Pedro Marcondes de Moura, Aline Ribeiro e Harumi Visconti - Epoca
Preso na Lava Jato, Othon Pinheiro tem um sócio investigado no Brasil e na Suíça pelos escândalos da Alstom e do Metrô paulista
Não eram nem 6 horas da manhã da terça-feira, dia 28, quando uma caminhonete preta estacionou em local proibido num centro comercial em Barueri, na Grande São Paulo. Convencidos do direito de permanecer na vaga, seus quatro ocupantes discutiram com os manobristas do prédio e, só depois de o quiproquó esquentar bem, decidiram se identificar. Eram policiais federais à paisana, cumprindo um dos 30 mandados de busca e apreensão da 16ª fase da Operação Lava Jato. Estavam ali para investigar a Aratec Engenharia. Até fevereiro, a empresa pertencia ao vice-almirante da Marinha Othon Pinheiro da Silva, presidente licenciado desde abril da estatal Eletronuclear. Seu envolvimento levou as investigações dopetrolão à área de energia, num desdobramento já apelidado deeletrolão. Enquanto parte da operação se desenrolava em Barueri, Othon se tornava, no Rio de Janeiro, o primeiro militar preso na investigação. Ele é também um dos pais do programa nuclear brasileiro.
Othon é acusado de ter usado o cargo na Eletronuclear, que assumiu em 2005, para exigir propina de empreiteiras. Em troca, acreditam os investigadores, facilitava a obtenção de contratos da construção da Usina Nuclear de Angra 3, estimada em R$ 15 bilhões. Só nas contas da Aratec, Othon recebeu R$ 4,5 milhões, pelo que indica a investigação até agora. Naquela manhã de terça-feira, os agentes da PF passaram seis horas na empresa. Saíram de lá com um malote cheio que, a depender do conteúdo, poderá complicar a situação de Othon. O vice-almirante e sua Aratec são sócios da Epcint, do lobista José Amaro Pinto Ramos, suspeito de pagar propina a administradores públicos nos dois principais escândalos decorrupção nas gestões tucanas no Estado de São Paulo: o caso Alstom e o cartel dos trens do Metrô. Documentos obtidos por ÉPOCA mostram a conexão comercial entre os dois. Por meio de suas empresas, Othon e José Amaro são sócios na companhia Hydro Geradores e Energia. No quadro social da Hydro há outras duas empresas, BBT Energia e Emexport.
Com escritórios nos Estados Unidos e na França, José Amaro figura entre os principais lobistas do Brasil. Trabalha para multinacionais, em especial em contratos com o poder público. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, ele foi o responsável por colocar em contato, em 1994, a equipe de campanha do então candidato à Presidência Fernando Henrique Cardoso com o estrategista político americano James Carville, integrante da campanha vitoriosa do ex-presidente americano Bill Clinton. José Amaro é investigado na Suíça por usar contas bancárias do país europeu no cartel do Metrô paulista – em que, com anuência de agentes públicos, multinacionais se associaram para superfaturar licitações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), entre 1998 e 2008. O prejuízo ao Erário foi estimado em R$ 834 milhões.
Com escritórios nos Estados Unidos e na França, José Amaro figura entre os principais lobistas do Brasil. Trabalha para multinacionais, em especial em contratos com o poder público. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, ele foi o responsável por colocar em contato, em 1994, a equipe de campanha do então candidato à Presidência Fernando Henrique Cardoso com o estrategista político americano James Carville, integrante da campanha vitoriosa do ex-presidente americano Bill Clinton. José Amaro é investigado na Suíça por usar contas bancárias do país europeu no cartel do Metrô paulista – em que, com anuência de agentes públicos, multinacionais se associaram para superfaturar licitações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), entre 1998 e 2008. O prejuízo ao Erário foi estimado em R$ 834 milhões.
