| Ueslei Marcelino - 27.nov.2016/Reuters | |
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| O Secretário de Parcerias de Investimentos do governo Temer, Moreira Franco, em Brasília |
MARINA DIAS - Folha de São Paulo
Secretário de Parcerias de Investimentos do governo Michel Temer, Moreira Franco (PMDB) reage às acusações feitas em delações de ex-executivos da Odebrecht contra ele e o presidente da República e diz que a empreiteira "se organizou para o crime não só no Brasil, mas no mundo".
Em entrevista à Folha, na quinta (5), um dos principais auxiliares de Temer diz que o governo "não deve ter medo das investigações", mas "conviver" com elas até que as suspeitas sejam provadas.
"Temos mecanismos legais que permitem apurar se isso [suspeita contra Temer] é verdade ou não. E isso ainda não é verdade", afirmou Moreira.
Ele disse ainda que a fórmula do governo para 2017 será a microeconomia e que medidas serão lançadas nas áreas financeira, de educação e de acesso à tecnologia.
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Folha - Michel Temer começa o ano com a economia ainda patinando e baixíssima popularidade. O que fazer para o governo sair do atoleiro?
Moreira Franco - Antes de Temer assumir a Presidência, no documento "Ponte para o Futuro" [do PMDB], já falávamos da profundidade da crise e da devastação que a economia sofreu no governo Dilma.
Moreira Franco - Antes de Temer assumir a Presidência, no documento "Ponte para o Futuro" [do PMDB], já falávamos da profundidade da crise e da devastação que a economia sofreu no governo Dilma.
Dizíamos que o problema não seria resolvido num prazo curto porque era uma questão fiscal e não inflacionária. Quando é inflacionária, mecanismos permitem respostas, inclusive de popularidade, mais rápidas.
O presidente se incomoda com a baixa popularidade?
Não é confortável. Uma mulher que se acha bonita e é achada bonita pelos outros tem uma vida muito mais confortável do que a que não se acha bonita ou a que não é considerada bonita. Temer sabe que se, ao final do governo, colocar a economia em ordem, terá reconhecimento.
Não é confortável. Uma mulher que se acha bonita e é achada bonita pelos outros tem uma vida muito mais confortável do que a que não se acha bonita ou a que não é considerada bonita. Temer sabe que se, ao final do governo, colocar a economia em ordem, terá reconhecimento.
Fala-se de mais medidas para a microeconomia e concessões em infraestrutura. Quais serão as novidades?
Sobre concessão, fizemos mudanças regulatórias e criamos maior concorrência para um ambiente de segurança jurídica, com previsibilidade. É preciso criar um ambiente de negócios adequado para que as pessoas tenham confiança para investir.
Sobre concessão, fizemos mudanças regulatórias e criamos maior concorrência para um ambiente de segurança jurídica, com previsibilidade. É preciso criar um ambiente de negócios adequado para que as pessoas tenham confiança para investir.
Mas haverá novas medidas?
Sim. Não só na área financeira, mas na de tecnologia, inovação e educação para aumentar a produtividade.
Sim. Não só na área financeira, mas na de tecnologia, inovação e educação para aumentar a produtividade.
São medidas de impacto no bolso das pessoas, no ambiente da economia e no acesso a tecnologias. Enfrentaremos reformas na microeconomia com a determinação com que enfrentamos a questão fiscal.
Pode detalhar as medidas e dizer quando serão lançadas?
Não posso porque ainda estão em estudo. Mas terão que vir rápido. Temos um governo de dois anos em que cada dia vale o dobro.
Não posso porque ainda estão em estudo. Mas terão que vir rápido. Temos um governo de dois anos em que cada dia vale o dobro.
Empresários estão assustados com a crise. Quando os investimentos voltarão?
Este ano será muito mais confortável e produtivo que o ano passado. Isso significa que vamos voltar às taxas de crescimento que já tivemos anos atrás? Ainda não.
Este ano será muito mais confortável e produtivo que o ano passado. Isso significa que vamos voltar às taxas de crescimento que já tivemos anos atrás? Ainda não.
