terça-feira, 30 de setembro de 2014

"Quem é o antipetista?", por Merval Pereira

O Globo


A disputa pelo voto antipetista é o que opõe neste reta final a candidatura de Aécio Neves do PSDB à de Marina Silva do PSB. O raciocínio que prevalece hoje no PSDB é francamente contrário a um acordo formal com Marina num eventual segundo turno. À medida que cresce a percepção entre os assessores de Aécio Neves de que é possível ir ao segundo turno passando por cima de Marina, o que tem que necessariamente ser confirmado pelas pesquisas Ibope e Datafolha que serão divulgadas hoje, aumenta também a visão crítica sobre a relação entre os dois partidos.

Afinal, raciocinam, não é justo cobrar uma frente de oposição no primeiro turno do PSDB para apoiar uma candidata que não apoiou o PSDB no segundo turno na eleição passada. Além do mais, Marina não teria feito nenhum sinal até o momento para uma aproximação, e Walter Feldman, que supostamente será o articulador político de um futuro governo, diz que o PSDB tende a acabar.

Há uma espécie de orgulho na campanha tucana pelo “mérito”, não “culpa”, de terem feito um estrago na candidatura de Marina, revelando sua raiz petista que, nessa visão da campanha de Aécio, não representaria uma mudança verdadeira de cenário.

O resultado prático na contabilidade dos tucanos foi inviabilizar o voto útil em Marina no primeiro turno. Por que votar útil pela Marina se ela já está perdendo no segundo turno para Dilma e dá mostras de fraqueza? Marina já deixou de ser “uma causa”, virou uma candidata, o que seria meio caminho para ser superada nessa reta final. 

Boa parte do voto antipetista ainda está com Marina em São Paulo e Minas, e o esforço do primeiro turno é recuperá-los para chegar nos últimos dias em empate técnico com a candidata do PSB. Nas simulações de segundo turno, já ganham de 70% a 80% dos votos da Marina, dizem os analistas da campanha tucana.

A campanha em Minas tem um subproduto especial, a tentativa de reverter o quadro em que o petista Fernando Pimentel supera o tucano Pimenta da Veiga. O objetivo inicial é impedir que lá a eleição termine no primeiro turno. Se Aécio Neves conseguir reverter a questão nacional indo para o segundo turno contra Dilma, a disputa em Minas ganhará uma dimensão distinta.

Caso apenas em Minas seja possível evitar a derrota no primeiro turno, o grupo político de Aécio Neves se dedicará integralmente à campanha estadual, para garantir seu reduto eleitoral. Hoje o candidato petista tem, segundo o Datafolha, 51% dos votos válidos, o que o coloca no limite da vitória do primeiro turno.

Há, porém, histórias famosas em Minas sobre reviravoltas em eleição, a mais recente delas com Hélio Costa em 1994, quando terminou o primeiro turno à frente com 49% dos votos e perdeu no segundo turno para Eduardo Azeredo. Na eleição anterior, Costa já havia perdido para Hélio Garcia por 1% dos votos no segundo turno. 

Superar Dilma e Marina em São Paulo e em Minas seria o primeiro passo para uma recuperação nacional, que viria em conseqüência. Num segundo turno, a tentativa será fazer a maior diferença possível nos dois Estados, conforme o planejamento inicial, para reduzir a diferença no norte e no nordeste. O problema é que em ambos os Estados a presidente Dilma está tendo uma performance muito boa, e a recíproca não é verdadeira para Aécio no norte e nordeste do país.

As pesquisas divulgadas ontem, da MDA e do Vox Populi, mostram a presidente Dilma com 40% dos votos, a mesma pontuação que a pesquisa anterior do Datafolha, mas diferem em relação a Marina. Na MDA, a candidata do PSB caiu 2 pontos, e Aécio sobe os mesmo dois, o que representaria as curvas ascendentes do tucano e descendente de Marina. Já o Vox Populi mostra Marina subindo dois pontos e Aécio subindo um, o que demonstraria que dificilmente o tucano teria condições de superar Marina até o próximo domingo.