Há investigações paralelas em andamento na Polícia Federal e nos Ministérios Públicos estadual de São Paulo e federal, para elucidar o envolvimento de José Amaro na fraude metroferroviária. No caso Alstom, existe uma ação do Ministério Público paulista contra José Amaro. A acusação é que José Amaro fez parte de um esquema de pagamento de propina da multinacional francesa, em troca de um contrato com a estatal Empresa Paulista de Transmissão de Energia (EPTE). Nesse caso, até agora, 11 envolvidos, como ex-dirigentes da estatal de energia, tornaram-se réus na Justiça Federal. Aguardam julgamento. Segundo o advogado de José Amaro, Thiago Nicolai, seu cliente não é lobista nem está envolvido com os casos de corrupção.
Na terça-feira, dia 28, a reportagem esteve nos endereços informados na Junta Comercial de São Paulo como sedes da Aratec e da Hydro. Ambas estão registradas no mesmo endereço, mas nenhuma delas funciona no local nem é conhecida por quem trabalha ali. ÉPOCA procurou sócios e administradores da Hydro. A empresa foi fundada em 2007, com o propósito de fabricar geradores. O advogado de José Amaro e um representante da Emexport afirmam que a Hydro parou de funcionar por volta de 2010. Segundo os registros na Junta Comercial e na Receita Federal, no entanto, a companhia se mantém ativa e apta a emitir notas fiscais até hoje.
>> Delação da Camargo Corrêa envolve Angra 3
No Ministério da Fazenda, a Aratec informa outro endereço: o tal centro comercial em Barueri, visitado pela PF. Segundo quem trabalha no local, a sala é usada uma ou duas vezes por semana. Entre 2010 e 2012, a Aratec não tinha funcionários. Passou a ter um em 2013, de acordo com a PF. Em fevereiro, Othon transferiu sua parte na sociedade a familiares – fato que intrigou os investigadores. O período coincide com as primeiras notícias sobre o teor da delação de Dalton Avancini, ex-diretor presidente da empreiteira Camargo Corrêa. Ele afirmava ter pagado propina a Othon. Procurado, o advogado Helton Marcio Pinto, responsável pela defesa do vice-almirante, não foi localizado. A filha de Othon e sócia administradora da Aratec, Ana Cristina Toniolo, não quis falar com a reportagem.
No Ministério da Fazenda, a Aratec informa outro endereço: o tal centro comercial em Barueri, visitado pela PF. Segundo quem trabalha no local, a sala é usada uma ou duas vezes por semana. Entre 2010 e 2012, a Aratec não tinha funcionários. Passou a ter um em 2013, de acordo com a PF. Em fevereiro, Othon transferiu sua parte na sociedade a familiares – fato que intrigou os investigadores. O período coincide com as primeiras notícias sobre o teor da delação de Dalton Avancini, ex-diretor presidente da empreiteira Camargo Corrêa. Ele afirmava ter pagado propina a Othon. Procurado, o advogado Helton Marcio Pinto, responsável pela defesa do vice-almirante, não foi localizado. A filha de Othon e sócia administradora da Aratec, Ana Cristina Toniolo, não quis falar com a reportagem.
>> PF mira irregularidades em Angra 3 em nova fase da Lava Jato
A prisão do vice-almirante, de 76 anos, constrange a Marinha não apenas por sua patente. Othon é um engenheiro nuclear com pós-graduação pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e ocupou cargos-chave no programa nuclear brasileiro desde 1979. Aposentou-se em 1994 e é uma referência intelectual para os colegas. Retirou-se após 39 anos nas Forças Armadas. Era uma carreira brilhante que chega, agora, a uma encruzilhada sombria.
A prisão do vice-almirante, de 76 anos, constrange a Marinha não apenas por sua patente. Othon é um engenheiro nuclear com pós-graduação pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e ocupou cargos-chave no programa nuclear brasileiro desde 1979. Aposentou-se em 1994 e é uma referência intelectual para os colegas. Retirou-se após 39 anos nas Forças Armadas. Era uma carreira brilhante que chega, agora, a uma encruzilhada sombria.