sábado, 30 de novembro de 2024
'Estamos ferrados', diz empresário Rubens Ometto, ao criticar política econômica de Lula
O executivo do grupo Cosan participou de um encontro com o futuro presidente do Banco Central
Durante o evento do Grupo Esfera Brasil, em São Paulo, Rubens Ometto, presidente do grupo Cosan, criticou a política econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele disse que o Brasil está “ferrado” para o futuro novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado pelo petista. A declaração ocorreu na última quinta-feira, 28. Ometto disse que o Brasil enfrenta sérios desafios econômicos e destacou a urgência de resolver o déficit fiscal para estabilizar a economia.
Acho que a gente está numa situação muito difícil”, disse Ometto. “Quando você é empresário e vê tudo que está acontecendo, vê claramente uma política de partido, de não reduzir gastos. Está muito fácil resolver, é só resolver o problema do deficit fiscal que tudo se assenta, mas eles não querem fazer.”
Segundo Ometto, a falta de incentivos adequados pode levar empresários à falência. A medida prejudica o crescimento econômico do país. “O que vai acontecer: os juros vão subindo, os investimentos que todo mundo fala que vai ter de infraestrutura, a parceria públicoprivada, não vão acontecer porque o empresário que investir com essas taxas de juros vai quebrar”, disse o presidente da Cosan. “Estamos, desculpe o francês, estamos ferrados porque a alta administração do nosso país acha que está certo e não quer fazer nada. É uma pena.”
Presidente da Cosan critica
Lula Ometto utilizou uma analogia automobilística para criticar a política monetária e indagou Gabriel Galípolo sobre a necessidade de instituição ser flexível na sua gestão.
“Porque você, como presidente do Banco Central, é a mesma coisa que estar dirigindo um automóvel, você está dizendo que pode brecar, acelerar, mas não pode virar a direção e se você está vendo o carro indo num lugar que não seja desejável”, afirmou. “Quando você quer virar a direção, qual é a reação dos políticos?”
Galípolo garantiu que o Banco Central terá autonomia. “Na política monetária, eu te garanto, o Banco Central tem autonomia e todo o board para tocar a política monetária que ele quiser, estamos com todas as ferramentas aí para tocar.” O evento reuniu empresários como André Esteves, Joesley Batista e Carlos Jereissati.
Revista Oeste
A verdadeira motivaçāo por trás do banimento da carne do Brasil pelo Carrefour
'As relações internacionais são regidas pela reciprocidade. Competição é competição', afirma Edson Pinto, em artigo para a Revista Oeste
Edson Pinto O recente comportamento da multinacional francesa Carrefour, de banir a carne brasileira em território francês, além de conclamar outras redes varejistas e restaurantes da França a seguirem seu exemplo, é lamentável e baseado em mentiras. Se o Carrefour detectou alguma irregularidade sanitária, técnica ou ambiental quanto ao produto, deveria suspender a compra de carne proveniente de nosso país não apenas para abastecer suas lojas da França, mas, também, das unidades brasileiras e as da Argentina. E por que não fez isso? Porque, na verdade, não há problema algum com a carne do Brasil. Não se trata, tampouco, do impacto negativo aos pecuaristas franceses pelo volume de carne bovina transacionada entre os dois países.
Frigoríficos brasileiros venderam, para esta nação, cerca de 80 toneladas desse tipo de produto somente em 2024. Para se ter uma ideia, isto equivale ao consumo de um único dia em bares e restaurantes brasileiros. O que está ocorrendo, então? Trata-se de uma decisão política de protecionismo, com o objetivo de agradar aos agricultores franceses (que exercem um forte lobby) e barrar o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. O buraco “econômico”, logo, é mais embaixo.
A recente declaração do principal executivo global do Carrefour, Alexandre Bompard, causou controvérsia, já que, em tese, alguém que ocupa tal cargo não deveria basear seu discurso em falsidades sobre a sustentabilidade dos frigoríficos que operam no Brasil, o que gerou indiscutível e desnecessário desgaste nas relações com o país e prejudicou nossa imagem na Europa.
As relações internacionais são regidas pela reciprocidade. Competição é competição! E, não de hoje, a agricultura francesa não concorre e recebe diversos incentivos governamentais. Ao tomar essa iniciativa, a gigante do varejo nem considerou que a operação brasileira representa 40% do lucro bruto global do Carrefour e que suas lojas são as maiores do ramo do Brasil. Carrefour pede desculpas ao Brasil
Face aos acontecimentos, a Federação dos Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (Fhoresp), que representa mais de 500 mil estabelecimentos, tomou a atitude de organizar um boicote à rede, porque a questão envolve danos ao nosso agronegócio. Inclusive, por questionar a qualidade da proteína animal servida em restaurantes brasileiros, já que trata-se de represália ao mesmo produto. Tivemos uma altíssima adesão à retaliação ao Carrefour e, também, a outras marcas da rede, a Sam’s Club e o Atacadão.
A ação só chegou ao fim, já nesta semana, depois da retratação por parte do CEO global da varejista francesa. Em tempo, uma reflexão: o Carrefour, ao pedir aos restaurantes franceses também não importarem carne brasileira, não esperava que esses estabelecimentos revendessem seus produtos por valor mais alto aos clientes? É uma conta pouco estratégica e que não fecha.
“A disputa de mercados transformou-se num jogo de narrativas” Edson Pinto Fato é que, o clima e o meio ambiente, que deveriam ser causas nobres e comuns para debates internacionais, tornaram-se armas poderosas no comércio e na geopolítica. A disputa de mercados transformou-se num jogo de narrativas, sustentado mais por preconceitos do que por dados comprovados e por ciência.
O Brasil detém uma das legislações mais rigorosas do mundo e atua conforme as melhores práticas internacionais. Além do mais, nossas virtudes ambientais são imensamente superiores às da França, e isso vem incomodando já algum tempo os negócios e os interesses da Europa. Ao decidir dar início a uma guerra comercial, fingindo ser “o mocinho” de uma história mal contada e repleta de meias verdades, a rede de supermercados deveria calcular que, do outro lado, há consumidores e líderes setoriais que poderiam reagir.
Desdenhou. Subestimou. Não esperava o toma-lá-da-cá legítimo, justo e balizado em argumentos consistentes — e não em fake news. 30/11/2024, 13:42 A verdadeira motivaçāo por trás da decisão do Carrefour https://revistaoeste.com/agronegocio/a-verdadeira-motivacao-por-tras-do-banimento-da-carne-do-brasil-pelo-carrefour/ 4/8 Edson Pinto é diretor-executivo da Fhoresp. Presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes de Osasco, Alphaville e Região. Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica e autor do livro Lavagem de Capitais e Paraísos Fiscais (Editora Atlas).
Revista Oeste
'Um país de duas pautas e covardes perseguições'
'Nada mais importa, nada mais é repercutido por boa parte da imprensa, nada mais é debatido', escreve Lucas Berlanza
O deputado Marcel van Hattem, do Partido Novo, denunciou da tribuna, no exercício de sua função legitimamente consagrada pelo voto popular e protegida pela Carta Magna brasileira, as ações de um funcionário público, o delegado Fábio Alvares Schor, responsável por inquéritos supervisionados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
O diagnóstico exarado por Marcel foi de que o delegado se portou de maneira, para dizer o mínimo, incompetente e irresponsável ao prender Filipe Martins, ex-assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, com base em um documento editável do Word que listava o alvo entre os membros da comitiva presidencial que iria para a Flórida no final de 2022. Marcel também apontou o dedo para Schor por acuar a filha de 16 anos do jornalista Oswaldo Eustáquio, pedindo a prisão de sua mãe caso ela usasse redes sociais — uma menina, repita-se, de 16 anos.
O deputado está sendo indiciado por essas declarações. Esse teria sido o seu “crime” — o crime de “parlar”, tarefa que se espera, por definição, de um parlamentar. Felizmente, a Procuradoria Parlamentar da Câmara dos Deputados não se manteve em silêncio. Manifestou-se afirmando que o discurso do deputado “integra o exercício legítimo de seu mandato popular” e está resguardado “pela liberdade de expressão e pelo direito de crítica”, merecendo proteção do artigo 53 da Constituição Federal, que garante inviolabilidade aos parlamentares por quaisquer opiniões, palavras e votos. Disse ainda judiciosamente que apenas a instauração do inquérito já caracteriza “uma forma indireta de perseguição política”.
Essa defesa proveniente da Casa legislativa não foi apenas uma defesa da pessoa ou do cidadão Van Hattem, mas também a verdadeira defesa da democracia, que uma quantidade crescente de tiranetes no Brasil julga ser mais ameaçada pelas palavras de cidadãos conscientes que por suas atitudes vexatórias de censura e intimidação.
