Em editorial, jornal lista dificuldades da economia e aponta demissão do ministro como ‘o jeito mais fácil’ de recuperar credibilidade
Marcio Beck - O Globo
Para ajudar a recuperar a credibilidade do Brasil diante dos investidores, abalada pelo fraco crescimento da economia e as dúvidas sobre a capacidade de o governo cumprir as metas fiscais que propõe, o jornal “Financial Times” defendeu, em editorial publicado na terça-feira, a substituição do ministro da Fazenda, Guido Mantega por um outro mais “amigável ao mercado”.
No texto, o jornal aponta que o crescimento médio de 4% ao ano durante o governo de Lula - com pico de 7,5% em 2010 - deu lugar a uma expansão bem mais modesta, à beira da recessão técnica e um futuro com pouca perspectiva de alta. O “boom” do consumo perdeu o gás, a queda no preço das commodities ameaça a balança comercial com déficits, e o investimento externo esbarra nos gargalos logísticos do país.
A economia do país precisa mudar, mas a questão é como, segundo o “FT”. O jornal destaca que o Banco Central tem liberdade para aumentar as taxas de juros a fim de controlar a inflação, enquanto a presidente Dilma Rousseff vem propagandeando o país, enfatizando seu compromisso com inflação baixa e responsabilidade fiscal.
O país também pode impulsionar o crescimento avançando em seu programa de infraestrutura, aponta o editorial mas nem todos os projetos têm apresentado condições interessantes para os investidores. O texto cita a expansão do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
O “FT” diz que Dilma enfrenta, diferentemente de Lula, a oposição do Congresso, devido à sua menor habilidade política para obter a aprovação de medidas impopulares.
“O jeito mais fácil, no entanto, poderia ser chacoalhar a equipe. Guido Mantega, o ministro das finanças, há muito perdeu a consideração dos investidores. Substituí-lo por um candidato amigável ao mercado poderia fazer maravilhas. Lamentavelmente, isto será por certo adiado para após a eleição também”, afirma o jornal.
Para o FT, Dilma deverá deixar as “decisões difíceis” para depois da eleição, em outubro.
Não é a primeira vez que um importante periódico especializado em economia pede a cabeça de Mantega. Em dezembro de 2012, a revista The Economist pregou abertamente a demissão do ministro e da equipe econômica, após o resultado decepcionante no 3º trimestre.
Após uma forte reação do governo brasileiro e da presidente Dilma Rousseff, a revista apelou para a ironia e passou a pedir a permanência do ministro, “a todo custo” – na esperança de que a recomendação surtisse o efeito contrário.
