quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Para analistas, investimentos e indústria foram os vilões do PIB

Crescimento de 2013 será divulgado na manhã desta quinta-feira; mercado espera alta de 2,1% a 2,2% no acumulado do ano

Naiara Infante Bertão - Veja
 
Indústria automobilística prejudicou PIB industrial no fim do ano passado, segundo economistas
Indústria automobilística prejudicou PIB industrial no fim do ano passado, segundo economistas (Thomas Kienzle/AFP)

Os investimentos e a indústria são considerados pelos analistas os vilões do crescimento econômico a partir do segundo semestre do ano passado, apontam analistas ouvidos pelo site de VEJA. Os dados sobre Produto Interno Bruto (PIB) serão divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No terceiro trimestre, a economia brasileira teve retração de 0,5% em relação ao segundo. Em 12 meses, a alta acumulada era de 2,3%. Para o quarto trimestre, as expectativas variam de expansão de 0,1% a 0,4% em relação ao terceiro trimestre. Para o ano, a alta esperada é de 2,10% a 2,20%.

Considerando que, no início do ano passado, as estimativas do mercado apontavam para crescimento de 3,3%, segundo relatório Focus, o sinal é claro: a desaceleração persiste. Para 2014, as expectativas são ainda menos animadoras, a despeito de Copa do Mundo e das eleições. Os mais pessimistas esperam alta de 1,5%, enquanto a ponta otimista prevê 2,10%. O Focus desta semana reduziu para 1,67% a alta esperada para este ano.

Segundo os analistas, os números mostram a queda de confiança dos investidores e consumidores no país, o que acarreta a deterioração do ambiente de negócios e adiamento de investimentos empresariais diante da expectativa de menor consumo das famílias e do governo. Tal desconfiança é resultado dos anos de intervenção do Estado na economia, da piora da situação fiscal, da negligência em relação à inflação (que mina o poder de compra da população), e também do cenário externo ainda incerto.

Com as manifestações ocorridas em 2013 e o impacto da mudança da política monetária dos Estados Unidos, o quadro piorou. “A partir dali, ficou claro que as perspectivas de crescimento iam desacelerar, especialmente porque o mundo descobriu que o Brasil não estava tão bem quanto se imaginava”, afirma Sérgio Vale, economista da MB Associados.

O PIB é analisado pelos economistas sob duas óticas distintas: a da oferta, representada pelo setor produtivo (agropecuária, indústria e serviços) e a dos gastos (demanda), representada por investimentos, consumo das famílias, gastos do governo e balança comercial (exportações menos importações).

Sob a ótica da demanda, os economistas destacam a provável queda no quarto trimestre da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador da alocação de recursos em processos produtivos e aumento do potencial de produção. Se a expectativa for confirmada, este será o segundo trimestre consecutivo de queda - no terceiro trimestre, o indicador recuou 2,2%, depois de crescer 4,6% e 3,6% no primeiro e segundo trimestres, respectivamente. “O primeiro semestre foi atípico porque ainda contava com incentivos para a aquisição de máquinas e equipamentos e bens de capitais em geral. A produção de caminhões acelerou depois de ter estagnado em 2012 e os juros ainda não haviam subido muito”, explica Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. Sua projeção é de queda de 3,2% dos investimentos no quarto trimestre e de expansão de 5,1% da FBCF no ano.

Ainda sob a mesma ótica, o que pode ter salvo o PIB do quarto trimestre do patamar negativo foram os indicadores de consumo das famílias, que respondem por mais de 60% da geração de riqueza do Brasil, e os gastos do governo (21% do PIB), que devem crescer em relação ao terceiro trimestre, ainda que em ritmo menor. Em relação à balança comercial, os economistas apontam a melhora nas exportações.

Pelo lado da oferta, a indústria deverá ser o vilão do terceiro trimestre, enquanto os serviços e a agropecuária devem ser o contraponto. A agroindústria, cabe destacar, teve um bom momento em 2013 beneficiada pelo recorde de safra, mas ainda representa pouco no PIB, cerca de 5,5%.

“Baseados na produção industrial final da indústria de transformação, da extrativa mineral, dos insumos típicos da construção civil e na produção de serviços industriais de utilidade pública, nós contamos com a piora trimestral e com a variação negativa do PIB industrial em 0,2% contra a alta de 0,1% no terceiro trimestre de 2013”, escreveram os economistas Marco Maciel, Marco Caruso e Lucas Brunetti em relatório do banco Pine. Há projeções ainda mais pessimistas para a indústria, como a do banco Itaú, de 0,6% de queda no fim do ano passado.

As estimativas do economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, apontam que 2014 não será um ano melhor. “Um conjunto amplo de dados relacionados à atividade econômica mostra que continua baixa a disseminação do crescimento, o que é condizente com uma expansão moderada da economia.” Entre os dados que avaliou estão indicadores de vendas, produção, renda, confiança de empresários e consumidores, intenção de compra de bens duráveis, emprego, crédito, despesas do setor público, exportação, importação, etc.

O calendário movimentado do ano que se inicia também não ajuda a dar clareza sobre como será seu aspecto econômico, ainda que o governo tente mostrar que vai trabalhar com números mais factíveis.

A incerteza sobre o impacto positivo da Copa do Mundo, possíveis manifestações e eleições no fim do ano já começam a pesar nas decisões de investimentos dos empresários, enquanto a persistente inflação, combinada com juros mais altos, vai pesar no bolso do consumidor e em sua intenção de consumo.

“A dinâmica desfavorável dos indicadores de confiança e o aumento dos riscos externos e domésticos (exemplo, racionamento de energia) sugerem que a retomada da atividade nos próximos trimestres pode ser mais gradual”, resumem os economistas do Credit Suisse em relatório, liderados pelo economista Nilson Teixeira.