O Brasil está parado: nos últimos quatro trimestres, terminados em junho, o PIB caiu em três (-0,6%, +0,5%, -0,2%, -0,6%). Não obstante, é perfeitamente possível que de julho a setembro o crescimento seja mais uma vez negativo. Nestes últimos dias tivemos notícias de um péssimo agosto (ao contrário do que se esperava) para o setor automotivo, vendas fracas no comércio em julho, um desempenho pífio do setor de serviços (o pior desde o início da série - Jan/2012), entre outros indicadores.
A situação financeira das empresas vem evoluindo de maneira preocupante. Segundo o Serasa, em julho, 50% das empresas brasileiras tinham algum tipo de pagamento em atraso; todos os bancos de rede relatam severa piora nos balanços de junho das empresas médias e pequenas. O mesmo ocorre em inúmeras empresas grandes. É seguro que, com a elevação do risco, a concessão de crédito para esses agentes continuará cada vez mais cautelosa.
Em alguns setores, a difícil situação de grandes empresas se espalha para seus fornecedores e compradores. Falo aqui das notórias dificuldades do setor automotivo, afetado por uma crise de superprodução, que apenas começou. Projetamos para este ano uma queda de 10% nas vendas internas de automóveis e comerciais leves, uma redução de algo como 150 mil veículos exportados, e ainda assim, com apreciável elevação dos estoques no sistema.
Esse resultado contrasta fortemente com a projeção de uma capacidade de produção de 6 milhões de veículos em 2017 (se todos os projetos previstos forem concluídos), bem maior que a atual, de aproximadamente 3,9 milhões de veículos. Nessa situação sofrem muito os fornecedores, especialmente as empresas menores, e os distribuidores, que veem os custos subirem, crédito mais difícil e consumidores ariscos.
Em segundo lugar, temos uma crescente desorganização financeira do setor elétrico, fruto da descontratação das distribuidoras, da falta de planejamento, de restrições na transmissão, da grande utilização de térmicas desde 2013 (ano com hidrologia favorável) e de problemas decorrentes da implementação da MP 579, que forçou a baixa populista e insustentável das tarifas de energia. Finalmente, a incorreta transferência de encargos entre agentes (CNPE 3) levou a uma batalha judicial (56 ações estão em curso) e há uma enorme piora na situação financeira das empresas do setor.
O sistema Eletrobrás foi à lona, prejudicando todos os seus fornecedores e depende de aportes de um Tesouro cada vez mais limitado nas suas finanças. O futuro promete ainda pouca água nos reservatórios e continuidade de elevação de custos no sistema. Essa "desordem" foi analisada na semana passada por um documento elaborado pelos servidores da Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel.
Em terceiro lugar, já se espalhou o conhecido aperto no caixa do sistema Petrobrás, resultado direto da incompatibilidade entre o achatamento do preço de venda de seus principais produtos e a ambição de seu programa de investimentos.
Todo o sistema de fornecedores entra em cheque quando contratos são cancelados ou rediscutidos, medição de serviços (que antecedem o faturamento) são adiadas, etc. Mais recentemente, e como mostrou o Globo, a empresa praticamente parou após a delação premiada de seu ex-diretor de Abastecimento.
Há poucos dias a Inepar pediu recuperação judicial, da mesma forma que já haviam feito no passado a Lupatech e a Jaraguá, três dos maiores fornecedores nacionais de equipamentos da Petrobrás. É impossível não se perguntar que política industrial é essa - que acaba por arrasar tantas companhias - que se quer proteger.
Esses três casos ilustram o que já se sabe: uma economia não para impunemente. Crescimento zero significa que muita gente está no negativo. Nosso problema é que o crescimento continuará medíocre no cenário de reeleição. O porquê disso é o que analisaremos agora.
O mercado de trabalho vai continuar piorando por um tempo. Basta pensar que as montadoras não conseguem ajustar seus estoques, o que levou à programação de uma nova rodada de férias coletivas antes do fim do ano. É certo que o emprego no setor vai continuar caindo. O mesmo continuará ocorrendo na construção civil, e os dados da pesquisa de emprego mostram que no último mês a força de trabalho voltou a crescer, com mais gente em busca de colocação. Em consequência, a renda do trabalho evoluirá cada vez menos e, dado o endividamento das famílias, o consumo continuará aumentando muito pouco, como ocorre agora.
A crise na Argentina mostra que as exportações de manufaturados continuarão prejudicadas. Mesmo com alguma desvalorização cambial, levará tempo para alguma recuperação significativa das vendas externas.
Finalmente, a queda nas expectativas das empresas, bem como a piora do endividamento, do resultado e da evolução patrimonial (incluindo os setores de petróleo e energia) sugere fortemente que o investimento produtivo vai continuar fraco. Como se sabe, a formação de capital vem caindo por quatro trimestres consecutivos, apesar das eleições e da Copa.
Com exportações e consumo fracos e o investimento caindo, de onde surgirá o crescimento?
Como as autoridades insistem em dizer que estão a fazer tudo certinho, e que todos os nossos problemas decorrem da situação internacional, o cenário de reeleição é o de "mais do mesmo", incluindo baixo investimento, inflação alta, desarranjo fiscal, juros elevados e expectativas ruins.
Nessas condições é preciso ter muita coragem para dizer que estamos prontos para o crescimento.