sexta-feira, 31 de julho de 2015

A relação de Othon Pinheiro, da Eletronuclear, e o lobista do escândalo do Metrô de SP

Pedro Marcondes de Moura, Aline Ribeiro e Harumi Visconti - Epoca

Preso na Lava Jato, Othon Pinheiro tem um sócio investigado no Brasil e na Suíça pelos escândalos da Alstom e do Metrô paulista


Não eram nem 6 horas da manhã da terça-feira, dia 28, quando uma caminhonete preta estacionou em local proibido num centro comercial em Barueri, na Grande São Paulo. Convencidos do direito de permanecer na vaga, seus quatro ocupantes discutiram com os manobristas do prédio e, só depois de o quiproquó esquentar bem, decidiram se identificar. Eram policiais federais à paisana, cumprindo um dos 30 mandados de busca e apreensão da 16ª fase da Operação Lava Jato. Estavam ali para investigar a Aratec Engenharia. Até fevereiro, a empresa pertencia ao vice-almirante da Marinha Othon Pinheiro da Silva, presidente licenciado desde abril da estatal Eletronuclear. Seu envolvimento levou as investigações dopetrolão à área de energia, num desdobramento já apelidado deeletrolão. Enquanto parte da operação se desenrolava em Barueri, Othon se tornava, no Rio de Janeiro, o primeiro militar preso na investigação. Ele é também um dos pais do programa nuclear brasileiro.
 
Othon Pinheiro, preso na Lava Jato (Foto: Alaor Filho/Estadão Conteúdo)
A ficha mostra a sociedade com o lobista José Amaro Pinto Ramos (Foto: Reprodução)
Othon é acusado de ter usado o cargo na Eletronuclear, que assumiu em 2005, para exigir propina de empreiteiras. Em troca, acreditam os investigadores, facilitava a obtenção de contratos da construção da Usina Nuclear de Angra 3, estimada em R$ 15 bilhões. Só nas contas da Aratec, Othon recebeu R$ 4,5 milhões, pelo que indica a investigação até agora. Naquela manhã de terça-feira, os agentes da PF passaram seis horas na empresa. Saíram de lá com um malote cheio que, a depender do conteúdo, poderá complicar a situação de Othon. O vice-almirante e sua Aratec são sócios da Epcint, do lobista José Amaro Pinto Ramos, suspeito de pagar propina a administradores públicos nos dois principais escândalos decorrupção nas gestões tucanas no Estado de São Paulo: o caso Alstom e o cartel dos trens do Metrô. Documentos obtidos por ÉPOCA mostram a conexão comercial entre os dois. Por meio de suas empresas, Othon e José Amaro são sócios na companhia Hydro Geradores e Energia. No quadro social da Hydro há outras duas empresas, BBT Energia e Emexport.

Com escritórios nos Estados Unidos e na França, José Amaro figura entre os principais lobistas do Brasil. Trabalha para multinacionais, em especial em contratos com o poder público. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, ele foi o responsável por colocar em contato, em 1994, a equipe de campanha do então candidato à Presidência Fernando Henrique Cardoso com o estrategista político americano James Carville, integrante da campanha vitoriosa do ex-presidente americano Bill Clinton. José Amaro é investigado na Suíça por usar contas bancárias do país europeu no cartel do Metrô paulista – em que, com anuência de agentes públicos, multinacionais se associaram para superfaturar licitações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), entre 1998 e 2008. O prejuízo ao Erário foi estimado em R$ 834 milhões.

Há investigações paralelas em andamento na Polícia Federal e nos Ministérios Públicos estadual de São Paulo e federal, para elucidar o envolvimento de José Amaro na fraude metroferroviária. No caso Alstom, existe uma ação do Ministério Público paulista contra José Amaro. A acusação é que José Amaro fez parte de um esquema de pagamento de propina da multinacional francesa, em troca de um contrato com a estatal Empresa Paulista de Transmissão de Energia (EPTE). Nesse caso, até agora, 11 envolvidos, como ex-dirigentes da estatal de energia, tornaram-se réus na Justiça Federal. Aguardam julgamento. Segundo o advogado de José Amaro, Thiago Nicolai, seu cliente não é lobista nem está envolvido com os casos de corrupção.
 
Parceiros de negócios (Foto: época )
Na terça-feira, dia 28, a reportagem esteve nos endereços informados na Junta Comercial de São Paulo como sedes da Aratec e da Hydro. Ambas estão registradas no mesmo endereço, mas nenhuma delas funciona no local nem é conhecida por quem trabalha ali. ÉPOCA procurou sócios e administradores da Hydro. A empresa foi fundada em 2007, com o propósito de fabricar geradores. O advogado de José Amaro e um representante da Emexport afirmam que a Hydro parou de funcionar por volta de 2010. Segundo os registros na Junta Comercial e na Receita Federal, no entanto, a companhia se mantém ativa e apta a emitir notas fiscais até hoje.
>> Delação da Camargo Corrêa envolve Angra 3

No Ministério da Fazenda, a Aratec informa outro endereço: o tal centro comercial em Barueri, visitado pela PF. Segundo quem trabalha no local, a sala é usada uma ou duas vezes por semana. Entre 2010 e 2012, a Aratec não tinha funcionários. Passou a ter um em 2013, de acordo com a PF. Em fevereiro, Othon transferiu sua parte na sociedade a familiares – fato que intrigou os investigadores. O período coincide com as primeiras notícias sobre o teor da delação de Dalton Avancini, ex-diretor presidente da empreiteira Camargo Corrêa. Ele afirmava ter pagado propina a Othon. Procurado, o advogado Helton Marcio Pinto, responsável pela defesa do vice-almirante, não foi localizado. A filha de Othon e sócia administradora da Aratec, Ana Cristina Toniolo, não quis falar com a reportagem.
>> PF mira irregularidades em Angra 3 em nova fase da Lava Jato

A prisão do vice-almirante, de 76 anos, constrange a Marinha não apenas por sua patente. Othon é um engenheiro nuclear com pós-graduação pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e ocupou cargos-chave no programa nuclear brasileiro desde 1979. Aposentou-se em 1994 e é uma referência intelectual para os colegas. Retirou-se após 39 anos nas Forças Armadas. Era uma carreira brilhante que chega, agora, a uma encruzilhada sombria. 

