quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Sem acordo, cúpula dos EUA com Coreia do Norte é encurtada, diz Casa Branca

NOVA YORK
cúpula entre Estados Unidos e Coreia do Norte para tratar do programa nuclear do país asiático foi encurtada porque os dois lados não chegaram a um acordo sobre a retirada de sanções impostas pelos EUA, informou a Casa Branca nesta quinta-feira (28).
O encontro, em Hanói, no Vietnã, terminou mais cedo do que o previsto pelo cronograma original, que incluía a assinatura de um acordo às 14h (horário local, 4h em Brasília) e uma entrevista do presidente americano logo a seguir.
Mas às 13h30, o comboio que acompanhava o presidente americano foi visto deixando o hotel Metropole, onde a cúpula estava acontecendo.
Em coletiva iniciada às 14h15, Trump afirmou os dois lados têm uma visão mais próxima do que há um ano, mas que algumas divergências persistem, em especial sobre a área que a Coreia do Norte quer desnuclearizar e sobre as sanções impostas pelos Estados Unidos ao país asiático.
“Basicamente eles queriam as sanções levantadas inteiramente, e nós não podíamos fazer isso”, afirmou o republicano, que acrescentou que as medidas continuam em vigor.
Trump afirmou não ter aberto mão de nenhuma condição. “Eles queriam desnuclearizar uma grande parte de áreas que nós queríamos, mas nós não podíamos levantar as sanções por isso”, disse. “Ele quer fazer isso em áreas que são menos importantes do que as que nós queremos.”
O presidente disse que o ditador norte-coreano propôs fechar uma instalação de armas em troca de retirada completa das sanções. Os negociadores americanos, porém, levantaram alguns pontos e exigiram mais ações do regime norte-coreano, segundo Trump, que disse que a contraparte norte-coreana ficou “surpresa” do conhecimento dos EUA sobre o assunto.
O republicano afirmou ainda que quer “muito” retirar as sanções para ajudar no crescimento econômico norte-coreano. De acordo com ele, o líder norte-coreano prometeu não fazer futuros testes nucleares ou de foguetes. Trump qualificou ainda os encontros com Kim de “interessantes e produtivos”, mas disse que os Estados Unidos decidiram não fechar nada para não assinar um acordo que fosse ruim.
“Não era bom assinar algo agora. Nós tínhamos algumas opções, e, neste momento, decidimos não usar nenhuma delas”, disse. O presidente não quis dizer quando uma próxima cúpula vai acontecer.
Ele disse ter se despedido de Kim com aperto de mãos e que a relação de ambos é "forte".
Pouco antes da coletiva, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, havia confirmado o encurtamento da cúpula pelo fracasso em alcançar um acordo, mas disse que os dois lados “buscam se encontrar no futuro”, escreveu em comunicado.
Ela afirmou que Trump e Kim tiveram reuniões “muito boas e construtivas” e que discutiram várias maneiras de avançar na desnuclearização. Falaram ainda sobre questões econômicas.
Pela manhã, na abertura do segundo dia de cúpula, Trump havia dito ao ditador norte-coreano não ter pressa com a velocidade dedesnuclearização da Coreia do Norte. Segundo o presidente americano, não estava entre suas prioridades que o país asiático abra mão rapidamente do seu arsenal nuclear.
“Eu disse desde o começo que a velocidade não é tão importante para mim. Eu valorizo muito mais o fim de testes com foguetes nucleares, mísseis, qualquer um deles”, afirmou. “O que é importante é que cheguemos ao acordo certo.”
“Eu não tenho pressa. Só não queremos os testes e nós construímos algo especial em relação a isso", disse Trump.
O presidente americano voltou a dizer que a Coreia do Norte pode ser uma potência econômica e que pretende ajudar o país asiático a alcançar esse patamar. Com ajuda de um tradutor, Kim afirmou que o mundo estava com as atenções voltadas ao encontro. Ele disse ainda que estava disposto a ter um “diálogo maravilhoso.”
O segundo dia da cúpula ocorreu sob o impacto das acusações de Michael Cohen, ex-advogado do republicano, que acusou o presidente de criar uma rede de mentiras envolvendo os negócios na Rússia, pagamentos a uma ex-atriz pornô e de ter conhecimento do vazamento de e-mails democratas pelo WikiLeaks.
Na entrevista desta quinta, Trump falou rapidamente sobre a crise doméstica. Ele disse que tentou ver todo o depoimento de Cohen à comissão de supervisão e reforma da Câmara dos Deputados americana, mas não conseguiu, “porque estava ocupado”.
O republicano criticou o timing do depoimento, realizado junto à cúpula com a Coreia do Norte. “Eu acho que ter essa audiência falsa no meio dessa cúpula tão importante foi realmente uma coisa terrível”, afirmou. “Ter [a audiencia] durante essa cúpula importante é incrível.”
Sobre as acusações, ele falou que são incorretas, mas afirmou que, em um assunto, o ex-advogado não mentiu, sobre a conspiração com a Rússia para interferir nas eleições de 2016. “Ele não mentiu sobre uma coisa: não teve conspiração com a Rússia. Eu fiquei impressionado por ele não ter falado que teve conspiração. Ele só mentiu 95%, em vez de 100%.”
Nesta quarta (27), no primeiro dia da cúpula, Trump chamou o ditador norte-coreano de “grande líder” e afirmou que a Coreia do Norte tem “um futuro tremendo”.
Já o ditador norte-coreano afirmou que a segunda cúpula só aconteceu graças à “corajosa decisão política” de Trump. É a segunda vez na história que um presidente americano e um ditador norte-coreano se encontraram.
Em junho de 2018, Trump e Kim se encontraram em Singapura para debater a desnuclearização da Coreia do Norte. Na ocasião, o ditador se comprometeu a alcançar o objetivo, mas pouco foi feito desde então. O país asiático quer, em contrapartida, que os EUA retirem sanções impostas.

Danielle Brant, Folha de São Paulo