Eric Piermont/AFP | |
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante coletiva de imprensa em Paris na sede da OCDE |
MÁRIO CAMERA - Folha de São Paulo
A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirma em seu relatório sobre perspectivas econômicas divulgado nesta quarta (7) que a incerteza política no Brasil representa "riscos significativos" para o crescimento econômico do país.
A afirmação, contudo, não preocupou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que está na sede da OCDE, em Paris, para acompanhar a reunião ministerial anual do chamado "grupo dos ricos".
O ministro acredita que órgão não se refere aos recentes escândalos envolvendo o presidente Michel Temer e pessoas ligadas a ele e não é a principal preocupação dos investidores.
Para Meirelles, a OCDE –para a qual o Brasil enviou pedido formal de adesão na semana passada– não está falando de casos relacionados aos últimos dias ou semanas no país, mas em questões políticas que ocorreram "ao longo do último ano e até de um período mais prolongado".
Para o ministro, o que está ficando claro para seus interlocutores em Paris é que o Brasil retomou o crescimento. "Portanto, o foco importante aqui é o longo prazo, da entrada do Brasil na OCDE e do processo que já iniciamos no último ano", disse.
"Os investidores estão preocupados com as perspectivas para o seu investimento.
Em resumo: qual será o crescimento do país nos próximos anos", afirmou Meirelles, negando que seus interlocutores estejam preocupados com a questão política no país.
PIB
O ministro disse, ainda, que o crescimento do PIB brasileiro para 2018 deve ultrapassar as projeções da OCDE e ficar acima de 1,6%.
Segundo ele, a economia brasileira deve entrar 2018 crescendo a um ritmo de 3% –o que poderia levar a um crescimento maior do que o previsto pelo organismo.
Para 2017, as projeções se invertem e é órgão que prevê crescimento maior: 0,7%, contra 0,5% do Ministério da Fazenda.
"Não existe erro e acerto em previsão. O que existe são previsões mais conservadoras, previsões que eu chamaria de realistas e, também, as otimistas. É normal que órgãos multilaterais —seja OCDE, FMI ou Banco Mundial– tendam a ser conservadores nas suas previsões", afirmou o ministro.
TAXA DE JUROS
Em relação a uma possível influência política na decisão tomada pelo Banco Central (BC) na semana passada de cortar a taxa básica de juro em um ponto percentual, de 11,25% para 10,25%, Meirelles disse que é normal o banco dar esse tipo de sinalização aos mercados.
"Ele [BC] deu a indicação clara aos mercados de que ele iria seguir monitorando a evolução da atividade econômica e das perspectivas de inflação e, principalmente, 'olha, vamos olhar a evolução dos acontecimentos e todos os riscos envolvidos'", explicou o ministro.
JBS
O ministro comentou ainda a citação do seu nome em duas das 82 perguntas enviadas pela Polícia Federal ao presidente Temer na última segunda-feira.
Numa delas, a PF pergunta ao presidente se ele teria autorizado o empresário Joesley Batista a apresentar "pontos de interesse" a Meirelles, quais seriam esses "pontos" e se o presidente tem conhecimento se isso aconteceu. "Eu fiquei sabendo disso pelos jornais", disse, negando ter tido esse tipo de contato com o empresário relacionado à questão.
Meirelles fica em Paris até sexta-feira. Além da reunião ministerial da OCDE, o ministro realiza uma série de encontros bilaterais e com empresários, e participará do Fórum Econômico Internacional América Latina e Caribe.