Em evento sobre estatais, presidente afirma que foi alvo da frustração de ‘gente que se servia da atividade de empresas públicas para objetivos não lícitos’
O presidente Michel Temer (PMDB) disse nesta quinta-feira que frustrou “interesses de gente poderosa” nas estatais federais, como Petrobras e BNDES, e que pôde constatar logo em seguida “essa frustração de gente que se servia da atividade de empresas públicas para objetivos não lícitos”.
A declaração, que fez com que ele subisse o tom de voz, foi dada durante cerimônia de um ano da sanção da Lei de Responsabilidade das Estatais. A lei, sancionada em junho de 2016 quando ele ainda era presidente interino – Dilma Rousseff (PT) estava afastada por causa do processo de impeachment -, fixou critérios para nomeação de diretores de empresas públicas (como proibir nomeação de políticos) e aumentou o rigor das regras para licitações.
“Percebi desde logo que era preciso sanear empresas do porte e do significado da Petrobras, da Eletrobras, do BNDES (…). A ideia principal desta lei era protegê-las de um certo assédio ilegítimo de quem quer que fosse”, disse, para depois emendar: “Eu confesso que, ao fazê-lo, nós frustramos interesses de gente poderosa. Eu pude verificar logo em seguida essa frustração de gente que se servia da atividade de empresas públicas para objetivos não lícitos”.
A declaração, aparentemente, foi endereçada a Joesley Batista, dono da JBS, que recebeu vários aportes do BNDES (que se tornou acionista do grupo), mas reclamou com Temer, em reunião no Palácio do Jaburu, que o acesso ao banco tinha ficado difícil no seu governo. A conversa foi gravada e entregue ao Ministério Público Federal e acabou provocando a maior crise política do atual governo. O áudio é o principal elemento da denúncia de corrupção passiva feita contra ele pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Segundo Temer, “o objetivo [de impor maior controle nas estatais] não era só moralista”, mas “salvar um patrimônio que pertence a todos os brasileiros”. Ele enumerou, entre outros exemplos, o da Petrobras, que de acordo com o governo, saiu de um prejuízo de R$ 385 milhões em 2015 para um lucro de R$ 4,8 bilhões no ano passado.” “Após sete anos de crescimento acentuado de suas dívidas, as estatais federais viram reduzir seu endividamento em 24% e o valor de mercado dessas emrersas conheceu um incremento extraordinário”, afirmou.
Responsabilidade
O presidente não falou diretamente da crise política, mas disse que o “momento que atravessamos exige responsabilidade de todos, responsabilidade com a coisa pública, responsabilidade com atos e palavras”. “O que está em jogo é a superação de uma crise sem precedentes”, disse.
Ele citou números positivos na economia, como a recuperação do emprego e a queda da inflação. “O Brasil está prosperando, está respirando, não podemos deixar que nada impeça essa respiração extraordinária que o país está tendo”, disse.