Brasil deverá cair para a 9ª posição entre as maiores economias
Segundo levantamento da Economist Intelligence Unit (EIU), o baixo crescimento previsto para este ano e a desvalorização do real devem encolher o PIB nominal do país em dólar, rebaixando sua classificação entre as maiores economias do mundo
Talita Fernandes - Veja
Crescimento e real fracos levarão Brasil da 7ª para a 9ª posição entre as economias (Roberto Stuckert Filho / AFP)
Ao final deste ano, o Brasil pode ficar ainda mais longe do posto de sexta economia mundial, ostentado por apenas alguns meses ao longo de 2012. Estimativas da Economist Intelligence Unit (EIU), consultoria ligada à revista britânica The Economist, mostram que o país pode passar da sétima para a nona posição, ficando atrás de outros dois membros dos Brics: Índia e Rússia.
O levantamento feito pela EIU mostra que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil pode encolher de 2,2 trilhões de dólares em 2013 para 2,1 trilhões de dólares em 2014. Entre os principais fatores que provocam a queda estão o baixo crescimento estimado para este ano, de apenas 1,7%, e uma forte desvalorização do real. Para chegar a esses números, foi usado um câmbio médio de 2,44 reais, o mesmo parâmetro usado pelo governo no Orçamento de 2014.
"Depois de ter ocupado brevemente a sexta posição, graças ao boom e a uma taxa de câmbio sobrevalorizada, o Brasil perdeu o seu brilho e isso reflete na queda para a nona colocação, atrás de Índia e Rússia", afirma Robert Wood, analista da EIU. Contudo, ele pondera que o país ainda seguirá em posição de destaque e deve continuar na mira de investidores. "Apesar da perspectiva de baixo crescimento, o Brasil ainda está entre as dez maiores economias e deve atrair considerável Investimento Estrangeiro Direto (IED), de cerca de 60 bilhões de dólares, este ano."
Efeito do câmbio — Considerando as nove maiores economias do mundo (veja gráfico), apenas Brasil e Japão tiveram um crescimento tímido do PIB em 2013, provocado pela baixa taxa de alta da economia e pela desvalorização de suas moedas. Enquanto o real teve uma desvalorização de 12,86% - entre janeiro de 2013 e fevereiro de 2014 -, o iene perdeu 15,78% frente ao dólar em igual período. Além disso, os dois países têm a mesma perspectiva de crescimento para 2014, de 1,7%, segundo a EIU, perdendo apenas para a Alemanha e para a França em ritmo de crescimento, cujas economias devem expandir 1,4% e 0,8% neste ano. Já os países que vão passar à frente do Brasil devem vivenciar crescimento de 6% (Índia) e 2,8% (Rússia) este ano.
Apesar de o Japão e o Brasil terem mostrado redução considerável do PIB nominal devido à conversão das moedas locais para o dólar, eles não são os únicos a sofrer com a variação cambial. Outras moedas emergentes, como o rublo (Rússia) e a rupia (Índia) também foram afetados pela diminuição dos estímulos do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e sofreram desvalorização de 15,14% e 11,55% frente ao dólar, entre janeiro de 2013 e fevereiro de 2014.
Período de ajuste — Contudo, não dá para culpar apenas o cenário externo - desculpa usada com frequência pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega - pela perda de duas posições entre as dez maiores economias do globo. Para o diretor de pesquisas para a América Latina da Nomura Securities, Tony Volpon, os países emergentes vivem um momento de ajuste. Ele explica que tais economias, entre elas o Brasil, se beneficiaram no passado do forte crescimento da China e da ampla oferta de crédito no mercado global. "Todos esses países que estavam dependendo dessas duas fontes vão ter de procurar outras formas de crescimento. Por isso, todas essas economias estão passando por um processo de ajuste", comenta.
Para ele, esses países precisam agora tomar decisões políticas para retomar taxas maiores de crescimento. Volpon lembra, inclusive, que 2014 é ano de eleições para três dos Brics: Brasil e África do Sul vão eleger novos presidentes e a Índia também vai às urnas para escolher um novo primeiro-ministro.
No Brasil, o analista diz que é necessário fazer mudanças na área fiscal para se conseguir atingir uma taxa de crescimento sustentável acima do patamar de 2%. "A pergunta que tem de ser feita é se queremos ser uma economia de 2% ou 2,5% ou se vamos fazer mudanças para ser um país de 4%. É uma escolha que o país tem que fazer", diz. Ele acredita que o Brasil vai passar por pelo menos dois anos de ajuste, dado que, por ser ano eleitoral, nem todas as mudanças necessárias serão feitas em 2014. "Vai ter alguma mudança no Brasil porque a situação se impõe. O problema é que o governo faz não porque acredita, mas porque o mercado exige. Com isso, o risco é que as mudanças ocorram muito devagar. E, pior: elas podem parar de acontecer quando a pressão do mercado acabar", comenta Volpon.
Para o analista, uma das principais mudanças que têm de ser feitas é na quantidade de impostos e na forma em que eles são cobrados, além de uma adequação do tamanho do Estado na economia.
Evolução do PIB (em dólar) das nove maiores economias
* Estimativas da Economist Intelligence Unit (EIU) em US$ trilhões