Não tardaria para que um dos poucos representantes eleitos pela sociedade brasileira que ainda se mostram capazes de erguer a voz em defesa dos nossos mínimos direitos individuais fosse alcançado pela sucessão de descalabros inconstitucionais e arbitrários que vêm caracterizando o regime estabelecido no Brasil pelo consórcio de conveniência entre cúpula do Judiciário, Poder Executivo e setores da grande imprensa, unidos pela identificação de inimigos terríveis em comum, escondidos debaixo da cama donde “brotarão” prontos a destruir as instituições, e pelo desejo de rechaçar aceleradamente qualquer desafio às suas pretensões censoras.
As pautas em discussão O país em que se dá, no dizer da Procuradoria parlamentar, autêntica perseguição política a Van Hattem é hoje uma nação continental sem problemas, sem adversidades, sem reformas importantes a discutir, sem questões fundamentais a devassar.
Todas as pautas e preocupações desse vasto e incólume país se resumem absolutamente a apenas duas: o golpe fascista da extrema direita das redes sociais que precisamos continuamente, com o perdão do incômodo gerúndio, “estar evitando” a todo momento já há dois anos, custe o que custar, seja com vazamentos seletivos de inquéritos infinitos, seja com projetos de regulação das mídias para salvar a democracia; e Ambas as pautas tediosamente “metralhadas” pelos canais oficiais e meios de comunicação servem apenas a um propósito: arrumar maneiras de aumentar com a máxima urgência o poder da coalizão autoritária que hoje governa o país.
Nada mais importa, nada mais é repercutido por boa parte da imprensa, nada mais é debatido, nada mais é divulgado, nada mais está acontecendo. O Brasil é um país que só tem dois problemas. Você, que pensa ao contrário, é otário ou inimigo. Melhor que se cale ou poderá sofrer as consequências.
Lucas Berlanza, Revista Oeste
sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Tapioca: de comida de escravo a uma iguaria brasileira
Prato caiu no gosto popular
A tapioca é um alimento controlador da ingestão calórica diária. É aliada em diversas dietas, embora não exista comprovação que ela contribua para o emagrecimento. Feita da mandioca, está entre os oito primeiros produtos agrícolas do país em área cultivada.
Seu período de safra vai de janeiro a julho. De comida de escravo, a tapioca passou a ser uma iguaria brasileira, sendo alimento em diversas dietas. Tapioca em destaque Em A Força do Agro desta sexta-feira, 29, o espectador soube como a tapioca pode ser uma boa opção na dieta. A Força do Agro O agronegócio é essencial para a economia mundial.
Além de gerar insumos para a maior parte dos produtos manufaturados, ele também gera alimento e renda. Nos dias de hoje, o agro se destaca como setor que busca inovar e, principalmente, neutralizar sua pegada de carbono. Em A Força do Agro são apresentados as principais temáticas que fazem o agro nacional se destacar diante o mundo em sustentabilidade e tecnologia.
Revista Oeste
'A origem do radicalismo', por Flávio Gordon
Foto: Revista Oeste/IA
Ao longo de todo o governo de Bolsonaro, houve uma percepção clara de que o Judiciário passou a atuar de maneira política e partidária
N a decisão expedida em 17 de novembro de 2024, que determinou a prisão preventiva de militares envolvidos numa suposta tentativa de golpe de Estado em favor de Jair Bolsonaro, Alexandre de Moraes baseou-se num relatório da Polícia Federal sobre a atuação pretensamente golpista de agentes das Forças Especiais do Exército, os assim chamados “Kids Pretos”. Possivelmente orientada pelo próprio magistrado — tendo em vista a constante intervenção de Moraes na fase de investigação dos processos políticos que ele comanda, tal como revelado pela Vaza Toga —, a Polícia Federal listou algumas ações criminosas dos Kids Pretos, que teriam adotado “o modus operandi da milícia digital para disseminar fake news sobre possíveis fraudes nas eleições de 2022 ataques sistemáticos a ministros do STF e do TSE [sic]”, com o objetivo de “incitar parcela da população ligada à direita do espectro político a resistirem à frente das instalações militares para criar o ambienta [sic] propício ao golpe de Estado”.
De acordo com os agentes policiais autores do relatório (ou com Alexandre de Moraes falando por seu intermédio), “tais fatos criaram o ambiente propício para o florescimento de um radicalismo que culminou nos atos do dia 08 de janeiro de 2023, mas que ainda se encontra em estado de latência em parcela da sociedade, exemplificado no atentado a bomba ocorrido na data de 13/11/2024 na cidade de Brasília/DF”. Por “atentado a bomba”, o documento referia-se ao suicídio de Francisco Wanderley Luiz, apelidado de “Tiu França”, que, na data especificada, explodiu a própria cabeça com um rojão de fogos de artifício na área externa em frente ao Supremo Tribunal Federal.
O corpo do homem identificado como Francisco Wanderley Luiz, em frente ao prédio do (STF) | Foto: Agência Brasil
A argumentação do relatório, que deveria ser um trabalho policial técnico, apenas reproduz a narrativa política e o vocabulário ideologicamente marcado da esquerda brasileira desde a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018, tida por ilegítima e aberrante: a de que o radicalismo político no país é obra exclusiva da direita. No relatório, a Polícia Federal atua como porta-voz das teses de Alexandre de Moraes, o “grande parceiro” do governo lulopetista, como o descreveu recentemente a primeira-dama Janja da Silva. Mas será mesmo que o “florescimento de um radicalismo (…) que ainda se encontra em estado de latência em parcela da sociedade” é um fenômeno unilateral? Será que foram realmente as pretensas técnicas de manipulação e guerra psicológica adotadas pelos tais “Kids Pretos” a causa do pretenso radicalismo que levou alguns ao extremo de cogitar medidas de força contra o poder constituído? Será que esse alegado radicalismo surgiu do nada?
Obviamente que não. Ao longo de todo o governo de Bolsonaro, houve uma percepção clara por parte do campo liberal-conservador de que o Judiciário passou a atuar de maneira ilegalmente política e partidária, impedindo, mediante o uso cada vez mais recorrente de lawfare, que a agenda eleitoralmente vitoriosa pudesse ser implementada. A coisa piorou e muito durante o calendário eleitoral de 2022, quando o tribunal eleitoral passou a atuar de maneira escancaradamente parcial, tendo os seus representantes manifestado um truculento desprezo pelas demandas por isonomia e transparência por parte de, ao menos, metade do eleitorado nacional, invariavelmente referido como “imbecil”, “extremista”, “fascista” etc., ou seja, pelos termos com que a militância radical de esquerda sempre tratou os seus adversários.
Depois do casuísmo utilizado para livrar da cadeia o candidato petista e devolver-lhe a elegibilidade, a percepção de que não tivemos um processo eleitoral conduzido legitimamente foi reforçada, por exemplo, pela prática de censura sistemática em favor da candidatura de Lula, e por falas indecorosas sussurradas ou vociferadas por autoridades eleitorais.
Terão sido os “Kids Pretos” os responsáveis por fomentar o radicalismo na direita ou ele terá origem na revolta generalizada diante de uma cena como a de Benedito Gonçalves, ministro do TSE responsável por proibir Bolsonaro de usar as imagens dos atos de 7 de Setembro e por várias outras decisões sempre contrárias ao candidato de direita, recebendo tapinhas de Lula e assegurando-lhe que “tá tudo em casa”?
Ou da cena em que, na diplomação do petista, o mesmo ministro cochichou “missão dada é missão cumprida” nos ouvidos de Alexandre de Moraes, então presidente do TSE? Ou de quando Luís Roberto Barroso, em Nova York, respondeu a um apoiador de Bolsonaro que o questionava sobre o código-fonte das urnas eletrônicas: “Perdeu, mané, não amola”? Ou de quando o mesmo Barroso se gabou por haver “derrotado o bolsonarismo” (caso em que, fosse a declaração dada por um árbitro de futebol contra um dos times após uma final, certamente ensejaria a anulação do campeonato)?
Essas e outras manifestações indecorosas por parte de servidores públicos que se comportam como militantes partidários geraram, em boa parte da sociedade, a sensação de que o Judiciário brasileiro passara a agir com base na lógica do “aos amigos tudo; aos inimigos, sequer a lei”. Foi essa sensação de que já não vivíamos sob Estado de Direito, mas sob um estado de força bruta e imposição de vontade política, que levou um setor minoritário dentro de uma grande massa de indignados a cogitar medidas de força e ações radicais desesperadas.
