Quatro grupos estrangeiros já demonstraram interesse em participar do projeto de construção da usina nuclear de Angra 3, afirmou ontem o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior. As obras estão paradas desde 2015 em razão do envolvimento no escândalo de corrupção da Lava-Jato. Segundo o executivo, empresas de Rússia, China, Coreia do Sul e França já manifestaram disposição para participar do projeto.
— Só eu já recebi quatro interessados em ser parceiro da Eletronuclear — disse.
O executivo espera que o governo federal e o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) definam até setembro o futuro da usina, que tem 63% de obras prontas. A expectativa é que as obras sejam reiniciadas somente em 2019. A busca de parceiros para a conclusão das obras é uma das hipóteses em estudo. Mesmo neste cenário, porém, a operação da usina, que é monopólio da União, continuaria a cargo da Eletronuclear. Já foram gastos R$ 10 bilhões no projeto, dos quais R$ 8 bilhões são referentes a empréstimos.
— É mais barato viabilizar a conclusão da obra do que quitar os financiamentos — disse o executivo.
‘TEMOS UMA AGENDA A ENFRENTAR’
As obras de Angra 3 já tinham ficado paradas durante 23 anos, quando foram retomadas em 2008. O envolvimento do projeto em denúncias de corrupção levou à prisão do então presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro.
Em entrevista ontem, Ferreira Júnior comentou a polêmica recente na empresa depois que foi divulgado um áudio no qual conversa com sindicalistas e afirma que 40% dos funcionários eram inúteis e vagabundos. Ele reiterou que pediu desculpas após o mal-estar, que a conversa se referia a cargos comissionados, mas ressaltou que as metas de redução de redução de gastos e pessoal estão mantidas. Ferreira Júnior assumiu o cargo com a tarefa de equilibrar as contas da Eletrobras.
— De fato, exagerei. As pessoas não são vagabundas nem safadas. Eu me arrependo disso e me desculpei no primeiro dia, foi no calor da discussão. Óbvio que a generalidade que fiz é equivocada e errada, e por isso me desculpo. Mas temos uma agenda a enfrentar e quero contar com cada um dos empregados e dos gestores para tocar essa agenda — destacou Ferreira Júnior.
Segundo o executivo, espera-se conseguir reduzir os gastos com pessoal de todo o grupo Eletrobras de R$ 6 bilhões para R$ 3,5 bilhões. O corte de custos deve incluir R$ 900 milhões com aposentadoria de empregados, R$ 600 milhões com redução de gastos administrativos por meio da adoção do plano de incentivo à demissão, R$ 700 milhões com a redução de pessoal após a privatização de seis distribuidoras das regiões Norte e Nordeste e R$ 300 milhões com outras economias.
— A agenda de produtividade e eficiência da companhia é a agenda a ser colocada para todos os gestores e empregados da Eletrobras. Não tem outra agenda mais importante do que essa, além da questão da redução da dívida — resumiu.
Os empregados do grupo Eletrobras pretendem fazer uma paralisação de 48 horas amanhã e no dia seguinte contra o não pagamento de Participação nos Lucros em 2016 e o descumprimento de cláusulas do acordo coletivo em vigor até 2018, que prevê negociação quando ocorre mudança de função do trabalhador. Emanuel Mendes, diretor do Sintergia/RJ, afirmou que a redução de pessoal precisa ser discutida.
— Ele (Wilson Ferreira) está fazendo a reestruturação unilateralmente, não está discutindo com a categoria — afirmou.
Petrobras retoma conversa com a sete
Em evento realizado ontem pelo grupo Lide Rio, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou que a companhia já teria condições de obter o grau de investimento pelas agências de risco, mas que isso não ocorre porque o país também perdeu seu selo de bom pagador. Ele destacou as melhorias nos últimos meses e confirmou que foram retomadas as negociações com a Sete Brasil, que está em recuperação judicial.