terça-feira, 30 de setembro de 2014

Ex-presidente do BC, Gustavo Franco diz que governo desenterrou ideias como zumbis

Lucianne Carneiro - O Globo


Gustavo Franco diz que governo dessarumou a política fiscal, interrompeu as reformas e retroagiu a um sistema protecionista típico dos anos 60 Foto: Gustavo Stephan / Agência O Globo
Gustavo Franco diz que governo dessarumou a política fiscal, interrompeu as reformas e retroagiu a um sistema protecionista típico dos anos 60 - Gustavo Stephan / Agência O Glob


Ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco afirmou nesta segunda-feira que o governo desenterrou ideias que já estavam enterradas em cemitérios, como zumbis, para estimular a economia a partir de 2008. Ele citou o déficit público e as políticas fiscal, industrial e comercial como exemplos de políticas ultrapassadas que foram resgatadas nos últimos anos.

— De lá para cá, tudo errado, sobretudo a partir de 2008. Foi um choque, um raio que caiu no cemitério e fez nascer essas ideias que estavam enterradas há muito tempo, surgem próximas da terra feito zumbis e começam a fazer tudo errado. Desarrumamos o fiscal, paramos de fazer reformas, retroagimos a um sistema protecionista típico dos anos 60. 

Repetimos os mesmos erros em política industrial e comercial — disse Franco, ao participar da palestra “Independência do Banco Central: um debate necessário”, promovido pelo Instituto Millenium e pela Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).

O economista também criticou a interferência do governo em diferentes instâncias, como a Polícia Federal, o Banco Central e a Petrobras:

— A presidente não é dona da Polícia Federal, do Banco Central e da Petrobras. (...) Não elegemos um rei ou um ditador.

Também ex-presidente do BC Gustavo Loyola afirmou que há um risco de se retomar uma situação em que o Banco Central perda a capacidade de exercer a política monetária por servir a outras políticas como concessão de crédito ou aumento da demanda. Ele disse que isso não ocorre hoje, mas que o risco existe caso prossigam as “fortes políticas de expansão do crédito com recursos do Tesouro”:

— O Banco Central, por vontade própria ou não, acabou deixando de lado a meta de inflação de 4,5%. Se isso é perda de autonomia ou não, deixo em aberto.