinsky 

Revista Oeste