terça-feira, 26 de novembro de 2024

CEO global do Carrefour pede desculpa ao Brasil; confira a carta

 No documento, Alexandre Bompard afirmou que a empresa sabe que a agricultura brasileira 'fornece carne de alta qualidade e tem respeito a normas e sabor'


Alexandre Bompard, CEO do Carrefour | Foto: Reprodução/Redes sociais 


Em uma carta obtida pelo site NeoFeed, o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, pediu desculpa ao governo do Brasil. A medida vem depois de dias de polêmica gerada pela decisão da empresa de boicotar carnes produzidas pelo Mercosul. Os maiores produtores do país responderam com boicote ao fornecimento de carne ao Carrefour, resultando em desabastecimento nas lojas brasileiras da rede. A situação rapidamente ultrapassou o âmbito empresarial, assumindo dimensões diplomáticas. A carta de desculpa foi entregue pelo embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, ao ministro Fávaro e a assessores próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor”, escreveu Bompard. “Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpa.” 

Confira, na íntegra, a retratação do grupo Carrefour:


Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Senhor Carlos Fávaro, A declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como Diretor-Presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la. O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil. Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais. Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos. O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130.000 colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil. Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito ás normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas.

O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor Ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros. Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração. Atenciosamente, Alexandre Bompard Diretor-Presidente do Grupo Carrefour


Carlos Fávaro elogiou boicote de fornecedores ao Carrefour | Foto: Montagem/Revista Oeste 

Na segunda-feira 25, o embaixador francês Emmanuel Lenain se reuniu com o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua. No encontro, realizado no final da tarde no ministério, Lenain teria apresentado a carta de Bompard. O embaixador deixou o local sem dar declarações à imprensa. Ele não se encontrou com Carlos Fávaro, que chegou mais tarde, depois de uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. O boicote dos frigoríficos começou depois que Bompard anunciou que as lojas do Carrefour na França não venderiam carnes provenientes do Mercosul. Ele justificou a decisão ao mencionar o “descontentamento e a raiva” de agricultores franceses, que se opõem ao acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Fávaro declarou que não solicitou ao setor de carnes a interrupção do fornecimento. No entanto, elogiou a postura firme da indústria. Conselheiros do Carrefour no Brasil afirmaram ter recebido as declarações de Bompard com surpresa. Para eles, as falas foram “pouco diplomáticas” e focadas em questões políticas, sem considerar os impactos nos negócios. 26/11/2024, 14:23 CEO global do Carrefour pede desculpas ao Brasil; confira a carta https://revistaoeste.com/politica/ceo-global-do-carrefour-pede-desculpas-ao-brasil-confira-a-carta/ 4/8 A crise escalou com a suspensão das vendas ao Carrefour Brasil e suas redes associadas. A retomada do fornecimento depende de uma retratação pública do CEO sobre a qualidade da carne brasileira, que foi questionada em suas declarações. Apesar de alguns avanços, o teor atual da carta de Bompard não atende completamente às exigências do governo nem da indústria de carnes. O principal ponto de tensão envolve a defesa da qualidade e da sanidade das carnes brasileiras. Novas negociações estão programadas para esta terça-feira, 26, com o objetivo de alcançar um entendimento.

Repercussão Entidades do setor agropecuário brasileiro se manifestaram contrárias à posição do Carrefour. 

 

Revista Oeste