sábado, 31 de janeiro de 2015

A guerra dos tronos no PT

Alberto Bombig - Epoca

As facções internas do PT lutam pela hegemonia no partido. Em entrevista, a senadora Marta Suplicy expôs as feridas abertas



Na série de TV Game of Thrones, os verões duram décadas e os invernos uma vida inteira. Em busca do trono de ferro de Westeros, o país fictício da série produzida nos Estados Unidos e exibida no Brasil pelo canal HBO, clãs envolvem-se numa luta encarniçada. No PT, os invernos não duram uma vida inteira, mas o verão de 2015 pode começar a determinar a hegemonia no partido na próxima década. Por isso, as várias facções petistas, tal qual os clãs de Westeros, já estão engajadas numa infinidade de conspirações ardilosas. No horizonte das disputas, estão os tronos oferecidos pelas eleições de 2016 e de 2018.

O episódio mais quente da série petista até agora teve como protagonista a senadora Marta Suplicy (SP), ex-ministra de Dilma e ex-prefeita de São Paulo. Estrela cadente do PT, ela ousou, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, quebrar dois dogmas do partido. Intrigou publicamente a presidente Dilma Rousseff com seu padrinho Luiz Inácio Lula da Silva e, declarando-se indignada com a sucessão de escândalos em que petistas se envolveram, cobrou novas práticas do partido. “Ou o PT muda ou acaba”, disse Marta.

Marta decidiu pregar a transformação do PT porque quer novamente ser candidata a prefeita de São Paulo. Sem espaço no partido para se opor à candidatura à reeleição do prefeitoFernando Haddad, ela articula sua saída para outra sigla. A senadora negocia seu passe com partidos que pretendem formar uma frente nas eleições municipais de 2016: Solidariedade, PSB e PPS. Em São Paulo, esses três partidos estão na base de apoio ao governadorGeraldo Alckmin, que deu aval à negociação. Os articuladores da frente acreditam que  Marta poderá travar contra Haddad uma batalha pelos votos das populosas zonas Sul e Leste da capital, que foram determinantes para a vitória do PT nas eleições municipais de 2012. Marta acha que o petismo demorará muitos anos para se recuperar em São Paulo – Estado onde tanto Dilma como Alexandre Padilha, o candidato do partido ao governo em 2014, sofreram derrotas acachapantes para os tucanos. Marta quer firmar-se como a anti-Dilma de São Paulo e aposta no fracasso da presidente em seu segundo mandato.


O objetivo inicial de Marta era se transferir para o PMDB. No Senado, onde tem mandato até 2018, Marta se aproximou bastante de alguns líderes peemedebistas, como os senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP). Mas Haddad praticamente fechou a porta do PMDB para Marta na semana passada ao nomear o peemedebista Gabriel Chalita para a Secretaria da Educação da capital paulista. A escolha de Chalita teve o aval de Lula e do vice-presidente, Michel Temer, e acabou servindo como um contra-ataque de Haddad à ofensiva de Marta. O mais provável a partir de agora é que Haddad e o PMDB de Chalita estejam juntos na eleição de 2016 em São Paulo.

Em sua movimentação rumo à disputa da prefeitura de São Paulo, Marta acabou expondo outros conflitos entre os petistas. Na entrevista ao Estado de S. Paulo, ela escancarou a guerra fratricida que já opõe, por causa de 2018, a ala dos palacianos (os petistas fiéis a Dilma e abrigados no Palácio do Planalto) à dos empedernidos seguidores  do ex-presidente Lula, os lulistas. Lula autorizou sua tropa a espalhar que ele voltará a ser candidato daqui a quatro anos. Na entrevista, Marta disse o que muitos petistas murmuravam nas coxias. Aloizio Mercadante, o chefe da Casa Civil de Dilma, age como adversário de Lula e é pré-candidato à sucessão presidencial. “O Mercadante é inimigo (do Lula), o Rui (Falcão, presidente do PT) traiu o partido e o projeto do PT”, disse Marta. “Ele (Mercadante) vai ter contra si sua arrogância, seu autoritarismo, sua capacidade de promover trapalhadas.”
 