Partidos do centrão reclamam do apoio do governo à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ao comando da Câmara. Ele é o candidato de Temer?
O governo não tem candidato. Mas é claro que tem reflexo na relação com o Executivo o nome que for escolhido para a Câmara e o Senado...
O governo não tem candidato. Mas é claro que tem reflexo na relação com o Executivo o nome que for escolhido para a Câmara e o Senado...
Por isso Temer tem articulado para desmobilizar possíveis candidaturas contra Maia?
Temer não está fazendo essa costura, mas o ideal seria que tivéssemos uma única candidatura [da base]. Acho que a dispersão eleitoral sempre deixa sequelas.
Temer não está fazendo essa costura, mas o ideal seria que tivéssemos uma única candidatura [da base]. Acho que a dispersão eleitoral sempre deixa sequelas.
Estamos vivendo um momento delicado na área econômica e é necessário um esforço para respeitar o que nos ensinou [o poeta] Fernando Pessoa quando disse que "o essencial é o que vale a pena".
Com uma pauta de reformas importantes a ser votada no Congresso, não é ruim ter focos de insatisfação na base?
A disputa política tem que ser resolvida no Parlamento, que tem instrumentos para isso, como o critério que, infelizmente, foi rasgado no passado de a presidência [da Câmara ou do Senado] ser do partido que teve o maior número de votos, as comissões e a composição da Mesa seguirem a proporcionalidade...
A disputa política tem que ser resolvida no Parlamento, que tem instrumentos para isso, como o critério que, infelizmente, foi rasgado no passado de a presidência [da Câmara ou do Senado] ser do partido que teve o maior número de votos, as comissões e a composição da Mesa seguirem a proporcionalidade...
Nesse critério Maia, do DEM, não seria o presidente.
Pois então.
Pois então.
Temer foi citado pelo menos três vezes nas delações da Odebrecht por supostas práticas ilícitas. Afeta o governo?
Não devemos temer esse processo que é extremamente saudável para as instituições políticas e econômicas, pela repercussão empresarial que terá. As investigações não afetaram a estabilidade institucional do país.
Não devemos temer esse processo que é extremamente saudável para as instituições políticas e econômicas, pela repercussão empresarial que terá. As investigações não afetaram a estabilidade institucional do país.
Ministros perdem cargos e políticos são presos. Isso não gera instabilidade?
Claro. Se as questões envolvessem pessoas que não fossem grandes empresários, agentes políticos de expressão e partidos de representatividade, nada disso geraria a tensão político-institucional.
Claro. Se as questões envolvessem pessoas que não fossem grandes empresários, agentes políticos de expressão e partidos de representatividade, nada disso geraria a tensão político-institucional.
A citação a Temer pelo ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria não se refere a possível caixa dois, mas a suposta doação eleitoral em troca de favorecimento para a empreiteira em contratos da Petrobras. Não é uma acusação grave?
É uma acusação de uma empresa que se organizou para o crime. Estamos vendo hoje que essa empresa era uma organização criminosa, e não era só no Brasil, mas no mundo.
É uma acusação de uma empresa que se organizou para o crime. Estamos vendo hoje que essa empresa era uma organização criminosa, e não era só no Brasil, mas no mundo.
Uma dessas pessoas que praticaram crime disse isso [sobre Temer]. Temos mecanismos legais que permitem apurar se isso é verdade ou não e isso ainda não é verdade.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) enviou uma série de perguntas a Temer quando o arrolou como sua testemunha de defesa na Lava Jato. Cunha quer constranger o presidente?
Isso é irrelevante.
Isso é irrelevante.
O governo teme que Cunha fale o que sabe?
Não.
Não.
Além de Temer, o senhor e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) foram citados por delatores da Odebrecht. Temer já comunicou que pretende mantê-los no governo?
Temer já deu declaração pública [que sim]. Fiquei indignado porque o que Cláudio Melo Filho [delator] faz não é nada além de suposição. Nunca conversei sobre recursos de campanha com ele.
Temer já deu declaração pública [que sim]. Fiquei indignado porque o que Cláudio Melo Filho [delator] faz não é nada além de suposição. Nunca conversei sobre recursos de campanha com ele.
