quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Ações da Petrobras caem mais de 3% após balanço e pesam sobre o Ibovespa; dólar sobe a R$ 2,35

Lucro da petrolífera veio acima do esperado pelo mercado, mas endividamento da trouxe preocupação

  • Dólar encerrou sequência de cinco quedas frente ao real, seguindo movimento do exterior
João Sorima Neto - O Globo
Com agências internacionais
 
As ações da Petrobras tiveram as maiores quedas no pregão desta quarta-feira após a divulgação dos resultados financeiros na noite de ontem e fizeram o Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, encerrar a sessão com desvalorização pelo segundo dia consecutivo. As ações preferenciais (sem direito a voto) recuaram 3,53% a R$ 13,68, o menor valor do papel desde 28 de dezebro de 2005, quando a ação fechou a R$ 13,65. Já as ações ordinárias caíram 2,86% a R$ 12,90, a segunda maior baixa do índice e o menor valor desde 5 de agosto de 2005, quando o papel fechou a R$ 12,82. O Ibovespa teve um dia instável, alterando altas e baixas, e voltou a se desvalorizar na reta final do pregão, influenciado pelo peso da Petrobras. No fim do pregão, o índice recuou 0,25% aos 46.599 pontos e volume negociado de R$ 5,8 bilhões.

A Petrobras divulgou um lucro líquido de R$ 6,28 bilhões no quarto trimestre, acima do esperado pelo mercado, que esperava algo como R$ 5 bilhões. Mesmo assim, houve uma queda de 18,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Foi o menor ganho para um quarto trimestre nos últimos seis anos. Já no acumulado do ano, embalada pela venda de ativos, a Petrobras obteve lucro líquido de R$ 23,57 bilhões, uma alta de 11% em relação ao ano anterior. Mesmo assim, o mercado ficou preocupado com o endividamento crescente da empresa, segundo analistas.

- Apesar do lucro acima do esperado, o que está pesou no humor dos investidores foi o aumento da dívida líquida da empresa. A dívida hoje equivale a 3,52 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, o chamado Ebitda, que é a capacidade da companhia de gerar caixa. Ao fim de 2012, essa relação era de 2,78 vezes. Isso preocupa o mercado, já que esse nível de endividamento compromete a capacidade da empresa de fazer investimentos - avalia o estrategista da SLW Corretora, Pedro Galdi.

O endividamento líquido da companhia passou de R$ 147,817 bilhões, em dezembro de 2012, para R$ 221,563 bilhões no fim do ano passado. E o Plano de Negócios 2014-2018, também divulgado ontem, prevê investimentos de US$ 220,6 bilhões no período, volume 6,8% abaixo do valor previsto no plano 2013-2017, de R$ 236,7 bilhões.

Na avaliação do analista da Quantitas, Marcel Mitsuo Kussaba, a geração de caixa da Petrobras foi ruim no quarto trimestre, mesmo tendo reduzido o ritmo de investimento no período em relação ao trimestre anterior.

- Ou seja, com geração de caixa ruim, a empresa fica mais alavancada e o mercado não gosta disso. Além disso, 82% da dívida da empresa estão expostos à variação cambial, mas a receita em dólar não tem a mesma proporção. Ou seja, a dívida piora se o dólar se mantiver em alta. Para mudar esse quadro, a paridade do preço do combustível com o mercado externo tem que acontecer - diz o analista da Quantitas.

Em conferência nesta quarta, a presidente da estatal disse que a paridade do preço dos combustíveis com o mercado internacional só acontecerá em 2015.

Pelas contas do analista da Quantitas, a defasagem de valores está em 17% atualmente.

O analista Lenon Borges, analista da Ativa Corretora,o mercado ficou em dúvida, durante a divulgaçaõ do plano de negócios da empresa, se a convergência dos preços dos combustíveis no mercado local em relação ao exterior será mais rápida. Para o analista, a geraçlão de caixa da empresa pode não ser suficiente para financiar o plano de investimentos da estatal.

- O plano de investimentos é pouco factível sem uma política de preços favorável - diz Borges.
Os analistas Vinicius Canheu e André Sobreira, do banco Credit Suisse, afirmam em relatório que “não há urgência em comprar ações da Petrobras”. Para eles, embora as ações estejam sendo negociadas a preços que parecem atrativos, os analistas preferem esperar mais informações sobre plano estratégico da empresa. Para ambos, o preço atual das ações reflete anos de desempenho decepcionante e ainda não é realmente barato.

"O investimento pode se tornar atrativo, caso a companhia entregue as metas de produção e corrija a defasagem dos preços domésticos de combustíveis", afirmam em relatório.

Também em análise divulgada nesta quarta, o analista Felipe Mattar, do banco Goldman Sachs, reduziu o preço alvo das ações preferenciais de R$ 23,10 para R$ 20,70. Mesmo assim, a recomendação para os papéis da companhia é de compra.
Entre as demais blue chips do pregão, as ações preferenciais da Vale subiram 0,20% a R$ 29,06, enquanto os papéis ordinários tiveram ganho de 0,15% a R$ 32,65. Hoje, após o fechamento do mercado, saem os números da Vale referentes ao quatro trimestre e do ano de 2013. A mineradora é outra companhia com peso importante no Ibovespa. Nos últimos dois pregões, as ações preferenciais da Vale recuaram, acumulando perda de 5,25% no período. As ações ordinárias também tiveram perda nas duas últimas sessões, com baixa acumulada de 6,06%.

