Daniel Carvalho e Daiene Cardoso - O Estado de São Paulo
Após adovogada dizer em entrevista que tem sido 'ameaçada insistentemente', parlamentar insinuou que ela esteja se 'vitimizando' para ocultar 'atos ilícitos' e cobrou sua ida à comissão para esclarecer declarações
O presidente da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB), cobrou que a advogada Beatriz Catta Preta, que defendia nove envolvidos com o esquema de corrupção da estatal, vá à Comissão Parlamentar de Inquérito e diga “pessoalmente” quem está a ameaçando. Em meia hora de entrevista na manhã desta sexta-feira, 31, Motta negou que a CPI e a empresa de espionagem Kroll estejam sendo usadas para intimidar a advogada e retaliar delatores. Ele também negou ter o objetivo de derrubar a Operação Lava Jato que investiga, entre outros, políticos como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No entanto, ele admitiu que CPI executa uma “investigação política”.
“Ela tem que esclarecer quem está ameaçando sua família. A gente quer saber quem ameaçou a doutora Catta Preta”, disse Hugo Motta. O presidente da CPI acusou Catta Preta de se vitimizar e insinuou que a advogada pode estar usando deste recurso para ocultar “atos ilícitos”. “Essa vitimização não vai nos intimidar”, afirmou, garantindo que a convocação da advogada está mantida, apesar de ainda não ter marcado data.
Motta disse que as denúncias de Catta Preta feitas ao Estado e ao Jornal Nacional são “infundadas” e negou perseguição à advogada. Apresentando um cronograma de atividades da CPI, ele afirmou que o requerimento para convocá-la para prestar depoimento à comissão foi aprovado antes da delação em que o lobista Julio Camargo acusou Cunha de pedir propina no valor de US$ 5 milhões. O presidente da CPI negou saber que Cunha, seu padrinho político, já tinha conhecimento prévio de que seria delatado.
Ele disse que o requerimento de convocação, apresentado pelo deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), outro aliado de Cunha, está dentro da lei e não pode ser interpretado como tentativa de intimidação à advogada. Segundo Motta, o requerimento foi aprovado por partidos que vão da “extrema esquerda, como o PSOL, à extrema direita, como o PSDB”.
O presidente da CPI voltou a colocar sob suspeita a origem do dinheiro utilizado para pagar os honorários de Catta Preta. “Existem indícios que estão sendo apurados”, afirmou Motta, que, no entanto, não detalhou quais os indícios nem quem os está apurando. Ele negou que Catta Preta seja alvo da empresa de espionagem Kroll, contratada pela CPI para investigar delatores, ex-diretores da Petrobras e empreiteiros. Negou também que qualquer outra instituição esteja investigado a advogada a mando da CPI. “Ela usa a vitimização para não explicar a origem de seus honorários”, afirmou Motta.
Apesar de não admitir publicamente que a Kroll está investigando quatro pessoas prioritariamente, entre elas Julio Camargo, ele enfatizou não haver retaliação nos trabalhos da empresa de espionagem e que não se pode colocar delatores “no pedestal”. “Quem garante que os delatores não estão mentindo? São corruptos confessos”.
Na entrevista, Motta também rebateu a declaração da defesa de Camargo segundo a qual as últimas medidas tomadas pela CPI visam “desmoralizar a investigação” e que o que está em vigor é a “moral da gangue”. “A gangue que o povo brasileiro está vendo é a que assaltou a Petrobras e que o cliente dele faz parte”, disse Motta.