sexta-feira, 29 de novembro de 2024

'Cancelada a cultura do cancelamento', por Ana Paula Henkel

 

Ilustração: Revista Oeste/IA


Parece que todos foram enxovalhados de maneira tão brutal para a esquerda que agora perceberam a loucura e os perigos da ideologia progressista


N a música Subterranean Homesick Blues, o ícone Bob Dylan canta “Você não precisa ser um meteorologista para saber para que lado o vento sopra” (“You don’t need to be a weatherman to know which way the wind blows”). Quem aprende a ler as entrelinhas da cultura não cai nas fajutas pesquisas políticas. Os ventos estão soprando já há algum tempo na direção de que uma mudança cultural, que elegeu Donald Trump este ano, vem sendo fermentada há alguns anos na América. A maioria dos analistas políticos simplesmente não percebeu para onde esses ventos apontavam. Sinais foram dados, como, por exemplo, o sucesso estrondoso de Top Gun: Maverick. Ali, as pessoas já gritavam que queriam voltar à normalidade. Após o assassinato de George Floyd e os protestos violentos em 2020, muitos intelectuais defenderam que os filmes “culturalmente relevantes” precisavam abordar diretamente a política DEI (de diversidade, equidade e inclusão) ou “questões raciais sistêmicas” para encontrar amplo apelo. Mas, depois da pandemia, quando pudemos voltar confortavelmente aos cinemas em 2022, o maior sucesso de bilheteria da América não fez nada disso.


Imagem do filme Top Gun: Maverick | Foto: Divulgação 

Em vez disso, Top Gun: Maverick decidiu se apoiar fortemente em temas clássicos de heroísmo, personificados por um protagonista branco e masculino (Tom Cruise como Maverick), que é uma figura tradicional que se guia por valores dedicados à honra, ao dever e às virtudes. Maverick representa os valores americanos mais tradicionais de meritocracia sobre a aristocracia em meio ao que deveria ser uma revolução cultural destinada a estabelecer uma nova aristocracia invertida. À época, escrevi aqui em Oeste sobre o fenômeno. 

Nos últimos dias tensos antes desta eleição presidencial americana, algo estava diferente. Uma confiança silenciosa começou a tomar conta de conversas em supermercados, bares e restaurantes. Grandes multidões de eleitores votaram antecipadamente, e o Partido Democrata estava visivelmente em pânico. Desta vez, algo parecia diferente, e parecia igualmente tarde demais para uma vitória do partido que tentou normalizar homens competindo com meninas e usando banheiro feminino. Era como se o chão estivesse se movendo sob o país; não se dividindo, mas unindo-o. Essa mudança foi tão grande que, quando Donald Trump foi declarado vencedor, estabelecendo a mais incrível volta por cima da história política americana, ainda assim pareceu menos uma vitória para ele ou para o Partido Republicano, e mais para o triunfo final da unidade americana sobre a política covarde da divisão e das bizarrices. 

Os eleitores rejeitaram não apenas Kamala Harris, mas também a agenda dos democratas contra a família, os bons costumes e a normalidade.



Donald Trump, então candidato presidencial republicano, e Kamala Harris, candidata presidencial democrata, durante debate presidencial organizado pela ABC, na Filadélfia, Pensilvânia (10/9/2024) | Foto: Reuters/Brian Snyder 


Isso sinaliza um realinhamento fundamental não apenas da política eleitoral, mas potencialmente da sociedade americana também. Durante grande parte do século 21, os americanos foram divididos em linhas raciais, étnicas, de gênero e sexualidade e acreditaram na mentira da intolerância sistêmica. Para ganhar e manter o poder político, os democratas dividiram a população em duas classes: opressores e oprimidos. Minorias raciais, gays e mulheres eram constantemente informados de que precisavam da proteção dos democratas brancos e ricos contra os terríveis homens brancos heterossexuais que os manteriam para sempre reprimidos. Não foi surpresa que esses homens tenham sido os primeiros a abandonar o Partido Democrata. 

No entanto, a velocidade com que outros grupos demográficos os seguiram foi chocante. Os eleitores negros e latinos, ao que parece, simplesmente se cansaram de viver em bairros de alta criminalidade e baixa renda controlados pelos democratas por décadas, enquanto mulheres de todas as raças estão rejeitando a suposição paternalista de que a única questão com a qual realmente se importam é o aborto. Preços altíssimos para necessidades básicas, crimes desenfreados nas ruas e uma onda de imigrantes ilegais invadindo cidades de costa a costa levaram dois terços dos eleitores a dizer que o país está no caminho errado. “LatinX”? Não. Basta. A pesquisa de boca de urna mostrou que 46% dos eleitores latinos votaram em Trump, incluindo 55% dos homens — o maior número para um republicano nos últimos 40 anos.



