O Ministério da Fazenda acredita que já está na conta dos investidores do programa de concessões o risco de perda do selo de bom pagador pelo Brasil.
Segundo Paulo Correa, secretário de Acompanhamento Econômico do ministério, o governo, ao elevar as taxas de retorno previstas para os projetos, tentou se antecipar à piora da percepção do país no exterior.
Nas últimas semanas, os técnicos da equipe econômica subiram as taxas de retorno estimadas para as concessões de rodovias (de 7,2% ao ano para 9,2%), de portos (de 8% para 10%) e de aeroportos (de 6,6% para 8,5%).
"As atualizações que fizemos já refletiam um pouco o aumento desse risco-país."
Ele admite, no entanto, que uma possível perda do grau de investimento, que atesta a capacidade do país de pagar sua dívida, vai afastar grandes investidores institucionais, que não investem em países considerados especulativos.
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Na terça-feira (28), a agência Standard & Poor's alterou de estável para negativa a perspectiva para a classificação de risco do Brasil, aumentado as chances de o país ser rebaixado em breve. Falta apenas um degrau para o Brasil perder seu selo de bom pagador pela S&P.
Nas rivais Moody's e Fitch, o país está dois degraus acima do grau especulativo.
"É claro que não é um ambiente ideal para desenvolver um programa de concessões, mas estamos confiantes de que isso não ocorrerá [perda do grau de investimento]."
Principal responsável pela condução das concessões no Ministério da Fazenda, o secretário diz que devem ocorrer mais quatro leilões de rodovias neste ano e que as licitações para aeroportos e portos ficarão para o início do ano que vem.
Os leilões de ferrovias estão pendentes de ajustes na legislação, mas a expectativa é realizá-los até o fim de 2016. Dos R$ 198 bilhões de investimentos previstos no pacote de concessões, os projetos de ferrovias respondem por R$ 86,4 bilhões.
Outro entrave para os leilões é a Operação Lava Jato, que vai tirar do páreo todas as maiores construtoras brasileiras, que investiam significativamente em projetos de infraestrutura.
Para minimizar o impacto, o governo está fazendo uma ofensiva no exterior para atrair operadores experientes. Além de Nova York, onde o programa de concessões foi lançado, os técnicos brasileiros já estiveram em Londres e Cingapura.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
REFORMAS
Segundo Correa, o programa de concessões, sozinho, não fará o país voltar a crescer. Ele diz que o Brasil precisa de reformas microeconômicas, que já estão em gestação no governo, para alterar sua estrutura produtiva, preparando o país para acordos de livre-comércio.