domingo, 30 de março de 2014

Desesperados, Barba e Dilma cedem em alianças nos Estados para garantir controle de CPI da Petrobras

PT cede em alianças nos Estados para garantir controle de CPI da Petrobras


Palácio do Planalto costura acordos políticos e inicia processo de reaproximação com os peemedebistas a fim de manter a base de defesa de Dilma com a iminente criação da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a estatal


 
João Domingos e Eduardo Bresciani - O Estado de S.Paulo
 

A iminência da abertura de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar a Petrobrás levou o Palácio do Planalto e o comando da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff a começar um processo de reaproximação com o PMDB, após semanas de uma intensa disputa política com o principal aliado. O objetivo é consolidar apoios no Congresso que ajudem a blindar Dilma durante a investigação. Em troca, o PT cede espaços na elaboração dos palanques regionais.

O primeiro caso a ser revisto foi justamente onde as negociações estavam mais complicadas: Ceará. No Estado, a crise na Petrobrás pôs fim à disputa de meses entre os irmãos Cid e Ciro Gomes e o senador Eunício Oliveira (PMDB), que reivindicava o direito de disputar o governo. Eunício, que chegou a ser convidado para assumir o Ministério da Integração Nacional para abrir caminho para os irmãos Gomes, rejeitou a oferta de Dilma e afirmou que só aceitaria a candidatura ao governo.

Passou, desde então, a frequentar todas as reuniões de grupos dissidentes. Mas os problemas na estatal aceleraram a solução. Com o aval da presidente, ele será o candidato da base.

Aos irmãos Gomes restou o lançamento de Ciro ao Senado, numa disputa com seu ex-padrinho Tasso Jereissati (PSDB), apontado nas pesquisas como favorito à única cadeira em jogo. A entrada de Ciro na corrida ao Senado sacrificou o deputado José Guimarães, ex-líder do PT na Câmara e vice-presidente do partido.

A crise na Petrobrás também deverá empurrar o PT do Maranhão para uma aliança com o senador José Sarney (PMDB-AP) e com a governadora Roseana Sarney (PMDB). Até agora, uma forte ala do PT insistia em romper com os Sarney e apoiar Flávio Dino, do PC do B. Mas, por causa da CPI da Petrobras, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticamente fechou o acordo para que os petistas desistam de Dino. Com isso, o PSB do governador Eduardo Campos formalizará aliança com o maior adversário de Sarney, lançando ao Senado o vice-prefeito de São Luís, Roberto Rocha.

Na Paraíba, a ordem é levar o PT para o PMDB do senador Vital do Rêgo. Escolhido em setembro ministro da Integração pelos senadores peemedebistas, Vital não chegou a ser convidado por Dilma para a função. No auge da crise com o PMDB, há um mês, ela ofereceu a ele o Ministério do Turismo. O senador não aceitou. Na coleta de assinaturas para a criação da CPI da Petrobras, ele disse que não daria seu apoio por pertencer à base do governo. Dilma decidiu que o PT deverá apoiar o candidato Veneziano do Rêgo ao governo. Ele é irmão de Vital.

A CPI da Petrobrás deverá mudar também o quadro político em Goiás. O PT havia decidido que só se aliaria ao PMDB se o candidato fosse o ex-governador Iris Rezende. Mas o partido passa por uma disputa interna, com favoritismo de José Batista Júnior, o Júnior da Friboi. Há, nesse instante, uma pressão interna do PT para que o partido desista de lançar a candidatura do prefeito de Anápolis, Antonio Gomide, e apoie o nome do PMDB, mesmo que seja Júnior da Friboi.

O Planalto já sente os efeitos da reaproximação. A bancada do PMDB no Senado defende que o foco da CPI seja ampliado e alcance denúncias de cartel e fraudes em licitações de trens em São Paulo e o porto de Suape, o que atingiria partidos da oposição, como PSDB e PSB.

Danos. Com a estratégia de concessões nos Estados, o governo quer reduzir danos políticos que a CPI deverá causar. O mais certo deles é que Dilma vai atravessar a campanha presidencial tendo de administrar as denúncias contra a estatal e as revelações que forem surgindo. A economia também pode ficar mais vulnerável, já que a maior empresa do País estará sob investigação. Outro fator é que as condições da eleição na Bahia, o quarto maior colégio eleitoral do País, ficarão ainda mais difíceis.

"O ex-presidente da Petrobrás era do PT e agora está no governo Jaques Wagner, que era do Conselho de Administração na época em que a refinaria de Pasadena foi adquirida. A crise tem a digital do PT baiano", disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB), do grupo dissidente, irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que pretende concorrer ao governo do Estado contra o PT. "O desenrolar da CPI pode significar uma diminuição no apoio a Dilma. Se ela perder credibilidade, até partido que recebeu ministério na reforma pode pular fora", disse.

Como consequência, o PT da Bahia quer se fortalecer com outros partidos da base. O candidato a governador é o deputado Rui Costa, que terá na vice o deputado João Leão, do PP. Wagner desistiu de disputar o Senado para abrir espaço para o atual vice-governador, Otto Alencar (PSD).