sexta-feira, 4 de julho de 2025

'De 1776 a 2025: uma ode ao espírito humano', por Ana Paula Henkel

 A história dos triunfos da liberdade nos ensina que a tirania não é invencível. Celebrar o 4 de julho é celebrar aqueles que não se curvam e não desistem, onde quer que estejam


Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro participam de manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo (29/6/2025) | Foto: Shutterstoc


E m 4 de julho de 1776, um grupo de visionários reuniu-se na Filadélfia para proclamar uma ideia radical: uma nação fundada no princípio de que todos os homens são criados iguais, dotados de direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à busca da felicidade — e que esses direitos são dados pelo Criador, não por um monarca, político ou governante. 

A assinatura da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América não foi apenas o nascimento de um documento, mas um desafio audacioso contra a tirania, um farol de esperança para um povo que ansiava por liberdade. 

Em dias tão confusos e obscuros para o Brasil, mergulhar no significado do 4 de julho de 1776 para o mundo livre é como enxergar uma luz no topo da colina — às vezes ela pode parecer longe e inalcançável, mas certamente ilumina todo o caminho a ser percorrido. 


A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América | Foto: Shutterstock

As 13 colônias americanas, em grande desvantagem numérica e armamentista, enfrentaram o poder do Império Britânico, mas sua determinação — enraizada no sonho de autogoverno — acendeu uma revolução que mudaria o mundo. Esse foi o dia em que a coragem encontrou a convicção, quando homens e mulheres comuns escolheram arriscar tudo por um futuro no qual a liberdade, não a opressão, definiria suas vidas. 

Os acontecimentos de 1776 foram um testemunho do desejo inabalável do espírito humano pela liberdade. Os “Pais Fundadores” — homens como George Washington, Thomas Jefferson, John Adams e Benjamin Franklin — sabiam que o custo de sua rebelião poderia ser a própria vida, mas seguiram em frente, movidos por uma visão de uma sociedade em que o poder deriva do consentimento dos governados. Seu sonho não era apenas para si mesmos, mas para gerações futuras, um legado de liberdade que inspiraria nações em todo o mundo.


Pintura de Emanuel Leutze retrata George Washington cruzando o Rio Delaware, durante o ataque aos hessianos em Trenton, na manhã de 26 de dezembro de 1776 | Foto: Wikimedia Commons

Hoje, ao refletirmos sobre seu sacrifício, vemos sua história ecoada nas lutas de povos em todo o globo, incluindo no Brasil, onde cidadãos enfrentam sua própria batalha contra a tirania, extraindo força dos mesmos princípios atemporais que acenderam a faísca de visão dos “Pais Fundadores” não era um ideal passageiro, mas um chamado universal à ação. 

Eles sonhavam com um mundo onde a liberdade não é concedida por reis ou tribunais, mas é um direito inalienável dado pelo Criador e defendido pelos corajosos. Sua coragem transformou uma nação incipiente na “terra dos livres”, uma expressão que ressoa não por causa da geografia, mas pelas pessoas que resistiram firmemente contra a opressão.


Pintura de John Trumbull, de 1818, retrata o Comitê dos Cinco apresentando seu rascunho da Declaração de Independência ao Segundo Congresso Continental na Filadélfia, em 28 de junho de 1776 | Foto: Wikimedia Commons 

Esse legado de resiliência fala diretamente ao povo brasileiro hoje, que, sob a sombra de um Judiciário tirânico liderado por figuras como Alexandre de Moraes, luta para recuperar suas liberdades. 

“Eu não desisto” 

No último domingo, milhares se reuniram na Avenida Paulista, em São Paulo, exigindo respeito pela lei e pela ordem. Suas vozes e cartazes se ergueram em desafio a uma Suprema Corte que silenciou dissidentes e corroeu os princípios democráticos. Entre eles, uma imagem se destacou e não saiu mais da minha mente: uma idosa, com lágrimas escorrendo pelo rosto, segurando silenciosamente um cartaz que dizia: “Eu não desisto”. 

“Eu não desisto.” 

Sua força silenciosa, sua recusa em se curvar, incorpora o mesmo espírito que impulsionou a Revolução Americana e inspira esperança para o futuro do Brasil. O cartaz não era apenas uma mensagem, era um documento assinado de que seu destino não seria entregue sem lutar contra a tirania.


Não sei quem é a senhora do vídeo, mas queria dizer “MUITO OBRIGADA!!” - Eu também NÃO DESISTO. Ontem, eu ouvi “não fui à manifestação porque estou cansada, luto há 4 anos… isso já é muito!”. Com respeito, discordo. Mesmo sob as piores adversidades, o espírito humano resiste. Os poloneses provaram isso na Segunda Guerra Mundial, enfrentando a invasão nazista de 1939. Na Revolta de Varsóvia de 1944, lutaram contra tanques com armas improvisadas, View more on Instagram simbolizando sua força e inspirando a resistência. Após a guerra, sob o jugo comunista, o movimento Solidariedade, liderado por Lech Wałęsa, uniu o povo e, em 1989, ajudou a derrubar o regime, reacendendo chama da liberdade. 

Eles lutaram de 1939 até 1989. Eles defenderam sua nação durante 50 ANOS! Mas há quem ache que 4 anos “é muita coisa” e, por isso, “estou cansada”. Hoje, o Brasil enfrenta sua própria escuridão, com um judiciário tirânico, sufocando liberdades e perseguindo vozes dissidentes. Mas o povo brasileiro, como os poloneses, não se curva. Nas ruas, nas redes, nas conversas, a resiliência persiste em cidadãos comuns, jornalistas, mães, pais, AVÓS que entendem a história e que desafiam a opressão, mantendo viva a chama da verdade e da liberdade. A história nos ensina: a Polônia venceu nazistas e comunistas; o Brasil vencerá essa tirania judicial. Repito: não sei quem é a senhora do vídeo, mas queria, na verdade, gritar “MUITO OBRIGADA!!” 

- Eu também NÃO VOU DESISTIR! “A liberdade nunca está a mais de uma geração distante da extinção. Nós não a legamos para nossos filhos hereditariamente. Ela deve ser defendida, protegida e entregue a eles para que façam o mesmo.” - Ronald Reagan View all 2,087 comments Add a comment...

