segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Eike, Cabral, Dilma: sem petróleo, competência, vergonha

Com Blog do Reinaldo Azevedo - Veja


Este vídeo circula faz tempo por aí. Mas merece ser revisto por aquilo que encerra de emblemático.
Volto-me a ele daqui a pouco.
Eike Batista está chegando nesta manhã. Seus advogados já haviam negado a sua suposta intenção de fugir para a Alemanha — ele tem dupla nacionalidade. Se o fizesse, não seria extraditado para o Brasil. A esmagadora maioria dos países não extradita seus naturais. O máximo que poderia acontecer seria responder na Alemanha por eventuais crimes cometidos no Brasil, desde que atos criminosos também naquele país.
Em entrevista à TV Globo, disse que vai esclarecer tudo e resgatar a verdade. Vamos ver. Será que os dois doleiros mentiram quando afirmaram que ele pagou US$ 16,5 milhões de propina a Sérgio Cabral? O dinheiro foi depositado no Uruguai, e se fez uma simulação da compra e venda de uma mina de ouro a uma tal Arcádia. Segundo as investigações, a empresa nunca existiu, e os delatores afirmam que Cabral era mesmo o destinatário da bolada.
Eike é uma espécie de coquetel de livros de autoajuda e um verdadeiro “performer” da autoconfiança. Nas entrevistas que deu depois da derrocada, a gente via a imagem de alguém que estava tentando ser o primeiro ex-bilionário por excesso de talentos particulares. Inventou uma personagem para si mesmo, que fez um sucesso estrondoso. Quando o petróleo que prometeu não deu as caras, a fantasia não tinha como responder às evidências do mundo real.
O vídeo Um vídeo de abril de 2012 é um emblema da tragédia moral brasileira — e de outras tragédias. A solenidade marcava o início das operações da OGX, a petroleira de Eike, do grupo EBX. Sérgio Cabral, então no governo do Rio, discursa com aquela ligeireza descontraída que marcava a sua atuação pública, abusando de neologismos e rapapés. Referindo-se a Eike, disse:
“[trata-se de] um projeto estruturante vindo de uma pessoa com uma visão como a sua. Essa combinação de uma pessoa com uma visão ‘fordiana’, ‘steve-jobiana’ como você, com um Brasil de Lula e de Dilma, um Brasil que distribui renda — hoje de manhã comemorávamos um milhão e meio de pessoas atendidas por um programa chamado ‘Rio sem Miséria’, complementando o Brasil sem Miséria da presidenta Dilma… Quer dizer: um país que consegue combinar desenvolvimento econômico com distribuição de renda. E, para nós, do Estado do Rio de Janeiro, que vivemos um momento extraordinário, com uma agenda de desenvolvimento, de crescimento, ter você como o líder de todos os investimentos privados na América do Sul é extraordinário. Eu quero dizer, Eike, é que, para nós, é um grande orgulho. O Brasil precisa cada vez mais de (sic) reconhecer os seus empreendedores (…) Como governador do Estado, em nome de 16 milhões de habitantes, meu muito obrigado a você por gerar riqueza numa área que antes não tinha nada”.
Aí foi a vez de Dilma:
“Vou dirigir um cumprimento muito especial ao Eike Batista, presidente da EBX. O Eike é o nosso padrão, a nossa expectativa e, sobretudo, o orgulho do Brasil quando se trata de um empresário do setor privado”.
Eis aí! Menos de cinco anos depois, Cabral está preso, acusado de roubar US$ 100 milhões dos cofres públicos. O equivalente a R$ 270 milhões já foi encontrado. O Brasil quebrou. O Rio de Janeiro quebrou. Eike quebrou. O empresário poderia ter se contentado com o infortúnio. Mas parece que são fortes as evidências de que se meteu também em lambança.
Eike não tinha o petróleo que prometeu.
O governo Dilma não tinha planejamento, não tinha responsabilidade fiscal, não tinha competência para entender o momento econômico vivido pelo mundo.
O governo Cabral — e vejam o Estado do Rio na falência, de pires na mão — compartilhava com o da “presidenta” as mesmas dificuldades.
E Cabral, como resta evidente (e, para mim, era assim desde sempre), não tinha vergonha na cara.
A exemplo de todo mundo, estou curioso para ouvir as explicações de Eike. Deve haver alguma.
Quando ao vídeo… Ulalá! Cabral era exemplo de governador, Dilma era exemplo de “presidenta”, e Eike, exemplo de empreendedor.
Foi por esses valentes terem conseguido engabelar tanta gente que vivemos a maior recessão da história, uma das maiores taxas de desemprego da história e a era mais corrupta da história.
Eis aí os heróis.
Mas Eike já pensa em revolucionar o mundo com um novo creme dental. É sua nova mina de ouro.
Ah, sim! Tomara que Sérgio Cabral tenha tempo de ler sobre o “fordismo” na cadeia para ter a noção da batatada que disse ao juntar o conceito à visão “steve-jobiana”.
Ele falava qualquer coisa na certeza de que poderia seguir enganando os trouxas indefinidamente.