sexta-feira, 31 de julho de 2015

"O colapso irrecuperável do petismo", por Reinaldo Azevedo

Folha de São Paulo


O "petrolão" já tem uma derivação: o "eletrolão". Com mais algumas enxadadas, novas minhocas podem brotar. Quem sabe o "estradão", "meu casão meu vidão", "saudão", "escolão", "pacão"... E quantos outros aumentativos vocês queiram rimar aí para indicar um estado que foi literalmente assaltado pelo crime e que não tem solução.

O governo desapareceu. Dilma se alimenta de algumas esperanças que, embora plausíveis, têm pouco efeito prático para ela. Pensemos em Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. A sua situação vai, por desdobramento óbvio, se agravar –afinal, é certo que será denunciado por Rodrigo Janot.

Digamos, só por hipótese, que Cunha saísse de cena. Dilma ficaria rigorosamente onde está. Seu discurso dialoga cada vez mais com os rinocerontes que batem à porta. A mais recente contribuição da presidente, todos vimos, foi anunciar que, tão logo cumpra no ProUni a meta que faz questão de não ter, pretende dobrá-la. 

Fez tal raciocínio especioso uma vez. Achou pouco. Repetiu-o. A claque aplaudiu.

Em todas as outras crises, antes ou depois de 1964, sempre houve ao menos com quem conversar. Quando a conversa falhou... Conversar sobre o quê? Não precisa ser sobre um arranjo de compadres, táticas ou estratégias para conter as investigações ou conchavos, conluios e conspiratas. Há, é evidente, um núcleo de interesses que não diz respeito ao governo ou à oposição, mas ao país. Até Lula, apesar dos discursos rombudos, mantinha interlocutores.

Desta feita, não há ninguém, o que decorre também das escolhas feitas pela presidente para cuidar da política. O vice, Michel Temer, reconheça-se, até que tenta esfriar a crise com falas moderadas, ensaiando a constituição de um núcleo de governabilidade no Congresso, mas a realidade insiste em atropelá-lo. Eis aí o "eletrolão" tomando vulto, com todos os elementos necessários para causar um curto-circuito também no PMDB.

Até João Santana, competentíssimo na sua área, mostra que se deixou contaminar pelo clima de bunker sitiado. O ator que vai conduzir o programa do partido na TV, no dia 6, é uma espécie de "hater" profissional, que sempre escolheu com os críticos do governo, nos embates nas redes sociais, as armas da agressão verbal e da desqualificação. Na prática, Dilma e o PT vão convocar o megaprotesto do dia 16.

Esse costuma ser o fim de governos em crise. Mas estamos apenas no começo. É o colapso do petismo. Não sobrou ninguém nem para acender a luz.
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Há um erro lógico irrecuperável no raciocínio de Bernardo Mello Franco, nesta Folha, ao afirmar que a prisão do vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, presidente da Eletronuclear, "serve de alerta" para os que defendem "a volta dos militares". Não serve. Se servisse, seria o contrário: lembraria como são poucos os militares envolvidos em lambança. Se um militar eventualmente corrupto conspurca a categoria, as centenas de civis flagrados com a boca da botija provariam a inviabilidade da democracia. Aí só restaria a ditadura dos bons, a tal "Politeia" platônica... A propósito: alguém relevante defende a volta do governo fardado? A ditadura não é ruim porque militar ou civil. Tampouco se deve indagar se ela funciona (China) ou não (Cuba). Devemos repudiá-la por imperativo ético. Aí a gente pode viajar no Platão que vale a pena.