 

Essa mulher, desconhecida, mas profundamente heroica, é um símbolo de resiliência que transcende fronteiras. E, nesta celebração de mais um glorioso 4 de julho, uma brasileira vem à mente. Suas lágrimas não são de derrota, mas de determinação, um lembrete de que a luta pela liberdade nunca é fácil, mas sempre vale a pena. Seu cartaz, 

“Eu não desisto”, é um chamado claro a todos os brasileiros que sentem o peso da opressão, uma lembrança de que não estão sozinhos. Para ela, repito as palavras que fiz questão de escrever no domingo nas minhas redes sociais: “Não sei quem é a senhora, mas queria dizer: ‘MUITO OBRIGADA! Eu também NÃO DESISTO!'”. 

Entre os anos de 1776 e 2025 está o ano de 1939, ano em que a Polônia foi invadida pelos nazistas. A resistência polonesa oferece um paralelo poderoso para a luta atual do Brasil. Em 1939, a Polônia enfrentou a invasão esmagadora da Alemanha Nazista, mas seu povo resistiu com um espírito inquebrantável. Após a guerra, sob a opressão comunista,  o movimento Solidariedade, liderado por Lech Wałęsa, uniu cidadãos de todas as classes em uma revolução pacífica que, em 1989, derrubou o regime e restaurou a liberdade da Polônia. 


Lech Wałęsa, durante comício eleitoral em frente à Igreja de Santa Brígida, em Gdańsk, na Polônia (1989) | Foto: Wikimedia Commons 

Durante 50 anos — de 1939 a 1989 — o povo polonês suportou dificuldades inimagináveis, mas nunca se rendeu. Nunca desistiu. Sua história é uma repreensão àqueles que dizem: “Estou cansado(a), estou lutando por três, quatro anos…”. O que são quatro, cinco, seis anos? Apenas um instante comparados às décadas de luta da Polônia — que existe como prova de que até as tiranias mais sombrias podem cair quando as pessoas se recusam a desistir. O Brasil, hoje, enfrenta sua própria escuridão, com um Judiciário que extrapolou seus limites, silenciando vozes, perseguindo dissidentes e jogando inocentes na cadeia. 

As ações de Alexandre de Moraes e da atual Suprema Corte lançaram uma sombra sobre os ideais democráticos da Nação, mas o povo brasileiro, como os poloneses e os patriotas americanos antes deles, não está derrotado. Seja na Avenida Paulista, em postagens nas redes sociais, seja nas conversas em bares e mesas de jantar, a resiliência persiste. Cidadãos comuns, mães, pais  e avós — como a mulher com seu cartaz —, permanecem firmes, mantendo viva a chama da verdade e da liberdade. A mesma chama que os liga aos “Pais Fundadores da América” e que nos mantém alertas para que entendamos que a liberdade não é um presente, mas uma responsabilidade que exige coragem e paciência.



Apoiadores do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro participam de um comício na Avenida Paulista, em São Paulo, Brasil (29/6/2025) | Foto: Iara Faga/Shutterstock 


A tirania judicial 

Os “Pais Fundadores” enfrentaram um império aparentemente imbatível, mas sua crença na liberdade e na justiça prevaleceu. A Polônia superou nazistas e comunistas através de décadas de resistência. O Brasil também superará sua tirania judicial, não porque o caminho seja fácil ou rápido (vamos lutar por quatro, cinco anos e manter algumas manifestações, e está tudo resolvido), mas porque seu povo, como aquela idosa, se recusa a se render. Sua manifestação silenciosa, suas lágrimas e seu cartaz erguido bem alto nos lembram de que o espírito humano é inquebrantável. Ela não está sozinha; ela está ao lado de todo brasileiro que ousa sonhar com um amanhã mais livre. Ela tem ao lado os patriotas de 1776 que se uniram para dar à luz uma nação. 

Como disse Ronald Reagan, “a liberdade nunca está a mais de uma geração de distância da extinção. Nós não a passamos aos nossos filhos pelo sangue. Devemos lutar por ela, protegê-la e entregá-la para que eles façam o mesmo”. 

Essas palavras, proferidas por um líder que entendia a fragilidade e o valor da liberdade, ressoam tanto no Brasil de hoje quanto na América de décadas atrás. A luta na Avenida Paulista não é apenas uma luta brasileira; é uma luta humana, uma continuação da mesma batalha travada na Filadélfia em 1776 e na Polônia por 50 anos.


Nancy Reagan com o presidente Ronald Reagan discursando durante a Operação Sail na Ilha do Governador, Nova York, EUA (4/7/1986) | Foto: Domínio Público


Neste 4 de julho, como uma cidadã americana, divido com o povo brasileiro: com poucas ou muitas pessoas nas ruas, nossa coragem inspira o mundo. Nossa recusa em desistir, incorporada no silêncio daquela avó, é um farol de esperança para todos que valorizam a liberdade. 

Que a história de 4 de julho de 1776 nos lembre de que grandes coisas nascem de grandes lutas. Que a resistência polonesa ensine que até Comentário anos de opressão não podem apagar o espírito humano. E que as lágrimas daquela idosa e seu cartaz — “Eu não desisto” — sejam nosso mantra interno. Para ela, repito: “Não sei quem é a senhora, mas muito obrigada!”. Não vamos desistir. A luta do Brasil não é em vão. Celebrar o 4 de julho não é apenas celebrar a terra dos livres forjada pelos corajosos. É celebrar o espírito dos bravos que não se curvam e não desistem, onde quer que eles estejam — na Filadélfia, em Varsóvia, ou em São Paulo. 

Ana Paula Henkel - Revista Oeste

'A Boba da Corte', por Augusto Nunes

 Já não falta ninguém no Reino Supremo


Cármen Lúcia, ministra do Supremo Tribunal Federal | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil


A ministra Cármen Lúcia estava a poucos quilômetros de Brasília quando um problema mecânico obrigou o carro oficial a estacionar no acostamento da rodovia que liga a capital federal a Goiânia. Dez minutos depois, o motorista continuava tentando descobrir o que houvera. Ao lado do capô, a passageira parecia especialmente aflita com o imprevisto: não chegaria ao Supremo Tribunal Federal no horário em que deveria começar uma importante reunião convocada pela própria Cármen Lúcia, então presidente da Corte. 

