domingo, 10 de fevereiro de 2019

Milhares protestam em Madri contra separatismo na Espanha


Milhares de espanhóis participam da manifestação convocada pelos partidos de centro-direita e extrema direita PP, Ciudadanos e Vox contra o governo do primeiro-ministro Pedro Sanchez
Foto: AFP/PIERRE-PHILIPPE MARCOU

Milhares de espanhóis participam da manifestação convocada pelos partidos de centro-direita e extrema direita PP, Ciudadanos e Vox contra o governo do primeiro-ministro Pedro Sanchez Foto: AFP/PIERRE-PHILIPPE MARCOU

MADRI – Milhares de pessoas tomaram as ruas da capital espanhola neste domingo para protestar contra a proposta do governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez para aliviar a tensão com os separatistas da Catalunha. A manifestação foi convocada pelo Partido Popular, Cidadãos e Vox — o mesmo trio de legendas que conseguiu tirar do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) de Sánchez o governo da Andaluzia,  no que foi considerada uma derrota histórica para os socialistas, que governavam a região desde 1982.

De acordo com o governo, cerca de 45 mil pessoas empunhando bandeiras espanholas e cantando slogans como “Por uma Espanha unida, eleições já!” se concentraram na Praça Colón, no Centro de Madri, no protesto convocado por grupos de centro-direita e extrema-direita. Já o PP e o Cidadãos falam em 200 mil manifestantes.
Os ataques dos partidos de oposição contra Sánchez aumentaram desde a última terça-feira, quando seu governo propôs indicar um relator especial para negociações políticas em torno da independência da Catalunha. Os oposicionistas classificaram o gesto como uma traição e uma rendição à pressão dos separatistas da região.
Pesquisas recentes indicam que os partidos de centro-direita PP e Cidadãos e a recém-criada agremiação de extrema direita Vox podem levar a maioria do Parlamento se novas eleições forem convocadas, tirando o PSOE do poder. O partido já sofreu uma derrota histórica em dezembro de 2018, quando o Vox conseguiu assentos na Andaluzia e, pela primeira vez em 36 anos, levou uma força de ultradireita a obter representação parlamentar na Espanha.
Sánchez, que tomou posse em junho do ano passado em substituição a um governo conservador, tem apoio minguado e fragmentado no Parlamento espanhol, com seu partido controlando apenas um quarto das cadeiras e dependendo do suporte do Podemos, dos nacionalistas catalães e outras pequenas agremiações para conduzir a Espanha.
As manifestações deste domingo ocorrem no contexto de uma importante e difícil batalha para o primeiro-ministro. Na quarta-feira, Sánchez enfrentará a votação de sua proposta de orçamento para 2019 e pode fracassar sem o apoio dos partidos catalães, que condicionaram seu voto a negociações que incluam a questão da independência da Catalunha, o que o governo se recusa a fazer. A falta de um orçamento pode ensejar a convocação de novas eleições antes da data prevista, em 2020.
— O tempo do governo Sánchez acabou — disse Pablo Casado, líder do PP, no protesto.
O presidente do Cidadãos, Albert Rivera, pediu eleições imediatamente, enquanto o líder do Vox, Santiago Abascal, defendeu a suspensão da autonomia da Catalunha e a detenção do presidente regional catalão, Quim Torra. À manifestação se juntaram formações de extrema direita, como Falange e Espanha 2000 ou coletivos como Lar Social Madri.
Em Santander, Sánchez criticou que os protestos sejam endereçados a ele e lembrou seu apoio ao governo então ocupado pelo PP quando foram realizados os dois referendos na Catalunha.
— Fazem sempre o mesmo. Quando estão no governo, exigem lealdade. Quando estão na oposição, lideram as agitações. A isso chamam de patriotismo, mas é deslealdade. Sempre dissemos o mesmo: diálogo e lealdade.
Referindo-se aos independentistas da Catalunha que pedem um referendo, opção rechaçada pelo pelo primeiro-ministro, Sánchez evocou o impasse em torno do Brexit no Reino Unido, votado pela população britânica e ainda não equacionado pelo governo:
— Olhe para o que está acontecendo no Reino Unido com o Brexit, houve um referendo e, agora, não há líderes diante da situação atual... A democracia não é cara ou coroa, felizmente há mais alternativas. E a nossa é a coexistência para a Catalunha e para a Espanha, e essa coexistência é construída com coesão social e territorial.
Entre os manifestantes estava Ana Puente, aposentada de 73 anos, que defendeu uma “Espanha unida”.
— O governo está cedendo muito aos apoiadores da independência da Catalunha e vai dividir a Espanha — acrescentou outra idosa, Raquel García, 76 anos, empunhando uma bandeira espanhola.
A manifestação também acontece apenas dois dias antes do início do julgamento de 12 líderes separatistas catalães, que podem ser condenados a até 25 anos de prisão pelas acusações de rebelião e mau uso de recursos públicos por seu papel no fracassado referendo sobre a questão da independência que promoveram em 2017.

O Globo, com agências internacionais