Beatriz Catta Preta ainda precisa explicar algo

Ana Clara Costa - Veja





A advogada acusa “membros da CPI” da Petrobras de tê-la 

ameaçado e diz que, por causa disso, decidiu “encerrar a 

carreira”. Isso faz sentido?



CONVERSA TRUNCADA - Catta Preta disse que as pressões contra ela cresceram depois de seu cliente acusar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Ele nega ter influenciado a convocação da advogada à CPI
CONVERSA TRUNCADA - Catta Preta disse que as pressões contra ela cresceram depois de seu cliente acusar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Ele nega ter influenciado a convocação da advogada à CPI (Jorge William/Agência o Globo)
Beatriz Catta Preta diz que se sente ameaçada. Ninguém pode arvorar-se a desmenti-la. O sentimento, como a renúncia de um presidente da República, é unilateral. Não cabe discussão. Excelente penalista, Catta Preta sabe bem o que dispõe o Artigo 147 do Código Penal brasileiro. Está estabelecido pela jurisprudência que ameaça é crime formal e sua consumação ocorre independentemente de qualquer resultado, não sendo necessário que a vítima se sinta ameaçada. A questão psicológica é indiscutível. Mas, quanto ao direito, cabe a ela transcender o sentimento e revelar quais foram as ameaças recebidas. O assunto deixa de ser de foro íntimo para entrar no campo jurídico, que ela domina profissionalmente como poucos.
Que ameaças foram essas que a levaram a anunciar que sairia dos casos em que trabalha na Operação Lava-Jato e, mais drástico ainda, "encerrar a carreira"? Por mais que ela tenha dominado a cena na semana que passou, a doutora tem de esclarecer que ameaças sofreu, pois em relação à autoria ela foi clara: "Membros da CPI da Petrobras". A questão só começará a ser elucidada quando Catta Preta oferecer evidências que tirem as ameaças do campo do sentimento e as coloquem na letra do Código Penal, que, aliás, lhe é muito mais favorável, pois basta que se prove a ameaça, não sendo necessário sequer que ela tenha se sentido ameaçada.
Leia a continuação dessa reportagem na Veja

Brasil enfrenta tempestade perfeita na economia

Giuliano Guandalini e Bianca Alvarenga - Veja




Os indicadores da economia brasileira apontam para uma 

recessão prolongada. O tombo será ainda mais profundo 

caso o governo não recupere rapidamente a confiança dos 

investidores nem consiga evitar o rebaixamento da nota

de crédito do país



A conta é dela, mas nós é que estamos pagando: os erros da política econômica do primeiro mandato de Dilma Rousseff expuseram o país à tormenta
A conta é dela, mas nós é que estamos pagando: os erros da política econômica do primeiro mandato de Dilma Rousseff expuseram o país à tormenta(Alan Marques/Folhapress)
As análises econômicas mais realistas e desapaixonadas indicavam, fazia algum tempo, que a crise na economia brasileira era um acidente prestes a acontecer. Por seis anos seguidos, o governo pisou fundo demais no acelerador dos gastos públicos e aliviou o pé no freio do controle da inflação. Em pouco tempo, arruinou a confiança construída em duas décadas de ajustes e reformas - sem falar nas manobras na contabilidade federal. Ao assumir o Ministério da Fazenda, Joaquim Levy apresentou um plano para evitar o desastre, como o personagem do filme Juventude Transviada que escapa da morte ao saltar do carro momentos antes da queda no desfiladeiro.
Por alguns meses, parecia que Levy seria bem-sucedido. O ministro procurou extinguir os trambiques do antecessor e propôs uma série de medidas para reforçar o caixa do governo e impedir um rombo ainda maior nas finanças públicas. A iniciativa seria um primeiro passo para arrumar a casa e retomar os projetos de longo prazo para incentivar o crescimento econômico. O clima político hostil, entretanto, atrapalhou os planos do ministro. Quanto mais frágil a situação da presidente Dilma Rous­seff e maior o envolvimento de políticos da base aliada nas revelações da Lava-Jato, menor a disposição do Congresso para aprovar ajustes impopulares. O tempo sobre a economia brasileira já estava fechado. Agora, o país está sob a ameaça de lidar com uma verdadeira tempestade perfeita.
O Brasil não é tão vulnerável como no passado, mas entrou avariado na trovoada. O povo brasileiro já percebeu, em seu dia a dia, o aumento no custo de vida, a dificuldade para quitar dívidas, o desemprego de pessoas conhecidas. O pior, entretanto, está por vir. Principalmente se as medidas de austeridade nas contas do governo não forem aprovadas. Na semana passada, a agência americana de classificação de risco Standard & Poor's reduziu para negativa a avaliação do país. Existe agora uma probabilidade elevada de rebaixamento da nota do Brasil, possivelmente no próximo ano. Se assim for, o país perderá, na avaliação da S&P, o status de grau de investimento. E o que isso significa? A economia deixará de ter acesso ao crédito farto e barato dos mercados internacionais. Os maiores fundos de pensão estrangeiros restringem a aplicação em países sem o grau de investimento. Em vez de ficar mais próximo de países como os Estados Unidos, a Alemanha ou o Chile, o Brasil seria rebaixado para o grupo de caloteiros contumazes, que inclui a Grécia, a Argentina e a Venezuela.
Não é apenas o governo que é afetado. As empresas brasileiras também serão vistas como investimentos especulativos. Ao pôr a nota do país em perspectiva negativa, a agência fez o mesmo para 41 empresas locais. Entre elas figuram companhias que, a despeito do cenário econômico adverso, estão entregando bons resultados e não têm dependência direta do Estado, como Ambev e NET. Isso acontece porque a nota de crédito do país é o teto de classificação das empresas. Raramente uma empresa pode ter nota melhor do que o país no qual ela opera, porque sempre existe o risco de ser afetada por alguma restrição na transferência de pagamentos.
Leia a continuação dessa reportagem na Veja

Sérgio Moro acha que o ideal é encerrar a principal parte da Lava Jato neste ano

Murilo Ramos - Epoca


Procuradores do caso no Paraná concordam com o juiz responsável pelo caso



O juiz Sérgio Moro (Foto: Paulo Lopes/Futura Press)
São 16 meses de Lava Jato. São 16 fases da operação. São 23 delatores, com a possibilidade de haver mais. Nem só políticos e operadores se impressionam com o tamanho e os desdobramentos da investigação. Os procuradores do caso no Paraná e o juiz Sergio Moro consideram que o ideal mesmo é encerrar a parte principal da investigação até o final deste ano. Tudo para não perder energia com detalhes acessórios e não escapar do mais importante: obter a condenação dos réus que já tiveram seus malfeitos completamente esquadrinhados.