“Foi então que o socorro chegou de moto”, contou naquela noite de 18 de outubro de 2016 a mulher risonha, falante e extraordinariamente franzina. Encerrada a entrevista concedida ao programa Roda Viva, ela resolveu continuar a conversa com o grupo de jornalistas com meia dúzia de boas histórias. Uma delas foi essa numa estrada do Brasil central. 

“Eram dois militares montados em motocicletas”, continuou a narrativa. 

“Um foi ajudar a examinar o motor, outro veio falar comigo. A cara era de alguém que já vira meu rosto em algum lugar, mas não sabia direito quem eu era. Contei que estava atrasada para um compromisso. Meio constrangido, ele disse que só podia me oferecer uma carona na traseira. Mesmo trajando um vestido e sem capacete, não tive dúvida: fui logo me ajeitando na moto. O rapaz quis saber se por acaso eu não era ministra do Supremo. Disse que sim. Em seguida perguntou meu nome. Também não tive dúvida. Respondi que me chamava Rosa Weber.” 


Ministra Cármen Lúcia, durante reunião para aprovar as resoluções contra a IA | Foto: Divulgação/TSE/Twitter/X 

Minha simpatia por Cármen Lúcia aumentou: quer dizer que, além de tudo, a mulher que presidia o STF era uma boa contadora de casos? A ministra nem precisava brilhar nesse quesito para merecer a admiração do Brasil que pensa e presta. Bastavam as sucessivas manifestações de independência intelectual e apreço pela Justiça. A ministra apoiava os avanços da Operação Lava Jato. Sabia impor limites ao sempre espaçoso Gilmar Mendes. Vivia rechaçando as teimosas piruetas e chicanas da bancada empenhada na revogação da norma segundo a qual a pena aplicada a um criminoso só pode começar a ser cumprida depois da condenação em segunda instância. E condensara a paixão pela liberdade de expressão numa frase que todos os brasileiros um dia dissemos na infância: “Cala a boca já morreu”.




A ressurreição do cala a boca começou em outubro de 2022, quando Cármen Lúcia caprichou no papel de parteira da “censura temporária”, receitada em “situações excepcionalíssimas”. Nessa categoria a ministra enquadrou um documentário, produzido pela Brasil Paralelo, sobre o atentado sofrido por Jair Bolsonaro. Depois de reincidir nas declarações de amor à livre expressão, a mineira em mutação ponderou que, em certos casos, a censura funciona “como veneno ou remédio” — e proibiu a exibição do filme até a realização do segundo turno da eleição presidencial. “Este é um caso extremamente grave, porque de fato temos uma jurisprudência do STF, na esteira da Constituição, no sentido do impedimento de qualquer forma de censura”, declamou a ministra. Depois de receitar o veneno, procurou consolar o envenenado: “Não se pode permitir a volta da censura sob qualquer argumento no Brasil”. 

Neste fim de junho, novamente a serviço da bancada que reduziu o STF a capitão do mato das liberdades democráticas, Cármen Lúcia aprovou a mutilação do Marco Civil da Internet. Ao justificar o apoio à transformação das redes sociais em castradoras do direito de expressão, nossa flor de esquizofrenia elevou a contradição à categoria de arte: “Censura é proibida constitucionalmente, é proibida eticamente, é proibida moralmente, é proibida, eu diria, até espiritualmente. Mas não pode também permitir que nós estejamos numa ágora em que haja 213 milhões de pequenos tiranos soberanos”.




É uma tese de assustar Napoleão de hospício: se toda a população brasileira é composta de pequenos tiranos, não restaria nenhum a oprimir — com exceção dos grandes tiranos que controlam a Corte Suprema. Ali já existiam monarcas à espera de especialistas na lida com maluquices, conselheiros do rei providos de dois neurônios, eunucos achando que falam grosso, atiradores estrábicos e a multidão de patifes intrigantes. Nesta semana, a sede do reino foi invadida por uma mulher entoando a reveladora ladainha: “Alguém, em qualquer espaço, em praça pública, pode gritar: eu odeio Cármen Lúcia”. Chegou a figura que faltava. Já temos a Boba da Corte.

Augusto Nunes - Revista Oeste

J.R. Guzzo e a 'Sociedade das ideias mortas'

 O Brasil que poderia ter resultado do que fomos em 1947 não existe. Foi, de colapso em colapso e de naufrágio em naufrágio, roído por 40 anos de política em torno, em função e em reação permanente a Lula


Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock


M enos de 80 anos atrás, como lembra o artigo de capa de Adalberto Piotto na última edição de Oeste, o Brasil era um país ficha limpa na comunidade das nações. Mais que isso: era o exemplo do bom elemento, como dizia a polícia da época, um sujeito decente o necessário para presidir os trabalhos da sessão da ONU que criou o Estado de Israel. O tempo passa, o tempo voa, e o que acontece? Em vez de melhorar, como melhorou a maioria dos membros da ONU, o Brasil piorou tanto que virou um país bandido. 

Como poderia ser diferente? O presidente da República é um corrupto passivo e lavador de dinheiro condenado em três instâncias, e por nove juízes diferentes, na Justiça Penal brasileira. Nunca foi absolvido dos seus crimes; é o único presidente oficialmente ladrão entre os quase 200 chefes de Estado que há hoje no mundo. É o único semianalfabeto entre eles todos. O seu governo está morto e a sua política externa tem sido um crime serial. Somos hoje o aliado do terrorismo, do crime e das ditaduras mais sórdidas do planeta


Presidente Lula | Foto: Ricardo Stuckert / PR 

É duro, mas também é o que dizem os fatos. O Brasil que entrou para a história como um dos fundadores de Israel é hoje seu inimigo de morte — não por decisão dos brasileiros, mas por ter um governo antissemita e empenhado, como propõem as tiranias muçulmanas, no genocídio do povo judeu. Lula, a extrema esquerda e as classes culturais jogaram o Brasil na defesa da selvageria. Sai Oswaldo Aranha. Entram Celso Amorim e os seus anões, como essa nulidade que executa ordens no Itamaraty. Deu nisso.

Não sobrou, no fim dessa história, nem o filé Oswaldo Aranha — quem, em sã consciência, poderia imaginar um filé Celso Amorim? Não dá. O governo Lula e a gente que está nele não têm o nível mínimo que é preciso para criar nada; tem o ministro Sidônio e os seus bilhões, mas está em processo de morte cerebral, e quando fica assim nada resolve. 

