Adriana Spaca/Brazil Photo Press/Folhapress | |
Ilan Goldfajn, presidente do BC e um dos membros do CMN, que definirá a meta de inflação para 2019 Folha de São Paulo
O Conselho Monetário Nacional deve anunciar nesta semana a meta de inflação para 2019, seguindo as diretrizes do decreto 3.088/99.
Não será surpresa se o CMN decidir pela sua redução, a primeira desde junho de 2003, provavelmente para 4,25%, talvez para 4%, caminhando no sentido da maioria dos países emergentes, que busca manter a inflação ao redor de 3% ao ano.
A verdade é que já se espera, e não de hoje, tal decisão. As expectativas de inflação para 2019, conforme capturadas pela pesquisa Focus, já se encontram em 4,25% desde o início de abril.
Há bons motivos para crer que essa crença já reflita a perspectiva de redução da meta, e não a baixa inflação corrente, pois quaisquer desvios da inflação, sob uma política monetária correta, devem se dissipar com folga em dois anos e meio, o intervalo entre a definição da meta e o momento de sua aferição.
Trata-se de uma mudança radical. Em 2015 e 2016, por exemplo, considerando o mesmo intervalo para que a política monetária pudesse trazer a inflação de volta, as expectativas dois anos e meio à frente permaneceram teimosamente acima da meta.
Posto de outra forma, em pouco mais de um ano o Banco Central recuperou a credibilidade perdida na era em que Alexandre Pombini e asseclas estiveram à frente da instituição.
Isso sugere, ao contrário do senso comum, que taxas de juros poderão cair um pouco mais do que cairiam caso a meta se mantivesse inalterada em 4,5%. O motivo para isso é a influência que as expectativas de inflação para 2019 têm sobre a inflação de 2018.
Ao fixarem salários e preços por um determinado período (digamos, um ano), trabalhadores e empresas precisam levar em conta a perda de poder de compra resultante da inflação que ocorrerá ao longo daquele ano.
Assim, se a inflação esperada para o futuro é elevada, salários e preços sobem mais hoje, acelerando a inflação corrente e vice-versa. Em particular, uma taxa de inflação mais baixa em 2019 deve reduzir, em alguma medida, também a inflação de 2018.
Como a política monetária opera com defasagens relativamente longas, as decisões do Copom durante a segunda metade deste ano deverão dar peso crescente ao desempenho esperado para 2018.
Nesse sentido, uma meta menor para 2019, ao reduzir a inflação esperada para 2018, possibilita ao Banco Central reduzir a Selic um tanto a mais do que conseguiria em cenário de meta mantida em 4,5%.
"Delírio teórico", dirão alguns.
Pois bem, a evolução das expectativas para 2018 se mostra absolutamente coerente com a explicação acima. Até abril deste ano se encontravam próximas a 4,5%, mesmo com a queda da inflação esperada para 2017,
refletindo a crença na capacidade do BC de trazer a inflação de volta para 4,5%, mas começaram a cair quando se cristalizou a perspectiva de redução da meta para 2019.
Da mesma forma, a revisão para baixo em 2018 reduz a velocidade de aumento de preços em 2017.
Isso tem possibilitado a queda da taxa de juros, bem mais forte do que se esperava. Há um ano o consenso apontava para a Selic a 11% no final deste ano e a 10,5% em 2018; hoje, aponta para 8,5% nos dois anos, além da queda observada na inflação esperada, ou seja, redução também da taxa real de juros.
Caso o CMN nos surpreenda e decida por 4%, veremos novas quedas da taxa de juros. Agora é só empurrar para o gol.
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