ROMPIMENTO Dilma e Marta, em  julho de 2013, no Palácio do Planalto. As duas  se tornaram inimigas após  críticas da  ex-ministra à presidente  (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
Na reta final da campanha presidencial, Marta já tivera um primeiro rompante de iconoclastia partidária. Considerando-se relegada a segundo plano, ela se recusou a pedir votos para Dilma. Em dezembro, antecipou-se a uma demissão coletiva do ministério, orquestrada por Mercadante, e deixou o Ministério da Cultura com críticas à  política econômica. Depois desse episódio, ela esteve com Lula no instituto que leva o nome do ex-presidente, em São Paulo. Marta e Lula saíram do encontro dizendo que haviam aparado arestas e estariam prontos para continuar do mesmo lado. Marta prometeu a Lula poupar Dilma e o PT de críticas públicas, com apenas uma ressalva: ela não se omitiria de atacar a escolha de Juca Ferreira, seu antagonista interno no partido, para seu lugar no Ministério da Cultura.
A entrevista desfez o combinado com Lula. Além das críticas ao PT, Marta disse que participou do movimento “Volta, Lula”, que buscou articular em 2014 a candidatura do ex-presidente no lugar de Dilma. Como Lula não a desautorizou, Marta foi adiante na articulação. Ela disse que organizou em sua casa um jantar “com os 30 PIBs paulistas”. “Foi do Lázaro Brandão (banqueiro) a quem você quiser imaginar. Eles fizeram muitas críticas à política econômica e ao jeito da presidente (Dilma). E ele (Lula) não se fez de rogado, entrou nas críticas, disse que era isso mesmo. Naquele jeito do Lula, né? Quando o jantar acabou, todos estavam satisfeitíssimos com ele.”

Apesar de ter descumprido o trato com a entrevista, Marta não desagradou totalmente a Lula. O ex-presidente ficou insatisfeito com o novo ministério de Dilma e o degredo dos lulistas para posições secundárias no governo. A mesma insatisfação é partilhada por outras facções petistas, que não esconderam o contentamento por Marta expor críticas que elas gostariam, há muito tempo, de fazer a Dilma. No grupo dos “revoltados” com a presidente, figuram, com destaque,  petistas flagrados do petrolão, que reclamam de terem sido abandonados pelo governo no escândalo. É o caso do ex-deputado André Vargas (PR), cassado pela Câmara por causa de seus negócios com o doleiro Alberto Youssef, e do deputado federal Cândido Vaccarezza (SP), ex-líder do governo Dilma no Parlamento. Sem mandato a partir de fevereiro, Vaccarezza é um dos artífices da engenharia política que pretendem levar Marta ao Solidariedade.

Entre os petistas, há também os que ficaram felizes com a entrevista de Marta por motivos mais nobres ou ideológicos. São os “autênticos”, que fazem reparos à forma como Dilma vem conduzindo o governo em meio ao petrolão. Eles criticam também a entrega de ministérios considerados importantes a antigos adversários do PT, como Kátia Abreu (Agricultura) e Gilberto Kassab (Cidades).

Como o Palácio do Planalto baixou uma ordem de silêncio em relação à entrevista de Marta, os petistas, em público, tentaram minimizar os estragos dos petardos desferidos por ela. Nem o mais governista dos governistas, no entanto – caso do líder de Dilma na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE) –, é capaz de negar que Marta acertou em cheio ao expor a transformação pela qual o partido passou desde a chegada ao poder, em 2003.

“O modelo de funcionamento do partido está meio obsoleto. O PT não pode se resumir a suas tendências internas”, diz Guimarães. “O PT se institucionalizou demais. O PT tem de falar a linguagem das ruas, da juventude, mas jamais criticar individualmente um ou outro.” Na guerra dos tronos, a rainha Dilma está encastelada no Palácio do Planalto, acossada por problemas em várias frentes – como o mau estado da economia e o petrolão. Se ela não for capaz de enfrentar as próprias conjurações internas de seu reino, seu governo ameaça se transformar numa imensa Westeros.



