Ele é galã de novelas, casado com uma das mais belas mulheres do Brasil e pai de uma criança de quatro anos adotada durante uma viagem ao Malawi, na África. Aos 35 anos, Bruno Gagliasso é também um exemplo de homem bem-sucedido na carreira artística e na vida familiar. Mas quer mais. Quer ser, como ele mesmo diz, o Ashton Kutcher brasileiro – o ator norte-americano que investe em dezenas de start-ups e ganha (muito) dinheiro com isso. Gagliasso, que aprendeu a empreender com a família, tem hoje mais de uma dezena de negócios, que vão de restaurantes e hamburguerias a empresas do mercado imobiliário. Sem se assustar com a crise, Bruno vê nela uma oportunidade para tirar o País do buraco. Nesta entrevista, o ator e empreendedor fala sobre negócios, política, a adoção da filha e os episódios de racismo que ele e a família sofreram. E garante: “Não admitimos desrespeito.”
Nos últimos anos você investiu em uma dezena de negócios — e continua investindo. A crise econômica e política não assusta?
Não é que a crise não me assusta, o Brasil me assusta como um todo, principalmente no que se refere a política ou economia. A questão é que eu não me lembro de ter vivido uma época que o País não estivesse em crise. Essa crise se agrava, diminui, mas somos um país que vive constantemente nela, o que não me desmotiva e não me deixa com medo. Para empreender, não se pode ter medo. Apesar da crise estabelecida, o Brasil não parou. Nós aqui dentro temos que fazer a economia girar e continuar empreendendo muito e cada vez mais. Temos que mostrar para o mundo que nós acreditamos no potencial do País.
É difícil empreender no Brasil?
Sim. A gente vive em um lugar em que é difícil empreender. No Brasil as pessoas confundem intuição com impulsividade. Todos os meus negócios têm muito da minha intuição, mas nenhum é feito no achômetro. Steve Jobs tinha intuição, só que ele estudava, se preparava. É preciso se preparar, não entrar em qualquer negócio, conhecer seus sócios.
Qual é a principal dificuldade que um empreendedor enfrenta hoje?
A dificuldade de empreender é a de sempre: nossa economia instável, a política medíocre. É por isso que o preparo é tão importante. Porque empreender sempre vai ser difícil, o que não significa que será menos prazeroso. Eu ainda estou me descobrindo como empreendedor.
Como essa trajetória começou?
Foi tudo muito naturalmente, a minha família empreende [os pais são donos do restaurante Forneria Gagliasso]. Tudo começou porque os meus negócios tinham sentido, de alguma forma todos eles fazem parte da minha vida. Meu primeiro negócio foi o [restaurante orgânico] Le Manjue. Eu conheci um dos meus sócios em Fernando de Noronha, um lugar muito especial para mim, e ele me convidou para conhecer seu restaurante orgânico. A minha alimentação é basicamente orgânica, então fazia sentido. Depois vieram os outros, a Maria Bonita, minha pousada em Noronha, um lugar que eu amo, o CFP9, meu box de crossfit, que é um esporte que eu pratico. Quando eu vi, já estava totalmente envolvido.
Então você se considera um homem de negócios?
Não. Acho muita pretensão falar que sou um homem de negócios, eu não me vejo assim. Sou um empreendedor, um realizador. Um dia fui jantar com um amigo e comentei com ele que estava indo para Nova York. Ele sugeriu que eu fosse ao Burger Joint, uma hamburgueria que eu adorava e ia sempre. Ele me perguntou se não queria ser sócio dele e eu perguntei do que ele precisava. Ele me disse que bastaria convencer o dono da rede a trazer franquias para o Brasil. Eu disse para ele “então eu que vou te chamar para ser meu sócio, porque vou convencê-lo”. Deu certo. Hoje tenho os direitos da franquia no Brasil, América Latina e Flórida. Vamos abrir mais seis lojas este ano.
Você se inspira em alguém nos negócios?
No Jorge Paulo Lemann [homem mais rico do Brasil, com fortuna estimada em US$ 30 bilhões], nos sócios dele [Marcel Telles e Beto Sicupira, do fundo 3G, controlador da Ambev, Burger King e Heinz] e no Abílio Diniz [ex-presidente do Grupo Pão de Açúcar, hoje no Conselho da BRF e Carrefour]. Também me inspiro no Ashton Kutcher, que investe muito em start-ups [Uber, Spotify e Skype]. São pessoas que fazem, acreditam e têm coerência não só na vida, mas também nos negócios.
Como empreendedor, como você enxerga as reformas propostas pelo governo?
