A Petrobras, outrora tida como um modelo de administração e eficiência,
tornou-se a casa da mãe joana. O caso da Refinaria de Pasadena, no Texas, revela
a cada dia que a direção da estatal não exerceu o devido comando sobre
executivos que atuaram em um negócio tão temerário, de bilhões de dólares. Tal
situação apenas reforça a certeza de que a administração da Petrobras, sob o
governo petista, é uma imensa caixa-preta, cujos segredos não só os acionistas
são os últimos a saber.
Pois o último a indignar-se com esse estado de coisas não foi um daqueles a
quem a companheirada governista costuma chamar de "neoliberais" que, ao
criticarem a gestão desastrosa da Petrobras, estariam interessados apenas em
privatizá-la. Foi a própria presidente da Petrobrás, Graça Foster, que veio a
público manifestar seu espanto diante da descoberta, na última segunda-feira, de
que havia uma instância executiva dentro da empresa, cuja existência ela
desconhecia, que estava acima do próprio Conselho de Administração - a máxima
autoridade na gestão da empresa - e que encaminhou a compra da refinaria
americana em 2006.
Segundo disse Graça a O Globo, trata-se de um certo "comitê de proprietários
de Pasadena", no qual o representante da Petrobras era o então diretor de Refino
e Abastecimento, Paulo Roberto Costa. Como se sabe, Costa está preso sob
acusação de lavagem de dinheiro, numa operação da Polícia Federal que, até aqui,
nada tem formalmente a ver com o caso da refinaria. Graça mandou abrir
sindicância.
As evidências de malfeitos são muitas. Costa ajudou a redigir o contrato que
lesou a Petrobrás na aquisição de Pasadena, obrigando-a a desembolsar US$ 1,2
bilhão para adquirir uma refinaria de valor oito vezes inferior e que se provou
uma sucata. É dele também a coautoria do resumo executivo no qual a presidente
Dilma Rousseff, então presidente do Conselho de Administração da Petrobras,
disse ter se baseado para avalizar o negócio. Passados oito anos, Dilma diz que
foi induzida a erro porque o tal resumo era "técnica e juridicamente falho".
No meio do caminho, em março de 2008, na mesma reunião em que tomou
conhecimento das cláusulas lesivas à Petrobras, o Conselho, ainda presidido por
Dilma, ressaltou em ata os "relevantes serviços prestados" e a "competência
técnica" de Nestor Cerveró, diretor internacional da estatal, o principal autor
do parecer técnico agora criticado pela presidente.
São essas contradições que evidenciam a urgência da instalação de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito, além da continuidade célere das investigações
da Polícia Federal, do Tribunal de Contas da União e do Ministério Público sobre
as suspeitas de evasão de divisas e de superfaturamento, para aclarar aquilo que
as autoridades parecem querer esconder.
Na trajetória da Petrobras sob a direção de apadrinhados governistas e do PT,
não se trata de uma situação incomum. Por imposição ideológica, a estatal tem
tomado decisões obscuras - em relação a investimentos, preços e outros fatores
estratégicos - sem levar em conta os interesses dos acionistas nem muito menos
as boas práticas de administração, tendo em vista somente o uso da estatal como
instrumento de política econômica e partidária.
Isso explica não apenas o caso de Pasadena, mas os próprios resultados da
Petrobras. Em seu balanço de 2013, a estatal apresentou lucro de R$ 23,5
bilhões, fruto não de seu desempenho como petroleira, mas principalmente da
venda de ativos e de manobras contábeis. Não fossem os truques, a sangria
ficaria evidente - a empresa, que há cinco anos era a 12.ª maior do mundo em
valor de mercado, hoje é apenas a 120.ª.
O controle estatal sobre a Petrobras é absoluto. No entanto, a julgar pelos
esgares de estupefação de Graça Foster e pela ira de Dilma, ambas dizendo-se
surpreendidas por informações que desconheciam, apesar dos amplos poderes de que
dispõem, parece haver uma administração paralela na Petrobrás, que não presta
contas senão a seus padrinhos.