Petrolão: 10 depoimentos para ‘estarrecer’ Lula e Dilma

Com Blog Felipe Moura Brasil - Veja




lula-dilma-petrobras
Vamos organizar o noticiário com uma listinha promissora:
1.
“O custo alto das campanhas eleitorais levou, também, à arrecadação desenfreada de dinheiro para as tesourarias dos partidos políticos. Não por coincidência, a antes lucrativa sociedade por ações, Petrobras, foi escolhida para geração desses montantes necessários à compra da base aliada do governo e aos cofres das agremiações partidárias.”
Gerson de Mello Almada, vice-presidente da construtora Engevix, preso na sétima fase da Lava Jato, rompendo o então pacto de silêncio das empreiteiras sobre a participação dos políticos.
2.
a) “O esquema foi comandado por agentes políticos para a manutenção de grupos e partidos no poder. O esquema alterou os resultados das eleições de 2006, 2010 e possivelmente de 2014. Houve desequilíbrio no pleito.”
b) “É um projeto de poder para sustentação do PT. Não há dúvida disso. PT e a base aliada como PMDB, PP. É a corrupção sustentando um esquema de poder.”
c) “Não é preciso grandes malabarismos intelectuais para reconhecer que o domínio da organização criminosa estava nas mãos de agentes políticos que não se contentavam em obter riqueza material, ambicionavam poder ilimitado com total desprezo pela ordem legal e democrática, ao ponto do dinheiro subtraído dos cofres da Petrobras ter sido usado para financiar campanhas políticas no Legislativo e Executivo.”
Antonio Figueiredo Basto, advogado do doleiro Alberto Youssef.
3.
“Agentes políticos das mais variadas cataduras racionalizaram os delitos para permanecer no poder, pois sabiam que enquanto triunfassem podiam permitir e realizar qualquer ilicitude, na certeza que a opinião pública os absolveria nas urnas.”
Alberto Youssef, um dos principais delatores do esquema do petrolão.
* Em outubro de 2014, VEJA noticiou que, perguntado sobre o nível de comprometimento de autoridades no esquema de corrupção na Petrobras, o doleiro foi taxativo:
— O Planalto sabia de tudo!
— Mas quem no Planalto?, perguntou o delegado.
— Lula e Dilma, respondeu o doleiro.
Duas semanas depois, o editoral do Estadão “Lula e Dilma sempre souberam” ratificou a matéria de VEJA.
4.
a) “[O tesoureiro do PT] Edinho Silva está preocupadíssimo. Todas as empreiteiras acusadas de esquema criminoso na Lava Jato doaram para campanha de Dilma. Será que falarão sobre vinculações campanha X obras da Petrobras?”
b) “As empreiteiras juntas doaram para a campanha de Dilma milhões. O que dirá o nosso procurador-geral da República?”
c) “Lava Jato está prestes a mostrar que o que foi apresentado sobre a área de Abastecimento da Petrobras é muito pequeno quando se junta Pasadena, SBM, Angola, esquema argentino, Transpetro, Petroquímica. Ah, e o contrato de meio ambiente da Petrobras Internacional? Se somarmos tudo, Abastecimento é fichinha.”
Ricardo Pessoa, o chefe do cartel da Petrobras, dono da UTC Engenharia e amigo de Lula.
capa380* Pessoa ainda contou a amigos, segundo VEJA desta semana, o que exatamente estaria deixando Edinho Silva “preocupadíssimo”. A oito dias do 2º turno da eleição presidencial, o empreiteiro teve uma reunião em São Paulo com Luciano Coutinho, presidente do BNDES, quando a UTC estava atrás de dinheiro para financiar as obras do Aeroporto de Viracopos.
Coutinho disse que Pessoa seria procurado por Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma, que pouco tempo depois fez contato. Edinho estava em busca das últimas doações para saldar os gastos do comitê de campanha da presidente e recebeu mais 3,5 milhões de reais da UTC, que se somaram aos 14,5 milhões de reais dados no primeiro turno, conforme acerto com João Vaccari Neto, tesoureiro do PT.
Se Edinho Silva já estava “preocupadíssimo”, agora o presidente do BNDES também deve estar.
5.
“Era uma coisa só, o que demonstra que os pagamentos na Petrobras não se davam por exigência de funcionários corruptos e chantagistas, como o governo quer fazer crer. Era algo mais complexo, institucionalizado.”
Um dos investigadores que atuam no caso, em declaração à VEJA desta semana, deixando cada vez mais evidente que mesmo as doações legais eram feitas com dinheiro obtido dos cofres públicos, seja por apadrinhamento por parte de instituições financiadoras, seja por corrupção pura e simples.
6.
a) “…há elementos jurídicos para que seja proposto e admitido o ‘impeachment’ da atual presidente da República, Dilma Rousseff, perante a Câmara dos Deputados e Senado Federal, pelos fundamentos expostos no presente parecer.”
b) “…o assalto aos recursos da Petrobras, perpetrado durante oito anos, de bilhões de reais, sem que a Presidente do Conselho (Dilma presidiu o conselho de administração da Petrobras) e depois Presidente da República o detectasse, constitui omissão, negligência e imperícia, conformando a figura da improbidade administrativa, e enseja a abertura de um processo de impeachment”.
Ives Gandra Martins, advogado constitucionalista, em análise “estritamente jurídica, sem conotação política” presente no parecer encomendado por uma das empreiteiras envolvidas na Lava Jato.
7.
“Vocês acham que eu ia atrás desses caras (os políticos) para oferecer grana a eles?”
Léo Pinheiro, amigo ressentido de Lula e presidente da OAS, cujos quatro executivos presos por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa querem levar Lula e Dilma à roda da Justiça, escalando como o primeiro delator Ricardo Breghirolli, encarregado de fazer os pagamentos de propina a partidos e políticos corruptos.
8.
“Se tiver de morrer aqui dentro, não morro sozinho.”
Agenor Medeiros, 66 anos, diretor internacional da OAS.
9.
“A Dilma está deixando as coisas correrem. Isso é um grande erro. Se nada for feito, o problema chegará a ela, porque ela era a presidente do Conselho de Administração da Petrobras.”
Lula, ex-presidente da República ressentido com a deslealdade da atual presidente ao debitar na conta do governo anterior os prejuízos bilionários provocados pelo esquema de corrupção. Para Lula, os parceiros de longa data, empresários e governistas, devem marchar juntos.
Eu concordo: todos marchando juntinhos para a prisão.
10.
“Podia passar mais rápido, por favor?”
“Bom, eu vou preferir ler, sabe?”
Dilma Rousseff, em reunião com seus 39 ministros, irritada com o operador de teleprompter justamente no trecho em que tentava defender a estatal mais roubada do mundo.

