Entre 2014 e 2017, a Petrobras acumulou cerca de R$ 74,6 bilhões em prejuízos, que refletiram perdas com atos de corrupção revelados pela Lava-Jato e com a desvalorização do petróleo no mercado internacional. No texto de apresentação dos resultados de ontem, o presidente Roberto Castello Branco — que assumiu no mês passado — fez menção ao “fim de um ciclo doloroso” no qual “a companhia foi vítima de prolongado saque perpetrado por uma organização criminosa”. Ele citou como simbólica a celebração de acordos com autoridades americanas sobre práticas de corrupção e a recente venda da refinaria de Pasadena, “cuja aquisição havia se transformado em símbolo da corrupção no Brasil”, classificou.
No 4º trimestre de 2018, a companhia teve lucro líquido de R$ 2,1 bilhões, contra prejuízo de R$ 5,47 bilhões no mesmo período de 2017. Bancos e corretoras projetavam lucro entre R$ 3,2 bilhões e R$ 8 bilhões, porém. O número foi também 68% menor que os R$ 6,64 obtidos no terceiro trimestre.
Mas o balanço da Petrobras absorveu impacto negativo de R$ 5 bilhões em contingências judiciais nos últimos três meses do ano. Grande parte do valor se deve à unificação de vários campos que formam o chamado Parque das Baleias, na Bacia de Campos, mas que ficam no litoral do Espírito Santo. Após quase cinco anos de discussão com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a Petrobras aceitou pagar R$ 3,1 bilhões em Participações Especiais (PEs) ao Espírito Santo e a vários municípios. Também pesou o provisionamento para processo de arbitragem movido pela Vantage Deepwater.
Também pesaram os R$ 6,4 bilhões em baixas contábeis (reavaliação do valor real do patrimônio da empresa), aplicados a ativos como campos de produção e navios da Transpetro.
No ano de 2018 como um todo, as perdas contábeis totalizaram R$ 7,6 bilhões, enquanto as perdas com contingências judiciais foram de R$ 7,4 bilhões. O efeito cambial foi negativo em R$ 1,64 bilhão. Parte dessas perdas foi atenuada por fatores não recorrentes, como a assinatura de acordos com o setor elétrico (R$ 5,26 bilhões). A Petrobras calcula que o lucro líquido seria de R$ 35,9 bilhões sem esses “itens especiais”.
Apesar disso, analistas avaliam que os indicadores operacionais progrediram.
— Os números sinalizam que a companhia segue tendência de retorno depois de ter sido abandonada em um ciclo de ineficiência muito grande. As questões operacionais demostraram melhora, como a redução no custo de extração e o controle da alavancagem financeira — avaliou Adeodato Volpi Netto, sócio da Eleven Financial Research.
A receita de vendas totalizou no ano passado R$ 349,8 bilhões, um aumento de 23% em relação a 2017. A empresa atribuiu isso ao crescimento dos preços de derivados no mercado interno, sobretudo diesel e gasolina. Já a dívida líquida da Petrobras encerrou 2018 em R$ 268,8 bilhões, contra R$ 291,8 bilhões no fim do terceiro trimestre. Com isso, a relação entre a dívida e geração de caixa diminuiu de 2,96 vezes para 2,34 vezes. No auge da Lava-Jato, essa relação chegou a superar o número de 5 vezes e era considerada um dos principais problemas da companhia.
— Podemos considerar essa questão, por ora, resolvida. A empresa deve buscar manter a alavancagem nesse patamar. Como a Petrobras é muito intensiva em capital, ela não deve reduzir muito mais esse valor, caso contrário terá dificuldades de operar — acrescentou Volpi Netto.
A produção de petróleo e gás natural, porém, caiu 5% no ano passado, para 2,62 milhões de barris diários. A parada de diversas plataformas para manutenção e o atraso no início de operação de novos sistemas foram as principais causas. Mas a Petrobras prevê este ano atingir produção média de 2,8 milhões de barris diários.
Conselho aprova dividendo a acionistas
Após a divulgação do resultado anual nesta quarta-feira, o conselho de administração da Petrobras aprovou o pagamento de dividendos aos acioniastas. Os detentores de ações preferenciais receberão R$ 106,6 milhões, correspondente a R$ 0,019043 por ação preferencial com base no resultado anual de 2018.
A companhia vem em processo lento de recuperação e redução da dívida nos últimos três anos. O resultado positivo no ano anterior se deu apesar de obstáculos como a greve dos caminhoneiros em maio, que acabou culminando na saída de Pedro Parente da presidência da Petrobras, por conta das fortes críticas recebidas em função da política de reajuste de preços dos combustíveis.
Na terça-feira, a Petrobras anunciou medidas que visam à redução de custos . Entre elas está o lançamento de um programa de demissão voluntária (PDV), dois anos depois da última iniciativa nesse sentido. A estatal também confirmou a desocupação, até junho, dos sete andares alugados pela Petrobras, na Avenida Paulista, um dos endereços mais valorizados de São Paulo. Castello Branco pretende, também, fechar os escritórios da companhia em Nova York e Tóquio.
O presidente da Petrobras quer, ainda, acelerar o programa de venda de ativos, inclusive iniciando a venda ainda neste ano de uma refinaria. Ao todo, a meta da companhia é obter receita de US$ 26,9 bilhões com a venda de ativos no período 2019-2023.
Ramona Ordoñez e Rennan Setti, O Globo