O Brasil que poderia ter resultado do que fomos em 1947 não existe. Foi, de colapso em colapso e de naufrágio em naufrágio, roído por 40 anos de política em torno, em função e em reação permanente a Lula. Não poderia ter dado em nada de diferente do que deu — quatro décadas seguidas, desde os anos 1980, de um câncer em metástase. 

Como na Itália fascista de Mussolini ou na Argentina de Perón, o Brasil vive há 40 anos de Lula, Lula e mais nada. Vive, agora, a pior fase desses 40 anos. Na frente de todo mundo, e sem nenhuma preocupação em disfarçar o que quer, Lula está enfim construindo o que sempre quis: uma ditadura no Brasil. 


Benito Mussolini inspeciona tropas durante visita a uma base naval na Sicília (25/6/1942) | Foto: Divulgação/Arquivos Federais da Alemanha

Se vai conseguir ou não é coisa que ainda não está resolvida, mas a tentativa nunca foi tão intensa como agora. É um golpe de Estado em fases. A primeira, com o STF no papel que normalmente é do Exército, foi tirar Lula da cadeia, sem julgamento algum, e entregar a ele a Presidência da República — “missão dada, missão cumprida”, disseram eles mesmos. 

A fase atual é a anulação do Congresso como Poder independente e a elevação do consórcio Lula-STF à posição de Poder Supremo (veja artigo de capa, de Silvio Navarro). 

Não é apenas um golpe de Estado, com a cumplicidade das Forças Armadas — ou com a sua escalação para o papel de pintar calçadas, o que dá na mesma. É o esforço para criar toda uma doutrina fascista no Brasil. Como diz a ministra Cármen, num grande outdoor do pensamento oficial, ter uma opinião pessoal é crime — coisa de “pequenos tiranos”, diz ela. Os deputados eleitos são “inimigos do povo”, prega o governo na internet. “Todos aqui admiramos o modelo da China”, diz o ministro Gilmar. 

É a confirmação do apronto, como se dizia antigamente no turfe. Lula sempre disse essas coisas em público — e a cada vez que dizia o comentário era: “Ah, coitado, o Lula é só um idiota, deixa ele”. Mas o que Lula tinha na cabeça, o tempo todo, era a ditadura que hoje desfila na avenida. “Sempre soube que a gente não chegaria ao poder pelo voto”, disse ele. “Tenho orgulho de ser chamado de comunista”, informou. “A covid foi uma bênção de Deus”, para provar que o Estado tem de ser o ente supremo. 

O resto do que Lula diz, desde os anos 1980, é mais do mesmo, e daí para pior. Não dá, agora, para dizer que ele mudou só porque está promovendo um golpe de Estado a favor de si próprio. Ele e a extrema esquerda brasileira sempre foram contra tudo aquilo que tem a ver com democracia: contra a liberdade de imprensa, contra o resultado de eleições quando o adversário ganha (“fora FHC”), contra as ideias de religião, pátria e família (“valores que combatemos a vida toda”) etc. etc. Por que seriam contra a sua própria ditadura? 

Projetos de ditadura, não importa sob qual disfarce, raramente aparecem desacompanhados — andam de mãos (e coração) dadas com momentos de colapso cultural. É o caso, precisamente, do Brasil de Lula, do STF e da extrema esquerda. Acham-se civilizados. Não imaginam quanto são típicos. Nada poderia espelhar com tanta exatidão o Brasil primitivo, escuro, ignorante e inimigo da mudança quanto esse coro de intelectuais que aplaude às cegas os pajés do regime. São os caetés comendo o bispo Sardinha. 

A intelectualidade brasileira terá a seu crédito, para sempre, o apoio intransigente que deu à censura — por sinal, junto com a mídia, uma das primeiras defensoras do linchamento da liberdade de expressão nas redes sociais. É devota do “sem anistia”, um grito de ódio tribal 04/07/2025, 13:04 Sociedade das ideias mortas - Revista Oeste https://revistaoeste.com/revista/edicao-276/sociedade-das-ideias-mortas/ 5/12 que nada tem a ver com o mundo das ideias. Acha normal que o STF condene a 14 anos de prisão uma cabeleireira que pintou com batom uma estátua em Brasília. É a favor do fechamento, na prática, do Congresso, por via do mesmo STF. 


A cabeleireira Débora dos Santos, condenada a 14 anos de prisão pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, por ter pintado com batom na estátua | Foto: Reprodução/X 

O intelectual brasileiro-padrão dos dias de hoje acha que Alexandre de Moraes é um Hércules da democracia e que Gilmar Mendes é um novo Rei Salomão. Acredita que Lula, um arquimilionário explícito, está à frente da “guerra contra os ricos” — e que sua mulher, que viaja sozinha num avião da FAB de 200 lugares, quer distribuir riqueza. Está convencido de que houve tentativa de golpe no 8 de janeiro; acha que o fato de não existirem provas disso é irrelevante. Tem certeza de que o Bolsa Família é um programa social. 

A lista poderia ir adiante, por horas e horas, mas para quê? É óbvio que as classes cultas que dão apoio ao governo refletem um mundo em que a cultura morreu. Se não morreu, onde andaria a produção cultural do Brasil deste momento? Não existe. Um país que já teve Pixinguinha, Noel Rosa e Tom Jobim hoje tem funk. Onde havia Eugênio Gudin, Roberto Campos e Mário Henrique Simonsen há Armínio Fraga. Onde havia dança há ginástica. Onde havia vida cultural há Rede Globo. Em vez de escritores, há faculdades de letras.


Sociedade das ideias mortas - Revista Oeste

O artista brasileiro do regime Lula-STF tem uma ideia fixa, e ela não tem nada a ver com livros, música ou peças de teatro: tem a ver, única e exclusivamente, com a “denúncia do racismo” na literatura, nas canções e no teatro. (Noel Rosa, por exemplo, já foi acusado de racismo por ter composto Feitiço da Vila.) 

