Zanone Fraissat - 29.mai.2017/Folhapress | |
A subprocuradora Raquel Dodge, escolhida por Michel Temer |
GUSTAVO URIBE
DANIEL CARVALHO
Folha de São Paulo
Dodge faz oposição à atuação de Janot à frente do Ministério Público Federal.
DANIEL CARVALHO
Folha de São Paulo
O presidente Michel Temer decidiu indicar a subprocuradora Raquel Dodge para substituir o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, cujo mandato termina em setembro.
A escolha foi feita nesta quarta (28), mesmo dia em que o peemedebista recebeu a lista tríplice para o cargo promovida pela ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República).
O nome será enviado ao Congresso, precisando ainda ser sabatinado pelo Senado.
Se for aprovado pelos senadores, Dodge será a primeira mulher a comandar a Procuradoria-Geral da República.
Dodge foi a segunda colocada na eleição da categoria. Em primeiro ficou Nicolao Dino, aliado de Janot e que defendeu no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a cassação da chapa Dilma Roussef-Michel Temer. O terceiro foi Mario Bonsaglia.
Ao escolher Dodge, Temer quebra uma tradição iniciada em 2003, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de respeitar a ordem da lista tríplice e escolher o primeiro colocado.
Antes do anúncio oficial, Temer se reuniu com a subprocuradora no Palácio do Planalto, no gabinete presidencial, para informá-la da escolha. O ministro da Justiça, Torquato Jardim, também participou do encontro.
A rapidez na indicação teve como objetivo evitar a pressão da categoria para que o presidente escolhesse o primeiro da lista.
Além disso, em uma disputa aberta com o atual procurador-geral, o peemedebista quis qualificar uma voz dissonante a Janot, que o denunciou nesta semana por corrupção passiva ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Dodge faz oposição à atuação de Janot à frente do Ministério Público Federal.
O presidente quis ainda evitar que o nome da subprocuradora ficasse por muito tempo exposto a ataques de aliados do procurador-geral, o que poderia desgastar a sua imagem para o cargo.
Nas últimas semanas, o nome de Dodge foi vinculado nos bastidores a caciques do PMDB, entre eles Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP).
Ao se manifestar sobre o tema, ela sempre negou as ligações. Em recente declaração à Folha, afirmou assegurar "compromisso de integral e plena continuidade do trabalho contra a corrupção da Lava Jato, Greenfield, Zelotes e todos os demais processos em curso, sem recuar, nem titubear".
A subprocuradora participou de debate promovido pela Folha na sexta (23) em Brasília entre cinco dos oito candidatos à sucessão de Janot. No encontro, defendeu que Temer escolhesse alguém da lista a ser enviada pela ANPR.
"Considero a lista uma importante ferramenta para aferir a legitimidade e a credibilidade para exercer esse cargo que é de muita visibilidade e complexidade", afirmou.
"É uma ferramenta que evita uma escolha predominantemente político-partidária e é um instrumento para frear esse tipo de ingerência em atividade que é de Estado, e não de governo."