Cunha e Chinaglia falam em vitória. Mas Dilma já perdeu

Silvio Navarro e Marcela Mattos - Veja


Depois de cortejar os novatos na Câmara, candidatos mais cotados apostam nos deputados que vão trair a orientação de seus partidos no voto secreto


Os deputados Eduardo Cunha, Arlindo Chinaglia e Julio Delgado
Os deputados Eduardo Cunha, Arlindo Chinaglia e Julio Delgado (VEJA)
A briga foi grande, vai se arrastar pela madrugada e por todo o domingo e não há ainda indícios de que acabará bem para o Palácio do Planalto. Neste sábado, os dois principais candidatos à presidência da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT) e Eduardo Cunha (PMDB), ambos governistas por filiação partidária, mas antagônicos na cena política, usaram seus trunfos em busca de votos. Foram dezenas de reuniões, cafés, eventos para recepcionar os 198 deputados novatos em Brasília – e até um chá da tarde para as esposas na capital federal. Deputados ouviram ofertas de cargos na máquina pública, no caso do petista, ou o comando de comissões, no caso do rival, e coincidentemente as mesmas promessas corporativistas de aumento de salário e das verbas de gabinete – ou pelo menos de um gabinete mais espaçoso no ano que vem. 
Na tarde de sábado, circularam versões similares sobre um acordo em gestação na sala do ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais), o articulador político de Dilma Rousseff, segundo o qual Cunha presidiria a Casa agora, em função da quilometragem da campanha, e Chinaglia o sucederia em 2017. Aliados de ambos espalharam a notícia sempre atribuindo a autoria do acordo de rodízio à candidatura adversária. Oficialmente, ninguém topou. 
As bancadas mais cortejadas na última hora foram as do PR e do PP. Ambas comandam ministérios importantes e de cofres cheios, conforme a previsão do Orçamento da União: o PR pilota a pasta dos Transportes, e o PP, a de Integração Nacional. Porém, as siglas formalizaram que seguirão caminhos opostos: o PR apoia Chinaglia, e o PP, vai de Eduardo Cunha.
Os dois veteranos de Congresso colocaram em curso uma articulação para tentar captar votos no “varejo” – leia-se: de deputados que vão contrariar a orientação dos seus partidos no voto secreto. É nisso que ambos apostam na reta final. E são esses votos que vão decidir a eleição. Numa disputa imprevisível, a única constatação uniforme é que, seja qual for o resultado, o governo Dilma Rousseff terá sérias dificuldades para domar sua base em 2015.​
Eleição Câmara dos Deputados 2015




Intervenção de Cerveró eleva em US$ 100 milhões preço de navios

Thiago Herdy e Renato Onofre - O Globo

Documentos da estatal relativos à compra serão anexados a processo


Recomendações feitas por Nestor Cerveró em relatórios levados à diretoria executiva da Petrobras representaram aumento de US$ 100 milhões no gasto previsto inicialmente pela Samsung Heavy Industries para a venda de navios-sonda à estatal, em 2006. Os documentos obtidos pelo GLOBO também mostram que a Petrobras já sabia, na época, que precisaria comprar dois navios. Mesmo assim, preferiu realizar duas operações de compra, do mesmo fornecedor, em vez de tentar negociar melhor preço.

A suspeita de pagamento de propina a funcionários públicos na aquisição desses equipamentos levou o Ministério Público Federal a denunciar Cerveró por corrupção e foi um dos motivos levados em conta para a decretação da prisão dele.

Documentos internos da estatal relacionados à compra serão anexados nos próximos dias ao processo, a pedido do juiz federal Sérgio Moro. No início de 2006, a Samsung apresentou sua primeira proposta para construção de um navio-sonda, ao custo de US$ 551 milhões, projetado para perfurar em águas profundas na África e na Ásia.

Nos três meses seguintes, a diretoria de Cerveró solicitou “melhorias funcionais” que elevaram o custo do projeto em US$ 35 milhões, alcançando o valor de US$ 586 milhões. Para justificar o aumento, o diretor apresentou documento anexo de duas páginas, com menção a custos extras do projeto. O anexo foge do padrão dos documentos da empresa, pois não tem a assinatura de funcionário responsável ou logotipo da Petrobras. Mesmo assim, a compra foi aprovada pela diretoria executiva em julho de 2006.

Apenas dois meses depois, a Samsung foi informada de que a Petrobras compraria um novo navio-sonda. Em dezembro de 2006, a fornecedora apresentou proposta elevando o custo do projeto em mais US$ 30 milhões, para US$ 616 milhões. Ao recomendar a compra de um navio “com idêntica especificação” em novo relatório levado à diretoria executiva, em março de 2007, Cerveró atribuiu o aumento a “melhorias introduzidas ao projeto e ao aquecimento do mercado de sondas”. No entanto, não explicou que melhorias seriam essas.