O extremismo político que se abateu sobre o país decerto não surgiu com a direita, tendo se revelado, antes, na conduta imprópria, parcial e disfuncional de autoridades judiciais. Um exemplo claro que contribuiu com a sensação de que a Justiça Eleitoral passara a ter lado político foi dado no caso conhecido como “Radiolão do PT”. Para quem não se lembra do episódio, em 24 de outubro de 2022, faltando uma semana para o segundo turno das eleições presidenciais, a campanha de Jair Bolsonaro — representada no ato pelo ministro das Comunicações Fábio Faria e pelo ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social Fabio Wajngarten — denunciou um possível crime eleitoral: rádios no Norte e Nordeste teriam deixado de transmitir mais de 154 mil inserções de suas propagandas no rádio, favorecendo, em contrapartida, a propaganda eleitoral do candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Conforme noticiado à época pelo site O Antagonista, as rádios não estariam exibindo as peças da propaganda eleitoral encaminhadas pela campanha ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão responsável pela distribuição aos veículos de comunicação. Ainda segundo a notícia, em apenas uma semana e somente na Região Nordeste, a propaganda do PT para a Presidência tivera 6 mil minutos a mais, o equivalente a cem horas de exposição, que a do PL
Na mesma noite da denúncia, e com evidente má vontade, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, intimou a campanha de Bolsonaro a provar, em até 24 horas, a suposta fraude nas inserções de rádio. Mas, além de determinar um prazo tão curto, o servidor público do TSE ainda ameaçou a campanha bolsonarista, dizendo que, caso as provas não fossem apresentadas, a apresentação da denúncia poderia caracterizar crime eleitoral. Dentro do prazo estipulado, a defesa da campanha de Jair Bolsonaro apresentou uma petição contendo um relatório de auditoria de mídia realizada pela empresa Audiency Brasil Tecnologia.
No relatório, foram apresentados recortes amostrais de oito rádios de municípios da Bahia e de Pernambuco que teriam deixado de veicular até 730 inserções da chapa do Partido Liberal (PL) no período compreendido entre os dias 7 e 14 de outubro. Apenas dois dias depois de terem sido apresentadas as provas solicitadas, Alexandre de Moraes arquivou a denúncia, em decisão baseada num estudo elaborado por um professor da PUC-RJ, o engenheiro Miguel Freitas, que utilizou dados de um perfil apócrifo no Twitter, significativamente intitulado “Desmentindo Bozo”.
\Na decisão, Moraes elogiou a análise de Freitas e de “Desmentindo Bozo” como “direta e certeira”, afirmando ainda que, por não haver apresentado provas, a campanha de Bolsonaro teria por único objetivo “tumultuar as eleições”. Daí que, além de arquivar a denúncia sem examinar os fatos com um mínimo de seriedade e isenção, Moraes também tenha determinado que o procurador-geral eleitoral, Augusto Aras, abrisse um processo administrativo para apurar um eventual desvio de finalidade da utilização do fundo partidário pelos autores para subsidiar a denúncia.
Ocorre que, como mostra uma auditoria independente recémrealizada pela equipe do jornalista investigativo David Ágape e publicada em seu site A Investigação, as informações contidas no relatório da Audiency Brasil Tecnologia, encomendado pela campanha de Bolsonaro, eram consistentes, correspondendo no geral aos resultados auditados por Ágape e sua equipe. Diferentemente do processo automatizado de checagem adotado pela Audiency, no entanto, a auditoria de A Investigação procedeu a uma checagem manual das 168 horas de arquivos de áudio disponibilizados pela auditoria do PL.
Lê-se na matéria que resume os achados da auditoria coordenada por Ágape: “Através de análise focada em uma questão palpável e factível, buscou-se responder à seguinte pergunta: afinal, com base nos arquivos disponibilizados, o método da Audiency seria eficaz para auditorias? Até que ponto a denúncia de que há discrepâncias entre as inserções do PT e do PL se sustentaria? Os resultados obtidos pela força-tarefa foram contundentes:
• O PT teve 53 minutos e 30 segundos a mais que o PL, somados os sete dias de programação das sete rádios analisadas pelo site A Investigação; • O método automatizado utilizado pela Audiency, ao contrário do que foi afirmado pelo ministro do TSE, se mostrou viável para a realização de auditorias, com uma grande precisão em comparação com a audição humana; • Constatamos também graves falhas na metodologia e nos resultados obtidos pelo professor Miguel Freitas, algo que pode ter induzido Moraes a erro em sua decisão de arquivar a denúncia e posterior investigação sobre a discrepância nas inserções nas rádios.” Não houve nenhuma contestação formal aos resultados da auditoria realizada por Ágape e sua equipe.
Em vez disso, o que ocorreu foi um ataque hacker de grandes proporções contra o site A Investigação. “Ao longo das tentativas, os sistemas de proteção detectaram o uso de bots, acesso de usuários anônimos em massa e ataques do tipo DDoS” — lêse em matéria sobre a divulgação do relatório. “A maioria destas tentativas vieram dos Estados Unidos, mas também foram identificados ataques da Alemanha, Portugal e outros países da Europa.”
“Diante dos dados obtidos a partir da investigação de nossa equipe, facilmente auditáveis através das planilhas em nosso Drive, demonstramos que o método de captação de dados de áudio da Audiency é viável para a realização de auditorias, ao contrário do que foi afirmado pelo professor engenheiro Miguel Freitas — utilizado pelo ministro presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, para arquivar a denúncia. Concluímos, portanto, que deveria ter sido dado prosseguimento à investigação solicitada, dada a importância para a democracia e sociedade.”
Mas, como a missão aparente de Moraes à frente do TSE não era atender ao interesse da sociedade, e sim fazer o que lhe estivesse ao alcance para impedir a reeleição de Bolsonaro, seu inimigo político declarado, ele obviamente não cumpriu o seu dever de examinar séria e imparcialmente a denúncia. Adotando a tese preconcebida e irredutível de que a própria presença de Bolsonaro na vida política nacional era uma espécie de aberração, e imbuído do propósito de combater o que ele chama de “extrema direita” (algo obviamente incompatível com a função de um juiz), Moraes não apenas desprezou as alegações do PL como aproveitou a oportunidade para fazer aquilo que seria a sua marca, bem como a da maioria de seus pares de tribunal: a prática de lawfare, não apenas contra o presidente e candidato Jair Bolsonaro, mas também contra os seus aliados, apoiadores e cidadãos de direita em geral.
E reside aí a origem de todo o radicalismo político hoje observado no país.
Flávio Gordon, Revista Oeste
'O Congresso por um triz', escreve Sílvio Navarro
Arthur Lira mudou sua postura e defendeu Marcel van Hattem e Cabo Gilberto Silva, indiciados pela PF por críticas ao delegado Fábio Shor (27/11/2024) | Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados
Nunca, desde a redemocratização do país, o Legislativo permaneceu tanto tempo acuado como agora, com medo do Supremo Tribunal Federal
A redação do artigo 53 da Constituição Federal é clara, literal, sem rodeios: “Os deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. O grifo acima é proposital. A última alteração nesse texto foi feita há 23 anos, em dezembro de 2001, pelo Congresso Nacional, onde se formulam leis. O presidente era Fernando Henrique Cardoso, e quem comandava as duas Casas no Legislativo eram o senador Ramez Tebet e o deputado Aécio Neves. Nos últimos tempos — neste mês mais do que nunca —, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu sem consultar ninguém que esse artigo não vale mais. A truculência contra o Legislativo e o que está escrito na Constituição começou em 2021 com o então deputado Daniel Silveira — que segue preso, mesmo depois de um indulto presidencial, porque o ministro do STF Alexandre de Moraes assim o quer.
Agora, outros dois parlamentares correm o risco de ter o mesmo destino se ninguém aplicar o que diz a lei: Marcel van Hattem (Novo-RS) e Cabo Gilberto Silva (PL-PB). O que todos eles fizeram? Criticaram a conduta de ministros da Suprema Corte e dos dirigentes da Polícia Federal.
O caso de Silveira já é bastante conhecido e remete a comentários de péssimo gosto publicados por ele na internet contra ministros da Corte. Silveira também fez menções em defesa do Ato Institucional nº 5 (AI-5), um símbolo dos tempos mais duros da repressão militar. A punição chegou em fevereiro de 2021. Ele foi preso pela Polícia Federal, às 23 horas — o que é incomum em ações policiais, realizadas sempre à luz do dia —, em sua casa na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro.
A explicação para o horário foi: prisão em flagrante por ordem do ministro Alexandre de Moraes. Como é impossível remover o que vai parar na rede mundial de computadores neste século, inventou-se o “flagrante perpétuo”. Silveira ainda teve tempo de pegar o celular e escrever no Twitter: “A Polícia Federal está na minha casa neste exato momento com ordem de prisão. Aos esquerdistas que estão comemorando, relaxem, tenho imunidade material”.
Ocorre que, à época, o deputado não imaginava que, pelas mãos do STF, as coisas estavam mudando no Brasil: começava uma caçada sem precedentes nem fim aos chamados “bolsonaristas”, aliados do presidente Jair Bolsonaro e/ou simpatizantes do conservadorismo. Também não esperava que a Câmara dos Deputados ficaria acuada a ponto de entregar seu mandato ao Supremo. Foram 364 votos a favor da manutenção da prisão, 130 contra e 3 abstenções. Até hoje, essa decisão é comentada nos corredores do Congresso como um erro fatal do Legislativo. Não é difícil encontrar deputados que afirmam publicamente nos microfones ter se arrependido. O artigo 53 da Constituição foi rasgado.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também se arrependeu. Nesta quarta-feira, 27, ele agiu totalmente diferente para defender Marcel van Hattem e Cabo Gilberto Silva. Os dois foram indiciados e são investigados pela Polícia Federal por terem criticado duramente o delegado Fábio Shor — responsável também pelos inquéritos contra Jair Bolsonaro e pela chamada Vaza Jato, peça-chave para implodir a Lava Jato no Supremo.
