sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Caos instalado... Setor público gasta mais que arrecada pelo 3º mês seguido

Gabriela Valente - O Globo

Déficit primário somou R$ 4,7 bilhões no mês passado. É a 1ª vez em que é registrado um resultado negativo num mês de julho

O Estado brasileiro gastou mais do que arrecadou pelo terceiro mês seguido: foi a primeira vez na História que isso ocorreu. De acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pelo Banco Central, União, estados, municípios e estatais tiveram um déficit primário de R$ 4,7 bilhões em julho. É a primeira vez que o país registra um resultado no vermelho em meses de julho, desde quando o BC passou a contabilizar o resultado das contas públicas em 2001. A autarquia diz que, com esses resultados seguidos no vermelho, fica mais difícil cumprir a meta fiscal para o ano.

No ano, o setor público economizou apenas R$ 24,7 bilhões para pagar juros da dívida. Também é o menor superávit primário da série histórica do BC. O valor não chegou perto dos encargos que deveriam ser pagos no período. Faltaram R$ 123,6 bilhões para fechar a conta. Esse é o chamado déficit nominal acumulado durante em 2014.

Nos últimos 12 meses, o Brasil tem um superávit primário de R$ 61,5 bilhões. Isso representa 1,22% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pela economia em um ano). É o pior desempenho desde o auge da crise financeira em 2009. A meta para 2014 é de 1,9% do PIB.

— Essa evolução do primário reflete a perda de ritmo da atividade econômica. Hoje de manhã tivemos o anúncio do PIB que confirmou isso. E ainda tem as desonerações — argumentou o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.

— Naturalmente, a meta do ano com esses déficits registrados nos últimos três meses ficam mais distantes.

A relação entre toda a dívida pública e o tamanho do PIB, o principal indicador da saúde das contas públicas, continuou a subir. Passou de 34,9% do PIB em junho para 35,1% no mês passado. No fim do ano, essa relação era de 33,6% do PIB.

Questionado se o Banco Central faz estudos para tentar tirar o efeito das “pedaladas” fiscais do Tesouro Nacional, Maciel confirmou a informação. O Ministério da Fazenda tem sido bastante criticado internamente por adiar despesas de um mês para o outro e contaminar as estatísticas.

— Sempre que surgir a oportunidade de fazer aprimoramentos, nós faremos — avisou Maciel.