Cerveró foi denunciado juntamente com Alberto Youssef, Julio Camargo e Fernando Soares por lavagem de dinheiro, corrupção e evasão de divisas. Para o MPF, Cerveró e Fernando Soares teriam acertado o pagamento de US$ 40 milhões em propina para viabilizar os navios-sonda. Por meio do advogado Edson Ribeiro, Cerveró negou ter recebido propina. O defensor aguarda a inclusão dos documentos no processo para se pronunciar sobre o aumento do custo dos projetos. A Petrobras informou que não teria tempo hábil para responder aos questionamentos. O GLOBO não localizou representantes da Samsung Heavy Industries.




Para evitar crescimento de Luiz Henrique, Renan apela até a Aécio

Cristiane Jungblut e Júnia Gama - O Globo

Presidente tucano, entretanto, afirmou que a posição do partido é de apoiar o candidato da ala independente do PMDB

O presidente do Senado Renan Calheiros, ao lado do senador Romero Juca, saindo do gabinete de Aécio Neves - Ailton de Freitas / Agência O Globo


Com o crescimento da candidatura avulsa de Luis Henrique (PMDB-SC), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) tem usado as últimas horas antes da eleição para disparar ligações e ter encontros pessoais com lideranças de todos os partidos, inclusive da oposição, que já declarou apoio ao adversário.

Aécio disse que não pode "obrigar ninguém" a votar em Luiz Henrique, mas declarou que a ideia é fechar a questão no encontro da bancada de 11 senadores.Renan, que é o candidato ofical do partido, conversou com o senador eleito José Serra (PSDB-SP) e pediu que o "amigo" não o abandonasse nesse momento grave. Mais cedo, o senador já tinha conversado pessoalmente também com o senador Cássio Cunha Lima (PB) , que será o futuro líder do PSDB na Casa. O PSDB já avisou que está apoiando a candidatura de Luiz Henrique. O peemedebista também tenta mudar o voto do presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), e de seus liderados.

- O PSDB já tem uma posição. A gente não obriga ninguém a votar, mas a posiçao do partido é de votar em Luiz Henrique. Mas tem uma decisão fechada em favor de Luiz Henrique. Não estamos lançando um candidato da oposição. Luiz Henrique é candidato da instituição - disse Aécio.

Ao chegar ao Senado, por volta das 15h, o tucano criticou a condução de Renan na votação da proposta que mudou a meta fiscal de 2014, e permitiu ao governo ter déficit no ano passado, o primeiro desde 1997.

- Quero entregar os votos do PSDB. E sempre quisemos uma candidatura do PMDB. Ele (Renan) foi muito subordinado ao Planalto. Mas claro que vou receber o presidente do Senado. O que queremos é uma proposta independente. Não estamos lançando um candidato da oposição, mas da instituição - complementou o tucano, que é o presidente nacional do partido.

No fim da tarde de hoje, Renan deixou a residência oficial do Senado e foi ao gabinete de Aécio. Mais cedo, o senador peemedebista chegou a pedir por telefone um encontro, mas como o tucano não se dispôs a ir até a sua casa, ele tomou a iniciativa de ir pessoalmente ao seu gabinete.

- Eu vou ficar aqui no meu gabinete. Os 11 senadores do PSDB vão votar fechados com o Luis Henrique. Mas não tenho problema de recebê-lo como presidente do Senado - avisou Aécio.

Renan foi surpreendido na saída do gabinete do senador tucano, e negou que a visita tenha sido um ato de "desespero", como seu adversário declarou mais cedo. Mas deixou claro que o resultado da eleição é incerto.

- Só vim fazer uma visita de cortesia ao Aécio. O resultado da eleição só saberemos quando os votos forem contados - disse Renan, ao ser questionado sobre a possibilidade de uma eleição apertada.

VOTAÇÃO CONFUSA

O panorama da votação está confuso porque parlamentares dissidentes da base relutam em apoiar a candidatura de Renan. Até mesmo senadores petistas estariam dispostos a votar em Luiz Henrique. Embora a bancada do PT deva anunciar apoio ao senador, pelo menos quatro dos 13 parlamentares do partido devem votar no candidato dissidente.

Para demovê-los, o governo argumenta que sempre pôde contar com Renan em momentos de crise e na defesa dos interesses da presidente Dilma Rousseff. Luiz Henrique faz parte da ala independente do PMDB e já declarou que, se for eleito, não fará oposição direta ao governo, mas interlocutores do Palácio do Planalto não confiam neste compromisso.

 . 

Certo da derrota e com relação difícil no horizonte, governo Dilma 'trambique' propõe rodízio de aliados na Presidência da Câmara

Fernanda Krakovics, Cristiane Bonfanti, Júnia Gama e Isabel Braga - O Globo


Segundo relato de parlamentares, na reta final da disputa à Presidência da Câmara, o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais) teria sido o portador, a aliados de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de uma proposta de rodízio no comando da Casa entre o peemedebista e o petista Arlindo Chinaglia., apoiado pelo Planalto.