Os nossos compositores não compõem há 30 anos. Nossos arquitetos produzem a paisagem urbana que está aí. Nossos artistas pintam muros. Há um rancor oculto (e semioficial) à arte clássica, tida como elitista, branca e excludente. Quando ouve falar de “cultura”, o regime brasileiro, como Goebbels, tem vontade de sacar o revólver — ou pelo menos abrir um inquérito no STF. A universidade, sobretudo a pública, morreu como local de debate, ideias e indagação — na verdade, é onde mais se combate a circulação livre dos pensamentos neste país. 

É simples. Não há cultura onde é proibido falar; aí, em vez de universidade, o que se tem é a religião do Estado, como em Cuba, no Irã ou na Venezuela. O ensino superior, hoje, é um lugar de treva. A democracia naufragou no Brasil. A cultura também. O resto é Lei Rouanet e bilhões em dinheiro público para comprar artistas sem obra e intelectuais sem intelecto. 


J.R. Guzzo - Revista Oeste

'A sobrevivência da democracia', por Sílvio Navarro

 A um ano das eleições, o Congresso dá as costas para o cambaleante governo Lula, que pede socorro ao Supremo Tribunal Federal para terminar o mandato


Presidente Lula e Cúpulas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, no Congresso Nacional | Foto: Montagem Revista Oeste/Rafa Neddermeyer/Agência Brasil/Ricardo Stuckert/PR 


E stá em curso no Brasil uma tentativa deliberada e sem disfarce de anular o Poder Legislativo. Ao contrário do que ocorreu em outros momentos da história do país, desta vez não há movimentação de tropas nem generais no comando: quem pretende dissolver o Congresso Nacional é o consórcio que venceu as eleições de 2022, formado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo PT. 

O tema não é novo. Desde que voltou ao poder, o presidente Lula da Silva não conseguiu montar uma base mínima de deputados para votar seus projetos — o problema sempre foi aritmético. Mas, desde a semana passada, a baderna institucional e o desarranjo político estão escancarados. Depois de ter sido humilhado na tentativa de aumentar impostos à revelia do Legislativo, o petista disse com todas as letras que administra o país em sociedade com ministros do Supremo, o que não está escrito em nenhuma linha da Constituição — pelo contrário, o artigo 2º da Carta prega a independência dos três Poderes. 

“Se eu não for à Suprema Corte, não governo mais o país”, afirmou, sem rodeios, na quarta-feira, 2, em entrevista a uma TV na Bahia. Em seguida, Lula continuou seu raciocínio tíbio: “Cada macaco no seu galho. O Congresso legisla, eu governo”. O repórter poderia ter feito a seguinte pergunta: “Mas o que o Congresso fez ao vetar o aumento de impostos não é justamente legislar?”. 


A sobrevivência da democracia - Revista Oeste 

Aos fatos: a crise política, que para a maioria dos congressistas não tem volta, instalou-se na noite do dia 25. A Câmara impediu a ampliação da cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que renderia fôlego de R$ 10 bilhões ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O placar foi avassalador: 383 votos a 94. Traduzindo: o governo nem sequer conseguiu colocar cem votos no plenário, e não teve o apoio das bancadas de esquerda do PSB e do PDT — este último, abalado desde que Carlos Lupi foi rifado no escândalo do INSS. O Senado chancelou a decisão da Câmara em votação simbólica horas depois. 

A partir daí, o que aconteceu em Brasília foi um festival de inabilidade política e autoritarismo do PT.

 Em vez de aceitar a decisão soberana do Congresso e buscar uma alternativa para o terremoto fiscal, Lula, Haddad e a articuladora política do governo, Gleisi Hoffmann, decidiram partir para a briga. Gleisi ameaçou, em postagem nas redes sociais, represar as emendas dos deputados; Haddad disse que o presidente da Câmara, Hugo Motta, descumpriu um acordo firmado a portas fechadas; e Lula convocou a militância de esquerda para ressuscitar um velho discurso. 

Em sua terceira passagem pela Presidência da República, a quinta do PT, Lula resgatou um bordão dos anos 1990, quando convocava greves no ABC Paulista: “Nós contra eles”. Sempre foi da natureza petista radicalizar e sacar esse discurso ideológico em tempos difíceis. Ocorre que o “eles”, desta vez, são milhões de pagadores de impostos, sobrecarregados de tributos e insatisfeitos com a geladeira mais vazia. 

O petista tampouco fez a seguinte conta: em Brasília, o “nós” reuniu 94 votos no Plenário; já o “eles” juntou 383, um quórum capaz de aprovar qualquer emenda constitucional e impeachment de presidente. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Lula vai dobrar a provocação: ele não deve sancionar ou até vetar o aumento de cadeiras na Câmara — de 513 para 531. O prazo é dia 16. Se ele não se manifestar, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pode promulgar o texto aprovado nas duas Casas. Porém, se houver veto de Lula, o nível da fervura política é imprevisível.


Presidente Lula e Davi Alcolumbre, presidente do Senado | Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil 

Paralelamente, mesmo depois de desaconselhado por juristas, por se tratar de uma prerrogativa legítima do Legislativo, o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, recorreu à Corte — e disse que conversa abertamente com os togados. O conjunto da obra, que já era ruim em Brasília, ficou ainda pior porque o decano, Gilmar Mendes, teve uma ideia: deixar o caso nas mãos de Alexandre de Moraes, que bate recorde de impopularidade entre os parlamentares. Em seguida, Gilmar levou todos eles para Lisboa, congressistas e ministros, junto com empresários, para o seu convescote anual — evento criticado até pela ala da imprensa que bajula o STF.

Outro dado importante: além de se mostrar mais agressivo hoje em dia, Lula ignorou caminhos que ele próprio percorreu em crises graves no passado. Em 2005, quando o PT fez uma lambança e perdeu o comando da Câmara dos Deputados numa madrugada histórica, Lula pediu ajuda a aliados moderados. Naquela época, o PT lançou dois candidatos — o paulista Luiz Eduardo Greenhalgh e o mineiro Virgílio Guimarães — e tomou um baile da oposição, que conduziu o folclórico Severino Cavalcanti à presidência. 

