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Sede da Odebrecht em São Paulo; companhia troca executivos após delação |
RENATA AGOSTINI
RICARDO BALTHAZAR
Folha de São Paulo
RICARDO BALTHAZAR
Folha de São Paulo
Forçada pela Operação Lava Jato a tirar de circulação os executivos que lideravam seus principais negócios, a Odebrecht decidiu buscar soluções caseiras para enfrentar a crise em que mergulhou.
A partir deste ano, as principais empresas do grupo passarão a ser dirigidas por profissionais menos experientes, que têm laços antigos com a família Odebrecht, mas ainda estavam sendo preparados para posições mais destacadas.
A troca de guarda foi decidida em meio às negociações do acordo de delação premiada fechado pela empresa com o Ministério Público Federal em dezembro, em que 77 executivos decidiram confessar seus crimes e colaborar com as investigações da Lava Jato.
Algumas mudanças foram precipitadas. Em outubro, quando as negociações envolviam cerca de 50 executivos, os procuradores da Lava Jato avisaram que mais duas dezenas de funcionários teriam que participar do acordo.
A notícia ceifou executivos que tinham papel-chave nos planos da Odebrecht para manter à tona os seus negócios, como Paulo Cesena, responsável pelas concessões na área de infraestrutura, e Paulo Melo, que cuidava dos negócios no setor imobiliário.
Com a ampliação da negociação, o controlador do grupo, Emílio Odebrecht, precisou correr na virada do ano para fechar o acordo de delação e dar nova cara ao grupo.
A colaboração com a Lava Jato obrigará 51 dos 77 delatores a deixar a Odebrecht.
Os outros 26 poderão ficar, mas a empresa já decidiu que deixarão as funções que exerciam e poderão ser rebaixados.
Das 10 unidades que hoje formam o conglomerado, 8 tiveram que mudar de comando. Só na direção da holding, a empresa que controla o grupo, houve quatro baixas, incluindo delatores e executivos que pediram para sair.
LAÇOS
Alguns dos novos dirigentes são ligados a homens de confiança de Emílio. É o caso de Juliana Baiardi, escalada para substituir Cesena na presidência da Odebrecht Transport, que cuida de concessões como o aeroporto do Galeão. Ela está na empresa há apenas seis anos, mas a família tem longa história no grupo.
O pai de Juliana, Renato Baiardi, é amigo antigo de Emílio e um dos acionistas da holding do grupo. Seu irmão, Ernesto Baiardi, é um dos delatores e está na lista dos que terão de deixar suas funções.
A família Villar é outra com grande influência na Odebrecht, e Luiz Fernando Villar está no seleto grupo de executivos com ações do grupo. Seu filho, Daniel Villar, ganhou poder com a nova estrutura.
Ele é vice-presidente de recursos humanos. É também presidente do conselho de administração da Odebrecht Engenharia e Construção, principal unidade do grupo ao lado da petroquímica Braskem.
Antes das mudanças, o comando dos conselhos de todas as empresas estava com Newton de Souza, executivo de confiança da família controladora que preside o grupo desde 2015, quando o filho de Emílio, Marcelo, foi preso.
Souza permanece na presidência do conselho da Braskem. Nas demais unidades, que juntas representam menos de 20% das receitas do grupo, os conselhos serão presididos por Luciano Guidolin, trazido da Braskem.
O destino dos executivos que viraram delatores deve ser decidido após a homologação das delações pelo Supremo Tribunal Federal, aguardada para breve.
Os 51 funcionários que serão demitidos só sairão depois da decisão da Justiça.
Eles estão afastados das suas funções, mas muitos ainda frequentam o escritório.
Alguns delatores foram convidados pela empresa a participar do que internamente vem sendo chamado de "mentoria". Como não houve muito tempo para a transição, eles ajudariam a orientar os novos dirigentes das empresas nos bastidores.
A nova administração enfrentará tempos bicudos. O grupo ainda precisa renegociar R$ 25 bilhões de sua dívida de R$ 76 bilhões, aumentando prazos ou vendendo ativos. Em 2016, suas receitas caíram pela primeira vez desde 2002.
MAIS MUDANÇAS
Apesar das mudanças, a cúpula da Odebrecht não deve tardar a ser novamente reformulada. Emílio Odebrecht tem dois anos para deixar a presidência do conselho de administração do grupo, conforme o acordo de colaboração.
Ele já anunciou internamente que pretende afastar os membros da família da gestão ao fim do período. Na prática, hoje isso implicaria apenas a sua saída. Seu filho Marcelo Odebrecht está preso desde 2015. Não há outros sucessores em treinamento na linha de comando. Na diretoria da holding, ligado à família, há somente Maurício Ferro, genro de Emílio.
Por outro lado, a busca por conselheiros independentes para os conselhos de administração das várias empresas está em curso. Mais de 20 profissionais de fora do conglomerado já ocupam essas vagas, e o número deve ser ampliado.
O novo desenho da cúpula dependerá ainda dos negócios que sobreviverem à crise por que passa o grupo. Já houve o enxugamento da unidade de engenharia, que agora é dividida só em duas áreas: infraestrutura e industrial, as duas cuidando de Brasil e exterior. Antes, a divisão de infraestrutura tinha comando distinto aqui e lá fora.
Outras duas áreas foram fundidas: a que controlava a fatia no estaleiro Enseada e a Odebrecht Defesa.
A entrada de diretores de auditoria –ou de "conformidade" em odebrechês– também trouxe modificações para a estrutura de comando. Nove executivos, oriundos de empresas como Fibria e Oi, foram contratados. A maior parte chegou trazida por empresas de recrutamento.