sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Milicianos pró-Rússia agora invadem aeroportos na Crimeia

Veja

Ministro acusa russos de 'invasão militar' no sul da Ucrânia; Marinha russa nega. Ação ocorre após tomada de prédios do governo por grupo semelhante

Homem armado patrulha estacionamento de aeroporto na Crimeia, no sul da Ucrânia, após invasão de grupo pró-Rússia
Homem armado patrulha estacionamento de aeroporto na Crimeia, no sul da Ucrânia, após invasão de grupo pró-Rússia (David Mdzinarishvili/Reuters)


A Crimeia, república autônoma que faz parte da Ucrânia, se tornou definitivamente o principal palco de disputa em um país dividido entre setores favoráveis a uma aproximação com a União Europeia e defensores da manutenção da histórica influência russa. Após milícias armadas pró-Rússia tomarem nesta quinta-feira as sedes do Parlamento e do governo regional e os parlamentares locais anunciarem uma consulta popular sobre a independência da região localizada no sul da Ucrânia, cerca de 50 homens armados invadiram na madrugada desta sexta-feira o Aeroporto de Simferopol, a capital crimeana.
  
Horas depois, outro aeroporto foi tomado em Sevastopol, cidade às margens do Mar Negro, onde a Rússia possui uma grande base naval. O ministro do Interior ucraniano, Arsen Avakov, acusou os soldados russos de estarem por trás do que chamou de "uma invasão e ocupação militar". "É uma violação de todos os acordos e normas internacionais", escreveu Avakov em sua página no Facebook.

Um porta-voz da frota russa no Mar Negro, porém, negou qualquer participação de suas tropas no bloqueio dos aeroportos. A declaração foi repercutida no Twitter pela rádio Voz da Rússia, que também rechaçou a acusação do envolvimento de soldados do país nas ações na Crimeia.

Em Simferopol, a capital regional, testemunhas disseram à agência de notícias russa Interfax que o grupo que sitiou o aeroporto usava as mesmas vestimentas – uniformes militares sem identificação – dos milicianos mascarados que invadiram os prédios do governo e hastearam a bandeira russa na manhã de quinta. Um homem que participou da ação se identificou como "voluntário" à agência Reuters. "Estou com a Milícia do Povo da Crimeia. Somos gente simples, voluntários", declarou.

Denominado também "esquadrão de autodefesa" da etnia russa, que constitui 60% da população da Crimeia, o grupo reage à deposição no final de semana passado do presidente Viktor Yanukovich, aliado de Moscou, e à formação de um governo interino que defende maior aproximação com a União Europeia.

Segundo relatos de passageiros que esperavam o momento de embarcar, alguns homens que invadiram o Aeroporto de Simferopol usavam emblemas da Marinha russa e renderam o terminal de voos domésticos. A tomada do aeroporto não durou muito tempo. O acesso dos passageiros ao check-in foi reaberto, mas homens armados permaneceram no perímetro do aeroporto, onde um cartaz exibia a mensagem "Crimeia é Rússia".

 
Ucranianos prestam homenagem aos mortos nos confrontos que acabaram por derrubar o presidente Viktor Yanukovych
Ucranianos prestam homenagem aos mortos nos confrontos que acabaram por derrubar o presidente Viktor Yanukovych - Bulent Kilic/AFP

Os eventos na região no sul da Ucrânia expõem a crescente ameaça de separatismo decorrente das tensões envolvendo o novo governo ucraniano e a Rússia. Nesta semana, as Forças Armadas russas deslocaram aviões e tropas para patrulhar a fronteira com a Ucrânia – um alegado exercício militar de rotina que representa uma demonstração de força por parte do presidente Vladimir Putin.

A Rússia, foi confirmado nesta quinta, também garantiu abrigo ao ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovich, foragido após ser acusado de ordenar o assassinato em massa de cidadãos nos violentos protestos da semana passada, nos quais 82 pessoas morreram segundo o balanço oficial.

A Crimeia pertencia ao território russo até 1954, quando o presidente soviético Nikita Khrushchev transferiu a jurisdição do território para a Ucrânia. Em meio ao aumento da tensão na república autônoma, o presidente interino ucraniano, Oleksander Turchinov, declarou que a região "foi e continuará a ser parte da Ucrânia".