SIMONE IGLESIAS, CATARINA ALENCASTRO E FERNANDA KRAKOVICS - OGlobo
Sem candidato próprio à Presidência há 20 anos, partido foca nos estados - onde já lidera em oito colégios - e no Congresso
Coadjuvante na disputa presidencial, o PMDB do vice-presidente Michel Temer se prepara para conseguir um sólido crescimento país afora. O partido lidera as pesquisas eleitorais para os governos de oito estados e tem boas chances em outros dois, o que poderá levá-lo a ter dez governadores a partir de 2015 — o dobro de seu desempenho em 2010, quando apenas cinco peemedebistas venceram eleições estaduais. Os peemedebistas também contam com um crescimento das bancadas no Congresso, o que reforça seu papel de fiel da governabilidade de qualquer presidente que venha a ser eleito.
Sem candidato próprio à Presidência há 20 anos, a estratégia do PMDB, ao focar nos estados e no Congresso, é justamente a de permanecer grande e indispensável a qualquer presidente. O partido desempenhou esse papel nos governos do PSDB e do PT.
Formalmente aliado ao atual governo e à campanha de Dilma Rousseff à reeleição, o PMDB pode aumentar sua representatividade em caso de vitória da candidata petista.
O governo e o PT contam com um crescimento das bancadas do PMDB no Congresso para ajudar a garantir a governabilidade em eventual segundo mandato da presidente Dilma, contrabalançando a ida do PSB para a oposição. O Palácio do Planalto já prevê, inclusive, um aumento da participação dos peemedebistas no governo, em caso de vitória da petista. O espaço extra se daria basicamente sobre o vácuo deixado pelos socialistas, que ocupavam dois ministérios e cargos no segundo escalão.
— É certo que o PMDB, nosso principal aliado, deve sair maior numericamente nessas eleições. Temos que ter um crescimento porque perdemos o PSB, que era um aliado importante — afirmou o senador Jorge Viana (PT-AC).
Ele reconhece, no entanto, que a relação entre PT e PMDB não é um mar de rosas:
— Vamos ter que aprender com os erros, sair de uma situação de desconfiança. Nosso vice é do PMDB novamente, temos que construir uma relação de maior confiança — afirmou o senador petista.
Apesar de ter cinco ministérios, o PMDB reclama de ocupar pastas com menos peso político do que no governo Lula e do fato de boa parte delas ter cargos-chave ocupados por petistas. O PT costuma contra-argumentar que o partido possui a vice-presidência da República. Os peemedebistas, por sua vez, rebatem dizendo que o cargo seria figurativo.
Assessores do Planalto afirmam, no entanto, que ainda não há discussão sobre ocupação de espaço em eventual segundo governo e que o foco neste momento é ganhar a eleição presidencial. Integrantes do governo reconhecem que há “demandas reprimidas” do PMDB relativas ao primeiro mandato:
— Pretendemos ampliar o diálogo com o PMDB em um segundo mandato — afirmou um assessor do Planalto.
PARTIDO TEM EXPECTATIVA DE CRESCIMENTO
Um interlocutor de Dilma aponta que essa substituição do PSB pelo PMDB já ocorre nos estados, com os peemedebistas tendo um crescimento maior do que os socialistas, o inverso do que ocorreu nas últimas eleições:
— Em 2010, o PT franqueou espaço para o PSB nos estados e o partido conseguiu fazer seis governos. Este ano a tendência é que perca cadeiras nos palácios estaduais para o PMDB. Dentro do governo federal, o PMDB tende naturalmente a ganhar também.
O PMDB tradicionalmente foca nas eleições estaduais, mesmo que integrantes do partido venham tentando ao longo dos últimos anos entrar na disputa ao Palácio do Planalto. A última vez que o PMDB teve candidato a presidente foi em 1994, há exatos 20 anos:
Orestes Quércia, que ficou em quarto lugar. Em 2010, unificado em torno da inédita aliança nacional com o PT, o PMDB teve o pior desempenho estadual desde a redemocratização, com cinco governadores eleitos, desempenho igual ao do PT. Os tucanos chegaram a oito governadores e o PSB, sob a liderança de Eduardo Campos, elegeu seis governos estaduais
Agora, o PMDB lidera em estados como o Rio de Janeiro, com Luiz Fernando Pezão; o Ceará, com o senador Eunício Oliveira; o Amazonas, com o líder do governo no Senado, Eduardo Braga; o Rio Grande do Norte, com o presidente da Câmara, Henrique Alves; e no Pará está em empate técnico com o atual governador, o tucano Simão Jatene, que segue numericamente à frente.