Um levantamento feito pela agência de notícias Reuters mostrou que a Vale, a terceira maior mineradora do mundo em valor de mercado, deverá informar prejuízos no quarto trimestre, depois de ter feito um acordo de US$ 10 bilhões com o governo para aderir ao Refis. O prejuízo consolidado da empresa no trimestre encerrado em 31 de dezembro deve ter saltado 45%, para US$ 3,83 bilhões, ante US$ 2,65 bilhões um ano antes, de acordo com uma estimativa média de sete analistas consultados pela Reuters.

- O mercado avalia que a adesão ao Refis deve prejudicar os números da empresa, embora o resultado operacional deva ser melhor - avalia João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos.

Os investidores também analisaram novos balanços divulgados nesta quarta. A Embraer informou lucro líquido de R$ 607,2 milhões no quarto trimestre de 2013, aumento de 2,4 vezes em relação aos R$ 253,6 milhões verificados no mesmo período de 2012. As ações da empresa apresentaram a terceira maior alta do pregão, com ganho de 4,16% a R$ 20,76.

Já as ações ordinárias da América Latina Logística (ALL), que passaram o dia em queda, inverteram o sinal e tiveram valorização de 2,10% a R$ 6,80, após a empresa divulgar que encerrou o quarto trimestre de 2013 com prejuízo de R$ 34,6 milhões, mais de 11 vezes o prejuízo apurado em igual intervalo do ano anterior, quando havia sido de R$ 3 milhões. A empresa estuda proposta de fusão de atividades com a Rumo, empresa do ramo de logística do Grupo Cosan.

Dólar inverte tendência e sobe

O dólar comercial encerrou a sequência de cinco baixas frente ao real e terminou a sessão desta quarta-feira com valorização de 0,46%, cotado a R$ 2,350 na compra e R$ 2,352 na venda. Na mínima do dia, a divisa foi negociada a R$ 2,335 (recuo de 0,25%), enquanto na máxima chegou a R$ 2,358 (alta de 0,68%). No exterior, a moeda americana também se valorizou frente ás divisas de países ligados a commodities.

- O dólar passou por uma correção por aqui e também no exterior, onde se fortaleceu frente a divisas de outros emergentes. A desvalorização do yuan, na China, acabou influenciando a desvalorização do real. Além disso, há a expectativa com a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que deve elevar o juro. E, com a aproximação do fim do mês, há a briga entre comprados e vendidos no mercado futuro para a formação da Ptax, a taxa média do dólar para liquidação dos contratos. Por isso, acredito num rally de alta, antes do carnaval, com a moeda americana podendo voltar a R$ 2,38 ou R$ 2,40. Mas se o cenário externo se mantiver favorável, com a manutenção do apetite por risco, março pode começar com o dólar menos pressionado - avalia Ítalo Abucater, especialista em câmbio da Icap Brasil.

Com o dólar batendo em R$ 2,34, ontem, também houve um movimento natural de compra por parte de importadores, que aproveitaram a cotação mais baixa, diz o especialista.

O mercado passou a acompanhar com preocupação a desvalorização do yuan, a moeda chinesa. A desvalorização é controlada pelo governo e a divisa já recuou mais de 1% nos últimos dias. Uma desvalorização da moeda chinesa pode reverter o apetite dos investidores por ativos de países emergentes, levando a um enfraquecimento do real, que nos últimos cinco dias subiu 2,34% frente à divisa americana.

O Banco Central realizou nesta quarta mais um leilão de contratos de swap cambial tradicional dentro de seu programa para oferecer hedge (proteção) ao mercado frente às variações do câmbio. Foram ofertados mais 4 mil novos contratos, totalizando US$ 197,5 milhões. O BC informou que até 21 de fevereiro, o fluxo cambial está positivo em US$ 94 milhões. No ano, o fluxo também está positivo em US$ 1,704 bilhão.

O dólar engatou uma sequência de baixa frente ao real influenciado por fatores externos e domésticos. No exterior, diminuiu um pouco a aversão ao risco dos investidores, o que tirou um pouco a pressão dos países emergentes. O Brasil se beneficiou desta onda. Por aqui, o anúncio de um corte de R$ 44 bilhões do orçamento e uma meta fiscal de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) feitos pelo governo foram bem recebidos pelo mercado.

Mercado na expectativa da decisão do Copom

Também hoje sai a decisão do Banco Central sobre o novo patamar da taxa básica de juro, a Selic. O mercado aumentou as apostas em uma alta de 0,25 ponto percentual, com a Selic subindo a 10,75% ao ano. Mas não está descartada totalmente uma alta mais forte, de 0,5 ponto percentual, com a taxa chegando a 11% ao ano. Isso poderia levar a um novo ajuste no câmbio. Taxas de juro mais altas tendem a atrair maior volume de capital externo, impactando negativamente no dólar.

O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve subir a Selic em 0,25 ponto percentual nesta reunião, depois da divulgação de indicadores da atividade econômica mais fracos e de menos pressões inflacionárias neste início de ano. Na reunião de abril, o economista aposta em mais uma alta de 0,25, com a Selic subindo a 11%.

As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) apontam para uma alta de 0,25 ponto percentual da Selic. O papel com vencimento em janeiro de 2015 ficou estável em 11,02%, enquanto a taxa do contrato de janeiro de 2017 subiu de 12,08% para 12,11%. A alta do dólar influenciou a alta dos juros.