Apoiadores pró-Trump se manifestam em frente ao Tribunal Criminal de Nova York, durante comparecimento de Donald Trump (4/4/2023) | Foto: Shutterstock


Os eleitores da histórica eleição de 2024 simplesmente mostraram que estão cansados de governantes falhando em entregar prosperidade e de instituições alinhadas aos democratas mentindo o tempo todo sobre isso. Para eles, Trump não representava apenas uma mudança na liderança dos Estados Unidos, mas uma mudança na cultura dos Estados Unidos. Eles deixaram claro que estão cansados da propaganda da mídia, da doutrinação acadêmica, da agenda de “diversidade, equidade e inclusão” das grandes empresas, das perseguições do sistema de Justiça Criminal e da rendição de todo o sistema americano à tirania da turma woke. 

E, nas últimas três semanas, parece que o mundo, como num passe de mágica, voltou a uma normalidade que fez tanta, mas tanta falta nos últimos anos no mundo. Primeiro foi a Liga Profissional de Futebol Americano, a NFL. Depois da papagaiada de 2020 de alguns jogadores de se ajoelhar durante o hino americano e renegar a bandeira de seu país “em protesto contra o racismo sistêmico”, palhaçada que derrubou a audiência para o patamar dos piores números da história do esporte mais popular dos EUA, agora os jogadores parecem ter recebido uma carta de alforria da senzala ideológica. Há três semanas, temos testemunhado os atletas comemorando seus touchdowns fazendo a já famosa dancinha de Donald Trump. Atletas de outros esportes, como golfe, futebol e UFC, seguem a mesma onda em uma ode à liberdade! Basta de loucura! Basta de silêncio!

Mas essa liberdade não ficou apenas nos esportes. No mundo corporativo, a resposta veio rápido. Várias grandes corporações reverteram suas políticas de “diversidade, equidade e inclusão”, com o Walmart se tornando o mais recente nome a entrar na lista. O anúncio do Walmart nesta semana ocorre na esteira de medidas semelhantes tomadas por uma série de marcas de prestígio, como Ford, John Deere, Lowe’s, Harley-Davidson e Jack Daniel’s — refletindo uma reação contra o chamado politicamente correto na vida pública americana. As mudanças, confirmadas pelo Walmart na segundafeira, 25 de novembro, são abrangentes e incluem desde não renovar um compromisso de cinco anos para um “centro racial de equidade”, criado em 2020 após o assassinato de George Floyd, até a retirada da política que trata de “raça ou gênero”. A assessoria da empresa informou que o Walmart “não dará tratamento prioritário aos fornecedores” e que “deixará de participar do índice de referência anual da Human Rights Campaign”, que mede a inclusão no local de trabalho para funcionários LGBTQ+. A eleição de Donald Trump foi muito mais do que uma disputa entre democratas e republicanos — foi um realinhamento político e cultural radical e necessário que rejeitou divisões superficiais e abraçou a tradição americana novamente. E esse reflexo foi exposto agora onde mais notamos: nos comerciais.


Donald Trump, presidente eleito dos EUA, em reunião com os republicanos na Câmara no Capitólio, em Washington (13/11/2024) | Foto: Reuters/Brian Snyder


O mais recente comercial da Volvo está sendo celebrado por sua recente posição “pró-vida”. Em um formato que iria contra qualquer regra de marketing, a empresa publicou um anúncio de 3 minutos e 46 segundos no Instagram. Depois que a Jaguar tentou emplacar mais uma baboseira woke em um recente comercial, o filme da Volvo, conduzido por Hoyte van Hoytema, diretor de fotografia de Interestelar e Oppenheimer, viralizou nas redes sociais e teve uma das maiores repercussões positivas da história da empresa. O anúncio retrata um homem descobrindo que será pai e imaginando o futuro com o filho e a mulher. Então, as cenas mostram, brilhantemente, os recursos de segurança do carro que protegem sua família.

