Gabrela Valente - O Globo
Instituição atribui corte a desaceleração do consumo das famílias, retração na indústria e agricultura menos dinâmica
O Banco Central derrubou a previsão de crescimento para este ano de 1,6% para 0,7% por causa de queda nos investimentos, desaceleração do consumo das famílias, retração na indústria e agricultura menos dinâmica. A autarquia ainda não espera uma grande recuperação da atividade econômica no ano que vem. De acordo com o relatório trimestral de inflação, divulgado nesta segunda-feira, a autoridade monetária aposta numa expansão de apenas 1,2% no acumulado em um ano ao fim do segundo trimestre, o limite de projeção do BC.
É a segunda vez este ano que a autoridade monetária reduz a previsão para o PIB brasileiro em 2014. Na semana passada, o governo federal reduziu de 1,8% para 0,9% a previsão de avanço da economia este ano, em relatório do Ministério do Planejamento.
Mas, ainda assim, as duas projeções estão muito acima das expectativas do mercado: pesquisa do BC divulgada nesta segunda-feira mostra que os analistas reduziram pela 18ª semana seguida as previsões para o PIB brasileiro, desta vez de 0,3% para 0,29%. Em 2015, a estimativa permaneceu em 1,01%.
Nesse cenário traçado pelo Banco Central, o investimento deve encolher, em 2014, muito mais que o estimado no relatório trimestral de junho. A previsão passou de uma queda de 2,4% para nada menos que corte de 6,5%. Já o consumo das famílias deve desacelerar. O crescimento dos gastos do brasileiro — combustível do crescimento nos últimos anos — deve ficar em 1,6%. A aposta anterior era de 2%.
Nas perspectivas do BC, a agropecuária não deve ter um resultado tão bom quanto o esperado anteriormente. E a indústria deve amargar uma retração maior que o estimado antes, apesar do bom desempenho dos setores de extração mineral e petróleo.
BC: MELHORA DEPENDE DA CONFIANÇA DO CONSUMIDOR
O BC pondera que esse ritmo de crescimento menor tira pressão sobre a inflação e isso é benéfico para a economia. O Comitê de Política Monetária (Copom) vê um alinhamento entre oferta e demanda e espera mudanças estruturais nesse sentido, ou seja, o consumo dos brasileiros tende a desacelerar e o investimento ganhar força. A expectativa é que o cenário externo contribua para o desenvolvimento do país com aumento de competitividade do setor produtivo.
“Na visão do Copom, as mudanças (...) antecipam uma composição do crescimento de médio prazo mais favorável ao crescimento potencial. Nessa direção também apontam avanços em qualificação da mão de obra e o programa de concessão de serviços públicos. Nesse contexto, o Comitê entende que, em prazos mais longos, emergiriam bases para ampliação da taxa de investimento da economia, para uma alocação mais eficiente dos fatores de produção e, consequentemente, para que as taxas de crescimento do PIB efetivo retomassem patamares mais elevados e até mesmo para que o crescimento potencial aumentasse”, ressalta o BC no relatório. “O Comitê ressalta, contudo, que a velocidade da materialização das mudanças acima citadas e dos ganhos delas decorrentes depende do fortalecimento da confiança de firmas e famílias”.
Há alguns meses, o Banco Central tem mostrado preocupação crescente com o desenvolvimento econômico. Por isso, mesmo num cenário de inflação resistente, parou de aumentar os juros básicos em maio para não sacrificar a atividade econômica.
O Comitê de Politica Monetária interrompeu o mais longo ciclo de aperto monetário da sua história e deixou a taxa básica (Selic) em 11% ao ano. Esse é o principal instrumento do BC para controlar a inflação.
Enquanto isso, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado oficialmente no sistema de metas, está acima do limite permitido. A meta é de 4,5% com uma margem de tolerância de 2 pontos percentuais. No entanto, o IPCA está em 6,51% no acumulado nos últimos 12 meses.
A previsão do BC para a inflação neste ano caiu levemente de 6,4% para 6,3% neste ano. É praticamente a mesma esperada pelo mercado financeiro de 6,31%. Para o ano que vem, o BC aumentou a projeção para a inflação de 5,7% para 5,8%. Já os economistas do mercado financeiro projetam IPCA de 6,3%.
Para a taxa básica Selic, economistas elevaram a expectativa de 11,25% ao ano para 11,38% em 2015. Para este ano, a perspectiva permaneceu em 11%.
O BC vê um quadro favorável para o controle da inflação no futuro. A esperança é que a pressão sobre os preços podem até desaparecer no ano que vem.
“O Copom pondera que, apesar de a inflação ainda se encontrar elevada, pressões inflacionárias ora presentes na economia — a exemplo das decorrentes dos (...) processos de realinhamentos de preços e de ganhos salariais incompatíveis com ganhos de produtividade — tendem a arrefecer ou, até mesmo, a se esgotarem ao longo do horizonte relevante para a política monetária”, diz o relatório.