— Ele me chamou para propor o acordo do rodízio, e eu disse que não tinha qualquer chance — contou o deputado Sandro Mabel. (PMDB-GO), que afirmou ter sido procurado duas vezes por Pepe Vargas para falar sobre o acordo, rejeitado por Cunha e Chinaglia.

Na última terça-feira, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, que é do PT, já havia sondado sem sucesso o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, sobre a mesma possibilidade.

PEPE: ‘ELES QUERIAM ACORDO’

O ministro Pepe Vargas confirmou que conversou com o deputado Sandro Mabel, sobre o rodízio entre PMDB e PT “três ou quatro vezes’’, mas insiste que foi Mabel quem pediu o encontro.

— O rodízio sempre existiu na Câmara, e o Eduardo Cunha é que acabou agora com esse sistema. Eles queriam fazer um acordo para formar um bloco, mas nós dissemos que só aceitaríamos fazer um bloco de apoio ao governo, e o Eduardo não quis conversa porque queria formar um bloco de oposição — disse Pepe Vargas.

Chinaglia , candidato apoiado pelo Planalto, negou que o PT tivesse feito essa proposta:
— É mais uma tentativa, não desesperada, mas mais uma vez inócua, de tentar tergiversar. É obvio que isso não ocorreu — disse o petista.

— A mim, não chegou nenhuma proposta. Acho que o jogo está jogado. Vamos disputar o voto — afirmou Cunha.

No processo de escolha, que começa às 18h, caso nenhum dos concorrentes obtenha 257 dos 513 votos, a segunda votação ocorrerá ainda hoje. Petistas e Planalto também tentam reverter defecções na base aliada em favor do peemedebista. Evangélico, Cunha ontem fez referências religiosas, ao participar de um evento com mulheres de deputados:

— Nada acontece se não for pela ajuda de Deus.


 

Com entrada de PP, Cunha anuncia "maior bloco" e prevê apoio de mais de 200 deputados

Beatriz Bulla - O Estado de São Paulo


Cunha tem o apoio do PMDB, PTB, PP, PSC, Solidariedade, Democratas, PRB, PHS e PEN - os dois últimos, considerados nanicos, ainda não haviam sido anunciados como integrantes do bloco.

Após a adesão do Partido Progressista (PP) ao megabloco que dá apoio a Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na disputa pela presidência da Câmara, o deputado peemedebista anunciou que já conta com “mais de 200” congressistas aliados ao grupo. A espera pelo PP foi fundamental para que Cunha pudesse anunciar a formação do “maior bloco” existente para esta eleição. Nos bastidores da campanha, a conta chega a 222 parlamentares - dos 513 da Casa - pertencentes a partidos que se juntaram à Cunha. “Com esse apoio do PP tenho certeza absoluta que eleição no 1º turno ficou confirmada agora”, disse. 
Além da indicação de uma vitória no primeiro turno, o peemedebista comemora o fato de o grupo poder fazer as primeiras escolhas para a mesa diretora da Câmara e para as comissões que irão trabalhar durante toda a legislatura. O maior bloco tem direito, de acordo com Cunha, a fazer a escolha antes dos demais. Desta forma, o PMDB exclui PT e PSDB de fazerem as primeiras indicações às comissões.
Ed Ferreira/Estadão
Os candidatos a Presidência da Câmara, Eduardo Cunha e Júlio Delgado, durante debate com os candidatos, no Plenario Nereu Ramos, na Camara.
Cunha tem o apoio do PMDB, PTB, PP, PSC, Solidariedade, Democratas, PRB, PHS e PEN - os dois últimos, considerados nanicos, ainda não haviam sido anunciados como integrantes do bloco.
“O número já passa de 200. À medida que já existe um bloco com 106, dificilmente algum outro vá conseguir atingir.Não tem mais, matematicamente, como passar esse bloco”, disse Cunha, na liderança do PP na Câmara. O bloco de 106 deputados é o que apoia Júlio Delgado (PSB-MG), formado por PSB, PSDB, PV e PPS.
O candidato governista, Arlindo Chinaglia (PT-SP) conta com o apoio do PT, do Pros, do PCdoB, do PSD e do PR. O PR cedeu à pressão do Planalto e anunciou na noite deste sábado o apoio a Chinaglia, mas a previsão de Cunha, segundo interlocutores, é de que a maioria do partido vote no bloco do PMDB.
Risco PRB. Pressionado pelo governo, o PRB ameaça reverter o apoio a Cunha e migrar para o bloco de Chinaglia. A mudança colocaria em risco o maior bloco anunciado pelo peemedebista. Cunha classificou nesta noite as notícias de que o partido estaria repensando o apoio como “intrigas”. “O PRB está anunciado, estamos cansados de ver essas intrigas sendo colocadas, colocando pessoas de bem à prova todo dia de fofoca”, afirmou.
Ele considera certo que parte do megabloco irá se desfazer após a eleição da mesa. “Uma parte continuará junto e na outra parte cada um irá para o seu campo de atuação”, afirmou.
Os blocos devem ser formalizados até as 13h deste domingo. Até lá, Cunha - que teve neste sábado três cafés da manhã, três almoços e ainda terá previsão de um jantar - continua na articulação em busca de apoio de partidos nanicos e congressistas que divergem da decisão tomada por seus partidos. 

