Blog Rodrigo Constantino - Veja
No filme “Entrando numa fria maior ainda”, Jack, o personagem de Robert DeNiro, fica espantado ao ver que os pais de seu futuro genro celebram a mediocridade. Há no quarto do filho todo tipo de “conquista” questionável, como um sétimo lugar em alguma competição qualquer, não me lembro mais. Eis o que eu queria dizer: o governo Dilma celebra a mediocridade.
Somente isso pode explicar tanta euforia com um resultado tão fraco da economia em 2013. Sim, foi um pouco acima das estimativas ajustadas dos analistas. E bem abaixo do que o próprio governo esperava no começo do ano. E bem abaixo dos principais países emergentes. E bem abaixo da média histórica brasileira.
Houve, entretanto, um dado realmente positivo: a taxa de investimento (formação bruta de capital), que aumentou 6,3% e chegou a 18,4% do PIB. Não obstante, está muito aquém do nível necessário para nossa produtividade deslanchar, que seria, segundo muitos especialistas, próxima de 25% do PIB. País que investe pouco cresce pouco à frente.
Só há um problema: para investir, como saberia Robinson Crusoé isolado na ilha, antes é preciso poupar, ou seja, deixar de consumir parte do que é produzido. Claro, no mundo globalizado, sempre se pode contar, temporariamente, com a poupança externa. Mas há limites, pois eventualmente a conta precisa ser paga, e a balança de pagamentos fica negativa.
País que investe deve poupar, portanto. E é esse o principal calcanhar de Aquiles do Brasil: poupa-se pouco. As famílias, que vinham se endividamento muito para expandir o consumo, até pisaram no freio, e aumentaram em apenas 2,3% o consumo em 2013, menor taxa desde 2004.
O verdadeiro problema está no governo, um gastador compulsivo incapaz de poupar. O governo brasileiro arrecada quase 37% do PIB, mas não poupa praticamente nada. Ora, se a taxa total de poupança é de 13,9% do PIB, e o governo, que arrecada 37% do PIB, não poupa, isso quer dizer que a poupança dos demais 63% do PIB a cargo do setor privado chega a 22% (13,9% / 63%). É um patamar bem mais razoável e perto do que precisamos para crescer mais.
O grande gargalo, como fica claro, é o governo. Como disse a professora da PUC, Mônica de Bolle: “É nosso problema eterno, quando o governo gasta muito ou não poupa, a economia precisa de juros mais altos”. Os investimentos precisam ser financiados. Se há pouca poupança interna, então será financiado pelo déficit nas contas externas. Elementar, meu caro Watson!
Ou o governo brasileiro resolve gastar menos, e de preferência arrecadar menos também, para deixar mais recursos com a iniciativa privada, sempre mais eficiente nos investimentos; ou vamos sempre experimentar voos de galinha, com baixa altitude, barulhentos e sem muito alcance. O Brasil precisa de mais poupança. E isso só é possível com menos gastos públicos.