“Essa fala não é para agredir nem enfrentar ninguém”, ponderou Lira. “Agora a Casa, na sua procuradoria e advocacia, vai chegar aos últimos limites para que responda por abuso de autoridade quem infringir a capacidade dos parlamentares nesta Casa, sejam eles quais forem.”
Foi a mais contundente fala do presidente da Câmara em anos. Disse que observa com preocupação as “recentes investidas da Polícia Federal para investigar parlamentares por discursos proferidos em tribuna”. Foi aplaudido no plenário e nas redes sociais. “A imunidade material é um direito inalienável de cada parlamentar e ela há de ser absoluta para manifestações feitas na sagrada tribuna desta Câmara.”
Lira também fez cálculo político: ele está de saída da presidência da Casa, sabe que vai virar mais um entre 513 deputados a partir de fevereiro e que precisará de base eleitoral em 2026 contra seu arquirrival Renan Calheiros (MDB-AL). Há anos, os dois travam uma briga regional típica do velho Brasil. Como Renan tem o apoio de Lula, Arthur Lira flerta com o eleitorado mais conservador, principalmente depois que o Judiciário tirou Fernando Collor de Mello do jogo.
Se a micropolítica for deixada de lado, por que a fala de Lira é tão importante para o Brasil? Porque a Polícia Federal, a serviço dos ministros do Supremo Tribunal Federal, atacou pilares da democracia constitucional no caso de van Hattem. Como um deputado pode responder por crimes contra a honra de um delegado, se deveria estar blindado pela tribuna — justamente a imunidade para “parlar” em nome dos seus eleitores? Mais: o que disse de tão grave o deputado? Ele afirmou que o delegado “cria relatórios fraudulentos para manter preso” Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, “e que a prisão foi ilegal e sem fundamentação”.
Martins passou seis meses preso, acusado de viajar para os Estados Unidos na virada de 2023, enquanto ocorreria no Brasil uma quartelada — com tomada de poder sem pólvora, envenenamento do presidente Lula e enforcamento de Alexandre de Moraes em praça pública. Nem a viagem nem o golpe de Estado ocorreram, mas Filipe Martins foi preso mesmo assim. Agora, ele é acusado de fraudar o severo processo de entrada de estrangeiros nos Estados Unidos. A Polícia Federal diz que o ex-auxiliar de Bolsonaro fazia parte do “núcleo jurídico de um golpe” em curso em Brasília. O caso de Martins é kafkiano.
Foi contra essa trama irreal que van Hattem reclamou na tribuna da Câmara, como qualquer parlamentar sempre fez. Mas ele desceu dela indiciado por calúnia e difamação contra o delegado. O problema de Alexandre de Moraes e da maioria dos ministros que o acompanham é a palavra “quaisquer” no artigo 53 da Constituição. A Corte agora quer determinar o que um congressista pode ou não falar, especialmente o tom e os assuntos — por exemplo, o processo eleitoral ou as vacinas contra a covid-19 devem ser proibidos. Paralelamente, também querem calar os pagadores de impostos nas redes sociais, conforme debatido no plenário do tribunal nesta semana.
O presidente do Partido Novo, Eduardo Ribeiro, fez uma boa leitura das prioridades dos ministros. “O STF tem mais de 200 ações aguardando julgamento há mais de oito anos”, afirmou. “Algumas estão paradas há mais de uma década, e há casos sem decisão há mais de 30 anos. Mesmo assim, decidiu regular as redes sociais sob a justificativa de que o Congresso foi omisso. É vergonhoso que o Congresso assista a esse golpe contra a liberdade de forma tão submissa e complacente.”
O Congresso brasileiro só se move quando leva um chacoalhão da sociedade. Não se sabe se agora reagirá — se depender do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), não vai. Mas é fato que a declaração de Arthur Lira tem peso. “Que fique claro: nossa voz é a voz do povo, e ela não será silenciada”, disse ele. A receita para a volta da normalidade institucional não é nova: a política sempre encontrou seus caminhos, mais ainda desde que Brasília existe. Ela só não pode ser feita em tribunais. Política se faz no voto popular — ou seja, no Congresso Nacional e no governo.
Sílvio Navarro, Revista Oeste
Carne de frango atinge o maior preço em dois anos
Trata-se de um dos principais alimentos na dieta dos brasileiros
O preço da carne de frango está no patamar mais caro desde o fim de 2022. É o que mostra um levantamento da Universidade de São Paulo (USP). A instituição publicou os dados nesta sexta-feira, 29. De acordo com os pesquisadores, o aumento do preço da carne de frango também se manteve no período em que a queda seria o habitual. O estudo é encabeçado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo.
Trata-se do campus referência da USP para estudos sobre o agronegócio. “Levantamentos do Cepea mostram que os preços da carne de frango seguem firmes no mercado doméstico, operando nos maiores patamares reais desde novembro de 2022”, escrevem os pesquisadores. “Nem mesmo o período de final de mês, quando geralmente a demanda final se desaquece — por conta do menor poder de compra da população —, impediu novos aumentos.”
Os registros do Cepea mostram que o valor médio é de pouco mais de R$ 8, tanto para os produtos congelados quanto in natura. Os pesquisadores estabelecem a média com base nos dados coletados no mercado no Estado de São Paulo — o mais populoso em todo o Brasil. Carne de frango no Brasil A média anual de consumo de carne no Brasil é de 100 kg por habitante — e metade disso é de frango. O país é um dos maiores produtores desse tipo de proteína no mundo.
Em 2024, a produção nacional deve fechar em 15 milhões de toneladas. Essa quantidade empata com a China, e apenas os Estados Unidos têm um resultado maior (21,4 milhões). Por volta de 67% da produção nacional fica no mercado interno. Ainda assim, os frigoríficos lideram o mercado mundial de exportação de carne de frango.
Revista Oeste
Com Lula, dívida bruta do Brasil supera R$ 9 trilhões e bate recorde histórico
É a primeira vez na história que o país chega a esse valor acumulado; no atual governo, passivo cresceu R$ 1,8 trilhão
A dívida bruta do Brasil ultrapassou, em outubro, a marca de R$ 9 trilhões. É a primeira vez que isso acontece na história do país. O acumulado do endividamento somou R$ 9,032 trilhões no mês. Isso representa uma alta de 1,16% em relação a setembro. Nesse sentido, comparado a outubro de 2023, o aumento é de 14,13%. Os dados fazem parte do relatório “Estatísticas Fiscais”, que o Banco Central divulgou nesta sexta-feira, 29, em Brasília. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) inclui principalmente o que deve o governo federal, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e os governos estaduais e municipais.
Crescimento da dívida em cada governo; confira: Conforme o BC, o estoque da dívida subiu R$ 952,6 bilhões em 2024 e R$ 1,8 trilhão no governo Lula da Silva. Veja o acumulado da dívida por governo desde o início da série histórica: Em relação ao PIB, dívida é a pior desde a pandemia A análise da dívida bruta ocorre a partir da comparação com o Produto Interno Bruto (PIB), que é o somatório de riquezas que o país gera. Em outubro de 2024, o estoque atingiu 78,64% do PIB.
O índice corresponde ao mais alto patamar desde outubro de 2021. Neste ano, o número alcançou 79,1%, em parte decorrente sobretudo da crise da covid-19. A dívida bruta aumentou 4,22 pontos porcentuais em 2024 e 6,96 pontos porcentuais no governo Lula.
• Governo Lula (2007-2010) – R$ 674,9 bilhões • Governo Dilma (2011-2014) – R$ 1,241 trilhão • Governo Dilma/Temer (2015-2018) – R$ 2,020 trilhões • Governo Bolsonaro – (2019-2022) R$ 1,952 trilhão • Governo Lula (2023-atual) – R$ 1,807 trilhão.
Gastos com juros superam R$ 111 bilhões
Os gastos com juros nominais da dívida do setor público somaram R$ 111,6 bilhões em outubro de 2024. Significa que esse tipo de despesa financeira subiu 80,3% em comparação ao mesmo mês de 2023, quando totalizou R$ 61,9 bilhões. A taxa básica de juros, a Selic, no atual nível em que se encontra, encarece o financiamento da dívida. Contudo, é o próprio governo quem infla a taxa de juros ao se posicionar como o maior tomador de empréstimos no mercado e, assim, estimular o aumento da Selic.
