O balanço de 2013 da Petrobrás é a perfeita demonstração contábil de seu
fracasso operacional. Ele deixa claro que, não fossem as vendas de ativos e
alguns acertos contábeis, não existiria o lucro anunciado pela empresa, de R$
23,5 bilhões - e ressalte-se que, embora o valor impressione, é o terceiro pior
dos últimos sete anos. Fosse a Petrobrás uma empresa de capital aberto sujeita à
fiscalização de seus acionistas como são as demais com ações negociadas no
mercado, e não uma estatal estritamente controlada por um governo que a
transformou em instrumento de suas políticas econômica e partidário-eleitoral,
seu Conselho de Administração teria destituído a diretoria executiva.
Mas a
maioria decisiva do Conselho e toda a diretoria fazem apenas o que o governo
Dilma lhes determina. E o que lhes é imposto vem produzindo resultados
financeiros desastrosos - e o plano de negócios da empresa para os próximos
cinco anos não deixa dúvidas quanto à disposição do governo de manter o atual
modelo -, com prejuízos para os investidores, que ainda acreditam no potencial
da empresa, e para o País.
O lucro de 2013 é maior do que o de 2012, o que pode sugerir melhora na
contenção de custos e no desempenho da empresa. Sua diretoria atribuiu a
aparente melhora a diversos fatores, como o aumento da produção de derivados, os
reajustes nos preços do diesel (20%) e da gasolina (11%), a redução de custos, a
venda de ativos e a redução do impacto da desvalorização do real (que elevou os
custos dos derivados que a empresa importa em quantidades crescentes) devido à
mudança de práticas contábeis.
São fatores que influenciaram os resultados contábeis do ano passado. Pode-se
imaginar, por exemplo, como seria o desempenho financeiro caso o governo não
tivesse autorizado o aumento dos combustíveis - com grande atraso e insuficiente
para evitar novas perdas.
Mas dois dos fatores apontados pela empresa merecem exame separado. A venda
de ativos, que obviamente resulta na redução do patrimônio, engordou o caixa da
empresa em R$ 8,5 bilhões. Isoladamente, essa operação respondeu por nada menos
do que 36% do lucro. Sem ela, o lucro teria sido de R$ 15,1 bilhões.
Outro fator decisivo para assegurar o lucro contabilizado pela Petrobrás em
2013 foi aquilo que a empresa designou como contabilidade de hedge, referência à
operação utilizada para proteção contra variações cambiais. Em julho do ano
passado, a Petrobrás anunciou que passaria a diluir ao longo de sete anos parte
do prejuízo causado pela variação cambial na sua dívida externa. Com isso, seus
resultados serão maiores no presente e, consequentemente, maiores serão também
os dividendos que ela repassará para o Tesouro. É um procedimento legal e, no
caso da estatal, de grande impacto sobre seus resultados. Em seu balanço, a
Petrobrás reconhece que a nova prática lhe permitiu reduzir em R$ 12,9 bilhões
os impactos da valorização de 15,7% do dólar ao longo do ano passado.
Sem o efeito desses dois itens, o resultado seria um lucro bem menor, de R$
2,2 bilhões. Já a dívida da empresa não foi afetada por isso, razão pela qual
cresceu 49,9% no ano passado, tendo chegado a R$ 221,6 bilhões, 3,5 vezes a
capacidade de geração de caixa.
Tendo sido obrigada pelo governo do PT, desde a gestão Lula, a concentrar os
investimentos no pré-sal, a Petrobrás perdeu eficiência na atividade de produção
das áreas já exploradas (o que fez cair a produção média para 1,931 milhão de
barris por dia, 2,5% menos do que produzia em 2012) e não ampliou sua capacidade
de refino, o que a força a importar derivados para atender à demanda interna
crescente. Como importa a preços de mercado e vende internamente de acordo com
os preços controlados pelo governo, ela vem acumulando prejuízos na área de
abastecimento (no ano passado, essa área teve prejuízo de R$ 17,8 bilhões).
O novo plano de investimentos para os próximos cinco anos é mais realista do
que o anunciado no ano passado, pois diminuiu de US$ 236,7 bilhões para US$
220,6 bilhões. Mas o corte principal será feito justamente na área de
abastecimento (fonte de elevado prejuízo operacional por falta de capacidade de
refino), preservando-se os investimentos no pré-sal.