sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Augusto Nunes e as 'Togas fora da Lei'

20 perguntas e um aparte retratam a arrogância do Supremo


Ministro Alexandre de Moraes - Foto: Valter Campanato/Agência Brasi

P oderiam ser 50 perguntas. Ou 100. Ou mais. Mas 20 produzem um bom razoável resumo da Ópera dos Fora da Lei. Pode quyalquer ministro do Supremo Tribunal Federal... 


Fachada STF | Foto: SCO/STF


1) …abrir um inquérito por conta própria para investigar um possível crime ocorrido fora das dependências do STF? 

2) …indicar o relator do inquérito que transformara em cúmplice em vez de obedecer à regra que determina o sorteio? 

3) …basear-se num vídeo exibido na internet para expedir um mandado de prisão em flagrante? 

4) …decretar a prisão de um deputado federal que talvez tivesse cometido crimes contra a honra por ter insultado integrantes do STF? 

5) …condenar à prisão um parlamentar contemplado com o indulto individual pelo presidente da República? 

6) …conduzir um inquérito ainda não concluído depois de cinco anos? 

7) …impedir o acesso aos autos do processo ou ao inquérito dos advogados de defesa dos acusados? 

8) …condenar à mesma pena centenas de acusados sem que tenha ocorrido a indispensável individualização de conduta? 

9) …desempenhar simultaneamente os papéis de vítima, detetive, delegado, promotor, juiz e carcereiro? 

10) …condenar ao uso de tornozeleira prisioneiros liberados da cadeia por falta de provas? 

11) …prender alguém sem que o acusado tenha exercido o amplo direito de defesa?

12) …abolir as normas adotadas para que ocorra o devido processo legal? 

13) …transferir para o STF o julgamento de acusados sem direito a foro especial? 

14) …negar assistência médica a prisioneiros com gravíssimos problemas de saúde? 

15) …proibir o Congresso de ouvir o depoimento de acusados libertados por inexistência de provas? 

16) …transferir para o acusado o ônus da prova? 

17) …recomendar a assessores que recorram à criatividade para a fabricação de provas que incriminem inocentes? 

18) …destruir provas que incriminam culpados de estimação? 

19) …assassinar impunemente a língua portuguesa? 

20) …brincar de ditador togado quando lhe der na telha?


Os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, em sessão no Supremo Tribunal Federal | Foto: Nelson Jr./SCO/STF 

A resposta é um vigoroso NÃO para as 20 questões. 

Mas tais obscenidades se tornaram rotineiras no tribunal dominado pela regência trina composta por Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes — que opera em sintonia com Dias Toffoli, especialista em soltura de bandidos irrecuperáveis e restituição de dinheiro roubado aos gatunos de fina linhagem. 

Nunca a Corte foi tão insolente, atrevida e temerária. 

Mas eles acham pouco. Tanto assim que os limites da arrogância foram novamente expandidos neste 27 de novembro, durante a sessão que começou a debater o que o Supremo batizou de “regulação das redes sociais”. Enquanto o advogado do Facebook escancarava, com argumentos sólidos e linguagem sóbria, os perigos que rondam a liberdade de opinião e o direito à informação no mundo digital, Moraes fingiu ignorá-lo: olhos grudados na tela do laptop, o Supremo Inquisidor seguiu desferindo socos na gramática e na ortografia usando o teclado como arma. 

Minutos mais tarde, o presidente Barroso ressalvou aos representantes das empresas ameaçadas que aquilo não se tratava de um interrogatório. “O senhor fique tranquilo, que não é uma inquirição”, acabara de dizer Barroso quando se ouviu o aparte grosseiro: “Ainda…”, avisou Moraes. Barroso deveria mostrar de alguma forma que não endossava o deboche autoritário. 

Em vez disso, gargalhou. 




Augusto Nunes, Revista Oeste