Governo é o maior tomador de dinheiro Quanto mais o Estado recorre a dinheiro de terceiros para bancar seus gastos, menor é a oferta de recursos. Desse modo, mais caro torna-se o custo do dinheiro, isto é, a taxa de juros. Considerando o resultado nominal do setor público consolidado, ou seja, com os gastos com juros, o déficit em outubro chega a R$ 74,1 bilhões.
Revista Oeste
Lula aproveita que o dólar passou de R$ 6 e a dívida bruta ultrapassou de R$ 9 trilhões, vai viajar. De novo...
Lula faz viagem internacional em dezembro - Foto: Ricardo Stuckert/PR
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, faz sua primeira viagem internacional desde que bateu a cabeça durante um acidente doméstico no banheiro do Palácio da Alvorada, em outubro deste ano. Lula viaja para o Uruguai para participar da LXV Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul.
O evento ocorre nos dias 5 e 6 de dezembro, em Montevidéu. Ainda não foram divulgados detalhes sobre a agenda do petista no país.
Nesta sexta-feira, 29, Lula se reuniu com o presidente eleito do Uruguai, Yamandú Orsi, no Palácio do Planalto. Foram discutidos temas de interesse dos dois países, além do acordo entre Mercosul e União Europeia.
“Para nós é importante sabermos que temos o Brasil sempre disposto a colaborar com a gente”, declarou Orsi depois do encontro com o petista. Orsi defendeu a ideia de que a relação entre os países sulamericanos precisa ser mais forte, sobretudo em “um mundo convulsionado”.
“Como conclusão, somos otimistas como Mercosul e como região, na possibilidade de estreitar laços com outras regiões e, fundamentalmente, com a Europa”, destacou o presidente eleito à imprensa.
Revista Oeste
Tribunal de Contas identifica superfaturamento de R$ 1,1 milhão em obras da Prefeitura do Recife
O órgão encontrou irregularidades na compra de estacas de fundação de unidades habitacionais
O Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE) identificou um superfaturamento de R$ 1,1 milhão nas obras de unidades habitacionais no Recife. O projeto, da prefeitura da capital pernambucana, tem o objetivo de resolver problemas habitacionais na área central da cidade. O site Metrópoles divulgou a informação nesta sexta-feira, 29. O contrato inicial foi firmado em 2023 com a empresa Times Engenharia Ltda. por R$ 33,2 milhões. Depois de três aditivos, o valor subiu para R$ 36,1 milhões. Até agora, foram pagos R$ 6,4 milhões, e 192 dos 588 apartamentos planejados foram entregues. A supervisão do projeto é da Autarquia de Urbanização (URB).
O auditor Michelle Pontes Seixas, responsável pelo relatório, destacou que o superfaturamento ocorreu na aquisição das estacas de fundação para as obras na comunidade do Pilar, uma área caracterizada por habitações precárias. Segundo o TCE, as estacas de concreto centrifugado adquiridas não atendiam às especificações contratuais, com resistência média inferior a 100 toneladas-força. A prefeitura, atualmente comandada por Eduardo Campos (PSB), que foi reeleito em outubro, afirmou que “não há notificação registrada acerca do assunto”.
O primeiro aditivo ao contrato foi justificado pela empresa por causa das mudanças necessárias no projeto de fundação, em razão de intervenções anteriores à contratação.
Contudo, o TCE informou que o aditivo incluiu serviços adicionais não previstos inicialmente. As medições das estacas ocorreram entre 6 e 18 de dezembro de 2023, com pagamento integral em 28 de dezembro 2023. A URB afirmou que a divergência ocorreu por um erro no preenchimento da planilha de auditoria e que adota medidas para resolver a questão. A empresa responsável pelas obras informou que as estacas na quadra 46 atendem ao novo projeto e que a divergência foi um erro formal.
No entanto, o TCE refutou essa alegação, ao afirmar que a empresa não pode alegar desconhecimento das divergências, uma vez que assinou documentos que comprovam que o tipo de estaca pago foi totalmente diferente do projetado. O relatório concluiu que não se trata de um simples erro formal, mas, sim, de uma falha significativa que pode indicar responsabilidade dolosa dos envolvidos no projeto.
Revista Oeste
'Cancelada a cultura do cancelamento', por Ana Paula Henkel
Ilustração: Revista Oeste/IA
Parece que todos foram enxovalhados de maneira tão brutal para a esquerda que agora perceberam a loucura e os perigos da ideologia progressista
N a música Subterranean Homesick Blues, o ícone Bob Dylan canta “Você não precisa ser um meteorologista para saber para que lado o vento sopra” (“You don’t need to be a weatherman to know which way the wind blows”). Quem aprende a ler as entrelinhas da cultura não cai nas fajutas pesquisas políticas. Os ventos estão soprando já há algum tempo na direção de que uma mudança cultural, que elegeu Donald Trump este ano, vem sendo fermentada há alguns anos na América. A maioria dos analistas políticos simplesmente não percebeu para onde esses ventos apontavam. Sinais foram dados, como, por exemplo, o sucesso estrondoso de Top Gun: Maverick. Ali, as pessoas já gritavam que queriam voltar à normalidade. Após o assassinato de George Floyd e os protestos violentos em 2020, muitos intelectuais defenderam que os filmes “culturalmente relevantes” precisavam abordar diretamente a política DEI (de diversidade, equidade e inclusão) ou “questões raciais sistêmicas” para encontrar amplo apelo. Mas, depois da pandemia, quando pudemos voltar confortavelmente aos cinemas em 2022, o maior sucesso de bilheteria da América não fez nada disso.
Em vez disso, Top Gun: Maverick decidiu se apoiar fortemente em temas clássicos de heroísmo, personificados por um protagonista branco e masculino (Tom Cruise como Maverick), que é uma figura tradicional que se guia por valores dedicados à honra, ao dever e às virtudes. Maverick representa os valores americanos mais tradicionais de meritocracia sobre a aristocracia em meio ao que deveria ser uma revolução cultural destinada a estabelecer uma nova aristocracia invertida. À época, escrevi aqui em Oeste sobre o fenômeno.
Nos últimos dias tensos antes desta eleição presidencial americana, algo estava diferente. Uma confiança silenciosa começou a tomar conta de conversas em supermercados, bares e restaurantes. Grandes multidões de eleitores votaram antecipadamente, e o Partido Democrata estava visivelmente em pânico. Desta vez, algo parecia diferente, e parecia igualmente tarde demais para uma vitória do partido que tentou normalizar homens competindo com meninas e usando banheiro feminino. Era como se o chão estivesse se movendo sob o país; não se dividindo, mas unindo-o. Essa mudança foi tão grande que, quando Donald Trump foi declarado vencedor, estabelecendo a mais incrível volta por cima da história política americana, ainda assim pareceu menos uma vitória para ele ou para o Partido Republicano, e mais para o triunfo final da unidade americana sobre a política covarde da divisão e das bizarrices.
Os eleitores rejeitaram não apenas Kamala Harris, mas também a agenda dos democratas contra a família, os bons costumes e a normalidade.
Donald Trump, então candidato presidencial republicano, e Kamala Harris, candidata presidencial democrata, durante debate presidencial organizado pela ABC, na Filadélfia, Pensilvânia (10/9/2024) | Foto: Reuters/Brian Snyder
Isso sinaliza um realinhamento fundamental não apenas da política eleitoral, mas potencialmente da sociedade americana também. Durante grande parte do século 21, os americanos foram divididos em linhas raciais, étnicas, de gênero e sexualidade e acreditaram na mentira da intolerância sistêmica. Para ganhar e manter o poder político, os democratas dividiram a população em duas classes: opressores e oprimidos. Minorias raciais, gays e mulheres eram constantemente informados de que precisavam da proteção dos democratas brancos e ricos contra os terríveis homens brancos heterossexuais que os manteriam para sempre reprimidos. Não foi surpresa que esses homens tenham sido os primeiros a abandonar o Partido Democrata.
No entanto, a velocidade com que outros grupos demográficos os seguiram foi chocante. Os eleitores negros e latinos, ao que parece, simplesmente se cansaram de viver em bairros de alta criminalidade e baixa renda controlados pelos democratas por décadas, enquanto mulheres de todas as raças estão rejeitando a suposição paternalista de que a única questão com a qual realmente se importam é o aborto. Preços altíssimos para necessidades básicas, crimes desenfreados nas ruas e uma onda de imigrantes ilegais invadindo cidades de costa a costa levaram dois terços dos eleitores a dizer que o país está no caminho errado. “LatinX”? Não. Basta. A pesquisa de boca de urna mostrou que 46% dos eleitores latinos votaram em Trump, incluindo 55% dos homens — o maior número para um republicano nos últimos 40 anos.
