O Banco Central (BC) cortou de 1,6% para menos da metade, 0,7%, o crescimento econômico projetado para este ano - um fecho nada triunfal para quatro anos de mandato da presidente Dilma Rousseff. O número aparece no relatório trimestral de inflação publicado ontem. Com um dos piores desempenhos do mundo, o Brasil terá acumulado a partir de 2011 uma expansão de apenas 6% em seu Produto Interno Bruto (PIB). A média anual de variação será pouco inferior a 1,5%, se confirmada a taxa de 0,7% calculada para 2014. Mas, com qualquer dos números previstos para este ano pelas várias fontes especializadas, a economia brasileira confirmará a posição de retardatária na corrida global do crescimento.
Há duas semanas, o Ministério do Planejamento reduziu de 1,8% para 0,9% sua previsão. A nova estimativa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) está em 0,6%. A mediana das estimativas do mercado financeiro caiu para 0,29%, segundo a última pesquisa Focus do BC.
Mesmo com algum impulso adicional, o avanço da economia continuará muito lento, de acordo com o relatório trimestral. O avanço ficará em apenas 1,2% nos quatro trimestres até junho do próximo ano. Além disso, o potencial de crescimento permanecerá muito baixo e, provavelmente, ainda em declínio. A expansão do produto, como nos últimos anos, será puxada principalmente pelo consumo, tanto das famílias quanto do governo. O BC estima para este ano uma redução de 6,5% na formação bruta de capital fixo, isto é, no investimento em máquinas, equipamentos, construções diversas e obras de infraestrutura. Nos 12 meses terminados em junho de 2015, a queda ainda será de 2,4% em relação ao período anterior.
A produção da indústria deve ser neste ano 1,6% menor que em 2013, segundo a projeção. Os segmentos extrativo mineral e de produção e distribuição de eletricidade, gás e água fecharão o ano com resultados positivos, mas a indústria de transformação continuará em queda, com redução de 3,3% no valor produzido. Para o segmento da construção civil, o recuo estimado é de 5,1% - mais uma indicação do fracasso dos programas de investimento. O investimento continua na vizinhança de 18% do PIB, provavelmente pouco abaixo, e muito longe da meta de 24% anunciada há anos e repetida muitas vezes pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Sem investir mais em meios de produção, o Brasil continuará incapaz de acompanhar os emergentes - e até países avançados, como os Estados Unidos - no caminho do crescimento.
Nem o discurso oficial sobre a criação de empregos é imune aos dados e análises do BC. Nos 12 meses terminados em abril, a redução da taxa de desemprego resultou, segundo o relatório, do recuo da taxa de atividade, isto é, da proporção entre as pessoas em atividade e a população em idade ativa. Não houve aumento da taxa de ocupação, isto é, da proporção de empregados, mas simplesmente uma diminuição porcentual das pessoas no mercado de trabalho. Dados oficiais, divulgados tanto pelo IBGE quanto pelo Ministério do Trabalho, têm mostrado menor dinamismo da economia na criação de empregos. Se o desemprego ao mesmo tempo diminuiu, foi porque a procura por trabalho também recuou.
Mas, apesar da economia desaquecida, a inflação continua elevada e assim continuará por um bom tempo. O BC reduziu de 6,4% para 6,3% a projeção de aumento de preços para este ano - uma taxa ainda muito alta e muito distante da meta, de 4,5%. Pelas novas estimativas, o aumento do IPCA, o índice oficial, ficará em 5,8% em 2015 e em 5% nos 12 meses até o terceiro trimestre de 2016. Esse é o horizonte de projeção da política monetária. Dentro de dois anos, a inflação, portanto, estará apenas - para usar o jargão oficial - convergindo para a meta, mas os técnicos do BC ainda se abstêm de dizer quando a meta será atingida.
A candidata Dilma Rousseff continua prometendo manter, se reeleita, as grandes linhas da atual política econômica. Para essa eventualidade, parece fácil, portanto, prever mais alguns anos de inflação elevada e de baixo crescimento.