Outro comercial que tomou como uma boa tempestade as redes sociais e TVs aqui nos Estados Unidos nesta semana foi uma lindíssima peça da Apple — sim, a outrora woke Apple. Lançado como campanha para este Natal, o filme é uma história contada em duas partes. A primeira metade revela a perspectiva de um pai com perda auditiva moderada. Por meio de um som abafado que reflete sua condição, ele observa sua filha abrir um violão novo na manhã de Natal e relembra marcos de sua infância, desde seu primeiro violão até aniversários e o primeiro dia de aula. LifeNews.com @LifeNewsH · Seguir While Jaguar promotes woke garbage, Volvo has an amazing new pro-life commercial. Assista no X 3:46 PM · 21 de nov de 2024 2,9 mil Responder Copiar link para o post Ler 106 respostas  A perspectiva muda depois que ele ativa o recurso Hearing Aid em seus AirPods Pro 2, novo recurso dos fones de ouvido da Apple para deficientes auditivos. Então, agora capaz de ouvir claramente, ele está totalmente presente para a interpretação de sua filha de Our House, de Crosby, Stills, Nash & Young. O novo comercial da empresa é de encher os olhos de lágrimas — uma homenagem ao seio familiar e aos lindos laços que são construídos dentro dele!

Chega a ser engraçado (para não dizer patético) como ficamos chocados com apenas um comercial americano normal. A esquerda estraga tudo em que toca, e eles tentaram — a todo custo — estragar o pilar mais lindo e fundamental de nossa vida: a família. Parece que todos foram empurrados tanto para a esquerda que agora perceberam a loucura e os perigos da ideologia progressista. A mudança cultural é definitivamente o indicador mais importante aqui. Uma sociedade saudável valoriza crianças, relacionamentos amorosos e a conexão familiar. 

O lado bom da esquizofrenia à qual fomos submetidos a duras penas de covardes cancelamentos é que ficou muito claro que prezamos a  normalidade e a tradição — até muito mais profundamente do que antes. Não sei o que é melhor: os comerciais da Volvo e da Apple ou o fato de termos empurrado a cultura de volta à sanidade, onde empresas woke estão percebendo que suas ideologias foram rejeitadas pelo povo americano. Parece que todos foram enxovalhados de maneira tão brutal para a esquerda que agora perceberam a loucura e os perigos da ideologia progressista. A mudança cultural é definitivamente o indicador mais importante aqui. Uma sociedade saudável valoriza crianças, relacionamentos amorosos e conexão familiar. 

O pêndulo está voltando para os valores familiares! E esta é uma sensação maravilhosa! A expressão “uma cidade sobre um monte” (“a city upon a hill“) tem origem no Sermão da Montanha de Jesus na Bíblia, simbolizando uma comunidade que serve de exemplo moral para os outros. A frase foi usada de forma marcante pelo líder puritano John Winthrop em 1630, ao imaginar a Colônia da Baía de Massachusetts como um modelo de virtude cristã e governança. Com o tempo, a expressão tornou-se uma metáfora para o papel dos EUA como farol de esperança, democracia e liderança moral.


Retrato de John Winthrop, governador da Colônia da Baía de Massachusetts (1630) | Foto: Domínio Público

No discurso político americano, a expressão ganhou destaque com líderes como John F. Kennedy e Ronald Reagan, que a usaram para ressaltar o excepcionalismo e a responsabilidade dos EUA em defender a liberdade, a justiça e os princípios familiares que sustentam sociedades saudáveis. Ela representa o ideal de que a  Woke George Floyd Apple Donald Trump 1 comentário América deve inspirar o mundo por meio de seus valores, ações — e também reações. Essa visão está intimamente ligada à história do Dia de Ação de Graças, celebrado nesta semana aqui nos Estados Unidos. 

A importante data, que tem origem na colheita de 1621, simboliza união, gratidão e perseverança — uma comunhão entre os peregrinos e nativos americanos. Neste Dia de Ação de Graças, desejo que a maré continue a mudar e que Deus abençoe nossos pais e todos aqueles que apoiam os valores familiares contra o ataque de uma esquerda que despreza lares estáveis e filhos e filhas bem fundamentados. A canção Subterranean Homesick Blues, de Bob Dylan, foi lançada em março de 1965 e foi a primeira faixa do álbum Bringing It All Back Home (“Trazendo tudo de volta para casa”). Em 2024, o título representa a América grande de novo. Em casa e em cada casa. Estamos voltando da destruição quase completa. A era da família está de volta! Nós somos o futuro agora.  

Ana Paula Henkel, Revista Oeste