Apoiadores pró-Trump se manifestam em frente ao Tribunal Criminal de Nova York, durante comparecimento de Donald Trump (4/4/2023) | Foto: Shutterstock
Os eleitores da histórica eleição de 2024 simplesmente mostraram que estão cansados de governantes falhando em entregar prosperidade e de instituições alinhadas aos democratas mentindo o tempo todo sobre isso. Para eles, Trump não representava apenas uma mudança na liderança dos Estados Unidos, mas uma mudança na cultura dos Estados Unidos. Eles deixaram claro que estão cansados da propaganda da mídia, da doutrinação acadêmica, da agenda de “diversidade, equidade e inclusão” das grandes empresas, das perseguições do sistema de Justiça Criminal e da rendição de todo o sistema americano à tirania da turma woke.
E, nas últimas três semanas, parece que o mundo, como num passe de mágica, voltou a uma normalidade que fez tanta, mas tanta falta nos últimos anos no mundo. Primeiro foi a Liga Profissional de Futebol Americano, a NFL. Depois da papagaiada de 2020 de alguns jogadores de se ajoelhar durante o hino americano e renegar a bandeira de seu país “em protesto contra o racismo sistêmico”, palhaçada que derrubou a audiência para o patamar dos piores números da história do esporte mais popular dos EUA, agora os jogadores parecem ter recebido uma carta de alforria da senzala ideológica. Há três semanas, temos testemunhado os atletas comemorando seus touchdowns fazendo a já famosa dancinha de Donald Trump. Atletas de outros esportes, como golfe, futebol e UFC, seguem a mesma onda em uma ode à liberdade! Basta de loucura! Basta de silêncio!
Mas essa liberdade não ficou apenas nos esportes. No mundo corporativo, a resposta veio rápido. Várias grandes corporações reverteram suas políticas de “diversidade, equidade e inclusão”, com o Walmart se tornando o mais recente nome a entrar na lista. O anúncio do Walmart nesta semana ocorre na esteira de medidas semelhantes tomadas por uma série de marcas de prestígio, como Ford, John Deere, Lowe’s, Harley-Davidson e Jack Daniel’s — refletindo uma reação contra o chamado politicamente correto na vida pública americana. As mudanças, confirmadas pelo Walmart na segundafeira, 25 de novembro, são abrangentes e incluem desde não renovar um compromisso de cinco anos para um “centro racial de equidade”, criado em 2020 após o assassinato de George Floyd, até a retirada da política que trata de “raça ou gênero”. A assessoria da empresa informou que o Walmart “não dará tratamento prioritário aos fornecedores” e que “deixará de participar do índice de referência anual da Human Rights Campaign”, que mede a inclusão no local de trabalho para funcionários LGBTQ+. A eleição de Donald Trump foi muito mais do que uma disputa entre democratas e republicanos — foi um realinhamento político e cultural radical e necessário que rejeitou divisões superficiais e abraçou a tradição americana novamente. E esse reflexo foi exposto agora onde mais notamos: nos comerciais.
Donald Trump, presidente eleito dos EUA, em reunião com os republicanos na Câmara no Capitólio, em Washington (13/11/2024) | Foto: Reuters/Brian Snyder
O mais recente comercial da Volvo está sendo celebrado por sua recente posição “pró-vida”. Em um formato que iria contra qualquer regra de marketing, a empresa publicou um anúncio de 3 minutos e 46 segundos no Instagram. Depois que a Jaguar tentou emplacar mais uma baboseira woke em um recente comercial, o filme da Volvo, conduzido por Hoyte van Hoytema, diretor de fotografia de Interestelar e Oppenheimer, viralizou nas redes sociais e teve uma das maiores repercussões positivas da história da empresa. O anúncio retrata um homem descobrindo que será pai e imaginando o futuro com o filho e a mulher. Então, as cenas mostram, brilhantemente, os recursos de segurança do carro que protegem sua família.
Outro comercial que tomou como uma boa tempestade as redes sociais e TVs aqui nos Estados Unidos nesta semana foi uma lindíssima peça da Apple — sim, a outrora woke Apple. Lançado como campanha para este Natal, o filme é uma história contada em duas partes. A primeira metade revela a perspectiva de um pai com perda auditiva moderada. Por meio de um som abafado que reflete sua condição, ele observa sua filha abrir um violão novo na manhã de Natal e relembra marcos de sua infância, desde seu primeiro violão até aniversários e o primeiro dia de aula. LifeNews.com @LifeNewsH · Seguir While Jaguar promotes woke garbage, Volvo has an amazing new pro-life commercial. Assista no X 3:46 PM · 21 de nov de 2024 2,9 mil Responder Copiar link para o post Ler 106 respostas A perspectiva muda depois que ele ativa o recurso Hearing Aid em seus AirPods Pro 2, novo recurso dos fones de ouvido da Apple para deficientes auditivos. Então, agora capaz de ouvir claramente, ele está totalmente presente para a interpretação de sua filha de Our House, de Crosby, Stills, Nash & Young. O novo comercial da empresa é de encher os olhos de lágrimas — uma homenagem ao seio familiar e aos lindos laços que são construídos dentro dele!
Chega a ser engraçado (para não dizer patético) como ficamos chocados com apenas um comercial americano normal. A esquerda estraga tudo em que toca, e eles tentaram — a todo custo — estragar o pilar mais lindo e fundamental de nossa vida: a família. Parece que todos foram empurrados tanto para a esquerda que agora perceberam a loucura e os perigos da ideologia progressista. A mudança cultural é definitivamente o indicador mais importante aqui. Uma sociedade saudável valoriza crianças, relacionamentos amorosos e a conexão familiar.
O lado bom da esquizofrenia à qual fomos submetidos a duras penas de covardes cancelamentos é que ficou muito claro que prezamos a normalidade e a tradição — até muito mais profundamente do que antes. Não sei o que é melhor: os comerciais da Volvo e da Apple ou o fato de termos empurrado a cultura de volta à sanidade, onde empresas woke estão percebendo que suas ideologias foram rejeitadas pelo povo americano. Parece que todos foram enxovalhados de maneira tão brutal para a esquerda que agora perceberam a loucura e os perigos da ideologia progressista. A mudança cultural é definitivamente o indicador mais importante aqui. Uma sociedade saudável valoriza crianças, relacionamentos amorosos e conexão familiar.
O pêndulo está voltando para os valores familiares! E esta é uma sensação maravilhosa! A expressão “uma cidade sobre um monte” (“a city upon a hill“) tem origem no Sermão da Montanha de Jesus na Bíblia, simbolizando uma comunidade que serve de exemplo moral para os outros. A frase foi usada de forma marcante pelo líder puritano John Winthrop em 1630, ao imaginar a Colônia da Baía de Massachusetts como um modelo de virtude cristã e governança. Com o tempo, a expressão tornou-se uma metáfora para o papel dos EUA como farol de esperança, democracia e liderança moral.
No discurso político americano, a expressão ganhou destaque com líderes como John F. Kennedy e Ronald Reagan, que a usaram para ressaltar o excepcionalismo e a responsabilidade dos EUA em defender a liberdade, a justiça e os princípios familiares que sustentam sociedades saudáveis. Ela representa o ideal de que a Woke George Floyd Apple Donald Trump 1 comentário América deve inspirar o mundo por meio de seus valores, ações — e também reações. Essa visão está intimamente ligada à história do Dia de Ação de Graças, celebrado nesta semana aqui nos Estados Unidos.
A importante data, que tem origem na colheita de 1621, simboliza união, gratidão e perseverança — uma comunhão entre os peregrinos e nativos americanos. Neste Dia de Ação de Graças, desejo que a maré continue a mudar e que Deus abençoe nossos pais e todos aqueles que apoiam os valores familiares contra o ataque de uma esquerda que despreza lares estáveis e filhos e filhas bem fundamentados. A canção Subterranean Homesick Blues, de Bob Dylan, foi lançada em março de 1965 e foi a primeira faixa do álbum Bringing It All Back Home (“Trazendo tudo de volta para casa”). Em 2024, o título representa a América grande de novo. Em casa e em cada casa. Estamos voltando da destruição quase completa. A era da família está de volta! Nós somos o futuro agora.
Ana Paula Henkel, Revista Oeste
'A tutela suprema', por Rodrigo Constantino
Além do atropelo ao Poder Legislativo, o STF pretende implementar no país a censura oficial
Em todo o mundo democrático está se travando a discussão voltada à proteção da liberdade de expressão, sem permitir, todavia, que o “mundo desabe num abismo de incivilidade que comprometa os valores democráticos e a dignidade humana”, afirmou o presidente do STF, Luís Roberto Barroso. O contexto é o julgamento de ações referentes ao Marco Civil da Internet. Na prática, o STF quer terceirizar a censura às redes sociais, tudo em nome da “recivilização” do país.
Além do atropelo ao Poder Legislativo, o STF pretende implementar no país a censura oficial. Nenhum censor, porém, admite que quer calar opiniões com as quais discorda. Ele sempre fala em nome do bem geral, alegando que nenhum direito é absoluto como um pretexto para impedir a manifestação de ideias que julga inadequadas. No fundo, são os verdadeiros reacionários contra liberais e progressistas de fato, que se negam a assumir o papel arrogante de ministro da verdade.
