terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Operador pagou decoração de luxo de Sérgio Cabral


A ex-primeira dama Adriana Ancelmo e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral durante celebração de um ano da UPA na Maré, em 2008 - Custódio Coimbra / Agência O Globo / 12-6-2008


Chico Otávio - O Globo


Depoimentos de decoradores reforçam uso de propina para bancar serviços


Depoimentos de dois decoradores que trabalharam para o ex-governador Sérgio Cabral e a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo aprofundaram as provas colhidas de que o casal usava o dinheiro da propina para bancar a vida luxuosa. Ana Lúcia Jucá Moreira Dias, que executou sete projetos em imóveis ligados aos Cabral, admitiu que recebia a remuneração pela contabilidade paralela gerida por Luiz Carlos Bezerra, homem de confiança e um dos operadores de Cabral, que se encontra preso no Complexo de Bangu. Outro decorador, Roberto Cláudio Olivera Figueiredo, dono da Ouriço Design e Decoração de Interiores, disse que recebia depósitos de origem desconhecida em sua conta bancária.

Mulher do ex-secretário municipal de Urbanismo Sérgio Dias (gestão de Eduardo Paes), a arquitetra Ana Jucá disse que começou a trabalhar para Sergio Cabral em 2003, na reforma do apartamento onde o casal mora na Rua Aristides Espínola, no Leblon, zona sul do Rio. 

Desde então, desenvolveu mais seis projetos: na primeira casa de Cabral no condomínio Portobello (Mangaratiba), em 2004; em nova reforma do apartamento da Rua Aristides Espínola; na segunda casa no condomínio Portobello, em 2011; no escritório profissional de Adriana Ancelmo, no Centro do Rio, em 2013; no apartamento da ex-primeira na Rua Prudente de Morais (Ipanema), em 2014; e no escritório profissional de Cabral na Avenida Ataulfo de Paiva (Leblon).

Indagada sobre a forma de remurenação, Ana Jucá disse que, no primeiro projeto, cobrou um valor fixo de R$ 10 mil e mais uma espécie de prêmio pago pelas lojas fornecedoras dos materiais, denominado "reserva técnica". A arquitetura disse que não cobrou pelos demais projetos, "já que era remunerada pelas 'reservas técnicas' e tinha interesse em manter os clientes, uma vez que os projetos funcionavam como propaganda do trabalho em razão do prestígio do casal". Os investigadores, no entanto, apuraram um total de repasses de R$ 560 mil, com base na quebra do sigilo dos email do operador Luiz Carlos Bezerra. 

Parte deste valor, admitiu a arquiteta, foi usado para pagar as lojas. Apresentada a alguns destes e-mails, Ana informou que não lembra dos valores exatos dos pagamentos, mas reconhece que são compatíveis com os pagamentos e projetos realizados.

Já Roberto Cláudio Oliveira Figueiredo, da Ouriço Design e Decoração de Interiores, disse que desenvolveu o primeiro no final de 2011, na casa de Susana Cabral, primeira mulher do ex-governador, também envolvida no esquema de pagamento paralelo - na Operação Eficiência, ela foi levada à Polícia Federal son condução coercitiva. Roberto declarou que assinou a decoração de interiores do quarto de um dos filhos do casal, João Pedro. O apartamento fica na Avenida Borges de Medeiros, na Lagoa.

Em 2012, o decorador fez também o projeto de decoração de interiores do quarto de Marco Antônio Cabral. Em 2014, disse Roberto, foi contratado por João Pedro Cabral para cuidar da reforma e o projeto de decoração de interiores de seu apartamento, na Rua Alexandre Ferreira, nº 420, apt. 601, Lagoa, Rio de Janeiro/RJ. De acordo com o decorador, esse projeto só foi finalizado em 2016.

O decorador disse que os projetos de Susana foram pagos mediante transferências bancárias e que o de João Pedro foi pago por meio de depósitos não identificados na conta da Ouriço Design no Banco ltaú, no valor aproximado de R$ 150 mil.