Os R$ 2 milhões da montadora Caoa para o operador de Pimentel

Filipe Coutinho e Murilo Ramos - Epoca



Amigo do governador de Minas Gerais, Bené usava empresas de fachada e é suspeito de intermediar negócios com o BNDES



Bridge, em inglês, significa ponte. Localizada em Brasília, a Bridge Participações é propriedade do empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené. Bené é amigo de Fernando Pimentel (PT), governador de Minas Gerais. Um ótimo amigo: já emprestou avião e pagou R$ 12 mil para Pimentel e a mulher passarem férias num resort na Bahia. Pimentel e Bené são investigados pela Polícia Federal, na Operação Acrônimo, por lavagem de dinheiro – e por suspeita de, justamente, fazer uma ponte. Entre empresas que desejam empréstimos no BNDES e o próprio BNDES. Bené é o principal caminho para a PF investigar a caixa-preta do banco estatal e deve ser um dos focos da CPI do BNDES, a ser instalada no próximo dia 5 na Câmara dos Deputados
ÉPOCA obteve cópias de notas fiscais da Bridge e de outra empresa de Bené, a BRO. A história das notas fiscais é repleta de coincidências, envolvendo as duas empresas e seu dono, a montadora Caoa, que fabrica e revende carros da sul-coreana Hyundai no Brasil, e Fernando Pimentel – que, antes de ser governador de Minas, era ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Pasta a que o BNDES é subordinado. Para a polícia, nem sempre coincidências são meras coincidências.
 
Fernando Pimentel na inauguração da fábrica da Caoa, em 2013 (Foto: Lailson Damasio/Palácio do Governo)
Em fevereiro de 2012, o BNDES financiou a construção de uma fábrica da Hyundai em Piracicaba, São Paulo, por R$ 218 milhões. Ainda em 2012, o governo lançou o programa Inovar Auto, como forma de modernizar a indústria automobilística em troca de isenções fiscais. Em 2013, a montadora foi habilitada para iniciar a produção do veículo ix35, além de importar carros com desconto no IPI. Uma das portarias assinadas por Pimentel autoriza a importação de 2 mil veículos. Uma das principais apostas da Caoa, a linha de produção do ix35 foi inaugurada em 17 de outubro de 2013, com a participação de Pimentel. Na ocasião, o fundador da Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, deixou claro qual era a importância da relação com o governo. “O Inovar Auto é que viabilizou esse nosso investimento de mais de R$ 600 milhões”, afirmou Andrade. É nesse ponto da cronologia que entram as notas fiscais a que ÉPOCA teve acesso. De acordo com elas, a Caoa repassou R$ 2,21 milhões às duas empresas de Bené, Bridge e BRO, entre outubro de 2013 e junho de 2014. Um desses depósitos, no valor de R$ 240 mil, foi realizado no dia 22 de outubro, cinco dias depois do discurso de Carlos Alberto e da visita de Pimentel à fábrica.

Um dos fatores a despertar a curiosidade era a natureza dos serviços prestados, sempre extremamente vaga. De acordo com uma das notas fiscais obtidas pela reportagem,  “estudo de processo produtivo usando como meio de pesquisa a internet”. O que significa isso? Procurar no Google? Talvez algo mais, pelo preço: R$ 265 mil. Outra nota segue a mesma lógica. “Estudo e planejamento de ações usando ferramentas tecnológicas existentes no mercado.” Bené, denunciado na quinta-feira, dia 30, pelo Ministério Público Federal por desvio de R$ 2,9 milhões em 14 contratos irregulares para a realização de eventos do Ministério das Cidades no período de 2007 e 2009, agora se revela um expert no uso de “ferramentas tecnológicas”. Segundo a Caoa, foram as empresas – de mesmo dono, vale dizer – que “ofereceram propostas de prestação de serviços, como é usual no mercado”. A Caoa não mostrou qualquer comprovante dos serviços prestados. A montadora afirma ainda que foram feitos estudos mercadológicos e estratégias comerciais no setor automobilístico.

Dos R$ 2,21 milhões recebidos da Caoa, a maior parte foi para a Bridge: R$ 1,46 milhão. Essa empresa foi o primeiro foco da investigação da PF, por ter sido usada para comprar um avião para Bené – o mesmo que foi alvo de uma batida policial em outubro do ano passado. O diretor é Ricardo Guedes, funcionário de Bené contratado por R$ 7 mil. À PF, ele disse que sabia apenas de um empreendimento, para a exploração de garimpo em Serra Pelada – nada a ver com as proezas tecnológicas contratadas pela Caoa. O próprio diretor da Bridge colocou dúvidas sobre os serviços da empresa. “A respeito da contabilidade da Bridge, informa que não tem certeza se os serviços referentes ao faturamento foram todos prestados”, disse em depoimento à PF obtido por ÉPOCA. A Bridge foi criada em 2011 pelo empresário José Appel (que assumiu o cargo de contador) e, desde 2013, é controlada por Bené por meio de Guedes (que já admitiu à PF que Bené é o verdadeiro dono).

Tanto Bridge quanto BRO, constatou a PF, são empresas de fachada. A BRO tem como sócios Bené e seu filho Paulo, de 21 anos. A empresa divide endereço com outras firmas do empresário, todas na lista de investigadas no inquérito da Operação Acrônimo. Bené é suspeito de fazer “confusão patrimonial” e ser o operador de Pimentel. Assim escreveu a PF:  “Fernando Pimentel seria o chefe da organização criminosa operada financeiramente por Benedito, grupo criminoso especializado em lavagem de capitais oriundos de desvio de recursos públicos e aplicação de parte dos valores branqueados em campanhas. Pimentel teria recebido diretamente vantagem ilícita em razão do cargo então ocupado”.

O advogado de Bené, José Luis Oliveira Lima, diz não poder se manifestar em razão do sigilo do inquérito. “No momento oportuno, meu cliente prestará os esclarecimentos devidos.” Procurado, Pimentel diz, por meio de seu advogado, desconhecer as contratações. Segundo Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, Pimentel “jamais fez qualquer pedido”. “A investigação tem se desenvolvido, infelizmente, com uma conotação política e a PF não possui nenhum indício sequer de qualquer irregularidade da conduta do governador”, afirma o advogado.