Isso é polêmico [risos]. Mas o que no Brasil não é polêmico, não é? Eu não sei. O que eu tenho certeza é que gente precisa mudar. Temos que fazer alguma coisa. Temos que ir para a rua se não concordamos com algo, mas também precisamos investir, precisamos estudar. Temos que fazer de tudo para mudar a cara e a alma do país.
Você se considera alguém que faz isso?
É muito difícil falar de si mesmo. Vou falar pelos jovens, porque eu tenho 35 anos mas me considero jovem, tenho muito o que aprender. O que a gente precisa ter nesse momento é coerência. Tem que saber protestar, saber pelo que protestar, o que realmente queremos. Caso contrário, viramos protestantes de internet. É preciso se informar, pesquisar. Não adianta fazer post na internet se você não sabe o que faz e o que pensa.
Recentemente, até o nome do Luciano Huck foi alçado a possível candidato a presidência da República. Você acha que um novo líder pode surgir da geração de jovens famosos que investem no Brasil?
Eu enxergo a crise como uma oportunidade espetacular. Dela saem as melhores ideias e soluções. Acho que somente nós, os jovens, podemos tirar o País do buraco. Não podemos desistir do nosso Brasil jamais. Precisamos de novos líderes que acreditem no potencial brasileiro. Chega de velha política, é preciso renovar com gente disposta, que tenha uma visão não somente imediatista, é preciso pensar em uma ação de médio e longo prazo. Só assim construiremos uma nação com uma economia forte e sólida.
Você pensa em largar a televisão para se dedicar exclusivamente aos negócios?
Ainda tenho muita energia e não falta paixão por tudo o que faço. A arte faz parte de mim e é o que me move. O meu lado empreendedor é algo que me estimula muito, acredito também ter vocação e por isso estudo intensamente para continuar no rumo certo.
Há rumores também de que você quer ser apresentador…
Sou movido a desafios. O que vier, seja como ator, empreendedor ou em outra oportunidade, eu vou me dedicar para fazer o melhor.
Você tem alguns negócios em sociedade com a Giovanna Ewbank, sua mulher. Como é essa relação de marido e sócio?
Nós tocamos tudo juntos, ela participa de tudo. Temos um salão de beleza e barbearia, é ela quem toca. Ela toca também uma marca de cosméticos, roupas e acessórios, além do portal e do canal de YouTube com mais de 20 milhões de visitas. Levamos isso juntos. Não existe essa de não levar trabalho para casa. O trabalho faz parte da nossa vida.
Em 2016, vocês adotaram a Titi. Você mudou como empresário depois de se tornar pai?
A paternidade me deu mais sensibilidade para identificar no outro e ao meu redor coisas que eu via mas não enxergava. Eu sempre gostei de empreender, mas agora invisto em coisas que podem mudar a vida das pessoas, para melhor, claro. Precisamos criar soluções justamente para burlar a crise e facilitar a vida das pessoas. O meu último negócio resolve um problema muito comum: excesso de burocracia na hora de alugar um imóvel, ter que correr atrás de um fiador. A minha marca de cerveja também é um exemplo dessa visão. A ideia foi criar algo que proporcione prazer mas seja extremamente saudável, pois ela é orgânica.
O processo de adoção foi demorado, levou quase um ano e meio. Como foi essa experiência?
Vale a pena cada minuto, cada espera. Quando a nossa filha nos escolheu, a única certeza que nós tínhamos é que a gente não voltaria para o Brasil sem ela. Foi tudo muito natural. E hoje somos completos.
O que levou à escolha pela adoção de uma criança de um país africano?
Não planejamos adotar uma criança de outro país. Simplesmente aconteceu de forma natural. Quando a Gio conheceu a Titi, e depois eu, só tivemos mais certeza de que a decisão correta era que não poderíamos ficar longe da nossa filha. Depois disso, enfrentamos com serenidade todo o processo burocrático de adoção e tudo deu muito certo.
Vocês foram bastantes questionados por não adotarem uma criança brasileira…
Os questionamentos acontecem e não vão parar nunca. O amor supera tudo isso. O que não admitimos é o desrespeito. Esse sim nós vamos sempre combater.
Vocês também sofreram ataques de caráter racista na internet. Como foi lidar com essa situação e de que forma reagiram?
Muitas pessoas se escondem atrás da internet para cometer esse tipo de crime. É muito difícil ter que passar por isso, mas cabe a nós mudarmos essa situação. Essas pessoas precisam ser denunciadas e punidas. Eu nunca vou parar de lutar contra isso. Somos todos iguais.