Brasília vivia meses tumultuados por causa do estouro do Mensalão. Qual foi a saída? Depois de 217 dias de intensa articulação política, Severino caiu. Aldo Rebelo foi chamado para apagar o incêndio e presidiu a Câmara. Andre Marsiglia @marsiglia_andre · Seguir Código de Processo Civil Art. 145. Há suspeição do juiz: II -(…)que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa (…) Parece que temos uma confissão. Messias precisa dizer imediatamente com que ministros conversou. Estes ministros não podem julgar o caso 

No segundo mandato, em 2007, Lula enfrentou novamente a fúria do PT e escalou um dos mais hábeis negociadores da Casa, José Múcio Monteiro, do PTB, para a coordenação política. A diferença no perfil de Múcio (hoje ministro da Defesa) e integrantes dessa nova esquerda encrenqueira ficou evidente, por exemplo, na noite do fatídico 8 de janeiro de 2023. Imagens mostram uma discussão ríspida entre ele e Flávio Dino, que chefiava a pasta da Justiça. Sempre que foi questionado sobre o “golpe do 8 de janeiro”, Múcio disse que assistiu a um tumulto, com cenas de vandalismo iguais às tantas que acompanhou em cinco mandatos como deputado federal. 


José Múcio Monteiro, ministro da Defesa | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Fato é que Lula dá sinais de que não tem mais paciência nem tino para a política. As tradicionais reuniões no Palácio da Alvorada e os churrascos na Granja do Torto deram lugar a uma agenda descontrolada de viagens ao exterior. Além disso, a presença da primeira-dama, Janja da Silva, a tiracolo inibe conversas com parlamentares — ela não só decide quem pode ou não ser recebido no gabinete, como atende os telefonemas.

Por fim, outro ponto crucial para entender a crise é o instinto de sobrevivência política. Nesta época do ano, os deputados viajam para os seus redutos eleitorais. Seja nas festas do São João, seja em eventos de férias, o descontentamento com a gestão petista é visível. Eles ouvem críticas de que os alimentos estão caros, a gastança de Janja com viagens pegou muito mal, houve queda no poder de compra, e nenhuma das promessas de campanha foi cumprida — a picanha não apareceu, e não há um único tijolo de obra. Todos os institutos de pesquisa mostram a avaliação do governo em queda livre. O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, parece completamente perdido. Não há nomes para substituir Fernando Haddad na Fazenda. 

 

A sobrevivência da democracia - Revista Oeste




Matéria publicada no jornal The Economist (29/6/2025) | Foto: The Economist/Reprodução


O resultado dessa equação é o desembarque do chamado centrão, que dá musculatura para a governabilidade no Congresso, mas não vai correr riscos em 2026. O PT ficou isolado. Os dirigentes do PP e do União Brasil falam abertamente em entregar os ministérios no segundo semestre. O PSD, de Gilberto Kassab, e o Republicanos, de Hugo Motta, estão apenas aguardando a definição sobre o futuro de Tarcísio de Freitas nas urnas — ele é filiado ao Republicanos e tem o PSD como vice. 

Essas quatro siglas reúnem uma massa de prefeitos e vereadores enorme. Por exemplo, a fusão de PP e União resultará em 1,4 mil prefeitos, 12 mil vereadores, 6 governadores, 109 deputados e 14 senadores. Sozinho, o PSD administra 891 cidades, onde moram 8/15 milhões de pessoas. 

O Republicanos tem a força da Igreja Universal do Reino de Deus. Isso sem contar o PL, de Jair Bolsonaro. Ou seja: quem vai fazer campanha para Lula em 2026? Qual deputado ou senador (serão renovadas 54 cadeiras) vai subir no palanque Lula? Aliás, onde ele terá palanque, já que o PT fez só 252 prefeituras e uma única capital (Fortaleza)? 

O Psol não tem prefeitos. Interferência do STF Na quarta-feira, a deputada Caroline de Toni (PL-SC) jogou luz no tamanho da interferência do Judiciário no Legislativo. Ela disse em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, que os ministros do STF estariam monitorando os votos dos deputados. Trocando em miúdos: uma equipe do STF estaria “fichando” os parlamentares para saber quem atua contra ou a favor das vontades da Corte.



A deputada descreve um episódio até similar à atual crise do IOF. A Câmara aprovou um projeto para desonerar a folha de pagamento, em benefício de 17 setores produtivos. Lula não gostou e vetou. O Congresso reagiu e derrubou o veto presidencial, numa queda de braço natural — e constitucional. Sempre foi assim, desde a redemocratização do país. Imediatamente, a AGU acionou o Supremo. 

O caso caiu nas mãos do ministro Cristiano Zanin, que mandou a Câmara legislar de acordo com o que o STF e o governo querem. Uma pergunta parece inevitável: se a interferência do STF chega ao ponto de impedir o Congresso de legislar e a imunidade parlamentar prevista no artigo 53 da Constituição já foi rasgada para perseguir deputados de direita, qual é o papel do Poder Legislativo no Brasil? 

O Parlamento brasileiro já foi dissolvido 18 vezes na história, algumas delas simbólicas: em 1891, pelo marechal Deodoro da Fonseca; na década de 1930, por Getúlio Vargas; e pelos atos institucionais, no regime militar. Nunca o resultado foi bom. Com todas as suas imperfeições, o Congresso é a caixa de ressonância da sociedade, e o único capaz de conter, pelas vias democráticas, a mentalidade autoritária de quem não aceita sair do poder. O que está em jogo hoje no país é a sobrevivência da política — ou a ditadura.

Sílvio Navarro - Revista Oeste



'O legado da Independência americana', por Rodrigo Constantino

Os Estados Unidos são o que são hoje por mérito de um modelo eficiente, justo e adequado à natureza humana


Foto: Shutterstock


N o dia 4 de julho os americanos celebraram mais um aniversário de sua Independência. O grande divisor de águas entre a era da servidão e a da liberdade foi a Revolução Americana. Ali seria selado o direito do povo a um governo que respeitasse as liberdades individuais como nunca fora visto. 

A famosa passagem da Declaração de Independência, de 1776, deixa isso claro: “Consideramos estas verdades evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade”. 

A Independência americana foi conquista de um povo que não aceitava a subordinação facilmente. A Grã-Bretanha, bastante endividada, tentou impor mais tributos aos colonos. A primeira tentativa foi a Lei da Receita, de 1764, conhecida como Lei do Açúcar. 

Em seguida foi sancionada a Lei do Selo, em 1765. Isso despertou a fúria dos colonos, e houve forte reação de grupos organizados de comerciantes, conhecidos como “Filhos da Liberdade”. Os gritos ecoavam que “sem representação não há tributação”. 

