sexta-feira, 30 de junho de 2017

"Aprender a lutar contra a paralisia", por Cláudia Costin

Marcelo S. Camargo - 25.mai.2017/A2IMG
O secretario Jose Renato Nalini, visitou a Escola Estadual Alfredo Paulino e conheceu o projeto de gestão democrática dos alunos. Data: 25/05/2017. LOCAL: São Paulo/SP FOTO: Marcelo S. Camargo/A2IMG ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Estudantes durante aula na rede estadual de São Paulo


Folha de São Paulo

Não é infrequente um aluno alegar dificuldades para não realizar tarefas escolares. Houve um problema em casa, o bairro ficou alagado, a comunidade foi invadida. Frente a esses problemas, verdadeiros e desafiadores, bons professores procuram apoiar o aluno, mas não isentá-lo de atividades que o farão desenvolver competências das quais ele precisa para construir seu futuro.

As condições do aluno em situação de vulnerabilidade não são as ideais, mas nem por isso cabe uma atitude de falsa piedade que o impeça de aprender. 

Acomodações e estratégias diferentes devem ser adotadas, mas nunca a visão demagógica de que, para esse aluno, é melhor não demandar muito e oferecer educação de segunda classe.

O mesmo se passa com os professores: as condições de trabalho do professor no Brasil estão longe das ideais. O salário não atrai para a profissão, o reconhecimento social é pequeno, por vezes ele é tratado como vítima e não como um profissional, a infraestrutura das escolas é precária, a formação inicial é insuficiente e os materiais instrucionais são inadequados.

Nesse contexto, podemos ser levados à paralisia: já que as condições são desfavoráveis, não cabe nenhuma melhora na educação antes que elas sejam modificadas. Ao contrário, é justamente porque são ruins que cabe a transformação, com as devidas acomodações dado o contexto em que se atua.

Da mesma maneira que ajustes podem ser feitos para que o aluno mais vulnerável possa ter a mesma educação de qualidade que seus colegas com menores desafios, o professor pode adaptar sua forma de atuar, embora com resultados não ideais, a contextos de trabalho eventualmente inadequados e, ao mesmo tempo, cobrar melhorias.

Transformações em educação só funcionam bem se forem sistêmicas. Há que atuar em diferentes áreas da política educacional ao mesmo tempo e não é possível esperar as condições evoluírem substancialmente numa área antes de abordar gargalos existentes em outra. É importante adotar uma Base que norteie os currículos, preparar materiais instrucionais e capacitar docentes com base neles, enquanto se busca melhorar a atratividade da profissão (aí incluídos salários, carreiras e condições de trabalho) e mudar a formação inicial do professor.

É uma tarefa gigante que demandará muitos anos, mas, enquanto ela se desenvolve, a presente coorte de alunos está na escola e precisa aprender, mesmo que em condições subótimas. Cabe a cada professor, gestor de sistema e diretor de escola se empenhar para garantir o direito de aprender de cada criança e jovem; cabe igualmente aos governantes não destruírem os sonhos de futuro das novas gerações de seu país.