O BNDES afirma que não houve financiamento à Caoa, e sim à Hyundai, para a construção da fábrica para produzir o carro HB20. A Caoa afirma não ter relação com o financiamento à Hyundai. A montadora informa ainda que o Inovar Auto beneficiou outras empresas. “É um programa importante para a Caoa e para todas as outras 23 empresas do setor que participam igualmente do Inovar Auto.” A empresa afirma que os contratos com a Bridge e BRO foram regulares. Nem a Caoa nem o Ministério do Desenvolvimento informam o valor total das isenções fiscais recebidas pela montadora no Inovar Auto. Segundo a Pasta, não houve privilégios à Caoa e a apuração é feita pela Receita Federal. O advogado de José Appel, Daniel Gerber, afirma que a Bridge só passou a emitir notas quando Bené assumiu a empresa. “A relação com todos os clientes sempre foi pautada pelos limites da profissão, não cabendo ao contador questionar a documentação aparentemente legal que seus clientes apresentam. Estaremos  à disposição do Judiciário.”

Os repasses para a Bridge e BRO são o terceiro indício para uma mesma suspeita da PF: os incentivos do BNDES e do Ministério do Desenvolvimento podem ter sido facilitados por repasses a Fernando Pimentel. A mulher de Pimentel, Carolina Oliveira, é uma das principais suspeitas, junto com Bené. Ela recebeu R$ 236 mil da Pepper, que prestou serviços ao BNDES. E recebeu outros R$ 2,5 milhões do consultor Mário Rosa, que prestava serviço a empresas que receberam financiamentos do BNDES. Agora, ÉPOCA revela um novo caminho do dinheiro, por meio de Bené. O empresário, aliás, já era investigado por lavagem, depois de ter sido pego com R$ 113 mil em seu avião, durante a eleição do ano passado. Também é denunciado pelos desvios nos contratos com o  Ministério das Cidades. Faltava, contudo, desvendar como Bené ganhava dinheiro ligado à atuação de Pimentel no governo. Os documentos revelados por ÉPOCA fornecem novas pistas nesse sentido. O caso, em razão de Pimentel ser governador, é investigado no Superior Tribunal de Justiça

 

Uber capta US$ 1 bilhão e vale mais do que a Petrobras, afirma "Wall Street Journal"

Folha de São Paulo


O polêmico aplicativo de transporte privado Uber levantou US$ 1 bilhão com investidores e passou a ser avaliado em US$ 51 bilhões, de acordo com o "Wall Street Journal". A empresa, que tem apenas cinco anos, passou a ter um valor de mercado superior ao da Petrobras.


Celso Pupo - 24.jul.15/Fotoarena/Folhapress
Motoristas de táxi protestam contra Uber no Aterro do Flamengo
Motoristas de táxi protestam contra Uber no Aterro do Flamengo
Nesta sexta (31), a estatal brasileira valia R$ 145,7 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo. Os US$ 51 bilhões do Uber, convertidos pelo câmbio de R$ 3,42, equivalem a R$ 171 bilhões.
De acordo com o diário norte-americano, a nova rodada de investimentos contou com a participação da Microsoft e do conglomerado de mídia da Índia Bennett Coleman & Co. As empresas não comentaram.
O valor de mercado do Uber equivale ao recorde alcançado por uma start-up de tecnologia. Em 2011, o Facebook foi avaliado em US$ 50 bilhões depois de o Goldman Sachs oferecer a clientes ricos fora dos EUA ações da rede social.
A diferença é que, à época, o Facebook tinha quase sete anos, ante os cinco do Uber hoje. No ano seguinte, a rede de Mark Zuckerberg abriria capital na Bolsa. O Uber ainda não lançou ações no mercado.
Presente em mais de 300 cidades em todo o mundo, o Uber tem despertado a ira de taxistas, que os acusam de serviço pirata. A polêmica chegou ao Brasil, em cidades como Rio e São Paulo, que já tiveram protestos contra o aplicativo

"Dentro de suas atribuições"

Diogo Mainardi e Mário Sabino - O Antagonista


A Corregedoria do Conselho Nacional do Ministério Público arquivou a reclamação disciplinar feita por Lula contra o procurador Valtan Timbó Mendes Furtado, segundo a Folha.
Furtado instaurou um PIC para apurar tráfico de influência de Lula para a Odebrecht em obras financiadas pelo BNDES.
O corregedor nacional do MP, Alessandro Tramujas, disse que não houve irregularidades nas deliberações do procurador Ele “agiu dentro de suas atribuições”, de acordo com Tramujas.

FHC grita ao mundo que Dilma é honrada. O Brasil deve merecer essas pústulas que pululam na política

No mensalão, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava no chão.

Choramingava pelos cantos do antro ameaçando renunciar.

Aí, aí... FHC inibiu qualquer tentativa de abertura do processo de impeachment.

Sob o argumento de que o país ainda estava traumatizado pelo afastamento de Collor, o tucano disparou:

"Vamos deixá-lo sangrar..."

Sangrou tanto que se reelegeu e quatro anos depois elegeu Dilma, uma laranja para ninguém pôr defeito.

Entrementes, a quadrilha petista e seus puxadinhos continuaram assaltando os cofres públicos.

Dilma foi reeleita...

Mesmo com o petrolão nas manchetes e Lula e Dilma como protagonistas de uma bandalheira ainda maior do que o mensalão.

Aí, aí... vem FHC e grita ao mundo que Dilma é honrada.

O Brasil merece essas pústulas que pululam na política?