A coroa inglesa insistiu, em 1767, com as Leis Townshend, que aumentavam as taxas alfandegárias sobre produtos básicos britânicos. Seguiram-se boicotes altamente eficazes, e o governo britânico recorreu à força. Por fim, a Companhia das Índias Orientais adquiriu o monopólio sobre a importação de chá para as colônias, culminando na famosa “Festa do Chá”, em 16 de dezembro de 1773, em Boston. Era a gota d’água para os americanos. 


Festa do Chá, em Boston | Foto: Wikimedia Commons

O panfleto político Common Sense, escrito por Thomas Paine em janeiro de 1776, jogou lenha na fogueira revolucionária. Paine atacou a monarquia e referiu-se ao rei como “o tirano da Grã-Bretanha”. Para ele, a escolha era simples: permanecer sob o jugo de um tirano ou conquistar a liberdade. Paine deixou claro que o papel do governo era garantir a segurança, e destacou que ele, mesmo no seu melhor estado, “não é mais que um mal necessário”. 

Outro nome de extrema relevância para a Independência americana é Thomas Jefferson, que ficou famoso como o autor da Declaração de Independência. Jefferson fez campanha pela separação entre a Igreja e o Estado e pela liberdade religiosa. A fermentação política nas colônias ocorria no contexto do Iluminismo, sob a influência de pensadores como John Locke. Um Estado laico com foco na proteção das liberdades individuais, mas erguido sobre os pilares dos valores morais cristãos: eis a essência da Revolução Americana.


Thomas Jefferson fez campanha pela separação entre a Igreja e o Estado e pela liberdade religiosa | Foto: Wikimedia Commons

A Revolução Americana representou um marco na história. Combateu o excesso de tributação, assim como a ausência de representação política. Lutou pela separação entre a Igreja e o Estado, sem cair na postura antirreligiosa que vemos hoje nos “progressistas”. Entendeu que o governo serve para proteger as liberdades individuais, e que cada um deve ter sua propriedade preservada, assim como deve ser  livre para buscar a felicidade à sua maneira. 

Tratou de limitar ao máximo o poder estatal, protegendo os indivíduos da ameaça do próprio Estado e garantindo seu inalienável direito de defesa com a Segunda Emenda. Compreendeu que a descentralização do poder é fundamental por meio do federalismo. Em resumo, criou a primeira República com bases realmente liberais e um viés moral conservador. 

Nada disso tinha que ter acontecido dessa maneira, o que torna tudo mais fascinante ainda. 

O livro Milagre na Filadélfia, de Catherine Drinker Bowen, é um relato detalhado e envolvente sobre a Convenção Constitucional dos Estados Unidos, que resultou na criação da Constituição Americana. Pelo título já fica claro que a autora considera um verdadeiro milagre o fato de tantos personagens com ideias distintas terem sido capazes de produzir um documento com unidade e duradouro, que deu as bases do governo americano desde então. 


Capa do livro Milagre na Filadélfia, de Catherine Drinker Bowen | Foto: Divulgação


A Convenção Constitucional enfrentou dificuldades significativas, incluindo divisões entre os estados sobre questões como representação, escravidão e o equilíbrio de poder entre estados grandes e pequenos. Havia tensões entre federalistas, que defendiam um governo central forte, e antifederalistas, que temiam a perda de autonomia dos estados. Foi apenas por meio de muito debate, compromisso e concessões que os 12 estados participantes foram capazes de parir a Constituição vigente ainda hoje, e com poucas emendas. 

A Constituição estabeleceu um sistema de governo com separação de Poderes, freios e contrapesos, e flexibilidade para adaptações futuras. Bowen enfatiza que o “milagre” não foi apenas o resultado, mas o processo colaborativo que superou enormes desafios para criar uma Constituição duradoura. Na sabedoria de homens como Benjamin Franklin, John Adams e Thomas Jefferson, construíram-se os pilares que criariam a nação mais próspera do mundo. 

Não há superioridade racial, não há fatores genéticos, não há maiores recursos naturais, não há sorte. Foram os princípios adotados por esses homens que possibilitaram um meio amigável ao progresso humano. Foi a liberdade individual que estimulou o empreendedorismo e a inovação. Foi o conceito de troca voluntária, básico do capitalismo, que permitiu tamanho avanço. 

Os Estados Unidos são o que são hoje por mérito de um modelo eficiente, justo e adequado à natureza humana. Infelizmente, até os americanos vêm se afastando do conceito original que tanto os distanciou do resto do mundo. 

O Leviatã estatal tem crescido, especialmente durante gestões democratas como a de Obama e Biden, alimentando-se das liberdades individuais tão valiosas. Mas a chama da liberdade, acesa naquele histórico 4 de julho de 1776, continua viva.

O mundo todo deveria comemorar essa data. Afinal, não se trata somente do aniversário de uma nação livre, mas, sim, da própria liberdade como a conhecemos na era moderna.

Antes dos Estados Unidos, os países eram calcados em tradições coletivistas e estatizantes, sem esse foco na liberdade individual. Cidadãos eram tratados como súditos. Como defensor da liberdade, fico muito feliz de ter nascido em 4 de julho de 1976, no bicentenário da Independência. 

Viva a liberdade! Deus abençoe a América! 


Foto: Shutterstock

 

Rodrigo Constantino  - Revista Oeste

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Escória esquerdista invade banco na Faria Lima em protesto pela taxação de super-ricos

 Nesta quarta-feira, 2, o presidente Lula exibiu um cartaz pedindo a taxação dos super-ricos em evento na Bahia


De acordo com a Polícia Militar de São Paulo, cerca de 50 militantes participaram do ato | Foto: Reprodução/X/Frente Povo Sem Medo

Na manhã desta quinta-feira, 3, militantes da Frente Povo Sem Medo e do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) invadiram a sede do Itaú BBA, na Avenida Faria Lima, em São Paulo, em protesto pela taxação dos chamados super-ricos. 

Os invasores exibiam faixas com as seguintes mensagens: “Taxação dos super-ricos já”, “o povo não vai pagar a conta” e “chega de mamata”. De acordo com a Polícia Militar paulista, cerca de 50 militantes participaram do ato. 