Além do atropelo ao Poder Legislativo, o STF pretende implementar no país a censura oficial - Foto: Reprodução/Flickr
O principal risco é que as plataformas se tornem reféns do Estado brasileiro na obrigação de censurar conteúdos, sujeitas a multas e sanções se não removerem o que a esquerda e o Judiciário costumam classificar como “discurso de ódio” e “desinformação”, por exemplo. São expressões vagas que têm servido de instrumento para a perseguição de determinada visão de mundo. É um porrete ideológico disfarçado de defesa dos “valores civilizados”.
Em Areopagítica, seu discurso pela liberdade de imprensa ao Parlamento, John Milton apresentaria argumentos liberais contra a censura prévia. Publicada em 1644, a obra-prima do poeta seria escrita no contexto de batalha parlamentar, já que o líder da Assembleia, Herbert Palmer, havia exigido que um livro de Milton em defesa do direito de divórcio fosse queimado. Para Milton, a censura sempre esteve associada à tirania, e mais recentemente seria fruto do reacionarismo católico do Concílio de Trento e da Inquisição. Ele foi direto ao afirmar que o “projeto de censura surgiu sub-repticiamente da Inquisição”.
Milton defendia que cada um pudesse julgar por conta própria o que é bom ou ruim. “Todo homem maduro pode e deve exercer seu próprio critério”, ele escreveu. Ele diz ainda: “O conhecimento não pode corromper, nem, por conseguinte, os livros, se a vontade e a consciência não se corromperem”. Para ele, todas as opiniões são de grande serviço e ajudam na obtenção da verdade. Os homens não devem, portanto, ser tratados como idiotas que necessitam da tutela de alguém.
Primeira página de Areopagítica, de John Milton | Foto: Wikimedia Commons
Desconfiar das pessoas comuns, censurando sua leitura, “corresponde a passar-lhes um atestado de ignomínia”, considerando que elas seriam tão debilitadas que “não seriam capazes de engolir o que quer que fosse a não ser pelo tubo de um censor”. Para Milton, ao contrário, cada um tem a razão, e isso significa a liberdade de escolher. O desejo de aprender necessita da discussão, da troca de opiniões. A censura, então, “obstrui e retarda a importação da nossa mais rica mercadoria, a verdade”. Quanta diferença para a postura típica dos autoritários, como fica evidente na seguinte declaração de Trotsky: “Os jornais são armas. Eis por que é necessário proibir a circulação de jornais burgueses. É uma medida de legítima defesa!”.
Seu colega revolucionário, Lenin, foi na mesma linha: “Por que deveríamos aceitar a liberdade de expressão e de imprensa? Por que deveria um governo, que está fazendo o que acredita estar certo, permitir que o critiquem? Ele não aceitaria a oposição de armas letais. Mas ideias são muito mais fatais que armas”.
Leon Trotsky, revolucionário russo comunista | Foto: Wikimedia Commmons
Fica evidente o abismo existente entre esta visão de mundo, que pariu a União Soviética, e aquela de Milton, que influenciou a criação dos Estados Unidos, como se pode verificar pela afirmação de Thomas Jefferson: “Uma vez que a base de nosso governo é a opinião do povo, nosso primeiro objetivo deveria ser mantê-la intacta. E, se coubesse a mim decidir se precisamos de um governo sem imprensa ou de uma 29/11/2024, 11:59 A tutela suprema - Revista Oeste https://revistaoeste.com/revista/edicao-245/a-tutela-suprema/ 5/10 imprensa sem governo, eu não hesitaria um momento em escolher a segunda situação”.
Além disso, o argumento de Milton mostra como a censura, na prática, seria ineficaz ou mesmo prejudicial ao seu intento original. Os censores, afinal, são humanos que erram também. Ele questiona como confiar nos censores, já que não são detentores da graça da infalibilidade e da incorruptibilidade. A censura não consegue levar ao resultado para o qual foi concebida.
Ele diz: “Aqueles que imaginam suprimir o pecado suprimindo a matéria do pecado são observadores medíocres da natureza humana”. A reforma dos costumes imposta não surte o efeito desejado, como Milton demonstra por meio dos exemplos da Itália e da Espanha, “depois que o rigor da Inquisição se abateu sobre os livros”. É impossível tornar as pessoas virtuosas pela coerção externa, e a censura impede que se exerça a faculdade do juízo e da escolha. Uma das frases mais famosas de John Milton saiu justamente de Areopagítica:
“Dai-me liberdade para saber, para falar e para discutir livremente, de acordo com a consciência, acima de todas as liberdades”. Quem foi numa linha parecida com esta foi o filósofo John Stuart Mill, um dos primeiros a defender os direitos femininos. Mill escreveu:
“O único propósito de exercer legitimamente o poder sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra sua vontade, é evitar dano aos demais. Seu próprio bem, físico ou moral, não é garantia suficiente. Não pode ser legitimamente compelido a fazer ou a deixar de fazer por ser melhor para ele, porque o fará feliz, porque, na opinião dos outros, fazê-lo seria sábio ou mesmo acertado. Essas são boas razões para o advertir, contestar, persuadir, instar, mas não para o compelir ou castigar quando procede de outra forma.”
Ele acrescentou:
“Cada um é o guardião adequado de sua própria saúde, seja ela física, mental ou espiritual. A humanidade ganha mais tolerando que cada um viva conforme o que lhe parece bom do que compelindo cada um a viver conforme pareça bom ao restante”. E, para cada um viver da melhor forma possível, a liberdade de expressão era fundamental segundo Mill: “Se todos os homens menos um partilhassem a mesma opinião, e apenas uma única pessoa fosse de opinião contrária, a humanidade não teria mais legitimidade em silenciar esta única pessoa do que ela, se poder tivesse, em silenciar a humanidade. Se a opinião é correta, privam-nos da oportunidade de trocar o erro pela verdade; se errada, perdem, o que importa em benefício quase tão grande, a percepção mais clara da verdade, produzida por sua colisão com o erro. Todo silêncio que se impõe à discussão equivale à presunção de infalibilidade. Há uma enorme diferença entre presumir uma opinião como verdadeira porque, apesar de todas as oportunidades para contestá-la, ela não foi refutada, e pressupor sua verdade com o propósito de não permitir sua refutação.”
Apenas com a liberdade de expressão podemos avançar como sociedade. É esta a liberdade que gente como o ministro Barroso quer suprimir, pois se julga detentor de uma razão superior que lhe permitiria “empurrar a história” e ser o responsável pela tal “recivilização” do país, quiçá do mundo! Falta ao nosso Rousseau de Vassouras mais humildade para admitir que ele também erra, como quando achou que o assassino Cesare Battisti era inocente, ou o abusador João de Deus, alguém com poder transcendente. O cidadão brasileiro não precisa dessa tutela suprema.
Ministro Luís Roberto Barroso, em sessão plenária do STF | Foto: Gustavo Moreno/STF
Revista Oeste
Dólar dispara mais de 2% e atinge R$ 6,11, um dia depois de Haddad anunciar pacote de gastos
A moeda aumentou diante da incerteza da política fiscal proposta pelo governo Lula (PT)
O dólar iniciou nesta sexta-feira, 29, em forte alta, ao custo de R$ 6,11, pressionado pelo cenário fiscal brasileiro. Esse fator continua sendo importante para os investidores. O movimento reflete as incertezas em relação à economia brasileira e às ações recentes do governo federal. O impacto negativo sobre os ativos brasileiros aumentou com as medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta quinta-feira, 28.
Na ocasião, Haddad revelou um pacote de cortes de gastos públicos. O pacote inclui uma redução de R$ 70 bilhões em 2025 e 2026, com a previsão de R$ 327 bilhões até 2030. O conjunto de medidas abrange áreas como alterações no salário mínimo, programas sociais, aposentadoria de militares e emendas parlamentares. Embora o pacote de cortes fosse aguardado pelo mercado, o valor de R$ 70 bilhões parecia inicialmente promissor.
Incerteza sobre política fiscal no Brasil causou aumento do dólar No entanto, o anúncio da isenção do Imposto de Renda para pessoas com rendimentos de até R$ 5 mil causou desconforto e incerteza. A medida poderá gerar um impacto fiscal de R$ 35 bilhões.
Isso levantou dúvidas sobre a real eficácia do corte nos gastos públicos. Haddad afirmou que o governo pretende compensar esse custo com a criação de uma alíquota progressiva para os mais ricos. A alíquota poderá chegar a 10% para quem ganha mais de R$ 50 mil mensais. Além das preocupações fiscais, o mercado também reagiu aos dados de emprego divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desemprego caiu para 6,2% no trimestre encerrado em outubro. Esse é o menor nível já registrado, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua
No cenário financeiro, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil, apresentou queda e refletiu o clima de cautela no mercado. Às 10h15, o dólar subiu 2%, cotado a R$ 6,10, com a máxima do dia que atingiu R$ 6,11. Na véspera, a moeda registrou uma alta de 1,30%, e fechou a R$ 5,98, com máxima de R$ 6. Com isso, o dólar acumula uma valorização de 3,02% na semana, 3,59% no mês e impressionantes 23,42% no ano.