Para Financial Times, Dilma 'trambique' deve explicar o que sabia sobre roubalheira na Petrobras

Folha de São Paulo


O diário britânico "Financial Times" publicou um artigo neste sábado (31) em que cobra da presidente Dilma Rousseff uma explicação acerca do que ela sabia sobre a corrupção na Petrobras. Para o jornal, já passou o tempo de ser tolerante com os diretores da companhia.

O editorial afirma que Dilma deve apoiar a investigação e que "embora ela não tenha sido acusada diretamente de envolvimento, como conselheira durante grande parte do tempo em questão, ela [Dilma] precisa explicar o que sabia e quando soube".

As ações da Petrobras despencaram na última quarta-feira (28) e empurraram a Bolsa brasileira para o vermelho. A queda fez com que o valor de mercado da petroleira passasse de R$ 128,7 bilhões na última terça-feira (27) para R$ 114,8 bilhões na quarta. Em 2010, a cifra era de R$ 380,2 bilhões, segundo dados da Bloomberg. O documento foi divulgado com mais de dois meses de atraso.

O jornal ainda compara o escândalo na Petrobras com o mensalão. Segundo o editorial, o mensalão "levou a condenações de políticos sêniores —algo inédito no Brasil. Com a Petrobras, no entanto, a resposta precisa ser mais rápida e mais firme".

Para o "Financial Times", as consequências da desvalorização da Petrobras superam a empresa: "tem importância para a economia brasileira e ameaça derrubar o governo. A Petrobras é muito grande para fracassar. Mas também é muito corrupta para seguir desta maneira."

Tentativa de acordo entre governo e PMDB acirra disputa na Câmara

Andréia Sadi e Ranier Bragon - Folha de São Paulo



Na véspera da eleição que definirá neste domingo o novo presidente da Câmara, as campanhas de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) trocaram acusações neste sábado (31) sobre um suposto acordo que estaria sendo costurado para por fim ao racha na base de sustentação do governo Dilma Rousseff.

Pela proposta, Cunha presidiria a Câmara em 2015 e 2016 e, nos dois anos seguintes, o posto seria de Chinaglia.

A campanha de Cunha afirmou que essa proposta partiu do governo. O governo diz o contrário: que a sugestão de acordo foi feita pelo PMDB. Em comum nas versões, apenas a afirmação de que não há possibilidade de acordo.

Segundo peemedebistas, na sexta-feira o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais) procurou liados de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para sugerir o rodízio do partido com o PT para comandar a Câmara. A informação foi confirmada à Folha por três parlamentares.

Sondado à noite por aliados, Cunha refutou a possibilidade. A amigos, ele disse que perderia a "credibilidade" se aceitasse o rodízio com o partido da presidente Dilma Rousseff. Durante a campanha, o peemedebista defendeu o fim da hegemonia do PT e PMDB no comando da Casa, em um aceno aos outros partidos da base aliada que almejam um dia ocupar a presidência.

Segundo um parlamentar, um documento chegou a ser apresentado por emissários do governo com pontos a serem negociados sobre a eleição. O principal item era o rodízio entre o PT e PMDB para os próximos quatro anos.

A assessoria de Pepe Vargas negou a história e contou versão oposta. Afirmou que o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), um dos coordenadores da campanha de Cunha, procurou o ministro na sexta-feira "pelo menos três vezes" com a proposta de rodízio.

Mabel negou com veemência. "O Planalto é que me chamou. Quando eles colocaram esse assunto, eu falei: 'Esquece'". 

Ele diz que outros ministros já haviam proposto o rodízio ao PMDB. Como a Folha revelou, Jaques Wagner sugeriu a negociação ao vice-presidente, Michel Temer, na última terça-feira.

Chinaglia também negou neste sábado qualquer possibilidade de acordo. "Essa é mais uma inócua tentativa de tergiversar", afirmou, dizendo ainda que desafiava o PMDB a dizer na sua frente a história do acordo, desde que ele fosse autorizado a falar o que "sabe sobre o PMDB".

Cunha reagiu: "Não propus, não recebi proposta. Se ele conhece algo sobre o PMDB ele que fale logo."

Aliado de Cunha, o ex-ministro do governo Lula Geddel Vieira Lima criticou a suposta sondagem do governo na véspera da eleição.

"O problema é que eles têm clara a derrota e tentam, na reta final, um pseudo acordo imaginando que todos são iguais", afirmou à Folha.

Ele também atacou a articulação política do governo, comandada por Vargas e Aloizio Mercadante (Casa Civil).