Pelas redes sociais, a Frente Povo Sem Medo afirmou que o ato teve como objetivo defender uma suposta “justiça tributária”.

Também pelas redes sociais, o MTST chamou o ato de “ocupação”. A entidade afirmou que a taxação dos super-ricos é “crucial para reduzir a desigualdade”.

“São lucros e dividendos que seguem intocados, enquanto a maioria trabalhada muito e paga caro por tudo”, afirmou o grupo invasor. “Os de cima acumulam cada vez mais fortuna, isenção e influência – vivem em um país feito sob medida para manter seus privilégios.” 

De acordo com o MTST, “o sistema é cruel com quem tem pouco e generoso com quem tem demais”. Por fim, o grupo ameaçou novas invasões: “Nossa ocupação na sede do Itaú em São Paulo é só o começo.” 

Lula pediu taxação de super-ricos em ato na Bahia 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva exibiu um cartaz pedindo a taxação dos super-ricos ao participar de um evento em Salvador, na quarta-feira 2, ao lado do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues,  e da primeira-dama do país, Janja da Silva. O gesto foi endossado em uma publicação no perfil do petista no X. “Mais justiça tributária e menos desigualdade”, afirma Lula, na publicação. “É sobre isso.” 

Diógenes Feitosa - Revista Oeste

quarta-feira, 2 de julho de 2025

J.R. Guzzo - A democracia do tapetão

 Sem maioria no Congresso, o governo Lula aposta na canetada do STF para impor sua agenda


O pessimismo também marca as expectativas da população em relação ao futuro do governo | Foto: Reprodução/Flickr/Lula Oficial 

O Brasil vive hoje a maior mentira de sua história. Há uma mentiraem-chefe, ou a mãe de todas as mentiras: a de que está em vigor por aqui uma democracia, com liberdades públicas e direitos individuais, plena separação de poderes e um Estado que se subordina à vontade da maioria, expressa em eleições livres. Segue-se inevitavelmente uma corredeira de sub mentiras, todas derivadas da primeira. 

A mais agressiva delas sustenta que o Congresso virou um inimigo do povo. O Congresso Nacional pode ser um dos piores do mundo, mas há em torno dele dois fatos indiscutíveis. O primeiro é que este Congresso é o único que o Brasil tem na vida real; não há um outro, mais qualificado, esperando no banco para entrar no jogo. O segundo é que o crime do qual se acusa os parlamentares é o próprio absurdo em termos: aprovaram uma lei que o governo Lula não quer. E daí? Não faz nexo impedir que cumpram o seu dever constitucional número um.

Não interessa se a lei é boa ou é ruim. Ela é perfeitamente legítima, e isso basta — se o governo, a extrema esquerda e os professores da USP não gostam, paciência. Deveriam, nesse caso, ter trabalhado mais e melhor no plenário para ganhar a votação, e não perder por prodigiosos 383 a 98. Como é possível mudar o resultado depois de uma surra dessas? É óbvio que o Congresso não quer o que governo está querendo — a única saída aí é tentar de novo, de outro jeito. Ponto final. 

Como o governo Lula burla a democracia Mas o governo Lula não quer tentar de novo, nem amanhã e nem nunca, porque sabe que vai perder outra vez. Querem aumentar o IOF, com a infame desculpa de que isso vai atingir só os “ricos”. 

Para começo de conversa, é falso. 

Não há imposto sobre a face da Terra que pegue “só os ricos”; se é imposto, pega todo mundo, pois é automaticamente repassado para baixo. Em segundo lugar, se querem taxar os ricos, deveriam buscar o dinheiro que estão querendo nos seus próprios cofres — não há ninguém mais rico neste país que o Estado. 

O governo Lula quebrou o Brasil, por gastar de forma celerada, maliciosa e intencional, e na hora em que precisa de dinheiro não lhe passa pela cabeça cortar R$ 1 dos seus gastos. Só pensa naquilo — aumentar imposto, embora o Estado vá arrecadar R$ 4 trilhões em 2025. Não daria, por exemplo, para deixar de trazer uma ladra peruana com avião da FAB, ou conter os salários de paxá das castas supremas do funcionalismo? 

Não. Tem de aumentar o IOF. Tudo ou nada.




O Supremo como aliado 

O “nada”, no mundo das realidades objetivas, é fechar o Congresso Nacional para todos os efeitos práticos. É o que o governo Lula está fazendo neste momento. O Congresso permanece aberto, para efeitos de cenário, fantasia e adereços. Pode, aliás, continuar gastando R$ 15 bilhões por ano e, sobretudo, pode continuar traficando “emendas” com o governo. Mas tem de fazer tudo o que Lula quer — senão, ele vai reclamar no STF e anular o que o Congresso aprovou. 

“Se eu não for à ‘Suprema Corte’, eu não governo este país”, disse Lula a respeito do seu recurso à decisão do Congresso. Eis aí — é ele mesmo, e não a oposição, quem está dizendo isso. Quer dizer: ele já dá como certo que o STF decida em seu favor, sem a menor tentativa de disfarçar a fraude ora em andamento. A esquerda diz o mesmo: não dá para a gente ficar perdendo todas. Melhor assim, talvez. Pior seria fingir que o Congresso existe, porque não existe.



O inimigo do Congresso 

E daí, se o governo “perde todas”? Que trate de construir suas vitórias no plenário — e não correr para a saia do STF, mendigando dos ministros os votos que não tem no Congresso. Há na praça, como consequência da ficção que é hoje a democracia brasileira, uma comédia em que o enredo narra uma “divergência” entre dois Poderes da República — e a “convocação” do STF como árbitro imparcial da disputa. “Que vença quem tiver a melhor razão jurídica”, alegam os comediantes. “Tenha dó”, diria Alexandre de Moraes.

É ele mesmo, o ministro Moraes, quem vai relatar o processo movido pelo governo. O que mais se poderia dizer? Moraes é o inimigo número 1 do Congresso Nacional dentro do Supremo. Com uma ou outra exceção, todo o STF, na verdade, acha que o Congresso é um estorvo para o regime. Não aprova as leis que os ministros querem. Aprova leis que não querem. É de direita. É um reflexo dos “213 milhões de pequenos tiranos” que formam o povo brasileiro. Quer a anistia. Não serve para o Brasil “recivilizado”




J.R. Guzzo - Revista Oeste