Romário: essa conta não fecha

Veja


Confrontado com o extrato de uma conta na Suíça, Romário 

voou para Genebra e negou ter dinheiro não declarado 

ao Fisco no exterior. Foi mesmo uma viagem




Senador Romário Faria (PSB-RJ)
Romário na Suíça: a visita ao BSI foi gol, mas o juiz pode ter apitado mão (Reprodução/Instagram)
"Falso." O carimbo vermelho sobre um extrato bancário. Essa imagem circulou freneticamente pelas redes sociais na semana passada impulsionada pelo senador carioca Romário de Souza Faria, o imortal craque que tantas alegrias deu aos brasileiros nos gramados e que tenta a mesma sorte na política. O extrato de uma conta-corrente no banco BSI, da Suíça, com saldo equivalente a 7,5 milhões de reais, havia sido publicado por VEJA na semana anterior. O carimbo vermelho foi colocado pelo senador depois da viagem a Genebra.
"Chateado! Acabei de descobrir aqui em Genebra, na Suíça, que não sou dono dos R$ 7,5 milhões", postou o ex-craque.
O senador Romário deve ter se tornado, na última semana, a primeira pessoa a voar para a Suíça motivada pelo extrato de uma conta que ele garante não possuir e depois anunciar, triunfante, que não tem mesmo.
Ele viajou acompanhado da ex-mulher Isabella Bittencourt, que já morou na Suíça, onde ainda tem família. Na quarta-feira, acompanhado de Isabella e de dois advogados, foi ao BSI. Tomou lá suas providências e saiu anunciando não ser dono daqueles milhões. O BSI, comprado no ano passado pelo brasileiro BTG Pactual, de André Esteves, se comprometeu com os advogados de Romário a se posicionar sobre o caso.
Procurado por VEJA antes da publicação da reportagem, Romário foi bem menos enfático. Disse ele: "Para ser sincero, não sei se fechei (contas na Europa). Mas nunca mais movimentei. Não tenho conhecimento dessa (na Suíça). Até agradeço você me dizer". 
Nas redes sociais, a princípio, Romário ainda não estava de todo certo: "É possível que tenha sobrado algum rendimento. Honesto e suado". 
A viagem-relâmpago à Suíça e a visita à agência do BSI de Genebra subiram o tom do discurso. Romário saiu de lá aliviado. VEJA publicou a reportagem sobre o senador Romário, um servidor público, cumprindo o papel mais nobre da imprensa. O extrato que ilustra a reportagem está nas mãos do Ministério Público Federal. Ao contrário de Romário, VEJA não tem nenhuma razão para duvidar da autenticidade do extrato que publicou. Essa conta, portanto, não fecha facilmente.

"O mau pagador de promessas", por Ruth de Aquino

Epoca

Devo, não nego. Pagarei quando puder. E com a ajuda de vocês. Governadores, prefeitos, deputados, senadores. Mas apelo sobretudo a você. Você pai ou mãe de família, que perdeu seu poder de consumo, perdeu o emprego, perdeu salário e crédito, perdeu conforto e esperança, perdeu economias, perdeu sua lojinha, sua microempresa, seu apartamento, seu carro. Perdeu até as estribeiras, porque se sente intimidado por gangues das ruas e dos palácios.
Você precisa vestir minha camisa, que é a camisa do Brasil, agora em tamanho menor devido à dieta argentina. Você tem de acreditar, mesmo que o PT tenha provado ser um mau pagador de promessas. Eu e o Guido no ano passado pedalamos a mesma bicicleta, aquela de dois lugares, para atropelar todas as contas que atravessavam nosso caminho glorioso. Mesmo assim você precisa se sacrificar.
Você precisa nos ajudar a manter bem altos os lucros dos bancos, porque eles sempre se dão bem, já reparou? Com a ajuda de cortes, câmbio e juros, os grandes tiveram lucros históricos. Você precisa aceitar calado a redução do salário, você precisa cuidar de seu rombo particular. Porque o meu rombo no primeiro semestre foi inédito na história, um deficit de R$ 1,6 bilhão de janeiro a junho. Um rombão, tudo é aumentativo por aqui, mensalão, petrolão, eletrolão.
Você precisa reunir a família, assim como eu reuni os meus parentes próximos e distantes, os governadores dos Estados. Para explicar que a gastança e o desperdício têm de parar. E, claro, eles entenderam que, se eu for atingida, eles vão junto. Como se não bastasse o Brasil perder selo internacional de bom pagador, ganhará o selo de mau gastador.
Você precisa sobretudo comprar nossa “pauta-bomba”, que é a seguinte: cortaremos na carne, na sua carne, entendeu? Não falo de churrasco de fim de semana, esse já era. Falo de cortes mais nobres. Cortes de gastos públicos, que eu e o Levy prometemos. Vamos cortar no sal grosso: no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), na Saúde e na Educação. Morô? Não, esse verbo não, lembra o sobrenome daquele juiz que não larga o meu pé nem o de meus companheiros empreiteiros. Juiz posudo, metido a italiano da gema, com ternos bem cortados e essa obsessão de lavar tudo a jato, como se a água e meu governo fossem acabar amanhã.
Você sabe que tem gordura nos hospitais e nas escolas, não? Gordura no chão, nos corredores, nas salas de cirurgia e de aula. Ah, você deixa esses itens do orçamento doméstico para cortar por último? Você preserva ao máximo a saúde e a educação de sua família e prefere cortar primeiro os supérfluos? Entendi: é porque você valoriza a vida e o futuro deles e a oportunidade real de crescimento digno e sustentável.
Por isso a classe média não vai para a frente, cai no cheque especial, paga juros escorchantes no cartão de crédito. E a gente (nós e os intelectuais do PT) tem ojeriza a esse pessoal conservador, não afeito a riscos, enfim, uma classe média reacionária. Não é uma categoria politizada. Além de ser gigante, difícil de ser manobrada, a classe média cultua a ideologia do bem-estar da família. E ponto.
Você também sabe que a gente gosta de dar esmola aos pobres e de adular os ricos. É a tal governabilidade, uma receita infalível. Posar de mãe de miseráveis e se locupletar com os grandes projetos. Vimos agora que o nuclear entrou na dança premiada. Minha geladeira vive abarrotada de energéticos para aguentar o tranco de nossa House of Cards.
Graças a Deus que lá também, no Congresso, acabou a mamata. E também a proteção que dávamos ao ex-PMDB comportado de Sarney. Agora o Congresso quer me derrubar, prefere o diretor da escola, aquele que parece uma esfinge e não diz nada, você sabe quem é, só espera mais um passo meu em falso. Bota falso nisso. Agosto começou e deveria ser menor. Vou arrumar umas viagens internacionais.
Já nos livramos da Catta Preta, a advogada de delatores que se mudará para Miami por medo. Você também tem medo, não? É a lógica de gangues que impera no país. Viu as cenas no Brás, em São Paulo, com cidadãos, muitos idosos, cercados e roubados por abutres? Você se sente ameaçado por taxas e impostos, por assaltantes, golpistas e policiais, por empresas de serviço, todo mundo tascando um pedacinho seu? Tente um pacto, como eu.
Esqueçam minhas pedaladas fiscais, me ajudem a aprovar minhas contas no TCU, não deixem que a Caixa e o Banco do Brasil cobrem de mim mais de R$ 1 bilhão em taxas dos programas sociais. Reclamem menos da inflação de hoje porque ela tende a piorar amanhã. Não critiquem inaugurações de clínicas sem médicos ou fechamento de escolas sem professores. Não somos um governo-bomba.

