quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Vale tem prejuízo de R$ 14,8 bilhões no quarto trimestre, o maior da história da companhia

Adesão a programa de refinanciamento da Receita pesou no resultado

  • No ano, lucro foi de R$ 115 milhões
Danielle Nogueira - O Globo
 
Mina da Vale em Minas Gerais Foto: Dado Galdieri / Bloomberg News
Mina da Vale em Minas Gerais Dado Galdieri / Bloomberg News
A Vale teve um prejuízo de R$ 14,8 bilhões no quarto trimestre de 2013, o maior da história da companhia e bem acima do prejuízo de R$ 5,6 bilhões em igual período de 2012. As estimativas de analistas era de um resultado negativo entre R$ 9 bilhões e R$ 13,5 bilhões.

No ano, a Vale registrou lucro líquido de R$ 115 milhões, muitíssimo abaixo do apurado no ano passado (R$ 9,7 bilhões). A estimativa do mercado era que os ganhos ficassem entre R$ 2,9 bilhões e R$ 5,9 bilhões.

O que explica o resultado ruim da companhia é a adesão da Vale ao Refis, programa de refinanciamento da Receita Federal, em novembro passado. Com isso, ela pôs fim a uma briga tributária que girava em torno do pagamento de Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) de suas subsidiárias no exterior.
Sem o acordo com a Receita, o valor devido pela Vale ao governo era calculado em R$ 45 bilhões. Com a adesão ao Refis, a dívida caiu para R$ 22,3 bilhões. Desse montante, R$ 5,9 bilhões foram desembolsados de uma tacada só em novembro e o restante foi parcelado em 179 vezes.

Apesar de o desembolso ocorrer a longo prazo, a Vale tem que lançar o montante integral do acerto no balanço do quatro trimestre. Trazidos a valores presentes, aqueles R$ 22,3 bilhões tiveram um impacto negativo de R$ 14,4 bilhões nas contas da empresa. O efeito é essencialmente contábil, mas acaba contaminando o resultado trimestral e o do ano.

No quarto trimestre de 2012, baixas contábeis também haviam contaminado o resultado da companhia, levando-a a um prejuízo de R$ 5,6 bilhões.

Da mesma forma que a adesão ao Refis teve um impacto contábil negativo, a venda de ativos no último trimestre — entre eles participações em empresas de cobre, logística e blocos de petróleo — impactou positivamente os números da empresa. Mas analistas tiveram dificuldade de prever os ganhos com essas operações. Por isso, a maioria deles não considerou as vendas em suas projeções.

Segundo analistas ouvidos pela agência de notícias Bloomberg, as projeções para o lucro líquido ajustado no quarto trimestre, ou seja, sem os fatores não recorrentes (Refis e venda de ativos), variavam entre R$ 6,6 bilhões a R$ 9,2 bilhões.

— O balanço da empresa veio muito poluído. A Vale teve que fazer vários ajustes ao longo de 2013, com corte de despesas, venda de ativos não prioritários e refinanciamento da dívida tributária com o governo. Este ano, o balanço deve vir mais limpo, refletindo o desempenho operacional da empresa — avalia Luiz Caetano, analista de mineração e siderurgia da Planner.

Caetano previa prejuízo de US$ 4,779 bilhões ou R$ 11,2 bilhões para o quarto trimestre.
Apesar do prejuízo no quarto trimestre e do lucro menor no ano, analistas que acompanham a empresa consideram que ela teve um bom desempenho, especialmente no quarto trimestre, quando as exportações de minério de ferro cresceram ante igual período de 2012, em valores.

O avanço reflete o aumento do preço do minério de ferro na China e a valorização cambial. A cotação média do minério de ferro no mercado spot (à vista) chinês, referência no setor, foi de US$133,18 a tonelada nos três últimos meses de 2013, nas contas da Planner. O valor é 11,5% superior à média de igual período de 2012.

Segundo cálculos da corretora Ativa, o dólar Ptax médio (usado nas transações comerciais) saiu de R$ 2,06 no quarto trimestre de 2012 para R$ 2,27 no quarto trimestre de 2013, uma alta de 10%. Como a receita da Vale é em dólar, isso beneficia a empresa.

— A situação na China ainda está nebulosa, devido ao aperto nos empréstimos. Isso traz um risco para o futuro dos negócios da Vale. Mas acreditamos que as perspectivas para a companhia ainda são positivas para este ano — afirma Lenon Borges, analista da Ativa.