WASHINGTON - O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou na manhã desta segunda-feira, em Washington, suas previsões para o ano: o organismo está mais otimista com o desempenho do mundo como um todo, porém mais pessimista com o Brasil. O Fundo ainda lembra que o cenário está mais incerto, pois não há muita clareza das medidas econômicas que serão tomadas por Donald Trump, que assume a presidência dos Estados Unidos na sexta-feira.
Estimando que a recessão de 2016 foi de 3,5% do PIB brasileiro, o Fundo prevê um crescimento de apenas 0,2% da economia nacional neste ano - percentual que pode ser considerado estatisticamente uma estabilização, e não um crescimento, segundo economistas. O número representa uma revisão para baixo, pois o FMI tinha, em outubro, a previsão de alta de 0,5% da economia brasileira em 2017. Para 2018, as estimativas se mantiveram em 1,5%. Também está abaixo da última previsão feita pelos analistas do Boletim Focus do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira, que manteve as expectativas de uma expansão de 0,5% neste ano.
Projeções do FMI para a economia Global
(Número entre parênteses mostra diferença entre a previsão passada, de outubro, em pontos percentuais)
Economias | Estimativas para 2016 | Previsões para 2017 | Previsões para 2018 |
---|---|---|---|
Economia Mundial | 3,1 | 3,4% (estável) | 3,6% (estável) |
Países Ricos | 1,6 | 1,9% (0,1) | 2,0% (0,2) |
Estados Unidos | 1,6 | 2,3% (0,1) | 2,5% (0,4) |
Zona do Euro | 1,70 | 1,6% (0,1) | 1,6% (estável) |
Japão | 0,9 | 0,8% (0,2) | 0,5% (estável) |
Reino Unido | 2 | 1,5% (0,4) | 1,4% (-0,3) |
Emergentes | 4,10 | 4,5% (-0,1) | 4,8% (estável) |
Brasil | -3,5 | 0,2% (-0,3) | 1,5% (estável) |
China | 6,7 | 6,5% (0,3) | 6,0% (estável) |
Índia | 6,60 | 7,2% (-0,4) | 7,7% (estável) |
Rússia | -0,60 | 1,1% (estável) | 1,2% (estável) |
México | 2,2 | 1,7% (-0,6) | 2,0% (-0,6) |
América Latina e Caribe | -0,70 | 1,2% (-0,4) | 2,1% (estável) |
As projeções do FMI são mais pessimistas para o Brasil que a de outros agentes econômicos. Na semana passada, o Banco Mundial estimou que o PIB brasileiro crescerá 0,5% neste ano e 1,8% em 2018. Os analistas do mercado financeiro nacional, ouvidos semanalmente pela pesquisa Focus do Banco Central, esperam que o PIB brasileiro cresça 0,5% neste ano e 2,2% em 2018.
Por outro lado, o fundo vê que o crescimento maior da China, a recuperação parcial no preço de algumas commodities (produtos básicos com cotação internacional, como petróleo, minério de ferro e soja) melhoraram o cenário para a maior parte dos países em desenvolvimento. E as nações desenvolvidas melhoraram suas perspectivas no segundo semestre do ano passado.
“O panorama das economias de mercados emergentes e em desenvolvimento seguem sendo muito mais diverso. A Taxa de crescimento da China superou ligeiramente as expectativas graças a uma ininterrumpida política de estímulo. Mas a atividade foi mais fraca que o esperado em alguns países de América Latina que estão atravessando uma recessão, como Argentina e Brasil, assim como na Turquia, cujos ingressos por turismo sofreram uma profunda contração”, afirmou o documento do FMI.
Porém o documento alerta que as incertezas globais cresceram, com a eleição de Donald Trump - que assume a presidência dos Estados Unidos na próxima sexta-feira. Se por um lado ele pode incentivar o investimento em infraestrutura e acelerar os gastos do governo, pode ter problemas com o nível de endividamento do país, a confiança internacional e com medidas protecionistas que afetem o comércio global.
“Existe uma ampla dispersão das possibilidades em torno das projeções, dada a incerteza que ronda a orientação das políticas do novo governo americano e suas ramificações internacionais”, afirmou o documento, que afirma que até as novas projeções do Fundo, a serem publicadas em abril, o cenário deverá estar mais claro. “Este prognóstico está basado em supostas mudanças com as políticas adotadas pelo novo governo americano, com as consequentes efeitos em escala internacional. Neste momento, a equipe técnica (do FMI) prevê certo estímulo fiscal no curto prazo e uma normalização menos gradual da política monetária”.
Maurice Obstfeld, economista-chefe do FMI, afirmou em entrevista na manhã desta segunda-feira na capital americana que o cen[ario global est[a mais otimista por causa de melhores perspectivas nos Estados Unidos, China, Europa e Japão.
- Um ritmo mais rápido de expansão seria especialmente bem-vindo este ano: o crescimento global em 2016 foi o mais fraco desde 2008-2009, devido a um primeiro semestre desafiador marcado inicialmente pela turbulência nos mercados financeiros mundiais. A melhoria geral começou em meados de ano - afirmou Obstfeld.
- Após a eleição presidencial dos Estados Unidos, houve uma significativa reavaliação dos preços de ativos. Seus elementos mais notáveis foram um aumento acentuado das taxas de juros de longo prazo dos EUA, a apreciação do mercado de ações e maiores expectativas de inflação de longo prazo nas economias avançadas e movimentos acentuados em direções opostas do dólar para cima e do iene para baixo. Ao mesmo tempo, os mercados de ações dos mercados emergentes recuaram amplamente à medida que as moedas se enfraqueceram - concluiu.