Sérgio Moro prorroga prisão de almirante e diz que ele deve provar serviços

Gabriel Mascarenhas e Rubens Valente - UOL


O juiz federal de Curitiba (PR) Sergio Moro decidiu na noite desta sexta-feira (31) prorrogar por mais cinco dias, até o próximo dia 6, as prisões do almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva e do executivo da Andrade Gutierrez Flavio Barra por suposto envolvimento em fraudes e corrupção na Eletronuclear, vinculada à Eletrobras, sob apuração na Operação Lava Jato.

Ambos estão presos em regime de prisão temporária desde o último dia 28 e, por isso, poderiam ser soltos a partir de amanhã, quando venceria o prazo máximo de cinco dias.

O Ministério Público Federal havia pedido as prisões preventivas de ambos, porém o juiz decidiu conceder mais prazo para que eles possam apresentar provas de serviços que a empresa de Othon, a Aratec, diz ter prestado a empreiteiras que justificassem pagamentos de R$ 4,5 milhões. Othon alegou que são traduções de sua filha e serviços de engenharia de seu genro.

"Em princípio, diante do histórico de falsidade nessa investigação, é necessário apresentar mais do que eventuais contratos, mas também prova dos serviços de consultoria ou engenharia prestados, com, se possível, provas que possam atestar que não foram produzidos a posteriori", escreveu o juiz.

Em sua decisão, o juiz mencionou que não decidiu pela preventiva por também levar em conta o "histórico profissional" de Othon, com "serviços relevantes prestados ao país na área de desenvolvimento da energia nuclear".

Em sua petição, a força tarefa do Ministério Público Federal afirmou que Othon não conseguiu comprovar os serviços da Aratec. Ao pedir a preventiva, mencionaram necessidade de "garantia da ordem pública, econômica, por conveniência da instrução criminal e para garantir a aplicação da lei penal".

"Não há nenhuma evidência de que foram prestados os serviços, não há nenhum produto da contratação. Nada foi encontrado na sede da CG Consultoria, nada com relação a essa contratação foi exibido pela Aratec e pelo investigado Othon. Absolutamente nada foi encontrado em relação a CG Consultoria nas buscas na Aratec e na residência de Othon", escreveram os procuradores.

Os procuradores também apontaram contradições entre o depoimento prestado por Othon à Polícia Federal e documentos apreendidos pela Lava Jato. Segundo Othon, os serviços da Aratec estariam ligados a serviços de tradução realizados por sua filha. Nos arquivos das empresas pagadoras e nas notas fiscais emitidas pela própria Aratec, contudo, os procuradores encontraram menções a serviços de consultoria, não de tradução de documentos.

Documentos da Receita Federal demonstram que a Aratec quadruplicou a sua receita a partir de 2009, depois que Othon assinou um aditivo com a empreiteira Andrade Gutierrez no valor de R$ 1,24 bilhão.

Para os procuradores, Othon teve "papel fundamental" na "organização criminosa que se instalou na Eletronuclear".

Segundo os investigadores, a Andrade Gutierrez "utilizou as empresas CG Consultoria, Deusthebras e JNobre Engenharia para passagem de valores da corrupção na Eletronuclear para Othon Pinheiro, num total aproximado de R$ 3,7 milhões entre 2007 e 2013".

Escritório dos EUA investigará Eletrobras em nome de investidores norte-americanos

Luciano Costa - Reuters


O escritório de advocacia Howard G. Smith, com sede na Pensilvânia, Estados Unidos, anunciou nesta sexta-feira que realizará uma investigação em nome de investidores norte-americanos que tenham comprado ações da Eletrobras, após notícias que associam a empresa à Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Segundo comunicado divulgado pelo escritório, a investigação tentará esclarecer se a empresa e seus executivos violaram as leis do mercado acionário norte-americano, divulgando informações enganosas a investidores, ou estão envolvidos em escândalos de corrupção e propina.
Dois escritórios de advocacia norte-americanos-- Rosen Law Firm e Gainey McKenna & Egleston-- já anunciaram a abertura de ações coletivas contra a Eletrobras na Justiça dos Estados Unidos.
Procurada pela reportagem, a Eletrobras não comentou o assunto imediatamente.
O diretor de Geração da holding Eletrobras, Valter Cardeal, e o diretor de Planejamento e Engenharia da Eletronorte, uma subsidiária do grupo, Adhemar Palocci, pediram licenciamento de seus cargos nesta sexta-feira enquanto durarem investigações internas sobre supostas irregularidades em projetos do setor elétrico.
Na terça-feira, o presidente licenciado da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, foi preso em uma nova fase da Operação Lava Jato, chamada de "Radioatividade" por investigar a formação de cartel na contratação das obras da usina nuclear de Angra 3.

Camargo Corrêa vai colaborar com investigações no setor elétrico

Raquel Landim - UOL


A construtora Camargo Corrêa firmou nesta sexta-feira (31) um acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e vai colaborar com as investigações de um cartel na licitação da usina nuclear de Angra 3, da Eletronuclear (subsidiária da Eletrobras).

Os indícios fornecidos pela construtora apontam que sete empresas –Andrade Gutierrez, Odebrecht, Queiroz Galvão, EBE, Technit, UTC, além da própria Camargo Corrêa– fizeram um conluio para "fixar os preços" e "dividir o mercado" entre si.

O acordo foi assinado em conjunto com o Ministério Público Federal do Paraná, que investiga a Operação Lava Jato. Na terça-feira (28), a Polícia Federal deflagrou a 16 fase da Operação Lava Jato, batizada de Radioatividade, com foco em contratos firmados pela Eletronuclear para as obras da Angra 3.

As investigações apontam que o presidente licenciado da Eletronuclear, o almirante reforma Othon Luiz Pinheiro da Silva, recebeu R$ 4,5 milhões em propina.

Funcionários e ex-funcionários da empresa também participam do acordo entre eles o ex-presidente Dalton dos Santos Avancini, que também se tornou delator nas investigações da Operação Lava Jato.