Revista Oeste
Pacote de corte de gastos de Lula é 'pastel de vento', dizem Folha e Estadão
Não era crível esperar que presidente avalizasse redução expressiva de despesas, mas o governo se superou ao anunciar isenção maior de Imposto de Renda
Aguardado com ansiedade por um mês, o pacote fiscal anunciado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decepcionou. É o que afirma o jornal O Estado de S. Paulo em editorial desta sexta-feira, 29. Mas o resultado não surpreendeu o jornal. “Não era crível esperar que [Luiz Inácio] Lula da Silva daria aval a um corte de gastos expressivo para reequilibrar as contas públicas depois do desempenho pífio de seu partido nas eleições municipais e a menos de dois anos da disputa presidencial”, afirma o Estadão.
Desta vez, no entanto, o governo realmente se superou. Quando as primeiras notícias sobre as medidas do plano começaram a circular, o pronunciamento do ministro Fernando Haddad em cadeia nacional de rádio e TV na noite de quarta-feira, 27, confirmou a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais. + Leia mais notícias de Imprensa em Oeste Qualquer medida que o ministro anunciasse depois disso não teria a menor relevância, afirma o jornal.
Afinal, um pacote de economia de despesas cuja principal medida reduz a arrecadação do governo em R$ 35 bilhões não poderia ser levado a sério. E foi exatamente o que aconteceu. Antes mesmo do pronunciamento, o dólar, até então cotado a R$ 5,83, rompeu a barreira dos R$ 5,90 e encerrou o dia a R$ 5,91. No início da tarde do dia seguinte, logo depois do anúncio das outras medidas, a moeda norte-americana alcançou a marca de R$ 6, o maior valor nominal desde o início do Plano Real, mas fechou em R$ 5,9895.
Os juros futuros, por sua vez, chegaram a 14% para alguns vencimentos de 2026 e 2027, enquanto o Ibovespa fechou em forte queda de 2,40%, aos 124.610,41 pontos. Para o Estadão, se a ideia era implodir o pacote, o governo conseguiu o que desejava. Porta-voz extraoficial de Lula, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, demonstrou sua incompreensão ao cobrar, por meio de suas redes sociais, que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, interviesse no câmbio para conter a “especulação desenfreada”.
“A questão é que não se tratava de especulação, mas uma reação à quebra das expectativas alimentadas pela própria equipe econômica de Lula entre o primeiro e o segundo turnos das eleições municipais”, avalia o jornal. Leia também: “Receosos com governo Lula, investidores ignoram leilão de títulos públicos” “Quem acreditou no discurso dos ministros Haddad e Simone Tebet de que havia chegado a hora de enfrentar os gastos públicos com seriedade teve de desmontar suas posições para não perder mais dinheiro no futuro”, acrescenta o texto.
Taxar em até 10% quem ganha mais de R$ 50 mil pode até mobilizar apoiadores, mas certamente não salvará a arrecadação. Já a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil mensais injetará novos recursos na economia, dando impulso a uma inflação que se aproxima perigosamente dos 5% no acumulado de 12 meses, algo que o Banco Central não poderá ignorar. Interesses políticos de Lula falam mais alto.
A Folha de S.Paulo concorda. Para o veículo, em vez de indicar alguma disposição, mesmo que modesta e dissimulada, para o controle de despesas públicas, o conjunto de medidas escancarou que os interesses eleitoreiros do presidente estão acima de qualquer preocupação com a sustentabilidade da política econômica. Leia também: “Lula sanciona Cadastro Nacional de Pedófilos e Predadores Sexuais com veto”
“O Congresso apreciará a mudança do IR”, avalia o jornal. “É notório que os parlamentares são mais ágeis em conceder isenções do que em cobrar mais impostos. O governo não foi capaz ainda de explicar como ficará a nova tabela do tributo, sem o que é impossível estimar a perda de receita.” Como se não bastasse, o próprio pacote de contenção do aumento de gastos parece frágil.
Promete-se para os próximos seis anos uma economia de fantasiosos R$ 327 bilhões até 2030, mas o mandato de Lula vai se encerrar dentro de dois, em 2026. “Não estão claros os cálculos do efeito das propostas”, diz a publicação. “Por meritórias que sejam as tentativas de combater fraudes e desvios em benefícios sociais com recadastramento e pentes-finos, além de mudanças em subsídios e em gastos com cultura, nada disso significa ajuste estrutural, e os resultados não são líquidos e certos.”
Na visão da Folha, Lula criou para si um problema mesmo antes de tomar posse, em 2022, ao negociar um aumento de gastos para o qual não havia previsão de receita. Em seguida, aprovou-se uma regra fiscal com uma falha congênita: a elevação das despesas obrigatórias acima do ritmo da despesa total tornaria inviável o plano de equilíbrio orçamentário. O objetivo do pacote deveria ser ao menos atenuar preocupações de desarranjo fiscal maior até 2026. “O governo, porém, criou nova rodada de dúvidas e descrédito, que se materializa na disparada do dólar e dos juros, que prejudicará sobretudo a maioria pobre e remediada”, conclui o jornal.
Revista Oeste
Augusto Nunes e as 'Togas fora da Lei'
20 perguntas e um aparte retratam a arrogância do Supremo
P oderiam ser 50 perguntas. Ou 100. Ou mais. Mas 20 produzem um bom razoável resumo da Ópera dos Fora da Lei. Pode quyalquer ministro do Supremo Tribunal Federal...
1) …abrir um inquérito por conta própria para investigar um possível crime ocorrido fora das dependências do STF?
2) …indicar o relator do inquérito que transformara em cúmplice em vez de obedecer à regra que determina o sorteio?
3) …basear-se num vídeo exibido na internet para expedir um mandado de prisão em flagrante?
4) …decretar a prisão de um deputado federal que talvez tivesse cometido crimes contra a honra por ter insultado integrantes do STF?
5) …condenar à prisão um parlamentar contemplado com o indulto individual pelo presidente da República?
6) …conduzir um inquérito ainda não concluído depois de cinco anos?
7) …impedir o acesso aos autos do processo ou ao inquérito dos advogados de defesa dos acusados?
8) …condenar à mesma pena centenas de acusados sem que tenha ocorrido a indispensável individualização de conduta?
9) …desempenhar simultaneamente os papéis de vítima, detetive, delegado, promotor, juiz e carcereiro?
10) …condenar ao uso de tornozeleira prisioneiros liberados da cadeia por falta de provas?
11) …prender alguém sem que o acusado tenha exercido o amplo direito de defesa?
12) …abolir as normas adotadas para que ocorra o devido processo legal?
13) …transferir para o STF o julgamento de acusados sem direito a foro especial?
14) …negar assistência médica a prisioneiros com gravíssimos problemas de saúde?
15) …proibir o Congresso de ouvir o depoimento de acusados libertados por inexistência de provas?
16) …transferir para o acusado o ônus da prova?
17) …recomendar a assessores que recorram à criatividade para a fabricação de provas que incriminem inocentes?
18) …destruir provas que incriminam culpados de estimação?
19) …assassinar impunemente a língua portuguesa?
20) …brincar de ditador togado quando lhe der na telha?
A resposta é um vigoroso NÃO para as 20 questões.
Mas tais obscenidades se tornaram rotineiras no tribunal dominado pela regência trina composta por Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes — que opera em sintonia com Dias Toffoli, especialista em soltura de bandidos irrecuperáveis e restituição de dinheiro roubado aos gatunos de fina linhagem.
Nunca a Corte foi tão insolente, atrevida e temerária.
Mas eles acham pouco. Tanto assim que os limites da arrogância foram novamente expandidos neste 27 de novembro, durante a sessão que começou a debater o que o Supremo batizou de “regulação das redes sociais”. Enquanto o advogado do Facebook escancarava, com argumentos sólidos e linguagem sóbria, os perigos que rondam a liberdade de opinião e o direito à informação no mundo digital, Moraes fingiu ignorá-lo: olhos grudados na tela do laptop, o Supremo Inquisidor seguiu desferindo socos na gramática e na ortografia usando o teclado como arma.
Minutos mais tarde, o presidente Barroso ressalvou aos representantes das empresas ameaçadas que aquilo não se tratava de um interrogatório. “O senhor fique tranquilo, que não é uma inquirição”, acabara de dizer Barroso quando se ouviu o aparte grosseiro: “Ainda…”, avisou Moraes. Barroso deveria mostrar de alguma forma que não endossava o deboche autoritário.
Em vez disso, gargalhou.
Augusto Nunes, Revista Oeste