"O governo não tem credibilidade e tem na articulação política essa dupla que já virou folclore no Congresso, que é o pepe legal e Freddie mercury [ex-vocalista do Queen]".

Nesta semana, o ministro Jaques Wagner (Defesa) já havia procurado o vice-presidente, Michel Temer, para sugerir o rodízio entre PMDB e PT. Temer disse ao ministro que Cunha tinha intenção de exercer o mandato no biênio 2015-2017. As negociações, no entanto, não prosperaram.

O Planalto trabalha pela eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência e tem Cunha como desafeto. No entanto, ministros do governo temem a divisão da base aliada com a disputa pela presidência entre os partidos.

O modelo de rodízio foi adotado nos últimos quatro anos. No primeiro ano do governo Dilma, o PT assumiu o comando da Casa. De 2013 a 2015, a Casa foi presidida pelo PMDB. A ideia chegou a ser discutida no ano passado, mas foi descartada pelos peemedebistas.

Com a experiência do mensalão e do petrolão e temendo impeachment, governo Lula-Dilma monta esquema contra Eduardo Cunha na Câmara

Vera Rosa - O Estado de São Paulo


Para governo, vitória de deputado do PMDB pode causar 'terremoto'

A possibilidade de vitória do candidato do PMDB à presidência da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), acendeu o sinal vermelho no Palácio do Planalto. Ao longo da semana, ministros do PT e até governadores do partido entraram em campo, pressionaram deputados da base aliada e dispararam telefonemas pedindo votos para o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). A força-tarefa, no entanto, parece ter surtido pouco efeito. 

Embora ministros petistas digam em público que a situação de Chinaglia melhorou, nos bastidores muitos já jogaram a toalha. Com o apoio oficial de alguns partidos da base e o informal de integrantes da oposição, Cunha tem tudo para ser eleito neste domingo, mesmo se a disputa for em dois turnos. 
Dida Sampaio/Estadão
Paciência. Jaques Wagner não alcançou acordo de alternância entre siglas
"Terminada a eleição, vamos tentar lamber as feridas e unificar a base aliada do governo", disse ao Estado o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas. Na Câmara, o comentário é que Cunha dará muita dor de cabeça ao governo nos próximos dois anos, em caso de triunfo. 
"Terremoto é sempre até o dia do acontecimento. Depois que acontece, fazer o quê?", emendou o ministro da Defesa, Jaques Wagner, que passou os últimos dias na articulação da campanha de Chinaglia. 
O racha na aliança governista é apenas um dos problemas que o Planalto enfrentará, se Cunha vencer a briga. Conhecido como "gênio do mal", o líder do PMDB é desafeto da presidente Dilma Rousseff e já pôs o partido várias vezes contra o Planalto. Fez de tudo para barrar a Medida Provisória dos Portos, incentivou a criação da CPI da Petrobrás e articulou um movimento para rejeitar o decreto que instituía os conselhos populares. 
Impeachment. O temor do governo é que Cunha, no comando da Câmara, estimule votações contrárias aos interesses da equipe econômica e até defenda a abertura de um processo de impeachment da presidente, se não for atendido em suas reivindicações. 
Sob o argumento de que não transformará a Câmara num "puxadinho" do Planalto, Cunha disse que, se eleito, agirá com "independência" em relação ao governo, mas jurou não endossar sugestões pró-impeachment de Dilma. Garantiu, porém, que sua primeira medida será pôr na pauta o "orçamento impositivo", para desespero da presidente. 
A proposta torna obrigatória a execução de despesas agregadas ao orçamento sob a forma de emendas individuais de parlamentares. “Só que eu não sento na cadeira antes da hora, porque dá azar”, ressalvou Cunha, sem detalhar outros planos. 
O desfecho da eleição para o comando da Câmara e do Senado também pôs a distribuição de cargos do segundo e terceiro escalões em compasso de espera. No Senado, o governo trabalha para reconduzir Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência da Casa e não gostou nada de ver parte do PT ameaçando apoiar a candidatura de Luiz Henrique (PMDB-SC). 
Jaques Wagner conversou com o vice-presidente da República Michel Temer, na terça-feira, e pediu a ele que ajudasse a jogar água na fervura da briga entre o PT e o PMDB. Chegou a cobrar o cumprimento de um antigo acordo. “O caminho da pacificação seria voltar ao leito natural, que é retomar o acordo de alternância, rejeitado pelo candidato do PMDB”, insistiu Wagner. Na direção do PMDB, Temer admitiu pouco poder fazer para solucionar o imbróglio. 
Questionado sobre o uso da máquina em benefício de Chinaglia, o ministro negou a prática e disse que a caça aos votos só ocorreu para reagir à ofensiva do PMDB. “Eu entrei como ministro petista, assim como os ministros do PMDB se reuniram e declararam apoio (a Eduardo Cunha). Isso não é bom, porque o governo precisa da sua base de sustentação unificada. Mas, como a paciência é a mãe dos acordos, esperarei até que o rio volte ao leito natural.”