Pelo acordo de leniência, que já vinha sendo negociado há quatro meses, a Camargo Corrêa confessa sua participação, fornece informações e apresenta documentos que comprovem o alegado cartel. Por sua colaboração, a Camargo Corrêa pode escapar da multa pela prática de cartel ou até ter o valor reduzido em dois terços.

Em nota, a Camargo Corrêa informou que "as informações e documentos apresentados as autoridades são fruto de investigações internas conduzidas pela companhia, com auxílio de especialistas externos". A nota prossegue informando que a empresa "reafirmou perante o Cade o seu compromisso de colaborar com as investigações e manter os esforços de aprimoramento dos mecanismos internos de compliance".

Os alvos da operação
ELETROBRAS

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa também sustenta que, a exemplo do que ocorria na Petrobras, empresas privadas também formaram cartéis para atuar em outras áreas do governo: "Eletrobras, construção de hidrelétricas, portos e aeroportos", elencou, em delação premiada, reafirmando o que já havia dito à CPI da Petrobras.

A Eletrobras tem papéis na Bolsa de Nova York, onde é obrigada a prestar informações detalhadas de suas contas. Em abril, a estatal anunciou que não publicaria seu balanço nos EUA devido ao envolvimento na Lava Jato. Isso causou uma perda nas ações da companhia, o que levou investidores a preparar um processo contra a empresa.

O atraso na divulgação dos números se deve à necessidade de uma auditoria interna após o depoimento à Justiça de Dalton Avancini.

Agora, a Eletrobras percorre agora o mesmo caminho da Petrobras, pivô do esquema investigado pela Lava Jato. A Petrobras demorou cinco meses para publicar seu balanço nos EUA, até que uma auditoria interna chegasse ao valor de perdas sofridas com a corrupção (R$ 6,3 bilhões).

Desde o final do ano passado, a Petrobras foi alvo de cinco ações coletivas de indenização nos Estados Unidos (mais tarde unificadas), além de ações individuais de fundos de investimento.

Os fantasmas de agosto

Josie Jeronimo - IstoE


Mês trágico para a política brasileira pode selar o destino da presidente Dilma, que enfrentará a abertura de CPIs no Congresso, o julgamento de suas contas no TCU e uma manifestação recorde em favor do impeachment


No que dependesse dos políticos brasileiros, o mês de agosto poderia ser eliminado do calendário nacional. Ao longo da história, nos 31 dias do oitavo mês do ano, o País viveu grandes infortúnios na seara política. Em 24 de agosto de 1954, o presidente Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no coração. Sete anos e um dia depois, foi a vez de o presidente Jânio Quadros renunciar ao cargo. Em 1976, o dia 9 de agosto ficou marcado pelo trágico acidente de carro, na rodovia Presidente Dutra, que ceifou a vida do ex-presidente Juscelino Kubitschek. 
Os desgostos de agosto não cessaram com redemocratização do País. Em 16 de agosto de 1992, os caras-pintadas foram às ruas pedir o impeachment do presidente Fernando Collor, numa mobilização decisiva para sua saída do poder. E, no dia 13 de agosto do ano passado, o ex-governador de Pernambuco e então presidenciável Eduardo Campos morreu aos 49 anos, vítima de um acidente aéreo em Santos (SP).

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MÊS DO DESGOSTO
Pode estar em jogo, nas próximas semanas, o mandato de Dilma Rousseff

Este ano, o mês do mau agouro pode complicar ainda mais a situação da presidente Dilma Rousseff. Às voltas com uma crise político-econômica interminável, Dilma enfrentará uma quadra decisiva para sua permanência na Presidência. Na próxima semana, ela terá de encarar um Congresso conflagrado. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, sedento de vingança após ter sido alvejado pelas investigações da Lava Jato, marcou para 6 de agosto a instalação da CPI do BNDES e ofereceu amplo apoio à criação da CPI dos Fundos de Pensão. 
Ambas as investigações tiram o sono do governo. Na volta do recesso, Cunha vai analisar, ainda, 11 pedidos de impeachment que mandou desarquivar. Entre eles, o documento assinado por Carla Zambelli, fundadora e Porta Voz do Movimento Nas Ruas. 
O pedido de afastamento redigido pelo movimento se apoiará nas irregularidades da prestação de contas do governo, em análise no TCU. As armadilhas contra o governo passam por uma sabotagem ao pacote de ajuste fiscal. Entre os projetos estão a correção do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e modificações no projeto que reduz as desonerações na folha de pagamento.
Antes da segunda quinzena, o TCU vai julgar as contas do governo de 2014. O tribunal já deu todos os sinais de que pretende rejeitar os argumentos do Planalto sobre as manobras fiscais utilizadas no exercício anterior para maquiar o mau desempenho da economia. Na terça-feira 28, Eduardo Cunha anunciou que vai tirar da frente a lista de projetos pendentes e votar as contas dos governos de 1992, 2002, 2006 e 2008 que ainda não foram analisadas. 
O objetivo é limpar a pauta para a apreciação das contas de Dilma de 2014. Caso o TCU as reprove, o destino é o Congresso. Para piorar o quadro para Dilma, a análise das contas públicas e a instalação de CPIs coincidirão com a grande manifestação agendada para o dia 16 de agosto cujo mote é o impeachment da presidente, mesma data em que estudantes foram às ruas pedir a saída de Collor em 1992. O protesto promete ser o maior desde a reeleição da petista.

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A previsão de dias turbulentos fez Dilma mobilizar sua tropa de choque. Na segunda-feira 27, ela reuniu 12 ministros e o vice-presidente Michel Temer para discutir estratégia de diálogo direto com o Congresso. A intenção do Planalto é evitar intermediários nas conversas com a base aliada para reduzir a influência de Cunha enquanto o presidente da Câmara estiver em clima de guerra com o governo. “Os parlamentares são capazes de verificar o que pode prejudicar e ajudar o País”, afirmou Michel Temer. 
Dentro dessa estratégia para amansar o Congresso, Dilma liberou R$ 1 bilhão em emendas e distribuiu mais de 500 cargos nos Estados. Na quinta-feira 30, a presidente reuniu os governadores no Planalto. Era a última cartada de Dilma na tentativa de escapar ilesa pelas próximas semanas. Mas seus objetivos não foram alcançados. Além de não conseguir o apoio dos chefes dos Executivos estaduais para barrar possíveis pedidos de impeachment, Dilma conseguiu desagradá-los ainda mais ao falar o que eles não queriam ouvir. Em seu pronunciamento, disse que a situação vivida pelo País era responsabilidade de todos. 
Ou seja, tentou associá-los à crise criada e agravada pelo governo de Dilma. O único consenso do encontro foi o apoio do governadores às medidas do ajuste fiscal, que ainda precisam passar pelo Congresso. Muito pouco para o que almejava Dilma.
Fotos: Alan Marques/Folhapress; Agência ISTOÉ; Antonio Lucio/AE 

