Mariana Sanches e Tiago Dantas - O Globo
Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro na manhã desta sexta-feira, o presidente do Instituto Lula Paulo Okamotto afirmou que não sabia que a empreiteira Odebrecht era a dona de um imóvel na Rua Haberbeck Brandão que a diretoria do Instituto visitou em 2011.
Okamotto foi ouvido na condição de testemunha em um processo no âmbito da Lava-Jato que investiga se a empreiteira ofereceu um prédio como sede à instituição do ex-presidente Lula em troca de vantagens indevidas na administração pública.
Interpelado repetidas vezes pelo Ministério Público Federal e por Moro, ele disse não se lembrar quem o indicou para conhecer o imóvel ou intermediou o contato com representantes da Odebrecht.
— Eu não lembro, não tenho certeza. Prefiro não dizer algo que pode ser errado, não quero ser leviano — afirmou Okamotto, que disse não ter havido interesse de Lula e da diretoria para alugar o local porque ele seria de difícil acesso por transporte público.
De acordo com Okamotto, ele visitou entre 20 e 25 imóveis entre 2011 e 2014, já que a diretoria estava em busca de um espaço maior para o Instituto Lula e de um local que abrigasse o Museu do Trabalhador, onde ficasse guardado o acervo presidencial de Lula.
Ainda segundo Okamotto, como era conhecida a informação de que ele estava buscando uma nova sede, muitas pessoas o indicavam para conhecer espaços que poderiam ser alugados. Um desses seria o ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar, que, segundo Okamotto, fez algumas indicações a ele depois que ambos se conheceram, em 2011.
— O senhor Alexandrino é uma pessoa muito solícita, soube que a gente estava procurando imóveis e se prontificou a ajudar, eu nem sabia que eles (Odebrecht) tinham negócios no setor imobiliário. Ele tentou oferecer algumas iniciativas, mas eu também procurei por outras pessoas, a (corretora) Valentina Caran, que também me apresentou imóveis.
Okamotto afirmou não ter conhecimento de um crédito de R$12 milhões que a Odebrecht teria disponibilizado para a compra de uma nova sede ao Instituto Lula. A informação consta da acusação. De acordo com Okamotto, o imóvel da Rua Raberback Brandão seria alugado regularmente, caso tivesse havido interesse.
Também ouvida nesta sexta-feira como testemunha de defesa, Clara Ant confirmou que a diretoria do instituto optou por não ficar com o terreno por considerá-lo mal localizado.
Segundo ela, a visita foi rápida e teve a companhia de um arquiteto chamado Marcelo Ferraz, seu amigo, além de Lula e Marisa Letícia.
— Achamos muito desconfortável para aquelas instituições populares e sindicais que se relacionam conosco, que teriam que usar transporte público para chegar lá.
A defesa do ex-presidente protocolou no processo o estatuto do Instituto Lula, que mostra que o petista não responde solidariamente pelo instituto e figura apenas presidente de honra.
Conselheiro do Instituto Lula, o ex-ministro Luiz Dulci disse que esteve duas vezes no prédio da Rua Haberback Brandão e que nas duas vezes Lula esteve junto, mas consideraram inadequado.
- O que queríamos era uma casa mais ampla. Lá era um prédio em construção, um terreno muito grande. Seria muito caro, o prédio estava em construção, não daria para alugar. Além disso ficaria muito maior do que a nossa necessidade - afirmou Dulci.
O Ministério Público Federal perguntou se ele sabia a quem pertencia o imóvel, e Dulci afirmou que não. O juiz Sergio Moro quis saber se ele sabia quem havia indicado o imóvel para visitação, e Dulci disse que não, já que sequer houve interesse pelo imóvel.
- Se fosse adequado essas questões seriam tratadas, certamente. Como não consideramos adequado, essa questão não foi colocada - disse Dulci.
O ex-ministro Paulo Vanucchi, hoje membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que também prestou depoimento na condição de testemunha, negou ter visitado o prédio adquirido pela Odebrecht. Afirmou ter visitado cinco ou seis imóveis, alguns deles no bairro do Ipiranga, também considerados inadequados.