Kevin Lamarque/Reuters | |
A primeira-ministra britânica, Theresa May, e o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca |
DIOGO BERCITO - Folha de São Paulo
Líderes internacionais rechaçaram, neste final de semana, as restrições impostas pelo governo dos EUA à entrada de cidadãos de sete países muçulmanos.
Uma das respostas mais duras veio de Angela Merkel, chanceler da Alemanha.
Seu gabinete afirmou no domingo (29) que ela "lamentou" a decisão do líder americano.
Merkel está convencida, segundo seu porta-voz, Steffen Seibert, "de que a batalha necessária e decisiva contra o terrorismo não justifica uma suspeita geral contra pessoas de uma certa origem ou uma certa religião".
A chanceler explicou a Trump, durante um telefonema, a Convenção de Genebra, que estipula a necessidade de acolher refugiados de países em guerra.
"É uma obrigação dos países signatários. O governo alemão explicou essa política", segundo o porta-voz.
Trump havia recentemente criticado a política de Merkel de abrir as fronteiras alemãs aos refugiados. Quase 900 mil pessoas chegaram à Alemanha durante 2015.
A maior parte dos refugiados vêm de países em guerra ou em extrema pobreza, como a Síria e o Afeganistão.
REINO UNIDO
As declarações de Merkel foram repetidas por diversos aliados dos Estados Unidos.
Jean-Marc Ayrault, ministro francês do Exterior, afirmou que "o terrorismo não conhece nacionalidade" e que "a discriminação não é uma resposta". O chanceler britânico Boris Johnson disse, por sua vez, que é "divisivo e errado estigmatizar devido à nacionalidade".
Houve também oposição por parte dos governos de Itália, Suécia, Dinamarca e Noruega, entre outros.
A premiê britânica, Theresa May, esteve em uma situação mais delicada. Seu governo aproximou-se de Trump neste mês, tendo em vista travar um acordo de livre comércio vantajoso após deixar a União Europeia.
May inicialmente não condenou a medida americana. Mas, pressionada, disse não concordar com a solução.
Um porta-voz de seu gabinete afirmou que a política migratória dos EUA é um assunto americano, mas que o governo britânico não está de acordo com a abordagem e que estudará o impacto nos cidadãos do Reino Unido.
IRAQUE
Simultâneo às críticas de líderes europeus, o silêncio de nações árabes incomodou durante o final de semana. Países do Golfo e o Egito, aliados americanos, não se uniram ao repúdio global.
O governo iraquiano tampouco declarou-se, mas membros do Parlamento sugeriram uma medida contra os EUA. O influente clérigo xiita Moqtada al-Sadr disse que cidadãos americanos deveriam deixar o Iraque.
"Seria arrogância que vocês entrassem livremente no Iraque e outros países enquanto barrassem eles de entrar em seus países."
Houve críticas também por parte do Irã e do Sudão, afetados, ao lado do Iraque, pelas medidas restritivas.