O almirante põe a Marinha na Lava Jato

Claudio Dantas Sequeira - IstoE



Considerado uma referência em estudos sobre o uso de combustível nuclear, Othon Pinheiro, preso na última semana acusado de receber R$ 4,5 milhões em propina, leva a força naval ao epicentro do Petrolão


Nova personagem da investigação da Lava Jato, a Marinha havia sido mencionada pela primeira vez no esquema numa negociata articulada pelo doleiro Alberto Youssef com o ex-deputado petista André Vargas. O projeto de sociedade entre a Labogen, a EMS e o Laboratório da Marinha, para a produção de um “viagra genérico”, previa investimento total de R$ 150 milhões. Renderia a ambos dinheiro suficiente para alcançar a “independência financeira”, conforme revelou o doleiro numa mensagem de celular ao então parlamentar. 
Descoberto, o plano fez água. Na época, a força-tarefa da Lava Jato debruçava-se sobre a atuação do petista e do doleiro sem se preocupar com os motivos que levaram a Marinha a entrar naquele barco. Meses depois, a Polícia Federal descobriu que o irmão de Vargas era sócio oculto de uma empresa que fechou mais de R$ 87 milhões em contratos com órgãos públicos, como Serpro, Caixa e o Ministério da Saúde, a IT7 Sistemas. Ante estas constatações, procuradores e delegados passaram a se questionar quem estaria por trás da participação militar no Petrolão. 
A prisão, na terça-feira 28, do almirante Othon Pinheiro da Silva ajuda a responder essa pergunta. Mas também fazem surgir outras questões. Por que um militar de alta patente, aposentado, com uma longa folha de importantes serviços prestados ao País, se envolveria nessa complexa rede de corrupção revelada pela Lava-Jato?

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OUTRA VERSÃO
Fontes da Marinha dizem que os R$ 4,5 milhões em propina
para Othon Pinheiro podem ser recursos destinados a ações
secretas de inteligência naval no exterior

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Na Marinha, segundo apurou ISTOÉ, fala-se que Othon delinqüiu para conseguir a tão sonhada tecnologia de navegação do submarino nuclear para embutir o reator brasileiro. “Para fazer uma omelete é preciso quebrar alguns ovos”, disse à reportagem um militar próximo ao programa nuclear. Ainda corre a versão, de acordo com fontes da Marinha, de que os R$ 4,5 milhões pagos à Aratec, empresa em nome de Othon cujo nome é inspirado no centro de pesquisas de Aramar, não foram propina provenientes de contratos de obras da Usina Angra 3, no Rio de Janeiro., como afirmou a Polícia Federal ao prendê-lo na última semana. Os recursos teriam sido destinados ações secretas de inteligência naval no exterior. Basicamente, dinheiro usado para pagar informantes.
Se isso for verdade, a questão extrapolaria o âmbito do crime de corrupção para ganhar feições de um escândalo envolvendo a segurança nacional. Claro que isso precisa ser bem investigado, pois pode apenas tratar-se de uma estratégia de defesa do almirante. Seria uma espécie de releitura do que ocorreu no fim da década de 70 e início dos anos 80 com o chamado programa nuclear paralelo, que tinha como objetivo a construção de uma bomba atômica. 
Othon, que concebeu o projeto das ultracentrífugas de enriquecimento de urânio, pertencia ao seleto grupo do programa, coordenado pelo cientista Rex Nazareth, o “pai da bomba”, que no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a ocupar uma cadeira no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência. Para financiar o programa nuclear paralelo, a Marinha desviou recursos para contas bancárias secretas, as chamadas “contas Delta”, e realizou atividades de espionagem no exterior – que incluíram EUA, Inglaterra, Alemanha, França e Holanda.

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Formado em engenharia nuclear pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), Othon chefiou a Coordenadoria para Projetos Especial da Marinha (Copesp) por 15 anos. Como se sabe, o Brasil não chegou a desenvolver a “bomba”, mas conseguiu dominar o ciclo de produção do combustível atômico para uso pacífico. No governo do ex-presidente Itamar Franco, surgiram novos indícios de problemas na administração de verbas públicas. Não houve acusações. Em 1994, o almirante completou seu tempo de serviço militar e entrou para a reserva. Voltou em 2005, pelas mãos de Lula, para presidir a Eletronuclear. 
Era intocável. Othon promoveu o plano de aquisição do Scorpéne, pois considerava como a última oportunidade para concluir seu antigo projeto. A posição favorável ao submarino francês, porém, tinha forte oposição dentro da própria Marinha. Um dos críticos, curiosamente, também foi preso anos atrás por suposto envolvimento em notório caso de corrupção. O almirante Euclides Duncan Janot de Matos caiu na Operação Luxo da Polícia Federal, acusado de usar sua influência para fraudar licitações na Marinha e na Petrobras, em prol do grupo Inace e empresas coligadas. 
O esquema envolveria o uso de empresas laranjas sediadas nos EUA. Janot Matos chefiou o Estado Maior da Marinha e foi cotado para comandante, mas acabou transferido para a reserva por Lula, sendo substituído por Julio Soares de Moura Neto, que chegou ao comando em 2007 e lá ficou até 2015. Enquanto Moura Neto e Othon preferiam a compra dos submarinos do estaleiro francês DCNS, Janot de Matos liderava o grupo que defendia a compra de submarinos alemães. O Brasil chegou a contratar projetos alemães, mas a experiência foi malsucedida. Se condenado, Othon pode ser julgado novamente pelo Superior Tribunal Militar, correndo o risco de perder a patente e os benefícios salariais. Segundo o STM, Othon responderá pelo procedimento administrativo conhecido como “Representação para declaração de indignidade ou incompatibilidade para o oficialato”.

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Colaborou Josie Jeronimo
Fotos: Fernando Frazão/Agencia Brasil; JOÃO LAET/AG. O DIA /ESTADÃO CONTEÚDO